A decisão de Sofia. escrita por calivillas


Capítulo 4
Juntas




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E assim, em alguns dias, as duas estavam a morar juntas. Apesar de Lia querer dividir as despesas, Sofia não aceitou, dizendo que não precisava do dinheiro dela.

— Eu não quero morar de graça. – Lia insistiu, pois não se sentiria a vontade, assim ela seria sempre uma hospede – ela ponderou, quase ofendida.

— Realmente, Lia, eu não preciso. Guarde seu dinheiro para as suas despesas – Sofia rebateu, pois não achava justo, pegar o dinheiro, que Lia dava tão duro para ganhar.

— Olhe, Sofia, eu tenho uma ideia. Para compensar o aluguel, eu limpo e arrumo a casa e posso cozinhar para a gente. O que você acha? – propôs, conciliadora.

— Ei, Lia! Eu não convidei você para morar aqui para ser uma criada, não seria certo – Sofia protestou, com veemência. - Além disso, eu tenho alguém que limpa o apartamento duas vezes por semana.

— Está bem – Lia respondeu, resignada. - Em mantenho a casa arrumada e posso cozinhar. Com essa cozinha que você tem aqui, vou posso fazer alguns pratos que eu queria experimentar – mas, ela não se deu completamente por vencida.

— Então, eu vou ser uma cobaia? – Sofia indagou, brincando.

— Sim, porque eu preciso de uma cobaia – Lia respondeu, no mesmo tom.

Com o passar dos dias, quando não estava nas aulas de história da arte ou de madame Lalique, Sofia ficava em casa pintando ou desenhando no pequeno jardim de inverno com grandes janelas envidraçadas, que transformara em um estúdio, ou dava longas caminhas pela cidade, explorava brechós, mercados de pulgas ou pequenas galerias de artes, sentava-se nos jardins para desenhar ou, simplesmente, ficava admirando o mundo, mover-se ao seu redor. Já, Lia saía cedo toda manhã para seu curso de gastronomia, e, à tarde, ia direto para o bistrô em que trabalhava, só voltando à noite, era o momento em que elas se sentavam juntas, no sofá, contando sobre o seu dia, assistindo um filme ou conversando sobre a vida.

— Eu quero ser uma grande chefe de cozinha, poder viajar para conhecer pratos diferentes pelo mundo e encontrar algum lugar, onde poderia abrir um pequeno restaurante e cozinhar o que gostasse. Ah! Também, quero encontrar alguém que gostasse de tudo isso e me aceitasse do jeito que sou – Lia falava sobre seus sonhos e Sofia sentia uma ponta de inveja, pois nunca tinha planos para o futuro, vivia um dia de cada vez, mas estava começando a pensar em ter uma galeria de arte, um dia.

Nas suas folgas, Lia gostava de preparar pratos diferentes, alguns clássicos, outros experimentais, que nem sempre davam certos, e elas acabavam comendo um sanduíche em um pequeno bistrô na esquina.

Nos dias de aulas de Madame Lalique, Sofia chegava tarde, pois costumava sair para beber e, várias vezes, perdia a noção do tempo, conversando com Jean, ele também lhe falava sobre seus sonhos, de se tornar um grande artista, não só comercialmente, mas principalmente ter um estilo próprio.

— Quero que as pessoas olhem um dos meus quadros e digam este é um Jean Baptiste, sem olhar para a assinatura, como acontece com grandes artistas como Picasso ou Modigliani – ele confidenciava a Sofia, quando eram os últimos sentados no bar, bebendo - Acho que estou sendo pretensioso - disse, sem graça.

— Não, você desenha e pinta muito bem, Jean. Seus desenhos são lindos – Sofia o incentivava.

— Não quero só isso, pintar bem, desenhar bem, quero encontrar um estilo só meu, algo que me identifique. No momento, só são gravuras bonitas, apenas isso – Ele era muito severo consigo mesmo, ainda não havia alcançado a perfeição que desejava.

— Você tem muito talento e, com certeza, vai encontrar o seu próprio estilo, aquilo que o define. Isso faz você ser muito especial, Jean. Essa vontade de querer sempre mais, mas ao mesmo tempo pode ser perigoso, porque não há limite – Sofia ponderou, sendo realista, com medo que esse fogo, essa busca da perfeição, o consumisse, como fizera com tantas outras pessoas talentosas.

— Eu não quero limites e nem procuro por eles, Sofia. Sei que essa é uma estrada sem fim, uma busca que nunca termina, mas preciso viver a vida intensamente – Jean declarou, olhando-a com os olhos com um brilho selvagem, como se ela pudesse ver sua alma.

Naquela noite, Sofia chegou em casa, bem tarde, ela estava animada por causa da bebida e da conversa com Jean, aquela paixão e entusiasmo dele a contaminava, acendia uma chama desconhecida dentro dela, encontrou Lia assistindo televisão, na penumbra, encolhida na poltrona.

— Ainda acordada? – Sofia disse, surpresa, assim que chegou.

— Estava sem sono. Você demorou – Lia afirmou, com um tom quase acusador, sem olhar para ela, parecia aborrecida.

— Estava com Jean – Sofia revelou de forma casual, em seguida, se atirou no sofá, espreguiçando-se. - Lia, tive uma ideia, vou dar uma festa aqui, no próximo sábado, e chamar o pessoal do curso. Assim, você também pode conhecer os meus outros amigos. O que você acha? 

— Alguma ocasião especial?

— Meu aniversário – Sofia informou, sem emoção na voz.

— Nesse sábado?! Não acredito! Eu tenho que comprar um presente para você! - Lia levantou-se em um pulo, surpresa.

— Não precisa – Sofia, realmente, não dava importância a isso.

— Não, tive uma ideia melhor! Vou fazer o jantar para vocês, algo especial, será o meu presente de aniversário. Posso trocar a minha folga no restaurante, assim terei tempo de preparar tudo – Lia ficou animada com a possibilidade de fazer algo de especial para Sofia, afinal, ela era uma grande amiga, que a acolheu em um momento difícil.

— Obrigada. É muita gentileza da sua parte – Sofia ficou comovida, pois nunca fizeram algo assim, tão espontâneo, para ela.


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