Through Glass escrita por Amelina Lestrange


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

COMO ASSIM SÓ EXISTEM 4 HULKWITCH NO AO3? COMO ASSIM SÓ METADE É /REALMENTE/ HULKWITCH -CENTRED-?
Depois de passado esse susto, ok, vamos lá :3
Gentneys, eu já estava desde o final do mês passado desenvolvendo essa fic. Andei conversando com uma amiga, a Annie Burton, e não deu outra: duas malucas shippando HulkWitch porque achei que daria super certo -q
E não é que deu? :v
Escrevi boa parte da história em dois dias e depois ela ficou parada um pouco conta de eu estar bem enrolada na faculdade e ter outras duas longfics pra atualizar (Strange Things, de HP, vai ter mais de 50 capítulos e ainda estamos na metade; Angel of Light, aqui da Marvel mesmo, talvez tenha bem mais que isso) :/
Mas agora ela foi finalizada e aqui está, para todo mundo ver ♥
Recentemente a DoutoraEstranha (leitora e amiga de outra plataforma) me chamou para esse projeto do AO3 BR, que nada mais é do que trazer os nossos cultshipps/crackshipps para o Lado Negro da Força ;)
Agora, de verdade: esse projeto nasceu como presente de aniversário para a Annie porque eu tinha prometido. Annie, feliz aniversário de novo e aqui está o seu presente atrasado :3
Espero que todos gostem e apreciem a leitura!



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I'm looking at you through the glass, don't know how much time has passed

All I know is that it feels like forever

No one ever tells you that forever feels like home, sitting all alone inside your head

Não queria dormir.

Dormir implicava em fechar os olhos e se deixar descansar, mesmo que o seu descanso fosse interrompido pelas lembranças dos experimentos que passou na HIDRA e do dia em que Sokovia saiu para dar uma volta. O médico do Complexo dos Novos Vingadores havia que dado o diagnóstico de estresse pós-traumático e as suas pílulas a dopavam quando se sentia ansiosa. Não queria depender delas para cair no sono, isso era pior, sentia que o seu corpo não sabia mais o que era relaxar.

Trinta foi o número de vezes que Pietro foi atingido por Ultron. Se ele não tivesse passado na frente de Clint, talvez estivesse vivo. Mas Pietro queria a transformação, queria a mudança no mundo, desejava isso. Então entendeu que o seu irmão morreu protegendo o outro e fazendo o que achava certo.

Trinta foi o número de vezes que sentiu o seu coração ser arrancado do peito ao mesmo tempo de novo e de novo. Ainda não era justo que ele tivesse ido, não achava justo ser deixada sozinha assim, nunca seria justo. Pelo menos não achava que era justo que estivesse sozinha a partir de agora.

O seu quarto estava particularmente frio, o vento do ar condicionado estava no mínimo porque estava com saudades de casa.

Casa.

Ali era a sua casa agora, aonde viveria a sua vida a partir de agora. Se enrolou nas grossas cobertas e aquilo a esquentou. Nessas horas, mais que nunca, sentia saudades do seu irmão. Pietro provavelmente teria entrado debaixo do seu cobertor e lhe contaria histórias de como a floresta atrás do Lago da Esperança era assombrada, não dormiria direito por dias, mas queria que o motivo da sua falta de sono fosse esse. Queria poder chorar, mas as suas lágrimas haviam secado na primeira semana desde a sua chegada.

Já era madrugada, todos deveriam estar dormindo. Isso significava que poderia perambular pelo complexo sem ser incomodada. Ainda estava se acostumando com a ideia de que eles a queriam lá, que precisavam dela para salvar o mundo ou alguma coisa assim. O seu relógio de cabeceira apontava duas da manhã. Em uma das reprises que andou assistindo de madrugada ouviu uma frase que tomaria para a vida: nada bom acontece depois das duas da manhã. Riu daquilo como uma piada interna e decidiu que se arriscaria a terminar de conhecer o local.

Se levantou e calçou um par de meias abaixo dos joelhos, o seu pijama não era provocativo, estava vestida confortavelmente. Com cuidado, abriu a porta do seu quarto sem fazer barulho e andou na ponta dos pés pelo corredor. A grande janela no fundo revelava a noite estrelada com a lua cheia brilhando em tons de prata. Uma pequena parte de si agradecia por ter um teto sobre a sua cabeça. Olhou para os lados por força do hábito, temendo ser notada.

Alguém notaria que estava fora da cama?

Alguém notaria que estava prestes a sair do complexo para admirar as estrelas?

Olhou pela janela e calculou mentalmente a queda até o pedaço do jardim que ficava ali. Bom, ninguém disse que precisava necessariamente cair. Abriu a janela de vidro cautelosamente esperando que algum alarme disparasse, mas nada aconteceu. Estava num dos pisos superiores e isso rapidamente lhe rendeu algum medo quando olhou para baixo. Subiu em cima do aparador que estava ali e de novo olhou para ver se ninguém vinha.

Respirou fundo, fechou os olhos e saltou. Sem ver o que estava fazendo, esticou as suas mãos na altura da sua cintura e não sentiu o chão nos seus pés. Ao abrir os olhos, percebeu que estava fazendo algo parecido com voar, as suas mãos envolvidas pela sua energia escarlate não deixaram que caísse. Lentamente fez movimentos precisos para que pousasse com cuidado e sem fazer barulho. O gramado parecia mais escuro àquela hora e poderia muito ficar por ali mesmo. Andou um pouco para longe do prédio e escolheu um lugar aleatório para descansar.

Fez o que há tempos não fazia: se sentou no chão e logo se deitou. A lua estava particularmente grande e aquilo era reconfortante, era algo tão parecido com o que via em Sokovia.

Inclinou a cabeça um pouco para o que acontecia de volta ao prédio. Alguém estava acordado. O seu coração se acelerou quando viu quem era. Se arrependia de tudo o que tinha feito e provocado, tinha mexido com a cabeça dos Vingadores, então por que diabos eles a queriam ali? Gostaria de saber de verdade.

A Viúva Negra e o dr. Banner estavam na sacada, sentados. Ele acarinhava os pés dela e sorria. Não imaginava que eles fossem um casal. Torceu para não ser reconhecida, mas não saiu de onde estava mesmo quando eles entraram.

Fechou os olhos e se deixou sentir o aroma das folhas das árvores.

[...]

Percebia que a garota passava muito tempo trancada no quarto. Não saía para comer, não interagia com os outros, não participava de muitas conversas e discussões. Percebia a garota Maximoff extremamente envergonhada pelo que tinha feito àquelas pessoas.

Ela havia pedido desculpas a Tony, que a chamou para integrar os Novos Vingadores.

Ela havia pedido desculpas a Steve, que viu nela mais do que uma criança que precisava de ajuda.

Ela havia pedido desculpas a Thor, que não a considerou uma feiticeira de verdade, mas disse que ela poderia manter o título porque era agora digna dele.

Ela havia pedido desculpas a Natasha, que a viu com desconfiança e não a deixou se aproximar.

Ela não chegou a pedir desculpa para si, foi encontrado depois em Fiji, dias depois, quando ela já estava reclusa.

A movimentação estava intensa na nova sede, o Complexo dos Novos Vingadores. Tony disse que ele poderia finalizar a sua pesquisa lá agora que ele iria reformar mais uma vez a Torre Stark.

Não a viu uma única vez desde que chegou. Era estranho caminhar por aqueles corredores e sentir que havia um fantasma lhe observando, que a qualquer momento sairia de dentro das paredes e o atormentaria. Guardava rancor do que havia acontecido, de como ela havia mexido com a sua cabeça e as dos seus amigos. Ainda não conseguia digerir que ela estava lá, junto com eles.

Todos merecem uma segunda chance, Bruce, com ela não vai ser diferente, Clint argumentou. Se ele próprio tinha tido a sua segunda chance, por que ela não deveria ter a dela?

O teto do quarto não parecia mais interessante àquela hora da madrugada. Natasha roncava baixo ao seu lado e aquilo ainda era desconfortável. Isso ainda não era seguro para ela, não era seguro para si próprio. Se levantou da cama de Natasha e saiu sem fazer barulho, apenas recolheu as suas roupas e foi para o seu quarto. O tinham colocado no quarto ao lado de Wanda Maximoff e isso lhe incomodou um pouco.

Abriu a sua porta e notou a sua bagunça lá, sem ser tocada por vários dias. Jogou as suas roupas no canto do quarto e se jogou na cama, precisava terminar de dormir para poder render no dia seguinte.

E se acalmar.

Com Wanda lá, estava tenso a todo momento e todo os momentos eram uma luta diária contra o Hulk querendo sair a qualquer custo.

Era alta madrugada quando ouviu o barulho de algo cair no quarto ao lado. Foi violento, depois outras coisas desmoronaram lá. Sentiu uma tensão tomar conta do seu corpo. Algo muito estranho poderia estar acontecendo ali.

Vestiu uma calça de pijama e saiu do quarto, olhando para a porta do quarto da Maximoff.

“Maximoff!”, bateu na porta do quarto dela. Não ouviu nada. “Maximoff!”

“Vá embora!”, ela gritou.

A tinha visto na outra noite, há três semanas, do lado de fora do Complexo. Ela estava deitada no gramado e ficou lá até o amanhecer quando Steve a viu lá fora. Ele pensou que ela tivesse morrido, mas viu o seu amigo preocupado quando ela e com medo de que ele tivesse tentando fazer algo contra si mesma.

“O que há de errado com você?”, perguntou gritando.

A resposta demorou, mas veio. “Eu não sei mais o que fazer, o falar. Pedir desculpas, perdão... dr. Banner, me perdoe”, Wanda disse baixo. Pela sombra que fazia embaixo, na fresta da porta, percebeu que ela estava sentada e encostada na porta. “Eu não sei aonde estava com a cabeça quando o meu irmão e eu nos juntamos ao Ultron. O meu irmão queria mudar o mundo, transformá-lo. Eu também queria. Mas Ultron só queria evoluir para destruir”, ela disse.

Notou no tom de voz que ela estava chorosa.

“Você tem uma coisa admirável, Wanda”, disse. Pela primeira vez se referiu a ela pelo primeiro nome. “Quando você se envolve, você se envolve de verdade. Eu não sei até que ponto eu admiro isso, mas concordo que é uma faca de dois gumes”.

“Você pode me perdoar, dr. Banner?”, mais uma vez ela perguntou.

“Por agora sim, Wanda. Nunca mais use esse seu... lance da hipnose em nenhum de nós”.

Não sabia se era um perdão sincero, porém, ela precisava disso para seguir em frente.

[...]

As suas andanças noturnas tinham ficado mais constantes. Já conseguia manter comida suficiente na barriga e já começava a sair mais um pouco, principalmente encorajada pelo Visão. Ele dizia que ela deveria ver a luz do sol alguns dias na semana senão poderia começar a adoecer e começou a listar coisas que poderiam começar a acontecer com ela se continuasse se privando de vitamina D natural.

Os seus treinos começaram no seu próprio ritmo, Steve não a forçou a nada. Ele disse que todos eram bons, mas que ainda não eram uma equipe. Tony Stark tinha marcado uma entrevista para o dia seguinte, cedo, para que os Novos Vingadores fossem apresentados ao mundo.

Estava ansiosa por isso.

Quando era criança e ficava assim, a sua mãe lhe dava um pedaço pequeno de chocolate meio amargo, o seu favorito. Ela dizia que um pouquinho daquilo que a pessoa mais gostava já era o suficiente para acalmá-la. Duvidava bastante que tivesse chocolates no Complexo: Steve, Sam e Rhodes não pareciam ser do tipo que se rendiam ao açúcar, Visão não precisava comer e Natasha era do tipo que não consumia nada que pudesse deixa-la lenta nas missões. Mais uma madrugada que passava em brando para a sua conta. Talvez um achocolatado fizesse bem à sua noite.

Desceu para a cozinha e a luz estava acesa. Se sentiu um pouco envergonhada por ser uma meliante assaltante de geladeiras sendo descoberta antes mesmo do seu primeiro trabalho de gatuna.

“Dr. Banner?”, perguntou quando viu o homem sentado em um banco alto, comendo algo no balcão.

“Ah, boa noite, Wanda”, ele respondeu sem se virar.

Um bolo de chocolate bonito e chamativo descansava ao lado do homem e era aquilo que precisava, não sabia como aquilo havia aparecido lá.

Cheia de dedos, se aproximou do armário que costumavam guardar as louças e tirou um prato e uma colher para se servir. Calmamente, chegou perto do balcão e viu a espátula repousando no espaço que faltava e mediu uma fatia razoável para o seu prato.

“Não consegue dormir?”, ele perguntou.

“Essa entrevista está dando nos nervos de todos, é normal. Eu lembro quando nos procuraram depois do que aconteceu em Nova York. Todos queriam saber como apenas seis pessoas haviam conseguido deter uma horda alienígena e um deus maluco”, ele riu. Parecia estar amargando alguma coisa no íntimo.

“Eu não sei o que responder sobre o que aconteceu em Sokovia. Eu não quero responder sobre Sokovia”, disse.

“Você não precisa, está no seu direito de não responder o que quer que seja e não podem coagir você”, ele falou entre uma garfada e outra.

Garfou o seu próprio bolo e levou um pedaço aos lábios. Sentia a tensão do homem à sua frente e agora tinha certeza de que algo acontecia. Comeram em silêncio confortável.

“Lembra quando eu disse a você que eu admirava o seu envolvimento com as coisas?”, assentiu. “Parece que você é a única pessoa no mundo que se envolve de verdade, sem medo. Se joga de cabeça em algo”, ele disse desconexo.

Poderia ver o que ele pensava, mas não poderia. Não deveria.

Deixou que o dr. Banner falasse mais do mesmo, sem conexão nenhuma, inclusive falou sobre o trabalho dele sobre colisão antielétron. Falou da faculdade, de Betty Ross, do tempo que ficou no Brasil trabalhando em uma fábrica de envase de refrigerantes. Depois de três fatias de bolo conseguiu finalmente sentir que ele tinha bebido um pouco, não o suficiente para ficar bêbado.

“Você acha que não estou dizendo coisa com coisa”, ele riu quando franziu as sobrancelhas contando sobre os filhos de Clint, nem sabia que ele era casado.

“Não, por favor, continue, dr. Banner”, replicou tentando não parecer mal-educada ou mal-agradecida pelo tempo do homem.

“Sem o doutor, só Bruce. Acho que podemos nos tratar pelo primeiro nome a partir de agora”, ele disse. Não sabia o que ele queria dizer, mas sentia que nele tinha mais que tensão, amargura e uma pontada de tristeza.

“Só-Bruce então”, falou. “Eu preciso subir, Stark disse que virão cedo e já é quase três da manhã. Tivemos uma boa conversa”, finalizou.

“Sim, tivemos”, Bruce repetiu. “Pode deixar a sua louça aí, eu lavo antes de subir”.

“Obrigada”, agradeceu e passou por ele com pressa.

Quando estava prestes a sair da cozinha, a voz masculina de Bruce Banner a chamou de volta. “Obrigado por, sabe, ouvir os devaneios de um velho louco”.

Apenas acenou com a cabeça e subiu.

[...]

Era oficialmente a primeira festa dos Novos Vingadores e estava um pouco ansioso sobre como se comportar nesse momento delicado. Não havia passado nem bem um mês desde que ele Natasha terminaram que daria tudo para não precisar sair do seu quarto.

O cheiro forte de perfume feminino vinha do quarto ao lado do seu. Pelo que sentia, Wanda tinha tomado banho com o vidro de perfume que tinha ganho de Visão. Percebia as interações dos dois e se perguntava como ela conseguia ter paciência para responder a todas as perguntas que ele fazia.

Uma batida na sua porta aconteceu e atendeu. Tony estava do outro lado com um sorriso de vamos, bebê, hoje a noite é nossa.

“Ué, eu pensei que a nossa amiguinha com apelido de aracnídeo estaria aqui com você. Eu não sorriria assim se não fosse outra coisa”.

Apenas acenou negativamente enquanto ria.

“Não? Você e a Viúva Negra não estão mais juntos? Como você não me chamou para comer sorvete e assistir aqueles romances água com açúcar? Estou profundamente magoado, Bruce”, Tony disse em falso sofrimento.

“Não precisava, eu comi bolo de chocolate e conversei com a Wanda”, confessou.

“Ah, não, a nossa pequena bruxinha? Você não perde tempo, meu amigo”, Tony brincou. “Não, espera, ela deve ter idade para ser a sua filha!”

“Tony, não foi nada disso. Ela se sentou e comeu bolo de chocolate, foi só isso”.

“Ah, Bruce-Bruce, cuidado. Andei sabendo que o Visão quer tirar a sua nova garota de você, mas eu não sei como ele pode tirar a sua garota de você se nem a sua garota ela é ainda”.

“Tony!”, repreendeu quando ouviu a porta de Wanda se destrancar ao lado da sua.

“Mas me diga, o que aconteceu para que você e Nat terminassem?”, ouviu de Tony.

“Nós sempre estivemos em níveis diferentes do relacionamento, Tony”, foi a única coisa que disse.

Não tinha percebido que o Visão havia passado pela frente do seu quarto quando viu de relance Wanda passar com ele em um vestido vermelho. Achou que foi a primeira vez que a viu verdadeiramente arrumada, com os cabelos elegantemente penteados e, por tudo que era mais sagrado, ela estava de salto alto.

“O que eu disse?”, Tony o irritou um pouco.

Esperou que ele descesse para que fosse atrás. Não queria ter que dar de cara com Natasha, ainda estava superando o fato de que ela andava muito próxima a Sam. No andar de baixo havia música, comida, os seus amigos bebendo e se divertindo.

Passou bastante tempo ali, imóvel e quase invisível a todos. Sentado no sofá conseguia ver as movimentações de todos eles: as conversas entre Rhodes e Tony, Steve bebendo solitário no bar, Sam e Natasha tentando conversar escondidos em um canto, Wanda se irritando com perguntas feitas pelo Visão.

Não demorou muito até que a Feiticeira Escarlate se sentasse ao seu lado descalçando os seus sapatos. Com os ombros relaxados, notou Wanda se encostar no estofado. Queria demais perguntar o que estava acontecendo para que ela fosse buscar acolhimento justo com ele.

Eu sei os protocolos sociais para uma dança, Wanda, mas não sei se é o local mais apropriado para isso, francamente. Quando um cara quer dançar com uma garota ele simplesmente dança com ela, não busca por protocolos sociais aceitáveis”, ela falou aborrecida.

“Sabe, você fez uma excelente imitação de como o Visão fala”, riu.

“Não tem graça, Bruce”, ela acabou rir junto.

“Você queria dançar?”

“Eu nunca dancei, só queria saber como é”, a ouviu confessar.

Se já tinham mesmo superado tudo o que passou até o momento, poderia ceder esse pequeno capricho da jovem. O que era uma dança para alguém que há anos não mexia tais músculos direito? Se levantou do sofá e estendeu a mão para Wanda.

“Se conheço as playlists do Tony, daqui a pouco começa uma música lenta e será a nossa chance”, piscou para ela. “Vamos, vai ser divertido”.

Hesitantemente, Wanda aceitou a sua mão. Logo uma seleção oitentista começou a tocar e ouviu os hinos de sofrimento por amor começarem a ser selecionados.

“Ponha os pés em cima dos meus, me deixe conduzi-la, minha senhora”, disse.

Wanda demorou um pouco para confiar na sua palavra, mas aceitou no fim, de bom grado. A sua mão direita tocou a dela e a sua mão esquerda tocou a cintura fina da garota. Do mesmo modo, Wanda se apoiou com a mão no seu peito com medo de cair.

Durante o tempo que passaram ali, pareceu uma eternidade. O cheiro de perfume forte já havia passado e agora as notas estavam mais suaves mesmo que bem marcantes ainda. Fechou os olhos e deixou que o momento seguisse, seria como o Baile de Formatura para Wanda e percebia que ela tinha certos anseios de menina-mulher.

Quando abriu os olhos, Tony, Rhodes e Visão observavam a cena de longe. Cada um tomou a sua conclusão daquilo, de como tinha se agarrado ao momento para não deixar aquilo passar.

Tony deveria estar pensando que tinha acertado o pulo quando chutou que Wanda era a garota dele.

Rhodes deveria estar pensando que Wanda tinha idade para ser filha dele.

Visão deveria estar pensando.

“Dessa vez sou eu que agradeço, Bruce”, Wanda disse ao seu ouvido.

[...]

As suas escapadas noturnas para comer bolo de chocolate com Bruce haviam se tornado mais frequentes. Descobriu que havia sido ele mesmo que havia feito o bolo e cobertura do melhor doce que comeu desde que chegou aos Estados Unidos.

Não demorou muito para saírem em uma primeira missão. Já tinha visto o Hulk de perto uma vez, mas dessa vez ele parecia mais selvagem e incontrolável.

A missão estava sendo agridoce. Mesmo com a HIDRA desmantelada, os testes de aprimoramento humano haviam rendido mais frutos. Strucker deixou uma trilha de corpos para trás ainda em Sokovia. Tinham retornado apenas para acabar de vez com todo o acontecido. Não era possível mensurar quantas pessoas haviam se voluntariado para os testes, mas poderia apostar que haviam alguns outros assim como ela e seu irmão.

"Não temos tempo! Wanda, você precisa cantar a canção de ninar!", Tony disse no ponto no seu ouvido.

Tinha medo do Hulk. Não de Bruce, apenas do Hulk. Natasha não estava lá, isso era uma coisa deles, não poderia fazer isso.

"Maximoff, você ficou surda? Nós precisamos do Banner para ir embora", Stark perguntou mais uma vez. Não gostava do tom autoritário dele, lembrava muito o tom de Strucker.

Usando a sua energia escarlate, voou para dentro do bunker e pegou a calça do dr. Banner. Voltou para onde estava e viu o Hulk de longe. Natasha mataria Tony por estarem fazendo isso, depois a mataria por estar fazendo isso com o homem dela. Respirou fundo e mesmo com medo, foi de encontro ao gigante esmeralda.

Se aproximou com cautela, se deixando ser percebida aos poucos. "Ei, grandão", falou do mesmo modo que Natasha falava.

"Não-ela", o Hulk rebateu.

"Não, mas eu vim ajudar. Acho que está na hora de uma canção de ninar", disse.

Do mesmo modo como Natasha fazia, deu a sua mão para ele e percebeu a relutância do Hulk ao se aproximar. Vamos lá, grandão. O Hulk não se aproximou, mal deixou que se aproximasse.

"Bruxa", o Hulk falou.

"Maximoff, por que a demora?", Stark perguntou.

"Ele não quer que eu faça isso", respondeu.

"Dê um jeito, rápido!", Stark pressionou.

A canção de ninar era uma junção de movimentos, não uma canção de ninar propriamente dita.

Ou cantada.

Suavemente, se lembrou de algumas palavras que a sua mãe lhe dizia quando estava para dormir. Por um momento, todas as vozes no seu ouvido se calaram para lhe ouvir cantar uma música da cidade velha. Mesmo sabendo que corria riscos e que o Hulk não a queria por perto, se aproximou mais um pouco ainda cantando e estendeu a mão para que ele deixasse que fizesse o que tinha para fazer.

O Hulk tocou a sua mão e a olhou diretamente nos olhos. "Canta-bem". Os movimentos foram precisos e não parou a cantoria um segundo até que ele começasse a deixar de ser verde, dando lugar ao dr. Banner.

"Wanda, não acho que a Natasha vá gostar de ouvir você cantando para o Bruce", Rhodes riu. Corou envergonhada.

Entregou o comunicador e a calça ao dr. Banner e ele logo se vestiu e colocou o ponto no ouvido. Envergonhado, Bruce chegou perto de si e não sabia como agradecer.

"Precisamos ir", falou. "O jato já está no ar, estamos atrasados".

"Como vamos subir?"

"Eu vou pegar vocês", Rhodes disse.

Não muito depois, a armadura do Máquina de Combate passou por eles. Ergueu um braço e Banner ergueu o outro. Foram pegos pelas mãos e chegaram ao jato. O seu braço doía, parecia que o seu ombro estava fora do lugar.

“Depois você toma um relaxante muscular e descansa, a dor vai passar”, Bruce se sentou ao seu lado. “Eles disseram que você foi ótima na sua primeira missão, parabéns”, o viu sorrir.

“O que é isso?”, perguntou tentando fuçar o que ele tinha na tela do computador.

“É uma playlist para quando eu preciso relaxar depois das missões. Todo o cuidado é pouco”, foi a única coisa que ouviu dele.

“Posso ouvir?”, não precisou pedir duas vezes.

Bruce colocou os seus fones de ouvido nela e escutou atentamente o que o fazia se acalmar. Tinha um pouco de tudo: do folk, o clássico, o pop rock, o country. Ouviu quando Stark disse que chegariam em Nova York em cinco horas, poderia cochilar um pouco.

Olhou para Bruce e viu que ele já estava cochilando sentado, torto. Não custaria muito usá-lo como almofada por alguns minutos, não pretendia dormir tanto assim. Se acomodou ao lado de Bruce e repousou a sua cabeça no ombro dele relaxando do modo como ele relaxava antes de chegar em casa.

[...]

A vez em que Wanda dormiu com a cabeça no seu ombro não foi a única. Gostava de sentir os cabelos castanhos dela perto de si, o cheiro de shampoo de maçã verde era gostoso. O Natal já estava bem perto e já via a ansiedade dela em comemorar pela primeira vez em muitos anos.

Wanda tomou para si a responsabilidade de montar a árvore de Natal e decorar todo o Complexo. Tinha festões e bolas vermelhas e douradas por todo o seu laboratório. Aquele prédio todo finalmente parecia ser uma casa de verdade com todo esse clima acolhedor.

Natasha e Sam finalmente se assumiram. Todos pensaram que Bruce Banner fosse se transformar no Hulk, mas perderam o seu tempo e o show. Estava passando tempo demais revendo relatórios de estágio da Fundação Setembro.

Quando a Véspera de Natal chegou, não pode deixar de cumprir o seu ritual de ir até a cozinha no meio da noite para surrupiar uma fatia de bolo de chocolate para o seu quarto.

“Eu não sei se ficaram bons, eu queria que você fosse o primeiro a provar”, Wanda disparou na sua direção com um prato contendo biscoitos de açúcar em formato de bonequinhos. Visão olhava desconfortável do outro lado.

Colocou um na boca e sentiu como ele derretia nos lábios, aquilo estava divino!

“Visão disse que me ajudaria a fazer, mas eu tive que fazer tudo sozinha”, ela olhou torto para o amigo.

“Ainda bem que você fez sozinha, está delicioso”, confessou.

A garota se pendurou no seu pescoço e lhe deu um beijo no rosto. O outro cara já gostava dela, só faltava Bruce decidir o que sentia por Wanda. A amizade, apesar de tudo, era muito forte. Só não sabia se tinha mesmo coragem de olhar para ela com outros olhos. Se não fosse rápido o suficiente, Visão passaria a perna nele. Mesmo que ainda não tivesse se decidido, sentia essa questão assombrando-o por onde fosse.

“Você já vai dormir?”, perguntou.

“Ainda não, vão passar alguns filmes natalinos na televisão. Você quer assistir conosco?”, ela parecia esperançosa pelo sim.

“Amanhã é dia de Natal, eu não preciso acordar cedo”.

Mais uma vez Wanda vibrou. Não parecia a garota que conheceu meses atrás, aquela mesma garota que pulava as janelas do Complexo para se deitar no gramado e admirar as estrelas à noite. Estava mais feliz, entusiasmada.

Viva, Bruce se lembrou. Wanda parecia ter voltado a viver. Ou começado.

Ela fez pipoca, levou o resto do bolo para a sala e se sentou no meio do sofá. Poderia parecer o momento certo para isso?

“Wanda, por que eles se beijam desse modo? Deve haver um protocolo social dizendo que isso não é permitido durante o dia e ao ar livre”, Visão falou. Não conseguiu não revirar os olhos ao ver o casal na tela se beijar com muita afeição.

“Quando você gosta de alguém de verdade, você não se importa com esse tipo de coisa, Visão. Você apenas faz porque deixa você e a sua pessoa felizes”, Wanda explicou.

“E você gostaria de ser beijada assim?”, o sintozóide perguntou novamente.

“Qual garota apaixonada não gostaria?”, ela respondeu vaga.

Antes que o Visão se movimentasse, Bruce teve cinco segundos de coragem insana: tocou a mão de Wanda e a beijou. Do nada. O gosto dos biscoitos ainda estava nos lábios dela quando aconteceu.

Era agora ou nunca.

Se surpreendeu quando ela retribuiu trazendo-o mais para perto. Não se importou com o fato de o Visão estar estarrecido do outro lado do sofá, só colocou as mãos na cintura de Wanda e se deixou levar. Feriu os protocolos sociais do sintozóide.

“Você me assombra, Wanda. E eu pertenço com você por isso”, falou.

[...]

Passados Natal e Ano Novo, o mês de janeiro também passou preguiçoso. Boa parte do que estavam fazendo ali era trabalho burocrático e isso era a coisa mais chata do mundo.

De algum modo, Visão andou espalhando para os colegas que um novo casal tinha se formado entre eles. O seu relacionamento com Bruce não passou despercebido pelos outros e se irritou por isso. O seu relacionamento era seu e não aguentava mais ouvir conselhos dos outros sobre como não deveria irritá-lo muito e essas coisas.

Tony Stark lhe deu um vale-presentes da Claire’s para comprar algo novo e algo verde para ele. A Claire’s era uma loja de garotas, comprou coisas para si e uma camiseta para Bruce quando fizeram um mês juntos.

Não se sentia confortável em mexer no que ele tinha no laboratório, nem ousava entrar lá. Já havia feito as provas de equivalência para o ensino básico americano e um exame de admissão, em breve receberia os seus resultados então poderia estudar no país a partir disso.

Se sentou na varanda do quarto de Bruce e lá viu o degradê rosado no horizonte anunciando o início da noite. Já tinha lido todos panfletos necessários para uma admissão em Universidade de Nova York. Queria poder fazer o que o seu irmão queria fazer: transformar o mundo, vê-lo mudar.

Era estranha estar ali, na mesma posição que Natasha esteve um dia e sentada do mesmo modo como ela estava naquela noite. Ainda era estranho para ela ver como Bruce e ela se olhavam envergonhados por terem seguido em frente.

“Você não cansa de tentar me surpreender?”, perguntou sentindo que Bruce logo estaria ao seu lado.

“Estar com uma mulher que sente muitas coisas não exatamente a minha especialidade”, ele se defendeu rindo, sabia que ele falou de Natasha. “Isso aqui chegou pelo correio hoje cedo”, Bruce mostrou um envelope da Universidade de Nova York e um sorriso de eu roubei isso do carteiro de manhã para poder abrir junto com você.

“Você parece mais ansioso que eu”, tocou o papel branco com o seu nome. Wanda Natalya Maximoff.

“Talvez eu esteja”, Bruce piscou.

Se muniu de toda a coragem que tinha e rasgou o topo do envelope. Tinha sido a única universidade que se inscreveu, precisava dar certo. Se não desse, tentaria de novo depois. Na sua redação falou de como se sentia ao saber que poderia ajudar a mudar o mundo. Agora isso tudo era mais real e aquele papel fino pesava mais do que qualquer outra coisa que já tenha sentido.

“Cara srta. Maximoff, é com imensa satisfação que comunicamos que a sua inscrição para o curso de Ciências Sociais foi aceita com êxito...”, não conseguiu ler o resto, isso era o que importava no momento.

“E então?”

“Fui aceita, Bruce!”, vibrou. “Aqui diz que o período letivo começa em setembro e que posso me instalar no alojamento dos estudantes dividindo o quarto com alguém”, não parou.

“A sua vida está começando de verdade, Wanda. Os outros ficarão felizes em verem você se estabelecendo, se estabilizando”, ouviu de Bruce.

Ele acarinhou o seu rosto e disse o quanto estava orgulhoso de vê-la entrando na universidade.

O modo como Bruce a beijava ainda era uma completa surpresa. Sentia um misto de carinho, cuidado, uma leve ponta de autocensura e eu não quero desaparecer, mas não quero fugir.

“Vamos dormir? Você disse que queria massagem nos pés”, Bruce falou no seu ouvido enquanto a conduzia para o quarto. Uma cama confortável viria bem a calhar no momento.

[...]

Odiava sentir ciúmes, isso era um fato. Na sua cabeça, sentir ciúmes de Wanda era um crime hediondo que merecia prisão perpétua. Ela achava fofo quando ele perguntava desajeitado como tinha sido a sua tarde de treinos com os outros caras da equipe.

Sam estava muito bem com Natasha.

Steve não tinha cabeça para pensar nessas coisas quando o seu coração ainda estava cheio por Peggy Carter.

Rhodes sabia muito bem qual era o seu lugar nisso tudo.

Tony ainda estava firme e forte com Pepper, mal visitava o Complexo.

Visão era o problema.

Não tinha um momento do dia em que não olhasse para o Visão e não visse um sentimento que não conseguia identificar no rosto dele. Era como se ele não estivesse contente com algo.

Wanda tinha dito que ele havia insistido uma vez em perguntar sobre o relacionamento com ele. Era estranho ele se interessar demais. Wanda era sua namorada, a defenderia com unhas e dentes dessas investidas mesmo isso soando machista na sua cabeça e não queria ser assim.

As luzes piscando no seu laboratório fizeram com que os seus equipamentos parassem de funcionar. O gerador não funcionou.

Saiu do laboratório e viu que havia movimentação no seu corredor. Andou com pressa para ver o que acontecia. Já estava quase no fim do expediente, então muitas dessas pessoas logo estariam em casa. Subiu para verificar se Wanda estava bem e conseguia ouvir tudo o que acontecia na antessala do alojamento dos Novos Vingadores.

“Pare de falar, você está me machucando!”, era Wanda sibilando.

“Você e ele não querem ouvir a verdade! A vida não será fácil para vocês, Wanda. Vocês não poderão ter filhos, ter uma casa em outra cidade, os protocolos sociais aceitáveis para um casal normal não se aplicam a vocês dois. O Dr. Banner não poderá viver estável por muito tempo”, Visão falava.

O seu sangue começava a esquentar e não queria que o Hulk saísse.

“E você acha que com você ela poderia ter tudo isso, Visão?”, perguntou. “Um sintozóide?”

“Eu não a poria em perigo”, a lógica dele o irritava.

Tinha se envolvido tanto com Wanda que medir as consequências tinha sido a última das suas preocupações. Odiava admitir, mas ele tinha razão.

“Há mais de três anos as minhas transformações têm sido seguras, acho que podemos lidar com isso como adultos”, falou.

“Wanda é jovem, não pode realmente querer que ela passe o resto da vida assim”, foi a única coisa que o sintozóide disse.

Era uma verdade inteira isso. Não saberia por quanto tempo poderia manter o outro cara sem fazer nenhum estrago. Sentia o Hulk se contorcendo, querendo esmagar o Visão. Com apenas um toque, Wanda o levou para mais perto dela e deixaram o caminho livre para que o ser robótico passasse.

“Bruce, não leve em consideração o que ele disse. Visão está ferido”, ouviu.

“E ele tem razão. Como espera passar o resto da vida assim?”

Saiu e não olhou para trás.

[...]

Lagos aconteceu depois de mais uma discussão com o Visão sobre o seu relacionamento com Bruce. Ou o que pensava que ainda tinha com Bruce. Não dormiam mais no mesmo quarto e pouco estavam se falando já que ele passou a se esconder no laboratório. Sentia como ele se sentia: o medo dele, o modo como ele não queria machucá-la. Uma tarde se sentou ao lado da porta de onde ele trabalhava e esperou que ele saísse. Quando se levantou o viu deitado no chão, encolhido.

Visão simplesmente tinha conseguido irritá-la nos outros dias dizendo que a sua vida nunca seria possível com Bruce: as chances de ela ter um filho com ele eram inexistentes, o governo tampouco entregaria uma criança nas mãos deles para que criassem. Reuniu forças depois de algumas tentativas e respondeu que toda essa cena era uma desculpa medíocre para assimilar e reproduzir o sentimento de ódio que tinha adquirido depois que o seu relacionamento com Bruce começou no Natal.

Ela e Bruce tinham acabado de completar cinco meses de relacionamento, não tinha que ser assim. Não queria ter passado por uma crise dessas em tão pouco tempo.

Bruce a procurou depois, nenhum dos dois pediu desculpas, não havia porquê. O calor do abraço dele foi a coisa mais reconfortante que estava sentindo depois que tudo aquilo aconteceu.

Não muito tempo depois veio a assinatura do Acordo de Sokovia. Em momento algum Bruce a culpou pelo que aconteceu, foi ele quem lhe ajudou a entender que mesmo com a morte dessas pessoas, outras milhares foram salvas. Talvez ele não quisesse usar essas mesmas palavras, mas entendeu o recado.

Não assinou. Bruce não assinou. Steve não assinou.

Steve achou Bucky Barnes, o Soldado Invernal. Viu pela televisão a confusão toda causada no ataque a Conferência das Nações Unidas e o fato de que tudo ainda estava muito no limbo sobre o que sucederia a não assinatura. Sam esteve do lado dos dois. Clint estava com eles e havia recrutado um homem que encolhia. Percebeu que o melhor a se fazer era tomar alguma decisão por si mesma e Bruce a acompanhou quando entraram no furgão de Clint.

Amizades começariam a se romper por causa disso. Seria justo o governo dizer o que poderiam fazer a partir de agora? Salvar poucos e era mesmo melhor que salvar ninguém?

Confinados em uma prisão no meio do oceano, ficaram presos aqueles que se aliaram ao Capitão América na luta que ocorreu no aeroporto, depois que Bucky foi acusado de matar T’Chaka, o Rei de Wakanda. Tinham dado tudo de si para que eles pegassem o jato até a Sibéria. Queria demais acreditar que tudo daria certo mesmo sabendo que poderia dar incrivelmente errado.

Via pela sua cela que Bruce estava transtornado, não podia se transformar para poder tirar todos dali. Ele havia recebido um colar de choques igual ao seu para que não usassem o que tinham para usar. Quando os guardas a incitaram, viu como ele se transformou no Hulk e a sua dor física, igual à que sentia. Só queria que parasse.

E parou.

O Capitão voltou para resgatar os seus amigos e leva-los para um local seguro, longe de tudo e de todos.

O seu conceito de lar não era mais o de uma casa que se sentia acolhida, mas era a pessoa quem a acolhia. Acolheu Bruce e cantou para ele do mesmo modo como da primeira vez, vendo-o voltar a ser ele mesmo. O abraço mais quente e acalentador do mundo foi o que recebeu dele. Apertado, forte.

“Wakanda é algo temporário, vamos nos refazer longe de tudo e de todos”, falou quando Bruce pôs a cabeça no seu peito para escutar o seu coração bater, era isso que o acalmava no momento.

[...]

Toda a imprensa do mundo chamou aquilo de Guerra Civil.

Os Vingadores, os heróis mais poderosos da Terra, haviam se destruído de dentro para fora. Ulton havia dito que ela destruiria os Vingadores. Sentia culpa por isso, de naquele dia em Lagos estar psicologicamente abalada para uma missão que requeria bastante cautela.

Estavam em Gales. Um vilarejo afastado e muito distante de Cardiff. Havia luz elétrica e água encanada, mas nada de sinais de televisão ou internet. Estariam seguros pelo menos por enquanto. O nome de solteira da mãe do seu pai havia sido Nott escolheu adotá-lo pois seria mais fácil se apresentar assim, era um sobrenome comum.

Bruce e Wanda Nott. Usá-lo só fazia lembrar de precisavam dele para esconder que eram perseguidos até hoje.

De certa forma, conseguiram a vida que Visão disse que não conseguiriam ter. Já fazia dois anos desde que tudo aconteceu e viviam até bem escondendo quem eram de verdade. Bruce dava aulas de inglês e ciências na escola elementar local: não o conheciam, não sabiam sobre os Vingadores, era fácil se misturar por isso. Mesmo que vivessem com medo, sentia uma ponta vitória por terem conseguido.

Olhou Bruce pelo vidro da janela, vendo-o chegar em casa depois de acenar para crianças na rua.

Sentiu braços finos se enlaçarem nas suas pernas e olhou para baixo. Viu Luna sorrir. Ela já tinha pouco mais de um ano quando a encontraram nas ruas da Cidade Velha, em Sokovia, antes de irem para Gales. Queria ver o seu país uma última vez antes de deixar de ser Wanda Maximoff para sempre. A encontraram descalça, chorando e suja de sangue. Haviam bombardeado o país novamente e ela estava sozinha. Não foi difícil convencer T’Challa a fazer documentos iguais aos seus dizendo que ela era Luna Olivia Nott, filha dos dois.

Pietro adorava a luz da lua, o brilho dela, o tom prateado... não havia nome melhor para a garotinha que não sabia nem dizer o próprio nome. Não deixaria que ela passasse pelo mesmo que passou quando era criança. A porta se abriu e garotinha foi ao encontro de Bruce, que a carregou no colo e recebeu um beijo estalado na bochecha.

O telefone da sua casa não havia tocado sequer uma vez. Até agora.

Olhou para Bruce e ele colocou Luna no chão, indo em direção ao telefone. Não sabiam o que fazer. Bruce hesitou, mas tirou o telefone antigo do gancho e atendeu.

“Bruce? Wanda? Eu preciso de vocês”, pode ouvir a voz de Tony Stark do outro lado do telefone. “Há um maluco espacial juntando as Joias do Infinito. O mundo precisa de todos os seus Vingadores”.

(Through Glass – Stone Sour)

Porque eu estou olhando para você através do vidro, não sei quanto tempo se passou

Tudo o que sei e que parece uma eternidade

Ninguém te diz que a eternidade é algo muito familiar, sentado sozinho dentro da sua cabeça


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Notas finais do capítulo

Me deixem saber se gostaram ♥