O Sarcasmo Final escrita por TopsyKreets


Capítulo 1
Capítulo Único




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O Sarcasmo Final

 

Escrever o início de uma história é a parte mais difícil de se produzir.

 Qualquer escritor babaca, medíocre e acéfalo pode transpassar um final, baseando – se na sucessão de eventos já descritos anteriormente.

 

 Agora, escrever um bom início, as primeiras palavras e páginas que predem o leitor até o fim, isso sim é um talento revelado apenas nos verdadeiros autores.

  

E como eu me encaixo no primeiro grupo – os dos acéfalos e medíocres –  vamos pular o começo da história e rumar para o final, que eu julgo ser mais fácil.

 

 

— Eu vou matar todas vocês.

 

Da cela de paredes transparente da Crisântemo, a capitã da nave tentaria manter uma conversa com sua convidada, uma última vez, antes de pousar.

Inicialmente, ela julgara a cela desnecessária, mas depois de Star atacar três das tripulantes de Daron, ela teve que tomar providências, ainda que a contragosto.

 

Ela achava a prisão algo desumano.

No entanto, talvez fosse esse o caso.

 

O olhar de Star era inconfundível.

Você o conhece bem, se é um assíduo de passeios a zoológicos.

O olhar de leões e tigres, encarcerados, aguardando o momento certo de liberar uma fúria mortal em cima de seus captores.

 

Dessa vez, A capitã e Star conversariam acompanhadas de mais duas subordinadas.

 

A tripulação da nave Crisântemo, com a exceção de Daron, era formada exclusivamente de fadas.

Mulheres lindas, imponentes, com asas coloridas e brilhantes –  portando submetralhadoras Uzi de origem israelense.

 

Fadas eram, sem dúvida, as melhores mercenárias do mercado.

 

— Minhas meninas pegaram leve com você a meu pedido – Disse Daron, em reposta a Star – Mas não se engane. Elas não vão mais baixar a guarda, Rainha.

— Devia ter me deixado no exílio.

— Não devia! Caramba, você é Star Buterfly!

A Rainha Buterfly! Uma heroína, salvadora de vidas!

 

Star balançou a cabeça, em negativa.

 

— Eu mandei os sobreviventes de Mewni para a Terra e ateei fogo em todo o resto.

Não sou heroína. Muito menos rainha.

— Seu ato salvou milhares!

— Eu perdi meus amigos. Perdi minha família. Perdi o Marco....

Mereço ficar sozinha....

 

Daron se levantou da cadeira, com raiva do que estava ouvindo.

 

— Não merece não! – Gritou – Você merece muito mais!

 

Star levantou a cabeça e analisou a capitã.

Ela estava determinada. O bastante para colocar Star a força na espaçonave.

A questão era: porque?

 

— O que quer de mim? – indagou Star.

— Quero te dar um presente, em nome de todos aqueles que você salvou.

— Vai reviver minha família? Acho pouco provável.

— Sinto muito, Rainha. Mas posso te dar uma perspectiva. Um propósito.

— Que seria?

— Um trabalho. Pode não parecer muito agora, mas acredite, vai me agradecer no final.

 

Star gargalhou. O riso ecoou por toda a sala e nos ouvidos das fadas.

 

— Eu não quero nada vindo de você.

E meu nome não é Rainha. É Star.

Star Diaz - Buterfly.

 

....

 

A conversa fora interrompida pela mais jovem (e mais baixa) das fadas.

 

— Desculpe, capitã, mas estamos prestes a pousar.

— Muito obrigada, recruta.

 

Rainha, veja o que vai ocorrer a seguir. Eu vou te soltar. E com tranquilidade, vamos ao encontro de duas pessoas. Peço, portanto, que fique calma e deixe minha equipe em paz.

 

Star não respondeu. Apenas manteve o olhas vazio para Daron.

 

....

 

Minutos depois, sentiram o desacelerar do veículo e o tremor de seu pouso.

A nave pousara sem alardes.

A capitã se aproximou da porta e num movimento rápido, destrancou a cela.

 

Segundos depois, notou que o espelho lateral (aquele que só podia ser visto bem próxima a porta da cela, ou no interior desta) estava quebrado, com um soco.

Ela não teve reação para impedir Star.

 

Num salto, ela se levantou e empunhou um grande caco de vidro no pescoço de Daron.

Rapidamente, as duas fadas levantaram suas armas. Contudo, com Star usando a capitã como escudo humano, era impossível um tiro limpo.

 

Como fadas detêm uma ligação telepática, esse foi o breve pensamento das duas.

Atiramos?— Pensou uma.

Lógico que não! Do contrário, não seremos pagas!— Pensou a outra.

 

— Não as machuque, Rainha – Implorou Daron – Elas não têm nada a ver com isso.

— Bom, capitã, veja o que vai ocorrer a seguir. Você vai me levar até o seu contratante.

Depois eu penso se solto você ou não. Mande – as ficarem fora do nosso caminho e esperarem dentro da nave.

 

Daron balançou a cabeça, concordando com as exigências.

— Vocês ouviram, meninas. Podem tirar outra hora de almoço no refeitório.

Eu fiz lasanha. Levem as demais.

 

Ouvindo sua líder, as fadas abaixaram as armas.

 

....

 

Do lado de fora, Star ainda estava com Daron sob seu controle.

 

— Estamos na Terra – Disse Star.

Echo Creek, para ser mais exato.

— Notei. Esse lugar nunca muda. Onde o seu contratante está?

 

A capitã apontou para a casa em frente.

Tinham estacionado a nave no meio da rua, mas próxima a uma casa elegante, com uma pequena cerca branca e gramado.

Todavia, não fora necessário bater na porta.

O dono ouviu o barulho do pouso e assim que terminou de se vestir, foi até sua varanda.

 

Quando ele finalmente saiu, Star levou alguns segundos até entender o que estava vendo.

 

— Marco.... MARCO!!!!

 

Imediatamente, ela largou o pedaço de espelho e correu até ele.

Assim que ficou próxima o bastante, ela se lançou no ar, nos braços de Marco.

Ele a agarrou com firmeza. Com amor.

Com uma saudade intensa que agora, desaparecera.

Ambos choravam e se beijavam como no dia de seu casamento.

 

E seus corações residia uma vez mais felicidade e paz de espírito. Toda a raiva e frustação ficara para trás.

 

A cena era tocante. Mas precisava ser interrompida, infelizmente.

 

— Precisamos conversar – Disse Daron – E se não se importa, eu gostaria de uma xícara de café.

 

....

 

— Pra resumir – começou Daron – A esposa do Marco, a Star que ele conheceu, deu a vida dela pra me salvar.

Então, quando eu soube desse universo paralelo, um mundo onde a Star não estava somente viva, mas tinha se auto – exilado depois de salvar a todos, eu pensei:

“Por que não unir o útil ao agradável?”.

— Você queria nos juntar – Disse Star.

— Eu prometi a Star desse mundo, no leito de morte dela, que cuidaria do Marco.

E quem melhor para isso do que outra versão da Star?

Ainda mais uma que sabe o que é perder alguém tão querido.

— Daron, eu nem sei como agradecer – Disse Marco – Mas, não tenho certeza se isso é certo.

— Isso, quero dizer – Complementou Star – Ele não é o meu Marco. E definitivamente, não sou a Star que ele conheceu.

— Deem uma chance, a vocês dois.

Se isso não vai dar certo, porque desde que chegamos vocês estão de mãos dadas?

 

Ambos não tinham reparado até Daron tocar no assunto.

Estavam conectados desde que entraram na casa e sentaram no sofá.

Se a capitã não tivesse dito, provavelmente teriam ficado de mãos dadas a conversa inteira.

 

Ela deu um último gole na caneca generosa de café com leite e prosseguiu.

 

— Tudo bem, não querem ficar juntos? Não vou insistir. Mas não sou eu quem decide.

Vou deixar nas mãos dela.

— Nas mãos de quem? – Perguntou Star.

— Espere alguns minutos Rainha, ela já está chegando.

 

....

 

Não demorou muito para o ônibus escolar parar na frente da casa, ao lado da nave.

O motorista nem fez menção em estranhar a nave, até porque naquela versão da Terra, era algo muito comum.

 

Os passos em ziguezague ficaram mais próximos, até que uma pequena mão virou a maçaneta.

Solara Diaz – Buterfly entrou e deixou todo material escolar rolar por dentre as mãos assim que avistou Star.

 

— Mãe.... MÃE!!!!!!!!!!!!!!!!!!

 

Dessa vez, fora Solara que se jogara para cima de Star, que teve que agarrá-la com firmeza.

A menina começara um choro lamurioso, acompanhado de um tremor e soluços, enquanto afundava o rosto no colo da mãe.

 

— Papai disse.... Papai disse que você não voltaria mais....

 

Star tremia, mas sentia que deveria contar a verdade.

 

Sinto muito querida.

Não sou sua mãe.

Sou só uma sombra.

Uma cópia, vinda de um universo paralelo.

Eu sinto muito, de verdade....

  

....

 

Foi isso que ela pensou.

No entanto, não foi o que ela respondeu.

 

— Eu sempre vou voltar por você, amor.

Nunca duvide disso.

 

E com essas palavras, a rainha abraçou ainda mais forte a filha.

 

....

 

— Então, acho que você vai ficar – Disse Daron.

 

Star olhou para Marco.

 

— Se você quiser – Ele disse.

 

Ela acenou positivamente de volta a Daron.

 

— Boa escolha, Rainha. Esse é o seu trabalho daqui em diante. Protegê-los.

Senhor Diaz, foi um prazer.

 

A capitã apertou calorosamente a mão de Marco.

Depois, se virou para Solara.

 

— Querida, tia Daron tem que ir. Fica de olhos nos dois, tá bem?

Eles ficam perdidos sem você.

 

Depois de receber o beijo afetuoso da menina, Daron se foi, deixando que a família se entendesse, sem sua presença.

 

 

Teriam muito o que conversar.

 

 

....

 

De volta a Crisântemo, as fadas comemoravam a missão bem-sucedida.

E a capitã esperava ansiosamente o retorno da recruta.

 

— Aqui, capitã, conforme a senhora ordenou.

— Muito obrigada, querida.

 

A jovem tinha levado o conjunto ordenado de 304 páginas para serem encadernados e agora, voltava com o resultado.

 

— Se a senhora me permite, do que se trata, capitã?

— Isso, minha cara, é o meu primeiro manuscrito. Achei que a vida da Rainha de Mewni daria um bom livro. Contudo, talvez eu tenha me enganado.

Ficou dinâmico demais. Quem sabe dê um bom roteiro para uma série de tv.

— Eu tenho amigos na Disney— Completou a recruta – Que tal uma animação?

— Um desenho animado?

É, talvez. Conversaremos melhor no jantar. Nossa, vocês almoçaram duas vezes e eu, nenhuma.

 

Animada, ela se virou para a navegadora.

 

— Trace o curso para o Restaurante No Fim do Universo.

 

Quero um filé.

 

E sem demora, a nave rasgou os céus de Echo Creek e rumou para o infinito.

 

....

 

 

Não fiquem magoados, só porque eu menti pra vocês.

 

Não contei o final da história.

 

Há quem diga que eu contei apenas o meio.

Outros pensarão que eu contei, de fato, o início.

 

Deixo que suas mentes mais do que capazes decidam por mim.

  

E se for o caso, criem vocês mesmos o final.

   

Mas lembrem – se: sem erros ortográficos, evitem clichês e surpreendam sempre que for possível.

  

 

Façam isso por mim, e da próxima, eu pago o almoço.

 

Combinado?

 

 


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