Are You a Watcher or a Player? escrita por Poésy


Capítulo 1
Are you a watcher or a player?


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, perdoem as piadinhas gamers toscas, não resisti!

Boa leitura!



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— Maninhaaaa! Vamos logo, credo, você já foi mais rápida! - dizia meu irmãozinho de nove anos puxando-me pela ponta dos dedos.

 

— Já vou, já vou! - revirei os olhos, permitindo-me ser guiada por aquela criaturinha que pouquíssimas vezes encontrava.

 

Somos meio-irmãos, por parte de pai. Papai novamente divorciou-se, desta vez, da mãe do pequeno Caíque. Deste sempre ele é muito calado e detesta verbalizar e expressar suas emoções, a família anda sendo leviana o suficiente com a tendência errada de deixá-lo fazer o que bem entendesse e eu estou preocupada com essa situação. É complicado encontrá-lo, sou universitária em outra cidade há três anos, apesar do pequeno possuir celular, teclamos muito pouco.

Instaurei nele o prazer de jogos e videogames, apesar de seu enorme prazer em não ater-se as regras e reinventá-las para seu exclusivo prazer. Particularmente, os jogos virtuais sabiam educá-lo melhor, neste âmbito, em comparação com os parentes. Lá ele não poderia subverter as ordens para adequá-las a sua maneira mais fácil e com falta de paciência, além de que sei que utilizava como fuga da situação atual. Se já era um fascinado, agora, retirá-lo de frente do celular ou de seus consoles esta sendo mais cansativo.

 

— Mas não tá fácil para ninguém mesmo, olha essa fila!!! - Caíque passava as mão arrastando-as na própria face. Sorri suavemente, inocente demais achar que isso é algo difícil. Prometi que durante estas férias o levaria para sair mais vezes, hoje ele escolheu aqueles playgrounds de shopping, o “Evolution Games” fez minha infância e adolescência. Deviam ter só cinco pessoas na nossa frente para colocar mais créditos no cartão, mas como sempre, ele é muito esbaforido.

 

Durante a fila ele me narrava o que queria jogar e que finalmente me venceria no jogo do “disquinho flutuante” (Hóquei de Ar), lembro-me de quando ele implorava para eu deixá-lo vencer, como às vezes deixava em outros jogos, entretanto esse jogo era o único que eu possuía um código de honra comigo mesma. Retirando um grande amigo meu, em que atualmente contávamos com um histórico de que eu possuía 2 vitórias em cima dele (isso desde nossos doze anos), ninguém mais havia ganhado de mim, haviam torneios organizados no “Evolution Games” e eu e Lebre (como costumo chamar Diego, meu melhor amigo) sempre ocupávamos primeiro e/ou segundo lugares quando participávamos.

 

Enquanto nos divertíamos e detonei com ele no Hóquei de Ar e o ensinando várias táticas e técnicas, demos uma pausa para ele tomar um refrigerante. Ouvia-o atentamente sobre seus constantes pesadelos com frações e precisando pegar aulas de reforço em matemática, que eu também detestava, mas o ajudava durante as férias com os estudos. Caíque abriu a boca exageradamente e apontou gritando:

 

— NÃO ACREDITO!!!

 

Foi quando também abri a minha boca, no mesmo formato que meu maninho. Havia uma garota atraindo um grande público ao seu redor daquelas máquinas de dança “Pump It”, ela é absurdamente rápida,a julgar pela velocidade das orientações na tela, no mínimo estava no modo hard. Dos jogos dali com certeza era o que mais me desafiava, demorei horrores para pegar o padrão e de algumas músicas apenas e apesar de conseguir não pagar um mico como a maioria que sobe lá,e até ir bem, sempre respiro muito fundo quando é uma música desconhecida, há um momento que meus pés paralisam e fico aleatoriamente sambando que nem uma barata tonta não sabendo mais o que fazer. Quando ia para treinar, enfiava um capuz na cebeça para ter certeza que não seria reconhecida, caso algum conhecido estivesse por lá. Disfarço muito bem isso para quando estou com amigos ou na frente de meu irmão, puro orgulho gamer. Mas essa garota….

 

— Caralho, ela é MUITO melhor do que você. - precisei concordar com o pirralho e sua entonação exagerada e estridente no “muito”. Algo havia me inquietado naquela menina, a maestria dela dão estava apenas na velocidade, seus pés eram leves, diferente dos meus que mesmo rápidos, causavam certo estrondo no tapete metálico.

— Quero ver de perto! - Caíque puxou minha mão e desta vez com muito mais força que antes, eu não consegui desviar da moça, acredito que assim como ele, somos muito parecidos em reações, quando ele resolve esboçá-las.

Não apenas a suavidade complementando a velocidade, no primeiro round após seu show, ela optou ir ao nível normal dando-se ao luxo de movimentar as mãos mesmo, fazendo uma espécie de coreografia, agora com o olhar menos atencioso à técnica e sim devotado para expressões um tanto quanto sensuais, não deixou de atrair um “uhuuuul” do amontoado de gente principalmente do coro masculino. Acho que estou prendendo um pouco a respiração. De perto deu para observar o quão ela também é linda, seus olhos mestiços com olhar sedutor e atento, toda sua delicadeza entrelaçada com movimentos carregados de atitude, aquela roupa toda negra com manga comprida de gola alta com um colete jeans surrado, coturnos… aquela música de k-pop…. Ela parecia aquelas pop ídols. Mordi os lábios.

 

— Você gostou, né não, maninha? - arregalei os olhos e encarei. Mas que pirralho! Ele possuía um sorriso um tanto quanto divertido não deixando de ser malicioso. - E ela parece ser mais legal do que a Brenda e é linda! - disse referindo-se a minha Ex. - Chega nela!

 

— Fale baixo, criatura! - a música já havia acabado e ela estava sendo aplaudida. - Afê, Caíque! Larga de ser impertinente! - olhei de relance e ela ajeitava os cabelos castanho escuros lisos para trás, para os fios, de maneira ritmada voltarem para a frente de seu rosto, seu sorriso estava tímido e percebi que se desviava para sair de perto dos caras que a ladeavam. Um deles estava tentando abordá-la.

 

— “Imper”- o quê? Larga de falar difícil, sua nerd! - ele me apelidou assim desde que tinha sete anos - Aí ó, o cara lá tá indo falar com ela! - ele virou para o lado e seus olhos brilharam – Olha, agora dá para eu ir “pilotar” - referindo-se ao jogo de moto que tanto gostava – Passa o cartão para mim, quero bater meu recorde! - meio desnorteada, observando de soslaio a garota da dança tentando se desvencilhar do boy insistente que chegou nela, dei o cartão para Caíque que saiu correndo.

 

Resolvi sentar num banco. Quanta impertinencia! Brenda… ela é uma garota maravilhosa, muito boa me deixava mais calma, falava devagar, adorava filosofia budista em contrapartida de seu sorriso de criança levada, ela me ensinou bastante. Um doce, muita bonita, curvas… um sexo maravilhoso, conseguíamos brigar bem pela dominância não deixando de desfrutar dos outros momentos mais “passivos”. Eu sinto falta de sua companhia, seria muito bom perpetuar uma amizade, porém seria doloroso para ela, havia deixado claro isso. Terminei alegando não aguentar mais o namoro a distância, mas na realidade eu tendo a ser muito inconstante em relação sentimental e administrar meu emocional quando se trata de condições amorosas. Eu suspiro em mangás e filmes românticos, mas parece que nutro uma alma de vadiagem que não sossega em achar players, não para iludir ninguém, mas puramente para curtir um jogo casual.

 

Imersa em meus pensamentos, sinto uma aproximação do banco em que estou.

 

— Oi! Posso sentar-me aqui ? - meu rosto subiu e dei de cara com com um sorriso discreto da dançarina gamer. Senti meu coração dar uma palpitada.

 

— Claro, à vontade! - esbocei meu melhor sorriso meigo (em minha cabeça). Ela deu um “obrigada” e sentou, vasculhou sua bolsa e puxou um pacote de balas Fini de minhocas. Ficou olhando para frente um tanto aérea com um olhar curiosamente sério, não deixando de ter seu charme. Dava para notar seu cabelo levemente úmido pelo esforço físico e isso acentuava minha vontade de querer dar um beijo nela.

 

Meu irmão estava entretido já há uns 3 minutos pilotando, enquanto eu ensaiava mentalmente para puxar algum assunto com ela. Era engraçado só observá-la colocar aquelas minhocas gelatinosas na boca e suga-las para, só então triturá-las. Em meio daquele charme natural havia um ar um tanto moleca nela.

— Are you a watcher or a player? [Tradução: Você é um observador ou um jogador?] - virou seu corto em direção a mim.

 

 

Arregalei os olhos e arrepiei. - Como? Desculpe? - perguntei, já entendendo o que ela falou, mas não acreditando.

 

— Eu perguntei: ”Are you a watcher or a player?”. Você tem olhos de jogadora, mas apenas está observando. Estou com dúvida… - meu deus, em que esta garota esta se referindo? Mordi o labio - … Já que você está aqui.

 

 

Fito-a. Essa fala está muito arquitetada. Pode simbolizar mil coisas com este tipo de encarada diretamente em meus olhos. A vontade é dizer: “I'm a player, for you, baby.” e espalhar seus cabelos entre meus dedos aproximando-me o suficiente para nossas respirações se misturarem, além de encará-la com meus famosos olhos cor de mel predatórios. Ok. Eu ando lendo muito mangá. Porém, estamos em um espaço de jogos, ela pode só estar perguntando se eu jogo. Mas com esse olhar, uma frase incomum e meu “gaydar” gritando feito um louco, parece que ela está me provocando, comprando para briga (“é o rock das aranha” como diria Raul Seixas), céus, sou péssima.

 

— I'm a player. And you? [Trd.: Sou jogadora. E você?] - encarei-a por igual, o olhar desafiador e permanecendo com esse clima ambíguo.

 

— Play with me? [Trd.: Joga comigo?] - jogou a cabeça para trás e amassou o saquinho das gomas Finii, em seguida deu um sorriso meigo que contrastava totalmente com o clima que ela mesma gerou.

 

— Of course ! But… Can we stop speaking English? [Trd.: Claro! Porém… podemos parar de falar em inglês?] - imitei o sorriso meigo, rindo em seguida. Ela também riu e sua cabeça pendeu para frente, fazendo sua franja cobrir seus olhos.

 

— Oh, yes! Digo, sim! - continua rindo - É um hábito… Sorry. Opa, maus.- Levantei do banco com as mãos dentro do bolso ela levantou a seguir. Eu rí do hábito dela.

 

 

— Percebe-se… bom, qual é seu nome, dançarina?

 

— Thaís. Pelo visto também é observadora… Qual seu nome?

— Lorena. Hunf… difícil não observar uma exímia dançarina aparentemente viciada em balinhas de goma. - rí e fui acompanhada. - O que quer jogar? - falei olhando ao redor.

 

 

— Mas já não estamos? - parei com a sua resposta, encarei-a com o canto dos olhos seriamente. Como imaginei, havia sido uma frase muito bem articulada. You are a lesbian, lady Thaís. Uma fucking lésbica gamer. E você está brincando com a Boss [chefe]. - Que tal o hóquei? Se eu ganhar, quero um outro pacote dessas minhocas. - jogou o antigo pacote amassado no lixo ao lado.

 

— Realmente…. Uma viciada. - ela riu – E se eu vencer? Esse pode ser um território inimigo, dançarina. - sua expressão mudou para um ar de superioridade.

 

— Assim como escolhi, você também tem liberdade. - foi andando em direção da mesa e eu a acompanhei – Eu fui a desafiante, eu passo o cartão. - Posicionamo-nos cada uma de um lado, seguramos nossas “armas” (tacos) e nos encaramos. - Eu sei minha posição em um território e também meus atributos, só para constar.

 

— Isso é um RPG agora? - falei em tom divertido.

 

— A vida não deixa de ser um. - passou o cartão e a música característica da Mesa de Hóquei no ar tocou, o disco estava do meu lado. - E o meu D20 [referindo-se ao dado de RPG que possui 20 lados] está no 20, hoje. - Posicionou-se.

 

 

— Um RPG não conta só com a sorte! - Posicionei-me e sorri mostrando que ia começar. - Necessita de estratégia.

 

— Não me referi apenas ao jogo. - piscou-me. Que…. Atrevida. - A estratégia já está montada. Aguardando-a… - encarou o disco. Eu sorri. - Que vença o melhor de 3 partidas.

 

 

Soltei a mão do disco. E INICIEI. O taco bateu com força e muito veloz para uma primeira sacada, saiu zigue-zagueando pela mesa podendo fazer qualquer um perder o contato visual. Ela conseguiu acompanhar e rebateu de forma que o disco veio perfeitamente reto em minha direção, quando fui responder, ao triscar meu taco, o disco voou da mesa e caiu no chão, próximo a mim. Pera. Oi? Rapidamente peguei o disco do chão. Isso é coisa de principiante, ou de jogador estressadinho que quer descontar no disco as frustrações, ou alguém que quer mostrar força, ridiculamente (como muitos caras com quais já joguei e arrebentei nas competições). Abaixei rapidamente e posicionei o disco na mesa enquanto olhei para ela com uma expressão inquisidora. Ela estava com um sorriso furtivo. Murmurei um “esquentadinha” que provavelmente foi escutado.

Lancei novamente, agora com ainda mais velocidade e com o mesmo estilo de trajeto. Foi tão rápido que quando percebi ouvi um “Gol” ou algo do tipo. Isso é um sinal de ponto. Só que não foi do lado dela. FOI DO MEU!Olhei um tanto surpresa. A única coisa que percebi foi como a devolução dela havia sido igual da primeira, reta, direta…. Eu só… não acompanhei. Foi quando olhei para ela de relance e ví um sorriso muito malicioso. Aquele primeiro movimento, exagerado, foi proposital! Não foi por nenhum dos motivos anteriores, certo que foi um exibicionismo, mas foi para mostrar técnica. Thaís mostrou sua habilidade de controle e precisão, demonstrando que conseguia transformar o zigue-zague bem veloz em uma linha reta e quase dobrar sua velocidade. Ela não é qualquer uma para se divertir. Em uma ficha de RPG, com certeza teria um nível alto em velocidade, precisão….

 

— Agora que você percebeu, certo, campeã? - falou enquanto eu posicionava o disco. - Finalmente lhe darei um duelo a sua altura.

 

… capacidade de irritar os inimigos.

 

Espera, ela me conhece? Ela sabe que eu competia? Então quer dizer que ela me observava, mas como? Já me mudei tem 3 anos desta cidade, jogo pouquissimas vezes aqui e nem venho aos campeonatos, só nos da minha cidade atual. Enfim, preciso focar, isso é questão de honra.

 

Outro zigue-zague meu, e outro ponto. Dela. Foi muito rápido. Muito mesmo. 2X0 para ela. Fiz novamente. Outro para ela. E mais outro e mais outro. 4X0. Não é possível que eu esteja tão lenta! E direto assim? E que velocidade absurda! Respirei fundo. Agora está muito pessoal! Iniciei novamente o mais rápido que pude. Parece que a devolutiva dela foi ainda mais rapida que todas! “Gol” 5x0. Isso está sendo muito rápido. Observei atentamente e mudei a direção do zigue-zague. Mantive uma das minhas maiores velocidades, se antes ia para a direita, agora eu iniciava golpeando para a esquerda. O mesmo resultado. De novo e de novo e de novo. 8X0. Isto estava um absurdo. Agora apelei. Bati o taco na mesa. Ouvi um “Ui.” baixinho. AGORA APELEI MESMO. Você conhecerá a minha força, AGORA! Golpeei tão rápido que quando ela fez sua devolutiva, se alguma forma veio mais imprecisa. Consegui ver. Consigo rebater! Gol! Ponto para mim 8x1. A encarei.

 

— Finalmente. Não teria graça se fosse simples, assim. - ela disse com tom divertido na voz. Eu estava séria. - Hey, não fique assim, sempre achei o seu sorriso, lindo.

 

 

“Sempre”? De onde, desgraça, essa menina me conhece? Ela iniciou, seu primeiro movimento zigue-zague e…. é tão rápido quanto o meu!!! Nem me deu a oportunidade de rebater, ricocheteou na quina esquerda do meu lado e voltou zigue-zaguenado p ela e…. “GOL”. O disco estava do meu lado. Mas… ela aproveitou o próprio “saque” rápido para converter em reto ? Droga… se continuar assim….9x1. Quando movimentei, desestabilizada, outro movimento. E enfim terminou o primeiro round 10x1.

 

— É só isso? - Me olhou, agora séria. Parecia decepcionada. Não… tudo menos esse olhar.

 

 

— Mana…. Você perdeu? - o quê? Há quanto tempo o Caíque estava aí? - WOW! Ela é boa mesmo, você NUNCA PERDE! WOW, WOW, WOW! Além de dançarina e linda, pisou em você! - Maldito pirralho! - Hey, mana, me dê dinheiro, quero pipoca! Apontou para a pipoca. Entreguei a ele, ainda desnorteada e um tanto envergonhada. Ele me deu o cartão dos jogos e saiu correndo, parou no caminho E GRITA – LÔ, NÂO PERCA A PRÓXIMA VOCÊ E MINHA IRMÃ, CARAMBA! - mas….. que FILHO D A PUTA!

 

Ví Thaís sorrir.

 

— Ele é mesmo uma gracinha…Vocês são parecidos, mesmo. - apesar do tom insinuante em sua voz, e o sorriso sedutor lançado, eu estava com o sangue fervendo perante o desafio e a situação que meu maninho criou.

 

 

— Você esta animada, hein? - deslizei o cartão de jogos para o lado dela. - O segundo round eu que pago. Já fique com o cartão, para o terceiro round.

 

 

— Tanta confiança de que conseguirá empatar? Por mim finalizo agora com você. - Ela passou o cartão e a música e ar ligaram. Segurei o disco e o posicionei. Sorri.

 

— Minha vez de mostrar meus atributos, bonitinha. - lancei,zigue-zague, mas não tão rápido assim, quando ela rebateu, com bastante velocidade, ainda assim facilitou meu campo de visão, como previsto. Geralmente os oponentes jogam em zigue-zgue e por falta de controle, ou principiantes jogam reto, que é mais fácil de prever a direção, neste caso ela aproveita a deixa da minha velocidade, que de certa forma, sabe acompanhar, e inverte para algo ainda mais veloz. Porém, mesmo rápida, não deixa de ser uma inversão, logo… se eu jogar mais devagar ela não conseguirá aumentar tanto a velocidade assim… e se eu bem enxergo…. - EU DEVOLVO!

 

GOL!!!

 

Ela me encarou, séria.

 

— Deixa eu te falar uma coisa, o mesmo truque não funciona comigo duas vezes. Anota em sua ficha de RPG, eu me adapto muito bem. - me posicionei. - Manda a ver.

 

Ainda séria ela se posicionou. Mas ví um sorrisinho abrindo lateralmente. Um zigue-zague muito veloz. Rá! Eu já previa isto, o mesmo ataque…. Você irá dançar, dançarina! Desta vez, eu consegui ver e rabater, mesmo que você mirando um zigue-zague para o canto. Minha devolutiva foi um tanto desajustada, mas quando você me devolver reto….

 

GOL!!! 2x0 para mim. Ouvi um “tsc” sair da boca dela.

 

— Você fica mais calada quando está perdendo. Pena, uma voz tão sedutora…. - provoquei, falando uma verdade, claro. Ela me encarou séria, mas já abriu um sorriso lateral malicioso.

 

— O jogo está apenas começando, “bonitinha”. - Senti um ênfase no “bonitinha”. Se não me engano eu a chamei disso…. Pelo tom… será que ela não gostou? Ah, foda-se. Concentre-se, Lorena. Pegue o padrão, o padrão!

 

 

Ela iniciou novamente, mas agora estou conseguindo prever mais as direções. A velocidade dela é alta, mas sou acostumada com minhas rebatidas, como a velocidade se aproxima da minha eu sei lidar com ela, só não sei com a ultra-velocidade dela que ela transforma os ataques que usa como debote. Preciso fazê-la ter menos oportunidade de fazer isso. Minha estratégia será… tentar cansá-la ao máximo. Dito e feito. Enrolei-a o máximo que pude. Aproveitando das brechas de distração dela, quando a visão cansava, terminamos de 7x2 para mim.

 

— Bom… eu disse que empataria. Batalha final agora.

 

— É… obrigada pela diversão. Só espero que você continue sorrindo assim depois dessa partida. O tempo estará ao meu favor. - disse Thaís com uma voz perigosamente insinuante.

 

— Apostando no D20 novamente? Supersticiosa você com a sorte em seu favor. - cutuquei.

 

 

— Irei renovar as informações dessa sua ficha de RPG. - sibilou.

 

A última que pontuou fui eu, então ela iniciaria o lançamento. Posicionou-se e….. Um ataque direto? O disco veio rápido e reto para minha direção, devolvi com um zigue-zaque mediano e velocidade para a esquerda e para minha surpresa, sua devolutiva foi em zigue-zague e bem veloz! O que, agora é técnica e experiência de jogo mesmo? Ficou comum? Começamos uma batalha de zigue-zagues muito velozes, eu tenho que tomar cuidado de lembrar dos discos ultra-velozes dela retos!

Está sendo uma disputa bem intensa está 3x3, conosco totalmente perdidas em nossas velocidades e habilidades, quando ela pontuou 4x3, respirei fundo porque notei que deveria ampliar o nivel de partida e foi quando, numa empolgação de meu golpe com potência muito veloz , ela fez o que eu respirei fundo e esperava, um disco ultra-veloz, DROGA, aumentará nossa distância assim, depois de 2 pontos a mais se for para um terceiro, com uma adversária de nível dela eu posso me ferrar. Quando fui recebe-lo…

 

PLAFT!

 

— Aí! Mas.. o que…..! - fui atingida pelo disco? Ela tacou o disco com a ultra-velocidade conhecida, mas que nem da primeira vez o disco foi para fora? Será que ela empolgou? Acertou-me na clavícula, doeu.

 

— Ops… desculpe-me, gata - ela disse.

 

— Tudo bem, acontece. - respondi. Posicionei o lançamento com uma muito veloz e…. brincamos novamente com zigue-zagues, quando, com o sangue queimando de adrenalina arremessei uma outra muito rápida, droga! La vem a ultra-veloz dela!

 

Plaft!

 

— Aí…. Me acertou de novo? - falei. O disco voou. A encarei e ví ela pedindo desculpas de forma fofa. Realmente muito linda. Será que ela está perdendo o controle de sua precisão? Novamente lancei, no mesmo esquema, preocupada com ela estar 1 ponto na frente, porém… mais uma vez…

 

 

PLAFT!

 

Mas… não é possível…. Espera. Isso é um sorriso de escárnio? Observo-a com mais detalhes, enquanto arrumo o disco. Foi… foi de propósito!!! TÁ DE ZOEIRA! E ainda por cima tá me machucando. Olhei par o time do jogo, faltava pouco! Ela planejou isso! O disco saindo do jogo, garantiria com que eu levasse tempo para me abaixar pegar o disco e recomeçar, fazendo-me perder tempo de jogo e ela manter a pontuação dela até o fim já que nosso nível é praticamente igual! Mas que…. Víbora! E essa coincidência~encia de me atingir diferente do começo do primeiro round, talvez seja um bônus? Acertar 3 vezes seguidas em mim, com a precisão que ela tem? AHHHHH, agora eu tô puta! Pensa… pensa….

 

— Você se adapta bem… mas é lerda para perceber, o tempo esta correndo, meu amor. Estou aguardando-a. - seu sorriso sedutor e malicioso chegou ao ápice. Tenho um fraco por badgirls, mas essa aí realmente precisa de uma lição. E se tem algo que um BOSS FINALE adora… é punir!

 

Respirei fundo, e lancei com o máximo de força e técnica que consegui… só que foi um disco reto, sem zigue-zague e muito mais rápido do que eu já havia feito. Ela acompanharia, claro.

 

— Pelo visto já desistiu! - falou alto. Devolveu com uma zigue-zague muito veloz para a quina do meu lado direito e…. GOL. Ela arregalou os olhos. - O...O QUÊ?

— Atualização nova, “amor”, eu me readapto e aprendo… muito rápido. - ela estava surpresa e eu sorrindo muito. Sim, isso foi uma cópia. Um disco ultra-veloz, igual ao dela. - 4x4

 

— Pretende vencer-me no meu próprio estilo? - disse Thaís, frustrada, para em seguida sorrir de forma maliciosa. - Interessante. Vamos lá!

 

Se ela quisesse vencer ela teria que parar de me acertar, não havia mais tempo, apenas 20 segundos e estávamos empatadas, o próximo movimento com certeza seria o final. E então, em meio a nossas habilidades de zigue-zague velozes ela mandou sua ultra-veloz, mas notei sua intenção assassina, desta vez nem tão sorrateira. Ela pretendia empatar. Reanalisando sua ficha de RPG que brincamos criar, ela ama provocar, sabe que sou campeã, que levo a sério como esporte e treino. Ela sabe que não quero perder de jeito nenhum e que a vitória é o que almejo sempre, mas… para ela estaria tudo bem empatar com uma campeã e tê-la conseguido fazer sair do eixo. Portanto… finalmente o golpe secreto de uma verdadeira mestre do disfarce, senhorita víbora sedutora.

 

GOL!!

 

5x4

 

Uma taco largado. Uma cabeça baixa. Um sorriso de felicidade em minha face.

 

Vitória: Lorena.

 

— Você… - ainda de cabeça baixa, Thaís continua – você previu o empate e finalmente descobriu a falha do disco ultra-rápido…. Jogou o tronco do corpo em direção da mesa e esticou o braço chegando quase na metade dela, no ápice da velocidade do disco, rebatendo-o fazendo vir direto ao meu gol no máximo possível de força. - Thaís levantou a cabeça com um sorriso lindo. - Eu sabia que iria adorar jogar com você, Lorena Bortolo.

 

— A MINHA IRMÃ AINDA É A MELHOR, NÃO DISSE? - ví Caíque gritar e apontar enquanto conversava com um menino e uma menina de sua idade, provavelmente.

 

— Hunf! Mas ninguém é melhor que a  minha prima na dança! - disse a menininha. Desviei a atenção do debate deles e virei-me para a outra player.

 

— E eu gostaria de saber de onde você me conhece, Thaís. E qual motivo testar-me assim, a ponto de me atingir com o disco? - perguntei séria com um sobrancelha arqueada.

 

— Não lhe devo explicações, gata. - piscou – Só queria divertir-me. - respirei fundo. Típico.

 

— Então como prêmio, eu desejo sua explicação. - sorri. E por incrível que pareça, ela também.

— Típico de você. - riu e colocou uma mecha de cabelo atrás de sua pequena orelha.

— E você, senhorita provocativa, previu que me respondendo dessa forma, deselegante, faria-me pedir como prêmio suas explicações. - A mestiça acenou com a cabeça um "sim" e com um sorriso gentil e um olhar meigo e até um pouco avoado, como se estivesse lembrando de algo, me respondeu.

— Eu sempre joguei aqui no “Evolution Games” e sempre observava a exímia jogadora, viciada em Hóquei no Ar e muito boa em jogos de corrida, luta, no basquete… e até sei que seu ponto fraco, o tapete de dança. Você vinha disfarçada, mas treinava para melhorar. - minha boca abriu e sinto minha bochecha queimar - Eu era uma watcher [observadora] sua, porém você era uma viciada que não olhava para os lados. Acho que finalmente capturei sua atenção com a dança. - riu baixinho. - E que secada, hein?

Thaís se aproximou em minha direção, mas muito, muito perto mesmo. Minhas bochechas estavam queimando tentando processar todas aquelas informações. Como nunca reparei nela antes? Ela é linda... e ainda gamer? Eu realmente era uma avoada quando mais nova!

— Agora quero ser uma player. - continuou sua explicação, deu um passo para frente e puxou meu rosto para si encostando nossos lábios… que macios….

Separou-se de mim em meu estado atônito. Continuou a sua fala:

— E se você pegar o meu telefone, adoraria ter um encontro com você em Belo Horizonte, curso psicologia lá tem um ano e só um pouco antes dessas férias eu a ví no “Hall Games”, para a minha surpresa, reencontrei minha primeira crush e ela estava acompanhada de uma garota. Descobri que cursa Direito e que aquela garota era só mais alguma das ficantes dela. - ela alisou meu rosto delicadamente, assim como dança e até mesmo enquanto jogava o Hóquei - Tenho chances de ser sua futura player 2? 

Ok. Agora isso realmente parece um mangá. Fiquei a olhando embasbacada, com o coração acelerado e eu sequer entendia o motivo. Durante a partida, mesmo sendo uma víbora, nos analisamos e nos divertindo possuindo um poderoso adversário a nossa altura… uma pessoa, um player neste nível para poder não ser só um adversário, mas uma equipe em próximas fases, alguém que estará lado a lado com você.

— Diz que sim, mana! - senti a ponta de meus dedos ser puxada pela terceira vez hoje, pelo meu maninho impertinente. Ele saiu correndo com a menininha atrás, para ir assistir os caras altos jogando na máquina de basquete. Já havia tomado minha decisão.

— Então… você não arremessará mais nenhum disco em mim, certo? - sorri divertida mas a encarando profundamente. Ela riu e jogou sua franja para trás com a mesma voltando logo em seguida para próximo de seus olhos. Já notei ser um hábito seu. Mais um charme.

— Não… prefiro que você entenda os discos como uma metáfora. - deu um sorriso provocante – Sempre quis me arremessar em você.

— Que cantada péssima! - coloquei a mão na cabeça envergonhada, ela riu e piscou – Mas você fez um bom trabalho agora a pouco… podemos repetir, comigo devidamente preparada, agora? - segurei sua mão.

— Finish me, honey* . - puxou-me pela nuca e me deu um puta beijo.

O começo está sendo lento e com leves mordidinhas, para aos poucos desenvolver para algo mais íntimo, com um roçar deliciosamente bem explorado, assim como uma serpente faria em seu território natural. Senti seu braço acariciando minhas costas para sua mão apertar, logo em seguida, a minha cintura. Estonteante. Hipnotizante. Conseguia sentir o calor de sua pele, já q sorrateiramente essa mão invadiu minha blusa acariciando essa região da cintura.

Nem percebi em como estava querendo quase engoli-la naquele pátio, tamanho a sede que ela me despertou. A forma como eu a abraçava para mim...  baguncei seus cabelos e os mesmos emanaram um cheiro delicioso que ofuscou ainda mais meus sentidos e noção de ambiente. Thaís era um bote de uma serpente, com um beijo certeiro para despertar ainda mais vontade de conhecer a ficha técnica de seu personagem, que de fato, já deveria ter a pontuação máxima em provocação.

Terminamos de nos beijar comigo totalmente presa nesse jogo de observação de olhar. Os olhos mestiços castanho escuro dela conseguiam ser ainda mais densos com a proximidade curta que esta instaurada.

— É… que sequência de Hits maravilhosa. - agora ela gargalhou. - Vem cá... qual é seu telefone mesmo? - sorri de forma lerda.

— Isso foi péssimo, Lorena! - disse ainda abraçada a mim, rindo.

— E justo a “Jade”¹ veio falar isso para mim? - disse fazendo alusão a sua referência anterior  do Mortal Kombat. Ela percebeu a brincadeira com sua piada.

— Porra, Lorena! - riu-se - Prefiro a Kitana², aproposito! - fez uma cara emburrada já tomando rumo para uma expressão divertida.

— Pega leve comigo, agora é minha vez de conhece-la, senhorita observadora! E espero ter muitas dungeons [ "masmorras"] para descobrir e explorar. - ok. Foi um trocadilho fofo mas pervertido.

— Oh.... a senhorita realmente é um player! - deu um sorriso malicioso - Interpretarei da melhor forma possível.

— Pela forma que me encara, não foi pelo sentido fofo de conhecer cada característica sua, não é? 

— Não passou despercebido seu momento romântico, relaxa. - eu ri de sua resposta - Mas como toda RPGista, minha imaginação chega as alturas. - Piscou com seu habitual sorriso lateral maroto. Estou adorando esses padrões.

Trocamos nossos contatos e tiramos uma foto daquele momento em que duas players e duas watchers finalmente jogaram juntas.

Saímos as duas de mãos dadas, meu irmãozinho e a priminha dela na nossa frente. Fomos tomos tomar milk-shake e Thaís ganhou de brinde o seu pacote de minhocas Finii. Fui um presente que aleguei ser justo, apesar de que o prêmio maior quem recebeu fui eu. Talvez... minhas jogatinas como single-player sejam atualizadas para um novo status.

 

 

 

*Referência ao jogo Mortal Kombat na hora de finalizar/acabar com seu oponente, podendo usar um combo

¹ e ² : Personagens do Mortal Kombat


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Notas finais do capítulo

Opiniões?

Ps.: Se quiserem um capítulo extra com as duas em um orange, cá entre nós adoraria fazê-lo, porém preciso saber se as personagens cativaram meus leitores. Beijos de luz



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