Open wounds, closed heart escrita por Nekoclair


Capítulo 38
Dia 38




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30/12/2017

 

Hoje, o clima foi de despedidas.

Acompanhado de Victor, cheguei ao GAPAD já me sentindo emotivo. Não importava se em alguns meses as reuniões voltariam, ou que eu fosse com certeza sair com meus amigos no mês de Janeiro, saber que não teriam encontros do grupo por um mês inteiro abalava-me de uma maneira que duvido conseguir explicar. Foram tantas experiências e aprendizados que inesperado seria eu não ter um vazio onde devia bater meu coração.

Ter de dizer adeus a uma rotina que tanto me agradava, mesmo que temporariamente, desanimava-me.

Victor pareceu notar e compartilhar de meus sentimentos, pois ainda sinto o calor de seu braço por cima de meus ombros. O conforto do seu meio-abraço era reconfortante.

Depois de deixarmos nossa torta na mesa de salgados, juntamo-nos aos outros dois garotos que já nos aguardavam, sentados diante da lousa branca. Guang acenou e Leo sorriu largamente. Conversamos descontraidamente até o início da palestra que de palestra não teve nada.

Uma coisa que sinto que devo dizer neste momento, mesmo que isso corte um pouco a minha linha de raciocínio, é que se eu achava que passaria vergonha por estar tão emotivo neste dia tão não-especial, mudei de ideia assim que vi a doutora.

Doutora Minako estava com os cabelos soltos e bagunçados, e com ela trazia para a palestra nada além de uma caixa de lenços. Ao meu lado, Leo murmurou um “e lá vamos nós de novo”, cujo significado eu não demorei para entender. Não foi difícil ver o quanto o GAPAD significava para ela.

Em seu discurso de despedida, que ela insistiu em não chamar de despedida, ela nos disse o que o grupo era para ela. Em suas palavras, todas as semanas, nós faziamos dela uma pessoa mais completa. Cada participante sempre mostrava ter algo a ensiná-la, e o carinho que ela tinha por cada um de nós era como o de uma mãe. Quando alguém se abria ou se emocionava, dada uma situação, ela ficava extremamente feliz, pois sentia que apesar das dificuldades seu trabalho estava nos ajudando a lidar melhor com os problemas que por tanto tempo simplesmente ignoramos.

Com um lenço limpando as lágrimas que ela era incapaz de conter, ela disse que esperava ver todos novamente quando o GAPAD retomasse suas atividades. Porém, ela afirmou estar ciente que isso talvez fosse pedir demais. As pessoas tem seus próprios rumos, suas vidas, e toda família uma hora tem que dizer adeus a alguém. Seu único pedido é que a pessoa fique bem e feliz com sua escolha, e que ela saiba que ela pode sempre contar com ela para qualquer dificuldade.

Foi nessa hora que Victor me aconchegou em seu peito, envolvendo-me por seu braço e puxando-me para mais perto, permitindo-me deitar a cabeça em seu ombro. Os soluços não paravam e meus olhos ardiam pelas lágrimas. Eu choro fácil. Já chorei por menos que isso. Se eu soubesse, tinha trazido minha própria caixa de lenços…

Ouvir Minako relembrar histórias, algumas até mesmo de antes de minha entrada no GAPAD, fez-me lembrar de minhas próprias experiências. Parece que foi ontem que Celestino, em uma de nossas consultas, comentou sobre a possibilidade de eu participar de um grupo de terapia; e quem diria que, depois de muita pesquisa, Phichit acabaria encontrando logo o grupo de uma conhecida de meu psiquiatra.

O mundo é realmente cheio de coincidências… Entretanto, foram graças a essas coincidências que cheguei onde estou hoje. Então, agradeço pela minha boa sorte.

Agradeço também pelos bons amigos que fiz logo na primeira semana, pois, não fosse por eles, talvez eu não tivesse tido forças para continuar o tratamento. Guang e Leo viraram pessoas indispensáveis em minha vida e sou grato por tê-los como amigos. Eles estiveram comigo nos meus momentos difíceis, nos alegres, nas minhas crises… Quando Victor sumiu, eles estiveram ao meu lado. Quando eu me senti mal por achar que tinha me intrometido na vida deles, eles me asseguraram de que não fora nada demais. Quando eu precisava de conselhos, eles sempre tentavam ajudar como podiam.

A paciência deles comigo sempre foi colossal, e tenho certeza de que isso se deve ao fato de ambos serem pessoas muito gentis.

E já que estou falando das pessoas que me são importantes, claro que não posso deixar de falar do Victor. Quem diria que o meu “voluntário” acabaria por se tornar não apenas meu namorado, mas meu porto seguro, meu ombro amigo. Lembro como se fosse ontem de o observar, seus olhos caindo ao chão e seu sorriso sumindo gradativamente por pensar estar sozinho. Lembro de como ele tentou sorrir, e falhou.

Victor sempre foi alguém interessante, e cheio de segredos. Desde a misteriosa foto que me assombrou por meses até seu passado complicado, foram muitos os enigmas que encontrei ao decorrer de nossa amizade. Toda vez que eu terminava de descascar uma de suas camadas, dez novas se mostravam. Mas acho que foi essa sua complexibilidade que me atraiu. Antes que eu percebesse, meus olhos procuravam por ele sempre que tinham a chance; e quando encontravam os seus em mim, wow. O mundo parecia mais leve e meu coração corria, movido pelas emoções que borbulhavam dentro de mim.

Eu o amo. Não foi de repente, e nem sei exatamente como aconteceu, mas estou feliz por ter me apaixonado por alguém como ele.

E eu podia falar mais sobre o Victor, e dos momentos que compartilhamos, mas se eu começar sinto que não vou parar jamais. Foram tantos momentos especiais compartilhados a dois que escolher um favorito seria difícil; ou melhor, impossível. Todos são especiais.

E aqui estou eu, emotivo novamente enquanto termino de escrever este texto, lembrando de todos os abraços e beijos que compartilhei com Victor, e das conversas e risadas que troquei com meus amigos.

Esse foi um bom ano. O melhor? Provavelmente não. Porém, sinto que sou agora mais forte pelas companhias que ganhei, companhias estas que pretendo manter eternamente. E, junto delas, continuar as minhas lutas diárias contra eu mesmo; contra meus medos, minhas inseguranças, minhas paranóias.

Depois que Minako terminou seu discurso, todos se adiantaram à mesa aos fundos, que estava mais farta que de costume. Depois, foram muitos os abraços, as promessas, as felicitações de final de ano… Minako fez questão de dar um abraço de urso em cada um e, quando foi hora de partir, ninguém teve pressa.

Hoje foi um dia que duvido esquecer tão cedo.

E com isso termino meu último relato de 2017; com um sorriso no rosto e a alma ansiosa pelo que me aguarda no futuro.

 

Fanart para ir com o capítulo que eu não consegui colocar de outro jeito (chora)


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Notas finais do capítulo

Oi, mundo. Como vão todos? O natal de vocês foi bom?
Enfim, depois de 9389656 anos, "Open Wound, Closed Heart" está oficialmente finalizada. Foram muitos meses até chegarmos aqui e agradeço a todos que fizeram essa jornada comigo. Aprendi muita coisa graças a esta long, sofri durante alguns trechos, mas no final acho que posso dizer que o saldo foi positivo.
Agora, sobre OWCH, eu gostaria de dizer umas últimas palavras. Se vocês puderem ler, eu agradeceria muito.
OWCH não é uma história de amor. Romance é nada além de um bónus, um sub-plot, por isso, se você começou a ler essa história porque queria ler sobre o relacionamento deles (do Victor e do Yuri) deve estar bem decepcionado.
OWCH é sobre o Yuri, o Victor, sobre eu e você. OWCH é sobre todas as pessoas que têm que viver suas vidas apesar de, às vezes, não desejarem sequer sair da cama de manhã. Falar sobre ansiedade e depressão não é fácil; só não é mais difícil do que conviver com esses problemas; e, lamentavelmente, são muitas as pessoas que sofrem destes distúrbios. Por isso, acho importante trazer discussões a respeito sempre que possível, mesmo que através de uma fic de capítulos super superficiais e curtos.
Se tem uma coisa que eu espero ter passado através desta história é que buscar ajuda profissional não é nenhum bicho de sete cabeças. É importante sim buscar tratamento e ninguém deveria se sentir envergonhado de reconhecer que sofre de ansiedade ou depressão. Alguém aqui deixa de ir ao médico quando quebra uma perna? Pois é. Mas quando a questão é a saúde mental as pessoas não dão a mesma importância.
Então, tudo bem se você é meio lerdo para fazer coisas que seus amigos fazem naturalmente. Tudo bem se você não gosta de falar ao telefone. Tudo bem se seu melhor amigo te chamou para sair e você decidiu ficar em casa porque não queria ver a cara de ninguém naquele dia. Tudo bem se preocupar a toa de vez em quando. O problema não é você, mas as pessoas que esperam que todos vivam uma vida num padrão x e menosprezam os que são incapazes de.
Você é você e só você sabe quais são seus limites e qual o ritmo de vida que te agrada. Seja feliz, busque ajuda se achar necessário e não tenha medo jamais de falar dos seus problemas. Inclusive, gostaria de deixar aqui um aviso: Se você precisar de alguém para conversar ou desabafar, sinta-se a vontade para me mandar uma MP. Não importa se eu nunca falei com você, não importa se você é leitor fantasma, não importa se somos bffs… Se eu puder ajudar, ajudarei com prazer.
Ufa, falei demais. Sorry. ( ̄▽ ̄*)ゞVocês ai querendo se livrar de mim e eu aqui, estendo a nossa despedida. É... Mas sei lá, achei que tinha que por tudo isso pra fora. De qualquer forma, não esqueçam de comentar, favoritar e tals se vocês gostaram. Significaria muito para mim, e quem já comentou sabe que eu respondo todo comentário com carinho. Meus leitores são tudo pra mim *limpa lágrima*
Espero que tenham gostado da história. Se sim, que tal dar uma olhada nas minhas ones? Então, vocês poderiam ver uma Clair em seu habitat natural (´。• ᵕ •。`)
E é isso. Adeus e boa passagem de ano a todos. ♡

*A arte do capítulo é uma comissão que fiz exclusivamente para a fic, com uma conhecida minha. Considerem um presente de Natal atrasado.
Deem uns ♡ para a artista lá no instagram @suppacchi



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