Em pedaços - Xiuchen escrita por Mizuki Shimizu


Capítulo 1
Capítulo Único - Despedaçado


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Os grossos pingos de chuva ricocheteiam contra a cabine telefônica vermelha, a qual fica localizada no centro daquela cidade, onde eles haviam passado algum tempo juntos. Diferentemente de outros tempos, o lugar estava praticamente aos pedaços, a tintura desbotara. O telefone, que o homem segurava tão fortemente com suas pequeninas mãos, sofrera poucas alterações, no entanto. Pelo menos, da última vez que ele o vira.

O homem ponderou um pouco. Os dedos batucaram o aparelho em busca de alguma coragem ou de um sinal. Quisera rir de sua situação. Tão corajoso para certas coisas, e tão covarde para outras. Como sempre. Um caos completo. Não percebeu que batucava a melodia de I’m Not Okay. Não, ele não estava bem. Entretanto, o ritmo devia ser causado pela quantidade de vezes que ouvira aquela música. De todas, era a sua favorita.

Encostou a cabeça em um dos lados da cabine, sentindo o ar gélido em seu rosto, os cabelos castanhos bagunçados pelo vento vindo das frestas. Continuou com o telefone em uma mão, enquanto a outra procurou por algo precioso dentro de seu bolso. A coisa mais preciosa que possuía.

Sentiu um calafrio percorrer em seu corpo e ignorou por completo. Não importava mais. Nada daquilo. Há muito tempo não sabia o que era amor, nem o que era saudade. Olhava para a foto com uma certa dor no peito, sem saber qual era o sentimento que exalava dele naquele instante.

As pessoas sorriam alegremente uma para a outra. Um deles fitava o outro intensamente, seus olhos pareciam dizer, ou melhor, gritar “eu te amo”, enquanto o menor simplesmente ria. Este fora bobo de acreditar naquela imensa aura apaixonada que parecia exaurir dos olhos do outro.

Minseok tremia. O casaco fino não o protegia contra o rigoroso inverno. No entanto, a tremedeira não era causada por algo tão simples. Era bem maior, maior do que tudo.

Seus dedos gelados discaram aquele número. Ele o lembrava de cor. Recordou uma vez em que sua mãe fizera graça e ele corara. “Nem os nossos números você decora”, reclamou ela, apertando suas bochechas fofas. Minseok imergiu na lembrança, tentando capturar os detalhes de sua mãe.

Mãe aquela que ele havia perdido. Assim como o resto de sua família.

O telefone tocou duas vezes antes de ser atendido. Uma voz feminina e calorosa o acolheu. Ele não sentia mais raiva. Há muito, esse sentimento também havia sido apagado.

Olá! — Ela disse, do outro lado da linha. Quase conseguia vê-la sorrindo, um sorriso gengival e apaixonante. Minseok não o culpava. Era encantadora.

Lembrou-se de quando Jongdae a apresentara. Ele parecia mais orgulhoso do que quando o EXO costumava ganhar todos aqueles inúmeros prêmios. Novamente, Minseok sentia vontade de gargalhar. Eles se esforçavam tanto para aquilo.

E tudo resultou em nada para ele.

Não que ele fosse egoísta. A maioria de seus colegas acabou casando e construindo uma família, alguns apenas depois de meses, outros, anos, após a separação do grupo. Tudo bem, ele também tentara. Porém, nunca amara nenhum outro igual fez com Jongdae.

Ah... Jongdae! Se soubesse o poder que exercia sobre o mais velho, talvez a história fosse outra...

Olá? — A voz chamou mais uma vez, tirando-o de seus pensamentos. Minseok fez menção de desligar. — Kim?

Ele agarrou o telefone. Como ela poderia saber?

— Oi — murmurou ele. A chuva se intensificava a cada segundo.

A outra voz começou a rir e chorar ao mesmo tempo.

Dae! Dae! É o Kim! — gritou ela, entre lágrimas e risos.

Minseok sentiria culpa se houvesse algo dentro dele além de um completo nada.

Desde o final do EXO, sua vida virou de pernas para o ar. Tudo, absolutamente tudo, havia piorado. O acidente de avião envolvendo seus pais, o fracasso em tentar uma vida normal, a própria falta que sentia da música, do palco, dos amigos. Tudo o que ele fazia dava errado. Não conseguia pensar em alguma outra alternativa além daquela. E era por isso que ligava.

MINSEOK! — Uma outra voz, masculina, reconfortante, e reconhecível onde quer que Minseok a escutasse, gritou. A mulher chorou mais um pouco perto do dispositivo em que recebera a ligação até passá-lo ao marido.

As memórias invadiam Minseok. Lembranças de pequenos detalhes compartilhados entre aqueles dois, os incentivos, as carícias, o amor. Os dois costumavam brincar sobre serem almas gêmeas. Talvez o fossem. Talvez, só talvez, um dos lados tenha de ter um fim.

— Cheny Cheny — chamou Minseok, por instinto. Trovões tentavam atrapalhá-los, inutilmente. Foi a vez do homem do outro lado chorar, soluçando sem parar. Em outros tempos, sentir-se-ia a pior pessoa do mundo por causar dor a ele.

Agora? Nada.

Minseok-hyung! — Minseok revirou os olhos. Por mais próximos que fossem, Jongdae sempre fizera questão de chamá-lo de “hyung”. — Onde você está? Você está bem? Por que não ligou antes? Nós morremos de preocupação.

Por mais vazio que estivesse, aquele “nós” ainda machucava. “Nós demos nosso primeiro beijo na roda gigante”, “nós vamos até o funeral com você”, “vai ficar tudo bem, você tem a nós”, “nós vamos nos casar em dezembro”. Não, ele já havia aprendido que “nós” nunca incluiria Minseok.

Minseok olhou para aquele retrato, procurando por forças.

— Jongdae — Ele colocou a mão no rosto do amigo gravado na foto. Fechou os olhos. — Você se lembra quando fomos para a China? — Jongdae soluçava fraco do outro lado da linha. Minseok riu. — É claro que lembra. Você me deu forças para continuar lá, naquele país que não era meu, tendo de falar em uma língua a qual eu tinha muita dificuldade. Obrigado.

O mais velho parou um pouco. Teria sido o suficiente? Não. Ele sabia que não.

Hyung — Jongdae falava alto. — Por que está dizendo isso? Vocês todos que cuidaram de mim.

Minseok chutou uma pedrinha que encontrara na cabine. Jongdae sendo o velho Jongdae. Nunca conseguia aceitar um elogio sem devolver. Ele suspirou.

— Não procure por mim, Dae. — A frase repercutia pela linha como uma ordem. — Eu sou muito grato a você, por tudo. Apenas — A voz de Minseok falhou. — seja feliz porque você merece. Eu sempre te amei. Obrigado, Chen.

A voz do outro foi cortada quando Minseok devolveu o telefone ao respectivo lugar. Havia sumido por cinco anos, gastando todo o seu dinheiro em coisas fúteis tentando encontrar um sentido em sua vida miserável. Não o achou.

Abriu a porta da cabine, o cheiro forte de chuva e o vento o recebiam. Rasgou a foto em tiras pequenas e fechou os olhos uma última vez, derrubando os pedaços.

Desta vez, sumiria para sempre.


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