Lucille - A Pedra Nihil escrita por Karolamd


Capítulo 9
Os Fantasmas no Santa Regina


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Saíram da dimensão diretamente em uma calçada ensolarada. Estavam no que parecia uma via principal. Ao lado deles quatro pistas separadas por um canteiro de flores, ferviam em um movimento quase incessante de carros. Vitor falou brevemente dos locais onde os fantasmas apareceram, e o grupo optou pelo mais próximo.

— Temos que seguir por esse caminho até o final, onde vamos encontrar um sinal de trânsito, lá viramos a direita e estaremos nos encaminhando para o Santa Regina. - Informou o rapaz serpente, tinha seu celular em mãos com mapas abertos.

— Não podemos só nos teletransportar? - Daiana perguntou enquanto começavam a andar.

— Nós não queremos chamar ainda mais a atenção numa área de atividade paranormal. - Vitor disse, e Lucille imaginou que não haveria como eles não chamarem a atenção. Um rapaz com pupilas verticais e tatuagens de escamas nos braços, uma garota que parecia andar aos pulos e soltava pequenas quantidades de polem por onde passava. Um homem alto e de aparência séria, e por fim a própria Lucille, com todo o conjunto de peculiaridades.

Daiana soltou uma exclamação de derrota. - Caminhar faz bem. - Andrew disse apenas, ao que os demais concordaram.

Andaram por alguns minutos em silêncio. O clube dos quatro caminhou por entre as casas e os carros, olhando a paisagem de cidade simples, com um ou outro cachorro de rua passeando, algumas crianças jogando bola no meio da estrada, e pessoas sentadas em pontos de ônibus simplesmente para descansar.

Assim que chegaram ao fim daquela avenida, avistaram o semáforo do qual Vitor falara. Tomaram a direita, onde passaram por uma rótula enfeitada com uma colorida variedade de flores, a qual Daiana expressou sua completa aprovação.

Andaram por mais alguns quilômetros conversando amenidades sobre o lugar. As casas geminadas que se estendiam por longos trechos, as calçadas mal cuidadas, o asfalto quebrado aqui e ali – Não é o lugar mais amistoso do mundo. - Lucille comentou, já estivera em Camboriú antes, mas fora por um acontecimento no centro da cidade.

— Soube que aqui as enchentes são um problema. - Vitor comentou apenas, enquanto passavam por um muro com uma mancha de água que alcançava a cintura de Andrew, o mais alto dos quatro.

Assim que chegaram a uma das áreas onde pessoas relataram terem visto os fantasmas, a atmosfera mudou drasticamente.

As ruas estavam desertas, não havia latidos de cachorros, nem as conversas entre vizinhos. As casas estavam visivelmente vazias de qualquer vida. - Vamos escolher uma e entrar. - Vitor falou, e os demais concordaram. Acabaram por escolher uma que parecia um pouco maior que as demais. - Coloque-nos lá dentro. - Vitor pediu a Lucille – Não há ninguém aqui para nos notar de qualquer maneira. - A bruxa acenou que sim, e em um piscar de olhos estavam todos eles do lado de dentro do alto portão que guarnecia a casa. O imóvel tinha dois andares e um gramado que já não era aparado há alguns meses. A pintura bege descascava das paredes, e alguns entulhos tomavam conta de uma área a esquerda do gramado. - Vamos entrar. - Lucille disse, e eles seguiram em direção a uma porta de madeira clara e lisa. A entrada estava destrancada, e no interior da casa a situação não era melhor.

Apesar de a casa não poder ter sido abandonada a mais de uma semana, era como se ninguém habitasse o lugar a anos. As cortinas cerradas deixavam apenas a quantidade certa de luz do sol para se poder ver a poeira suspensa no ar. Os móveis lá dentro tinham alguns rasgos e marcas, alguma tentativa desesperada de seus habitantes de fugir ou lutar. Eles se instalaram no que parecia a sala de estar.

— Temos que limpar a casa dos fantasmas. - Disse Andrew, buscando na bolsa que trazia a tiracolo um livro de aparência surrada e antiga. O rapaz folheou as páginas, até que parou em uma. Ouviu-se um gemido na distância, fazendo Andrew acelerar seus movimentos. Ele leu rapidamente o que estava escrito e passou o livro para Daiana, que junto de Lucille observou o conteúdo. Um ritual de expurgo.

— Por que só não usar meus poderes? - Lucille perguntou.

— Seus poderes são muito fortes, os resíduos acabariam com o que pretendo fazer em seguida, onde vou precisar da sua magia. - Lucille deu de ombros e concordou.

Da bolsa o rapaz retirou algumas velas, penas, uma jarra com um líquido viscoso e outro pote com um pó amarelado – Coloquem as velas em um círculo em qualquer lugar que quiserem, e as acendam.

Lucille e Daiana organizaram as velas, enquanto Vitor pegava os potes.

— As penas de galinha devem ser colocadas no centro. - Enquanto Andrew falava um outro gemido, um pouco mais alto, veio de um dos cômodos além – Joguem a glicerina por cima da pena, e então o enxofre. - Assim eles o fizeram, e então o rapaz continuou – Agora só preciso recitar as palavras… - Mas antes que ele pudesse continuar, uma força invisível o acertou, o jogando contra a parede.

Lucille e Daiana assumiram posição de ataque, enquanto Vitor ia em direção a Andrew. No meio deles, próximos ao círculo de velas, uma criatura apareceu. Humanoide e cinzenta, foi em direção a Vitor e também o nocauteou, antes que o rapaz serpente pudesse fazer qualquer movimento.

— Hei. - Lucille gritou, chamando a atenção da criatura, que se virou para ela, etérea e assustadora. A bruxa começou a ler o encanto escrito no livro - Quod magicae sunt in me: et auferes malum et quis in hoc loco*. — A pena pegou fogo, fazendo com que a glicerina e o enxofre queimassem também, criando uma coluna de chamas. O espírito guinchou, e tentou atacar Lucille, mas antes que pudesse chegar até ela, uma força começou a arrastá-lo em direção as chamas. Quando o fantasma tocou o fogo, começou a ser consumido por ele, e quando não restou mais nada da aparição, as chamas se apagaram completamente.

Aturdida, Lucille foi em direção a Andrew, que já começara a se sentar, enquanto Daiana foi até Vitor.

— Você está bem? - Ela perguntou, procurando por algum ferimento que precisasse ser curado.

— Sim, eu estou bem. - Se levantou com ajuda de Lucille.

— Eu também estou bem. - Vitor disse – Foi só o susto. Não sabia que você falava latim Lucille.

— Nem eu. - Falou, e ela e Vitor caíram em uma gargalhada de pós tensão.

— Temos que continuar. - Andrew disse, assim que os dois se recompuseram – É nessa parte que você entra Lucille.

— Como.

— Existe um âmbito da magia, que só pode ser realizada por pessoas que naturalmente tem esse poder, e ele é raríssimo de se encontrar. Os memoriae conseguem, tocando em qualquer objeto em um ambiente, reconstituir, por meio dos resíduos mágicos deixados, as coisas que aconteceram ali.

— E como eu faço isso? - Lucille nunca ouvira falar de memoriae.

— Magia é uma habilidade que deve ser treinada como qualquer outra, logo, a única forma de fazê-la é tentando. Ative essa área dos seus poderes, queira realizar essa magia. - Vitor disse, e Lucille assentiu.

A bruxa foi em direção a um bibelô em forma de gato que jazia em uma mesa de centro.

— Para que nós passamos ver também, temos que nos dar as mãos. - Andrew comentou, algo constrangido. Lucille estendeu sua mão livre para o rapaz, que a pegou, cobrindo quase que completamente a mão da bruxa. Daiana deu sua mão a livre de Andrew, e por fim Vitor fez o mesmo com a fada.

Lucille se concentrou, tentando sentir naquele pequeno objeto a magia que passara por aquele ambiente. Involuntariamente ela fechou os olhos, e então a bruxa sentiu, como a vibração que se apossara de seu corpo enquanto permanecera no círculo de Merlin. Lucille abriu os olhos como que em choque.

Ao seu redor haviam pessoas e vida. Um homem mais velho, talvez com setenta anos, sentado no sofá. Uma menina brincando de bonecas no chão da sala. Havia o som da TV ligada. Logo a cena se alterou, haviam gritos e desespero, a menina corria em direção a porta chorando, de mãos dadas com o senhor mais velho. Fugiam da criatura que gemia e se parecia com um humano, alguém que em outra realidade, eles amaram. Mas então as pessoas desapareceram, e o silêncio reinou, a casa estava vazia. Tudo parecia como estava quando eles entraram, tudo menos uma coisa. Pela janela, na rua, Lucille pode ver cinco figuras encapuzadas, muito parecidas com aquelas que encontrara próximo a Mafra. Como nazgûls, apenas observavam do lado de fora. Tinham algo em mãos, como algemas, e elas tilintavam, mas o som parecia diferente do da TV, ou o da menina rindo com suas bonecas, parecia mais real e próximo.

Lucille não mais conseguiu manter a magia, que se desfez ao seu redor, só então ela percebeu que as figuras de capuz não faziam parte das memórias residuais, eles estavam ali, e começavam a vir em direção a casa.


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Notas finais do capítulo

*Pela magia em mim, eu expurgo todo e qualquer mal dentro deste lugar.
No próximo capítulo eu conto que tipo de criatura mágica o Andrew é. (Mistéeeerio)



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