— O que aconteceu com os Anemis quando vocês me salvaram? - Lucille, estava sentada em uma mesa de refeitório, dentro de um grande salão que servia como sala de jantar, dentro da ODM. Junto dela a mesa, comendo um belo jantar que incluía presunto caramelizado, frango assado com batatas, e purê, estavam Vitor, Odete, Elísio e Andrew.

— Nós capturamos alguns, os peões. - Odete começou, tinha um comprido xale enroscado no pescoço - Mas os peixes grandes, capangas mais poderosos de Nikolaus, desapareceram antes que pudéssemos pegá-los, assim como o próprio Kreisel. Quando a magia que eu fiz para distrai-los se desfez, ele havia desaparecido. 

— Você já sabiam alguma coisa sobre mim? - Perguntou enquanto levava uma garfada generosa de frango a boca.

— Nós tentamos manter conhecimento sobre todas as criaturas mágicas existentes na região, então sim - Odete confirmou - Sabíamos, mas só o básico, que você era uma bruxa, que ajudava humanos e que fora adotada quando criança. Desde que você não saísse da linha... Nós pensamos em te recrutar algumas vezes, mas algo no seu comportamento nesses últimos anos nos contou que você provavelmente preferiria ficar sozinha.

Lucille concordou em silêncio, pensando nas demais dúvidas que ainda tinha. Ao seu redor ela ouvia as conversas e bater de garfos e facas dos vários integrantes da ODM. Odete pensou em fazer uma apresentação formal de Lucille ao fim do jantar, ao que a bruxa concordo com algum receio, multidões não eram seu forte.

— Eles tinham certeza que você era uma Plenus. - Elísio disse de maneira taciturna - Ou não tentariam usar a Nihil.

— Como assim? - Lucille perguntou intrigada.

— Uma vez que a pedra Nihil se conecta a alguém,  é extremamente difícil desfazer a magia, nem mesmo acabando com a vida da pessoa. - O homem disse, passando levemente a mão sobre a barba - Existem histórias horríveis,  de tempos sombrios, quando a pedra Nihil foi usada e seu portador morto, a pessoa se tornou um zumbi, incapaz de se livrar da influência da pedra. - Houve um momento de silêncio entre eles assim que Elísio terminou, todos pareciam absorver as implicações do que foi dito.

— Como eles poderiam ter tanta certeza? - Lucille perguntou,  tinha perdido o interesse na comida.

Os demais permaneceram em silêncio, não tinham uma resposta satisfatória.

— Apesar de tudo - Odete começou depois de algum tempo - Os Anemis são poderosos, e dispõe de pessoas em seu grupo com alto conhecimento de magia. Eles estavam, muito provavelmente,  te procurando há algum tempo. Quem sabe quais caminhos eles tomaram para te encontrar? - Lucille tinha uma expressão infeliz em seu rosto, logo Odete acrescentou - Mas nós faremos de tudo para descobrir como eles chegaram até você, e também vamos capturá-los.

A garota tentou um breve sorriso que falhou. 

O resto do jantar eles passaram em silêncio, e assim que todos pareciam ter terminado suas refeições, Odete se levantou.

— Silêncio. - Disse, e sua voz se projetou como se houvesse um microfone em sua boca - Eu já  havia lhes falado sobre Lucille, e muitos de vocês já tiveram a chance de vê-la ou serem apresentados. Mas para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade,  tenho o prazer de apresentá-la. - A mulher fez sinal para que Lucille se levantasse, todos os olhares, atentos e intrigados,  voltados para ela - Nossos esforços daqui em diante serão divididos entre as tarefas comuns, e encontrar o maior número de aliados a Anemis que pudermos. Sabemos que eles tem um plano nefasto em mente, do qual Lucille seria uma grande vítima.

Alguns murmúrios começaram, rostos jovens e outros maduros, trocavam olhares de interesse e preocupação. 

— Lucille é - Elísio começou,  também se levantando - Sem qualquer dúvida é uma Plenus.  - Os murmúrios dobraram de altura, e tomaram o ambiente. Alguns olhavam a bruxa com surpresa,  outros pareciam assustados - Se nós não a ajudarmos agora, eles tentarão usá-la para abrir a dimensão morta. - Os murmúrios se tornaram conversas agitadas e expressões de pavor.

— Silêncio! - Repetiu Odete, e sua voz saiu ainda mais alta - Amanhã começaremos as missões de reconhecimento, e serão designadas as missões de campo. Não temam, enquanto nós estivermos ativos e operando, os Animes jamais terão Lucille. Nós trabalharemos duro para mantê-la a salvo e para ajudá-la a treinar seus poderes. - Todos assentiram - Isso foi tudo, vocês estão dispensados. Tenham uma boa noite.

Vagarosamente, os integrantes da ODM foram deixando o refeitório. Sobrando apenas os quatro na mesa. - Eu gostaria de conversar com você Lucille. Queremos saber se você concorda em nos ajudar. - Disse Elísio.

— Estou ouvindo.

— Queremos saber se você se juntaria a um grupo para caçar os Anemis.

— Mas eu achei que eu deveria ficar aqui, onde eles não podem entrar. - Lucille estava confusa.

— Enquanto você não estiver sozinha, junto de nossos mais bem treinados integrantes, você estará tão segura quanto aqui. - Odete garantiu - Como uma Plenus, imaginamos que se você treinasse seus poderes, seria uma adesão sem precedentes para a ODM. - Havia uma nota de esperança em sua voz - Você poderia treinar poderes que ainda não teve a chance de praticar, e ajudar mais as pessoas.

— Eu gostaria sim de ajudar. - Lucille confirmou depois de uma breve pausa - Acho que acabaria ficando louca se não pudesse sair daqui. Se vocês acham que não teria problema. - Todos acenaram que não, ela ficaria segura junto deles, praticando seus poderes.

— Certo, então você ficará no grupo junto de Andrew, Vitor e Daiana. - Começou Odete - Amanhã nós analisaremos os últimos passos dos Anemis, e então designaremos as tarefas. - Todos confirmaram brevemente.

Lucille soltou um bocejo, pedindo licença para se retirar. Enquanto caminhava para seu novo quarto na ODM, ela ouviu passos que a seguiam, era Andrew. Incapaz de se conter, ela virou-se para o rapaz que provavelmente também se dirigiam para seu quarto, e perguntou:

— Eu não quero parecer intrometida - Começou em seu melhor tom amistoso, enquanto o rapaz permanecia com a mesma expressão séria - Mas eu fiquei curiosa, que poderes você tem? - Tentou soa amigável.

Andrew, se possível, fechou ainda mais a cara. - Desculpe. - Lucille tentou - Se você não quiser responder, não tem problema. - O rapaz apenas confirmou levemente com a cabeça e saiu balbuciando um boa noite.

Logo atrás dele Vitor apareceu, sua íris esverdeada com um brilho sobrenatural na escuridão do corredor.

— Não o leve a mal. - Disse - Ele não gosta de falar muito sobre isso.

— Eu reparei, mas qual é o problema? - A curiosidade de Lucille só aumentava.

— Bem, isso é algo que cabe apenas a ele explicar. - Vitor disse apenas, desejou boa noite e se foi corredor a dentro.

Ainda curiosa e algo animada para o dia que viria, Lucille se encolheu em sua nova cama abraçando um sono agitado e sem sonhos.