Lucille - A Pedra Nihil escrita por Karolamd


Capítulo 17
A Carta Misteriosa




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Lucille acordou deitada na cama de seu quarto na ODM. Ela mal pudera conter o sono na noite passada, já que há alguns dias a bruxa vinha permanecendo desperta. Lucille coçou seus olhos, notando que suas mãos não ficaram manchadas de rímel e sombra, quando foi em direção ao espelho pequeno que ficava ao lado da janela, percebeu que seu rosto estava limpo de qualquer maquiagem. Se perguntou quem teria se dado ao trabalho de tirar todos os produtos de seu rosto, imaginando que sua aposta mais certa era Daiana. Pela primeira vez, desde que chegara a ODM, Lucille se deu ao luxo de sair de cara limpa. Não poderia chamar aquele lugar de lar, se não pudesse mostrar seu rosto mortalmente pálido e levemente oleoso pelos corredores. E enquanto ela andava em direção ao refeitório, notou que ninguém parecia dar atenção aquele fato, o que ela agradeceu internamente.

Assim que chegou no amplo espaço do refeitório, avistou dois de seus três amigos. Daiana conversava animadamente com Andrew. Assim que eles a viram, a garota pareceu ganhar uma nova carga de alegria, enquanto o rapaz corou levemente, Lucille por sua vez uniu a sobrancelhas em dúvida.

— Bom dia! - Ela disse, ao que Daiana devolveu seu cumprimento com um sorriso que estava prestes a rasgar seu rosto, enquanto Andrew apenas murmurou um "dia" - Cadê o Vitor? - A bruxa perguntou, alcançando um pedaço de bolo que queijo.

— Lá. - Daiana apontou para uma mesa a esquerda de Lucille. Lá a bruxa viu Vitor e Evan sentados tão próximos que poderiam estar no colo um do outro. O arqueiro tinha seu braço direito rodeando o rapaz serpente, que sorria como uma criança na véspera do Natal - Eles estão oficialmente namorando. - A fada sorria de forma quase maternal para o amigo. Lucille também sorriu, mas logo voltou-se para observar Andrew e Daiana.

— Quem me carregou ontem? - Ela perguntou, garfando um pedaço do bolo de queijo, para logo em seguida dar uma mordida em um pão de queijo que estava tentadoramente quentinho.

Andrew corou ainda mais. - Fui eu. - Respondeu, o sotaque se adensara a um ponto, que Lucille quase não entendeu o que ele disse. A bruxa soltou um riso baixo, olhando de forma afetuosa para o amigo, que retribuiu o gesto, atingindo um tom de vermelho que parecia impossível.

— Andrew! - Chamou uma senhora de cabelos rosa e olhos roxos, era Miriam, ela tinha a habilidade de alterar sua aparência da maneira que quisesse. A mulher cuidava do correio da ODM e toda semana, quando ela passava pelo refeitório trazendo os pacotes e cartas, se parecia com uma pessoa diferente - Isso aqui chegou para você. - Disse, estendendo um envelope branco lacrado com cera, de onde um brasão que Lucille nunca vira antes saltava em relevo.

O rapaz pareceu intrigado, encarando o papel por longos segundos antes de abri-lo. Daiana e Lucille assistiram enquanto Andrew lia o conteúdo da carta, seu rosto contorcido em surpresa e dúvida, as sobrancelhas juntas e o rosto vincado a cada parágrafo que ele lia. Antes que a bruxa pudesse perguntar qual era o problema, o rapaz se levantou pedindo licença, e caminhou em direção a saída.

— O que você acha que aconteceu? - Daiana perguntou, seu sorriso dera lugar a uma expressão séria.

— Não faço ideia. - Lucille soltou apenas, ela não gostou nada de como o amigo pareceu quase amedrontado com o que lera, e ela esperava poder entender logo o que acontecera.

...

— Essas criaturas aqui. - Vitor apontou para um desenho do que parecia um cogumelo com pernas - São Terbis, demônios da terra. Estão quase extintos hoje em dia, mas na idade média eram conhecidos por se alimentar dos cadáveres que eram enterrados em covas profundas. Naquela época os sumiços dos corpos foram atribuídos a bruxaria, mas há muito essas criaturinhas vem se alimentando de carne morta para sobreviver. - Lucille concordou ao mesmo tempo em que torceu o nariz.

Naquela manhã eles continuaram os estudos do universo mágico, e a bruxa sempre se pegava pasma com a quantidade de informação que ela não conhecia. Adelaide, como humana, sabia de muitas coisas, mas haviam certos fatos que só pessoas como Vitor, Daiana Odete e afins, poderiam conhecer.

Andrew se ausentara daquela aula, muito para a preocupação dos amigos, que até aquele momento não sabiam o conteúdo da carta misteriosa, nem por que ela afetara tanto o rapaz. Lucille tinha um péssimo pressentimento, e se recusava a olhar o futuro em busca de respostas, era muito arriscado. A garota tentou se concentrar em aprender mais sobre o universo mágico e sua incrível variedade de criaturas.

— Essas aqui eu adoro. - Daiana apontou para a gravura no livro que mostrava o que pareciam borboletas, mas um olhar mais calmo revelaria que eram pequenos seres humanoides com asas gigantescas - São as "Fadas Amigas", cuidam de jardins e normalmente ficam em lugares onde há uma grande quantidade de crianças pequenas ou de idosos, são boas cuidadoras e muito pacientes.

Naquela manhã eles passaram por todas as páginas do "Guia Ilustrado de Criaturas de Florestas e Bosques - Volume 1", escrito porArwa Dahe, que segundo Daiana era uma expert no assunto, sendo ela mesmo uma mistura de várias gerações de fadas. 

Quando o almoço chegou, Evan se juntou a eles na mesa e Andrew apareceu. Sua expressão tão estoicas e ilegível, preocupou ainda mais Lucille. O rapaz inglês se recusou a responder qualquer pergunta, e não sorriu em respostas aos sorrisos da bruxa, como ele geralmente fazia. Comeu em silêncio, alheio ao brilho de felicidade vindo de Vitor e Evan, que pareciam incapazes de se manter muito distantes um do outro, ou da visível preocupação que Daiana também mostrava.

— Eu vou para o galpão, quando você terminar aqui, vá direto para lá. - Disse apenas. Desatento a qualquer comentário que Lucille pudesse vir a fazer, saiu do refeitório.

— Conversa com ele. - Daiana pediu em súplica e Lucille acenou positivamente, também se levantando e indo atrás do rapaz. Algumas coisa estava acontecendo, e se aquela estranha sensação na base de sua espinha queria dizer alguma coisa, era que os ventos estavam prestes a mudar.


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