A protegida de Anúbis escrita por Ick chan 1889


Capítulo 16
Na garganta do Duat - parte 1




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Toth  já prepara o altar. Havia um circulo de flores brancas, duas velas com aroma de jasmim colocadas uma de cada lado e uma pequena estatua de Bastet próximo onde ficaria posicionada minha cabeça.

Sekhmet me levou até a outra sala do templo para que pudesse me vestir adequadamente para o ritual. Sob a cama havia um vestido longo de linho branco, um par de brincos de argola feito de ouro e  outro objeto semelhante a um olho.

—Sinta-se privilegiada por tocar neste amuleto._Dizia a deusa enquanto abotoava meu vestido.

—Por que? Ele é tão valioso assim?

Sekhmet soltou um riso debochado.

—Por Rá, ainda me pergunto como uma mortal pode ter sido escolhida para nos livrar de Apófis. Isso é o olho de Horus, um amuleto de grande poder que lhe dará força e proteção no mundo dos mortos, vai precisar para achar a alma de Bastet no Duat.

O Olho de Horus era feito de ouro puro, havia detalhes em pintura azul marinho e preto, a iris era composta por uma grande esmeralda. Assim que o coloquei senti seu grande poder, era como se pudesse enxergar além do que meus olhos podiam ver.

Ao me virar para Sekhmet vi algo que me perturbou, uma mancha negra crescia lentamente dentro de seu coração, havia um brilho interior, mas que era ofuscado por aquela coisa sombria.

—Sekhmet?!_Falei, mas hesitei.

—Diga?

Pensei por alguns segundos antes de fazer minha pergunta.

—Porque estava observando a mim e  Anúbis aquela hora?

Sekhmet me encarou, mas enfim respondeu.

—Como uma deusa, senti inveja de você...

Soltei um riso.

—Inveja? Porque, sou uma mortal fraca, você mesma diz isso o tempo todo.

A deusa soltou um suspiro profundo.

—Acho que agora não é hora pra isso Maya, precisamos ir.

Não insisti, talvez Sekhmet estivesse se referindo ao amor que sentia por Horus, talvez eles não pudessem ficar juntos, mas algo ainda me incomodava.

Chegando a sala principal, Toth pediu para que me deitasse dentro do circulo de flores, em seguida pediu para que Horus e Sekhmet ficassem um em cada ponta dos meus pés.

—Para que tenha ancoras caso vá muito fundo no Duat._Disse Toth colocando uma de suas mãos sob a de Horus e Isis.

—Para que seja sua sabedoria caso perca-se no caminho._Disse ele pondo uma de suas mãos sob a própria cabeça.

Por ultimo colocou a mão de Anúbis sob meu coração e disse:

—Para que seja guiada e protegida no mundo dos mortos._Disse ele._Os quatro deuses estão encarregados de manter a alma de Maya sob proteção, o selo não pode ser quebrado se não a alma se perderá para sempre nas profundezas do Duat._Concluiu Toth.

Após explicar todas as regras, Toth colocou sob o altar um grande livro feito de obsidiana, o livro dos mortos e enfim deu inicio a invocação.

“Bastet,

Bast,

Ubasti, Ba-en-Aset

Das profundezas do abismo dos mortos a invocamos,

A guerreira, a protetora de Rá

Alyawn Hunaka, li awm ghad alttaghallub

Ealaa Alzzalam

“(Hoje se levantas, para amanhã vencer as trevas)”

Senti meu corpo estremecer, me vi cercada de uma grande escuridão. Acordei de repente deitada sob o mesmo altar de pedra do templo de Toth, porém o lugar estava vazio, em um breu total.

Olhei a minha volta, notei que ao meu lado se encontrava um pergaminho, ao abri-lo notei vários hieróglifos dos quais eu não conhecia, uma voz familiar soou a minha frente:

—Esse é o livro dos mortos, te guiará até seu destino.

Reconheceria a voz de Anúbis em qualquer lugar, mas o deus dos mortos não estava como de costume, pelo contrário, estava em sua verdadeira forma.

—Venha comigo vou lhe mostrar o caminho, mas antes faremos o ritual da abertura da boca.

Anúbis tocou meus lábios e então pude falar.

—O que foi isso?_Perguntei um pouco assustada.

—Quando seu Ba está entrando no Duat você não tem permissão de falar até que eu diga que pode.

—Onde estou agora...e o que é um Ba?_Perguntei um tanto confusa.

—Em uma outra entrada do Duat, aqui é apenas para os não mortos, assim como você... Ba é uma alma, no caso a sua._Explicou Anúbis.

O deus dos mortos estendeu sua mão me convidando a segui-lo.

—Venha, você terá um longo caminho até as profundezas do Duat.

Percorremos um longo corredor escuro, mas notava-se que era feito com algum tipo de cascalho ou pedregulho. Tropecei algumas vezes, porém Anúbis, mesmo estando em seu verdadeiro eu me segurou por diversas vezes. Em muitos momentos o vi desviar o olhar, talvez por se sentir envergonhado de sua verdadeira forma ou de me deixar assustada.

Chegamos próximo a um pequeno píer feito de madeira, estava velho e mal acabo.

—Espere aqui._Disse Anúbis se dirigindo até o outro lado.

Tudo ali me causava arrepios, por mais que já houvesse visitado o Duat anteriormente eu ainda não havia notado o quão maligno e doentio era aquele lugar. A vista era de um grande filme pós-apocalìptico, fiquei analisando por alguns minutos os movimentos da aguá vermelho sangue, notei algo deslizar ao fundo, me sentia hipnotizada e então senti dois grandes puxões em minhas pernas, assim que me afastei da borda uma enorme serpente negra deu seu bote, ouvi a voz de Horus soar em minha cabeça:

—Fique atenta, o encantamento de Toth não vai durar tanto, você precisa ter cuidado não estaremos o tempo todo aqui pra ser sua ancora.

Me assustei ao notar que a voz vinha do amuleto, provavelmente o encantamento que Toth havia feito estava cumprindo seu papel.

Alguns minutos depois Anúbis retornou acompanhado do barqueiro Aken, já tinha o conhecido antes, confesso que não era muito simpático.

—Maya, Aken a levará até a gruta dos exilados, o mapa que você tem em mãos mostrará o caminho, assim que chegar você encontrará Ammit ela te levará a entrada da garganta do Duat, lá estará alma de Bastet, porém você terá de descer bem fundo, tome cuidado._Explicou o deus.

—Co-como assim? Você não vem comigo?

—Sinto muito Maya, mas não tenho permissão para entrar na gruta dos exilados e muito menos acompanhá-la até as profundezas..._Anúbis parecia desapontado consigo mesmo.

Respirei fundo, o abracei e disse:

—Imagino que seja por conta de Apófis, mas não se preocupe voltarei com Bastet sã e salva._Dei uma pequena piscadela e entrei no barco enquanto Anúbis me olhava sumir no horizonte.

Por horas a fio percorremos o extenso oceano vermelho sangue. Graças a Rá não encontramos nenhum perigo durante o trajeto, provavelmente Anúbis cumprira sua parte no ritual.

Avistei uma grande ilha, estava cercada por demônios de todos os tipos, todos ferozes e com muita fome. A gruta ficava a alguns minutos dali. Desembarquei e agradeci Aken pela carona, porém a criatura não respondeu, apenas retornou ao mar e logo desapareceu.

O medo estava cravado em minha espinha, mas precisava executar tudo o mais rápido possível, pois Toth havia me dito que ao amanhecer se eu ainda houvesse voltado ao  meu corpo, ficaria presa no Duat para sempre. Analisei toda a situação, havia demônios espalhados pela ilha inteira, porém a entrada da gruta era cercada por ser monstruoso com enormes asas de falcão, cabeça de asno e em sua calda era uma enorme naja, precisaria passar por todos sem ser notada. Peguei a lança que Anúbis me dera, segurei firme em meu amuleto de olho de Horus e corri desesperadamente. Ao sentirem meu cheiro, os monstruosos demônios começaram a se agitar. Deslizei rapidamente por de baixo das patas de um demônio com cara de babuíno, ele tentou correr, mas seu tamanho o deixava lento, essa era minha vantagem, eu era rápida.

Quando avistei a entrada da gruta notei um tremor sob meus pés, uma enorme serpente negra se levantou das areias tentado me abocanhar então decidida a chegar a entrada, fechei meus olhos, respirei fundo e lembrei de cada movimento que havia visto Bastet fazer quando deixei sua força me dominar e então ataquei, num salto sobre humano pulei em suas costas, o demônio se debatia tentando me arrancar de todas as formas, então me coloquei de pé e corri até sua cabeça e enfim encravei minha lança. Assim que perceberam a morte da serpente negra, uma horda de demônios se puseram a correr atrás de mim, eu já estava cansada, a luta com a serpente exigira muita força e Toth havia me alertado, uma alma com um corpo ainda vivo, não poderia habitar no Duat, era contra as regras de Maat então eu sabia que a cada segundo que passava ali meu corpo no mundo mortal se desfalecia aos poucos.

Me coloquei de pé e comecei a correr novamente, mas sentia o peso de meu esforço me traindo, me fazendo arfar. Quando me aproximei da entrada da gruta o enorme demônio com cara de asno e calda de naja, chicoteou em minha direção, senti as presas da serpente se cravarem em meu ombro, o sangue jorrava, cai de joelhos tentando manter a consciência, não poderia morrer, precisava manter minha alma viva. Me rastejei até um monte de ossos secos e fiquei escondida enquanto o demônio me farejava.

Meu ombro sangrava sem parar, a dor era real e o sangue ainda mais, começara a ouvir a voz de Anúbis ao longe, como um sussurro.

Maya...você precisa se levantar, corra...corra, agora!

Reunindo minhas ultimas forças, corri cambaleando enquanto o demônio me procurava atrás do cadáver da serpente, assim que farejou meu cheiro, se virou e com um urro ensurdecedor se pós a correr atrás de mim. Meus pulmões doíam, mas a força dentro de mim era maior, quando alcancei a entrada uma grande pedra fechou a passagem e eu apaguei.


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