Inverno escrita por Shelter For Crazy


Capítulo 4
Em Meio a Alvorada (parte 2)




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Era uma tarde monótona, assim como todas as outras nas últimas semanas dês do incio do inverno. Como em qual quer outra Alvorada gélida, o líder de uma pequena tribo de Vikings que se escondiam do inverno em um enorme salão, aquecidos apenas pelo calor humano uns dos outros; encontrava-se em seu desorganizado escritório. Organizando orários, distribuíndo tarefas, e para finalizar o dia de serviço - e, posteriormente, finalmente se dirigir a sua tão amada mesa de jantar - calcular a média de comida per capita até o final do mês - costume o qual o próprio inventara, pois isso fora totalmente fora do comum para todos os outros líderes que já existiram no arquipélago.

Porém, enquanto checava o horário de 3 de seus 45 homens desocupados - a fim de dar-lhes algo de útil para fazer - ele, em meio a um golpe acidental com seu cotovelo, deixara uma das antigas pilhas edificadas apenas com papeis de cartas pessoais e livros antigos de ficção - considerando o quão ocupado Soluço andara nos últimos tempos, é de se entender porque os papéis se encontravam em tal estado.

Soluço logo se descolara para colhe-los, mas se quer foi preciso que ele abaixasse-se por completo para pega-los, que, com a "maravilhosa" atenção que tivera ao mundo ao seu redor, decidira por guardar cada um em seu devido lugar ao invés de voltar para seus incômodos deveres. Soluço começou pelos livros, os quais, dentre a cada 5, 3 eram de ficção e 2 estavam inlegíveis - o que, em um lugar tão antigo quanto "O Escritório do Líder" era extremamente comum, pois havia uma grande variedade dentre as versões antigas da história de Berck - a partir do tempo em que alguém teve a abrilhante idéia de registra-la, assim foi feito, porém não eram muitos os antigos líderes que sabiam escrever.

Quando todos os livros derrubados ao chão se encontraram guardados nas estantes que cercavam o escritório, Soluço decidira se dirigir aos outros papéis espalhados pelo chão dos quais conforme ia coletando notara que dentre a cada 10 papéis, 6 eram cartas pessoais de líderes recentemente anteriores a ele, 3 eram páginas arrancadas dos livros, e 1 eram desenhos feios de crianças. "O que isso está fazendo aqui?" Soluço se perguntou já questionando se os líderes anteriores a ele era realmente tão insensíveis e turunas quanto se descreviam nos livros.

Quando Soluço terminara de guardar todos aquele papéis em seus respectivos arquivos - os quais o próprio criou - ele realmente chegou a pensar que tinha finalmente acabado, e que assim não teria mais desculpas para sua procrastinação. Porém, para sua alegria, os deuses - à escuta de seu chamado de temor interno - pareceram ter enviado mais um último motivo pelo qual ele se ausentaria temporariamente de seus serviços: Soluço avistara - bem no canto de seu campo de visão - mais um velho papel, porém, desta vez, se encontrava à baixo de sua escrivaninha.

Consciente de que poderia muito bem ignora-lo e deixar que algum dos líderes posteriores a ele  achasse-o, Soluço decidiu abaixar-se novamente, e esticar sua mão pelo chão empoeirado daquela sala abafada até a folha, e assim que a trouxera para perto de si, notara que fora uma carta quase que recente, com destinatário a um líder, o qual Soluço acreditava ser o próprio que a segurava no momento.

A carta era composta por apenas uma folha, a qual não tinha assinatura ou brasão algum em seu exterior. "Seja lá quem deixou-me isto, provavelmente não desejava ser identificado" Soluço pensou pouco antes de ver a outra face da descuidada folha de papel, onde um apenas algumas linhas se juntavam em harmonia dizendo:

"Não se atrase ara o jantar hoje, querido" Foi então que concluiu, não se tratava de alguém que não tinha a intenção de se identificar, mas sim de alguém que não necessitara. Ou fora no que Soluço acreditou até localizar, bem ao canto da velha e desgasta folha de papel, uma última frase "De: A futura lady de Berck" escrita em uma caligrafia muito menor, quase como se fizera propositalmente, como se escrevesse aquilo com vergonha, e sem determinada prontidão.

Primeiramente, Soluço desconheceu o tipo de intimidade presente na carta. Nuca fora do feitio de Astrid autonomear-se "futura lady de Berck" - pois não fora preciso, ela já estivera completamente satisfeita com o respeito do cargo de general - e também, apelidar-lhe de "querido". Astrid jamais atribuiria algum apelido carinhoso com a verdadeira intenção de carinho. Quase todos os codinomes já atribuídos à Soluço eram em função de alguma incapacidade - que acabara por ser cômica até para o próprio.

Ao concluir tal raciocínio, de uma forma a qual nem ele mesmo soubera ao certo explicar, Soluço lembrou de seu mais famoso apelido - "babe" - e, consequentemente, de seu significado. Assim, não pode evitar de deixar que uma risada abafadamente safardana escapulisse junto da vermelhidão que seu rosto tomara ao comentar mentalmente para si mesmo "Não tem sido esse apelido que ela utilizara ultimamente... justificável"

Porém, quando tomara conta de que já se desviara muito dos assuntos tratados, Soluço decidiu por concluir que aquela carta não fora de Astrid, e que não fora destinada a ele. O escritório era velho, a papel parecia suficientemente desgastado, quem seria capaz de adivinhas a quantas gerações aquela carta foi escrita? - ironicamente apenas uma. Assim, Soluço o juntou às outras antigas cartas dos posteriores líderes.

Foi então que Soluço reconheceu que não houvera mais justificativa alguma para sua tão adorada procrastinação. Assim, com dor no peito - e na alma - voltara a seus afazeres.

Minutos depois, Soluço partira para sua última tarefa - calcular a média de comida per capita até o final do mês - e tudo estava maravilhoso - apesar de deveras entediante - porém, um pequeno detalhe abalou a confiança - já não tão slidificada - de Soluço. Ele finalmente finalizara a conta per capita, e notara que, além da quantidade de comida per capta mensal já ser pequena comparada aos outros anos, a do mês seguinte seria pior ainda.

Ao ver tais números escritos nos velhos e arrojados papeis soltos e embaralhados sobre a velha escrivaninha de madeira, Soluço pode sentir cada fio de seu corpo arrepiar-se, quase como um choque, mas que envés de torrar seu corpo com calor, tira-te toda essência de seu ser, assim o fazendo completamente pálido e apavorado.

E em menos de dois segundos, Soluço pode imaginar-se lidando com inúmeras mortes e doentes, inúmeras viúvas tristes, e inúmero órfãos desamparados. Foi então que lhe veio a mente mais um fator desastroso de deveria ser considerado: As revoltas. Da mesma forma que o dever de um aldeão é obedecer seu líder sem questionar, o dever de um líder é proteger os seus, tomando as medidas necessárias; logo, quando um de ambos rompe com sua obrigação, a sentença é clara: séria punido de forma severa - Oque não é nada aliviante vindo de um povo nórdico e sanguinário como Vikings.

De tão apavorado, toda a razão e raciocínio pareceram evaporar como água da mente de Soluço por um segundo, assim o impossibilitando de gerar qualquer tipo de idéia. Porém, como um tapa em sua face, a razão tomou novamente o lugar do desespero - mas ainda não o expulsando por completo - na mente de Soluço. Assim antes que se quer se permitisse respirar, Soluço apanhou rapidamente o pedaço de carvão que usara para registrar e realizar tudo, e então refez a conta, porém, desta vez, com uma quantidade menor de comida, prevendo então menos comida ao dia a dia.

Isto certamente não agradaria nem um pouco o povo esfomeado e enfurecido do outro lado da porta de carvalho. "É preciso..." Soluço pensou, consolando-se "É necessário!" Completou ele me pensamento, atribuindo-lhe coragem para fazer tal pronunciamento em meio a multidão, assim consagrando a decisão. O que Soluço não temia era que assim que se levantara em meio a um suspiro apavorado e inconformado, Eret entrara pela sua porta de forma tão brusca e desamparada que chegava a passar um ar de desespero.

—Ele logo direcionou seu olhar curiosamente preocupado para Eret - O que? - peguntou Soluço.

—Eret, que se encontrava ofegante pois se esforçara para comunicar Soluço o mais rápido possível, falou com uma vós roca e desamparadamente preocupada - Os buffalordes... - Eret, devido a tanho o desespero a ao choque de preocupação, esqueceu completamente como falar a frase que nem almenos pensou em dizer, então tentou pensar em uma outra forma de formula-la - Ele... - E quando o inusitado evento ocorrera novamente, Eret decidiu apenas concluir com - É melhor você mesmo ver...

Aquelas palavras elevaram em alta o nível de preocupação de Soluço, assim o fazendo imaginar o pior. Logo, não exitou em seguir Eret para o "estabulo interno" - que havia sido construído a pouco para os animais. Ao longo do caminho, Soluço, que já se encontrava faminto, fantasiou o tão aguardado momento em que se juntaria a sua mãe e Astrid à mesa de jantar - que por desventura do destino, não teria muito mais do que peixes cozidos, mas isso não chegava a abalar o apetite do jovem.

Conforme Soluço e Eret caminhavam pelo enorme salão - e Soluço vez em quando acidentalmente se perdia em devaneios - ele notara que ficara frequentemente para trás, assim tendo de apreçar o paço para alcançar Eret certas vezes. Chegou até a se questionar se era ele que fora muito lento e avoado, ou se era Eret que corria tão rápido. Não que Soluço não estivesse preocupado, apenas que - como um mecanismo de defesa - sua mente o permitia devanear para desestressar-se.

Quando finalmente chegaram no corredor do "estabulo interno" Soluço pode ouvir um ruido agudo e dolorido - quase como um gemido de uma mulher parindo - vindo da porta a qual Eret tremia ao encarar, tentando criar coragem para abrir. Soluço então se aproximou, assim dando Eret a entender que ele mesmo pudera abrir a porta, fazendo-o afastar-se. Ao empurrar sutilmente a porta que rangia quase tão alto quanto os gemidos que ouvia, Soluço se deparou com a hedionda imagem de 3 iaques debruçados ao chão - porém apenas 2 respiravam.

—Chefe! - exclamou um dos quatro homens que se encontravam em volta dos iaques - Que bom que está aqui - ele concluiu sua frase em uma tentativa falha de bajulação, mas não podemos culpa-lo, quem em sã consciência não temeria a fúria de um líder após uma perda.

Porém, Soluço se quer notou sua voz percorrendo o estabulo, pois assim vira aquilo, logo temeu que a causa fosse fome, mas não foi preciso mais do que um segundo de observação para notar que todos estavam bem nutridos. Então Soluço sentiu um cheiro de podridão, como se uma carcaça velha apodrecesse pela ali a semanas - certamente não pudera ser do terceiro iaque, ele aparentava ter falecido a poucas horas - assim, Soluço voltou seu olhara para seu pelo, que parecia estra ensanguentado, e ao agachar-se para toca-lo, teve certeza.

—Tudo que Soluço observara eram apenas fatos que não haviam ligação alguma, como um quebra cabeça sem quase peça alguma. Confuso, Soluço esforçou-se para entender o que se passara,e ao franzir as sobrancelhas em sinal de duvida, logo outro dos quatro homens perto dos iaques lhe falou - Já estavam tontos e cansados a três dias, achamos que era um resfriado, mas depois da hemorragia...

—Como foi? - Soluço falou em um tom sério, interrompendo-o.

—O que? - Perguntou o homem confuso com oque exatamente seu chefe queria que respondesse.

—A hemorragia... - Soluço esclareceu sem almenos direcionar seu olhara para o homem - Como foi a hemorragia?

—Ah - exclamou o homem em um tom calmo ao finalmente entender do que se tratava, o que para ele foi como um alivio - Bem...

—Não sabemos ao certo, mas... - o terceiro homem interrompeu - achamos que pode ser algo vindo do figado...

—Logo, Soluço assimilou o palpite que acabara de receber com a região onde o sangue se concentrava, e ao fato de não se assimilar a um corte ou acidente, mas sim como um tecido velho e molhado, que devido ao atrito do tempo escoara tudo que nele fora jogado, assim chegando a seguinte conclusão- Que corrói todos os tecidos lentamente, com cuidado para manter seu hospedeiro vivo, apodrecendo tudo por onde passa...

Creio que seja desnecessário dizer o pavor para mim dizer tamanho o desespero que afligiu Soluço ao dar-se conta da gravidade de seu problema. Com parasitas nos organismos dos iaques não haveria carne nem leite, isso se os outros animais já não tivessem sido contagiados; e certamente os parasitas são adquiridos através da comida, ou seja, não havia garantia nenhuma que a ilha já não estivesse a poucos passos de uma endemia.

—líder... - Eret tentou comentar algo, oque soava como um consolo, ou talvez uma sugestão... Algo que nunca saberemos, pois Soluço o interrompeu com:

—Mais alguém ou algum animal está demonstrando tontura e cansaço? - Já se levantando e finalmente direcionando seu olhara para Eret, a quem se referira.

—Só algumas ovelhas... - respondeu o quarto homem, que até então demonstrava-se amedrontado de mais para se quer atrever-se a tentar falar.

Soluço então, fugindo ao máximo do desespero e indo direto ao raciocínio lógico, buscou mentalmente por qualquer tipo de alimento que ambas as especies partilhassem em suas devidas dietas - pois, como a rotina de cada um dos animais era divergente em todos os respectivos aspectos, tudo que lhes restavam eram a dieta vegetariana - assim resultando em verduras, obviamente.

Ele já fizera isso visando encontrar a fonte de seu "pequeno problema", para que assim pudesse corta-lhe pela raiz, evitando uma endemia talvez. E ao chegar a rápida conclusão de que muito provavelmente o verme viera das verduras, Soluço sentiu-se aliviado, como se uma angustia enorme que ele até então carregara nas costas fosse mar a baixo, pois, raciocinai-vos:

Uma aldeia composta apenas por vikings muito bem anafados de diversas carnes e vinhos, cujo costume - ou, em uma linguagem menos respeitosa: gosto - passa longe de qualquer tipo de alimento o qual não contivessem um grande valor energético - e engordativo - é mais do que obvio que a opção de que algum homem ou mulher manducasse tal alimento que não fosse por meio de algum tempero era instantaneamente descartada. Assim, Soluço sabia que deveria procurar por uma verdura que: não fosse usada como tempero, estivesse presente na dieta dos animais já identificados com o verme.

O primeiro deslumbre que passou pela vasta mente de Soluço foi a possibilidade de ser o repolho, mas logo ele mesmo repreendeu-se por tamanhã estupides, pensando "Como consegui pensar em uma planta plantada no verão?! A qual nem chego a sentir o aroma a meses! Devo estar ficando louco..." E assim, prolongou-se uma longa e vasta busca - que, em tempo real levara menos de 1 minuto - até que exclamasse eufórico:

—Hortaliças! - Sim! Claro! Hortaliças! Foram plantadas durante o inverno, e não havia nenhum tempero conhecido o qual elas fossem utilizada, sem contar que, claro, era uma verdura.

—O que tem as hortaliças líder? - perguntou o terceiro viking em um tom confuso e ingênuo, com total certeza de que todos na sala entendiam do que se tratava exceto ele, o que não seria surpresa nem novidade, pois, se fora burro o bastante para fazer tal pergunta, provavelmente fora burro o bastante para não entender uma palavra de seu superior.

—Eret! - Exclamou Soluço ignorando totalmente a pegunta do homem confuso - As hortaliças, temos que nos desfazer delas antes que mais iaques e ovelhas comam...

E Eret, que não era burro - ou quase - logo associou os fatos, e apesar de surpreender-se com a rapidez e eficácia do raciocínio de Soluço, logo cessou com os regalos ao permitir que uma péssima informação viesse a tona em uma memória: As hortaliças faziam parte da dieta de todos os animais presentes no salão.

—Não adianta... - Eret informou em um tom baixo e soberbamente indignado - Todos os animais já devem estar doentes a essa altura...

Soluço, ao ouvir tais palavras, ao associa-las em meio a confusão que sua mente tentara inutilmente organizar, pode sentir seu coração para por um segundo. A partir dali, ninguém possuía se quer alguma idéia do que pudera ser feito. Comendo a carne dos animais eles adquiriram vermes que os fariam vomitar sangue até morrer, e se não comessem, seria apenas uma mera questão de semanas até as frutas e verduras acabarem e todos morrerem de fome.

Apesar de apavorado, Soluço não pode deixar de notar o silêncio estabelecido em meio aquele pequeno estabulo, o qual, com acréscimo dos olhares desamparados voltados para ele - esperando alguma resposta, alguma solução - criavam juntos uma tensão desconfortável e pressionante. Mas o que Soluço poderia fazer? Ele era o líder! Era sua responsabilidade conduzir e orientar seu povo pelas situações impostas pelo acaso ou destino. Era sua obrigação ter sempre uma resposta.

Assim, Soluço sentiu-se obrigado a novamente exercer o tão cansativo - mas, para ele, de algum modo prazeroso - ato de pensar. O que resultou em incontáveis longas e demoradas linhas de raciocínio que sempre levavam a lugar algum, assim apenas atiçando sua desolação, que o corroía por dentro, mas era empurrado garganta a baixo toda vez que ameaçara sair. Porém tudo isso parecera desmoronar quando Soluço parecera chegar ao fim, como se suas idéias ficassem escassas em um segundo. E quando o próprio já se encontrava a beira da insanidade e da cogitação de atitudes irracionais, uma nova e desesperada idéia.

—Aquela idéia, apesar de vir a tona como a luz da manhã de primavera depois de uma noite sombria de inverno, ela também vira carregada de loucura e náusea, assim, Soluço não pode evitar de instituir uma feição inquietamente apreensiva ao dizer - Nós vamos sair.

Todos presentes no estábulo espantaram-se de um modo incomum aos olhos de sulenses como nós - supondo que você, meu caro leitor, não seja nenhum tipo de imigrante ou algo do tipo. Mas, permita-me explicar seu espanto:

Considerando a temperatura média do inverno, somada com a alta de comida e roupa; sair em meio a uma tempestade de neve é uma sentença de morte - e sim, não havia nenhum outro clima nessa estação, não para os vikings daquela ilha.

—líder, você não acha que... - Um dos homens que, por incrível que pareça, ainda estavam lá, tentou contestar, mas foi logo interrompido, e assim, permaneceu calado.

—Reuna Melequento, Perna-de-Peixe, os gêmeos e... - E então, mas só então, que Soluço deu-se conta de que não se tratava apenas de uma idéia, mas sim de uma escolha - ...Astrid...

Quando aquela doce palavra - que normalmente alegrara seus dias mais sombrios - deslizou deliberadamente por seus lábios trêmulos, Soluço pode sentir novamente o peso de 1000 montanhas sobre suas costas. Uma parte - consideravelmente grande - dele dizia para nem sonhar em cometer tal blasfêmia, talvez ele até pudesse sair, mas o minimo que pudera fazer era poupar sua noiva. Já, a outra parte - que estava mais para "apenas o que restava" do que para uma parte em si - provinha da rasão, e dizia que independente das chances de Astrid forem baixas, ela ainda fora sua general, seu braço esquerdo, sua melhor soldada, e sua amiga.

E como você já deve imaginar, Soluço ignorou completamente o resquício de razão que ainda sobrara em sua mente, assim sujeitando-se apenas a primeira opção, porém, de uma forma menos radical: Ele buscara almenos mais um motivo pelo qual ele poderia mante-la no salão. Desta vez, não foram precisos mais do que duas hipóteses para que Soluço chegasse a uma luz sã e racional - ou quase.

Caso ele morresse em meio a essa "missão" - o que era praticamente certo de que iria acontecer - pela lei dos homens e dos Deuses, haveria uma assembleia onde Valka e o pai do Melequento disputariam a liderança - para Soluço não haveria mal algum em Valka toma-la depois de sua morte, mas convenhamos, era algo muito incerto, afinal, cabia a povo decidir quem venceria: um habitante que se casou com uma Haddock, ou uma mulher dragão que se afastou durante 20 anos - Assim, caso Astrid ficasse, ela poderia assumir tal cargo sobre uma condição: unir-se em matrimonio junto a ele - e consagrar o casamento.

—Líder? - Perguntou Eret, chamando por Soluço, assim o trazendo de volta a realidade da situação - Algum problema? - Ele completou, fazendo Soluço dar-se conta que havia se perdido em devaneios profundo ao ponto de prevalecer silencioso e pensativo por  minutos.

—Reuna Melequento, Perna-de-Peixe e os gêmeos... - Soluço o respondeu, ignorando sua pergunta - Eu falo com Astrid... - Ele completa, já direcionando-se a seus aposentos.

"E depois..." Pensou o jovem em meio a passos soberbos e achatados mas ao mesmo tempo duros e preocupados "depois eu falo com a aldeia..." Ele se referia a pequena anunciação que deveria fazer para avisar a todos sobre sua decisão. Atitude a qual não fora nem um pouco fácil, pois ele sabia muito bem que, independente de tudo o que fizera, era preocupante para uma aldeia passar o inverno sem seu líder.

Claro, ele voltaria de semana e semana com mais comida, mas era instável: caso ele se atrasasse o que deveriam fazer? Mandar uma equipe de resgate? A qual corre um risco muito alto de nunca mais voltar? Esperar até a primavera para ter certeza de sua morte, e então, mas só então, nomear a viúva que ele deixara pra trás? Era algo apavorante, sem dúvida, mas não havia outra escolha, era aquilo, ou a morte.

Soluço, ainda tentando se conformar, notara que finalmente havia chegado aos aposentos de Astrid, os quais ele mesmo já conhecera tão bem que tornou o fato de ele ter batido suavemente na porta antes de entrar algo que só poderia ser derivado da ansiedade, pois acredite, em meio a outros inverno, era quase como esta porta não existisse para ele.

Depois de alguns segundos de espera, Soluço finalmente teve o desprazer de descobrir que alguém o esperava atrás da porta - digo isso pois, era claro que, no fundo, Soluço desejava adiar aquela conversa o máximo o possível - Pessoa essa que, para sua surpresa, fora sua própria mãe. Note que foi apenas uma surpresa, e não uma pequena confusão, pois Soluço já estivera muito ciente da amizade construída entre sogra e nora ao decorrer de alguns almoços e jantares "em família".

Porém, antes mesmo que Soluço pudesse perguntar-lhe qualquer coisa como: "O que faz aqui?", Valka já se encontrava em retirada de tais aposentos, indo à uma direção que parecia ser aleatória. Seus olhos desviavam ao olhar, sua boca tremula foi logo coberta por sua mão direita, sua ansiedade era eminente e agoniante... Soluço simplesmente não sabia ao que deveria dar maior importância: à sua mãe, que estava claramente eufórica e possivelmente não muito "bem", ou à o que - que se encontrava atrás daquela dura porta de madeira-  teria a deixado assim.

Calafrios logo vieram a tona - como se o próprio Loki aparecesse em sua frente apenas para causar-lhe temor - Soluço poderia facilmente sentir gotas de suor resvalando sobre sua face ao aproximar a palma de sua mão à porta quase imemorial, e ao empurra-la, rezou para Deuses cujo o próprio já nem soubera se existiam. Porém, um fato foi inevitável: Ao finalmente entrar no aposento, Soluço logo avistou Astrid sentada na cama, olhando fixamente para as próprias mãos em meio a devaneios.

Aquilo soara estranho para Soluço... Encontrara exatamente quem está procurando no primeiro local que fora, quase como esta pessoa estivesse esperando-lhe falar com ela... Por um segundo, Soluço questionou-se sobre a bondade dos fatos ao seu redor. Porém, como o peso da culpa recaída sobre seus ombros falara mais alto que uma simples e insignificante duvida, não fora preciso mais do que dois segundos para os calafrios voltassem a tona, assim retomando seu lugar de direito em meio a desconfortável situação a qual Soluço estára prestes a se meter.

Mas tudo apenas piorou quando ele realmente deu-se conta de observa-la. Logo hipnotizou-se com os os rebeldes fios soltos que degradadamente formavam uma franja, a qual era profundamente odiada por esconder os olhos mais belos já vistos, mas ainda sim endeusada, por carregar toda a leveza e brilho que Astrid insistia em preder em meio a tranças - as quais Soluço fantasiava em desmanchar.

Já quando a atenção de Soluço redirecionava-se à sua pele - pálida e solitariamente fria - o próprio foi tirado bruscamente de seus devaneios pelo relance que fora o olhar da loira que ele tanto apreciava. Assim, lembrou-se do motivo pelo qual atravessara o Grande Salão a sua procura - o que definitivamente não o trouxe grande felicidade.

Astrid levantou-se quase tão eufórica quanto Valka ao sair do "quarto", quase como se fosse regurgitar desespero sobre ele, porém, ela exitou como um freio de medo e duvida. Assim, ambos encararam-se fixamente por pouco mais de meio segundo, até que finalmente formularam uma frase capaz de iniciar a conversa que precisavam ter:

—Precisamos conversar! - ele falou.

—Precisamos conversar! - ela falou.


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Notas finais do capítulo

Na vida eu sou o cara genérico numero 3: Não sabe o que tá acontecendo, só sabe que é culpa dele.

Pra quem não entendeu o negócio dos "apelidos carinhos" Joga no google tradutor o significado de "babe"



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