Happier escrita por Fe Damin


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas lindas do meu coração!
Mais uma one postada! Ando numa fase meio inspirada então melhor não desperdiçar huahauh
Essa história curtinha surgiu ao escutar a musica Happier do Ed Sheeran (pra quem não conhece, corram!) e eu imaginei na hora um Harry que fez besteira e estragou o que tinha com a Ginny, tudo embalado num ambiente diferente. Vamos ver se ele consegue dar um jeito na situação...
Espero que gostem! :)



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Ain’t nobody hurt you like I hurt you

Ain’t nobody need you like I do

I know that there’s others that deserve you

But my darling I am still in love with you

I could try to smile to hide the true

But I know I was happier with you

 

Eu não tinha a menor idéia do que estava fazendo ali. Juntei meia dúzia de peças de roupa numa mala pequena, desenterrei o meu passaporte do fundo da gaveta e comprei a primeira passagem para o outro lado do mundo.

Para que?

A decisão de terminar tudo havia sido minha, de mais ninguém. A visão daqueles olhos castanhos magoados ainda me atormentava dia e noite, mas fora a escolha certa, eu preferia viver com a distância do que com o medo de que algo pudesse acontecer a ela, de que ela pudesse ser tirada de mim. Certo?

A verdade era que eu não sabia  mais.

Tudo parecia muito claro e lógico quando juntei pontos e conclusões na minha cabeça: eu tinha um trabalho perigoso, ela estava sendo ameaçada, ela tinha um sonho a buscar longe de mim… então o certo era fazê-la ir. Claro que para isso, tive que contar uma versão completamente maquiada da verdade. Eu conhecia muito bem a minha namorada, ex-namorada.... cabeça dura e determinada como era, nunca teria saído de perto de mim se sequer suspeitasse do ninho de cobras que andavam à minha espreita. Ela teria desistido de ir atrás da carreira de seus sonhos e ficaria ao meu lado, sendo mais um par de olhos tentando garantir a minha segurança. Eu não aceitaria aquilo.

Ela sempre fora uma das profissionais mais competentes da nossa divisão, merecia mais do que qualquer outro a oportunidade de crescimento e promoção que a ofereceram fora do país, eu nunca me colocaria como uma barreira em seu caminho.

“Você só esqueceu que ela também tem direito à opinião nessa situação”

A reprimenda que minha melhor amiga jogou em cima de mim na primeira vez que me pegou sentado sozinho num bar, cuidando de uma garrafa vazia de cerveja, ainda ecoava em meus ouvidos. Sempre se podia contar com aquela morena para falar as verdades que ninguém queria ouvir, e pior, estar certa. Porém isso eu só reconheci depois.

Terminei com a minha namorada num dia qualquer, por uma razão mais irrelevante ainda e não levei nem três dias para ter certeza que me arrependeria daquilo para sempre. Pensar que ela estava segura foi o que me manteve mais ou menos são, mas a saudade se infiltrava em cada momento, cada pedacinho da minha vida que me lembrava do sorriso atrevido, do olhar desafiador, das palavras inteligentes e do rosto mais lindo de todos.

Um mês se passou e eu não aguentava mais.

Não conseguia me concentrar direito no meu trabalho, cometi erros idiotas que nem no meu primeiro ano como policial eu cometi. Tudo parecia meio fora do meu controle e o caso, no qual eu estava enterrado quase até o pescoço, começou a se mostrar realmente como um perigo. Se eu continuasse com a cabeça em outro lugar, terminaria morto ao invés de com um caso resolvido. Eu precisava fazer alguma coisa, só não sabia o que.

Já tinha sido tempo suficiente para que eu admitisse que minhas decisões em relação à Ginny haviam sido as mais precipitadas e idiotas possíveis, porém não era algo que desse para ser resolvido mais. Ela nunca me perdoaria pelo que fiz, a maneira como menti olhando-a nos olhos, a única maneira, altamente covarde, que encontrei de chegar onde queria.

“Você só está sendo mais covarde ainda se não tentar”

Mais um pedaço de sabedoria vindo da minha melhor amiga. Foi por remoer essa frase na noite passada, que agora eu me encontrava num hotel de qualidade duvidosa no meio de Nova York sem ter pregado os olhos desde que o voo partiu do aeroporto de Londres. Sem parar para pensar no que eu faria, ou no que eu esperava encontrar e conseguir, fui atrás dela. Não tive dificuldades de descobrir onde ela morava, lado bom de ser praticamente um membro da família Weasley desde criança, apenas joguei as minhas coisas no quarto e saí tarde a fora para encontrar o endereço que estava salvo no meu celular.

Por ser uma sexta feira, eu já imaginava que ela não estaria em casa naquele horário, como confirmei ao tocar a campainha da casa simples em que ela morava e não obter resposta alguma. O frio de janeiro não era nem um pouco convidativo para que eu ficasse ali parado esperando, então decidi me distrair por algumas horas e voltar mais tarde, quando o expediente dela tivesse acabado.

Não foi difícil encontrar o que fazer em Nova York. Já eram mais de sete da noite quando achei que não corria mais risco de que ela continuasse trabalhando, então peguei novamente o metrô para a residência dela. De fato dessa vez encontrei o endereço habitado, mas assim que eu ia me aproximando, vi a minha ex namorada saindo, notavelmente arrumada, e indo de encontro a um homem que a esperava encostado no portão baixo que marcava a entrada do imóvel.

Quem era aquele paspalho?

Acelerei o passo, colocando em prática todo o meu treinamento para não chamar a atenção dos dois, não que eles estivessem nem um pouco preocupados com o entorno. Eles começaram a descer a rua, falando e rindo de algo que eu não conseguia escutar a tantos passos de distância. Foi quase uma facada no fundo do meu peito ver o sorriso que eu tanto amava direcionado a outro, mas eu não tinha ninguém além de mim a quem culpar.

Mesmo sabendo o absurdo que seria aquilo, não consegui me impedir de seguir o casal, acompanhando-os pelas poucas quadras até vê-los entrando em um bar de aparência aconchegante. O ciúmes veio me importunar, mas o que eu esperava? A Ginny era uma mulher inteligente, simpática, linda e competente, não demoraria nem um pouco para que algum americano notasse o que eu demorei quase uma vida inteira para perceber e alguns segundos para jogar fora.

Eu deveria ir embora, não tinha nada para mim ali, mas não consegui me mover. Paralisado do lado de fora, me sentei em uma das várias mesas vazias da calçada, bem perto da janela para me torturar ao observar o quanto ela parecia feliz conversando com o loiro que até eu tinha que admitir que parecia ser uma boa pessoa. Eles não demoraram muito, comeram e beberam - como eu também fiz - e conversaram sem parar, entre risos e gestos. Era difícil ver como ela parecia feliz, mas pelo menos o meu coração não teve que sofrer ao ver nenhum abraço ou beijo além do que ela deu na bochecha dele ao se despedirem.

Cada um partiu para um lado diferente quando saíram do bar. Ela com certeza refaria os passos até a casa dela e, num arroubo de loucura e falta de bom senso, eu pulei da mesa - de onde eu tinha acabado de entregar a minha conta paga - e corri atrás dela, não me importando em anunciar a minha presença no meio da rua.

—Ginny! - consegui alcançá-la e coloquei minha mãe em seu ombro, sentindo que ela congelou no lugar assim que eu a toquei.

—O que você está fazendo aqui? - o rosto dela estava completamente fechado ao se virar para mim.

—Eu vim conversar…

Eu tinha passado o tempo todo da viagem pensando no que diria a ela, mas ao me encontrar encarando aqueles olhos irritados, as palavras fugiram completamente.

—Conversar? Eu não tenho nada para te dizer e muito menos quero escutar qualquer merda que saia da sua boca.

—Ginny, por favor…

—Sai da minha frente, Harry eu estou armada, espero que não tenha que chegar nesse ponto - ela cuspiu as ameaças sem nenhum pingo de pena, a mão apoiada no cinto da calça me dizia que ela não estava mentindo.

—Você não atiraria em mim - deixei escapar um sorriso atrevido nem um pouco apropriado e recebi imediatamente em resposta ela levantando a sobrancelha com a afronta.

—Ah, não? Pois pague para ver.

Eu não acreditei que ela pudesse me machucar deliberadamente, mas não ia me ganhar a boa vontade dela insistir naquela provocação. Voltei ao tom mais sério que a situação pedia.

—Eu só quero que você me escute um pouco, por favor, depois eu juro que vou embora, você não precisa nunca mais olhar para a minha cara.

—Se fosse tão fácil… - ela balançou a cabeça, mas eu voltei a insistir.

—Por favor, Gin

—Não me chame assim! - notei os olhos dela se arregalando ao ouvir o modo carinhoso como eu costumava chamá-la, não fui forte o suficiente para resistir a mais uma pequena provocação, era animador ver que ela não era imune.

—Por favor agente Weasley.

—Você e suas gracinhas que vão se ferrar, Harry! - o tiro saiu pela culatra, pois ela deu as costas para mim e saiu andando, irritada.

Me adiantei atrás dela, a ansiedade batendo fundo para fazer com que ela não fugisse antes que eu a convencesse a me escutar.

—Desculpa, vai eu não vou mais fazer isso, só uns minutinhos…- quase suspirei de alívio quando ela parou novamente, mas o olhar de raiva que ela me lançou não foi um prelúdio muito bom.

—O que faltou você me dizer? Tinha alguma piranha na história também? Por acaso você tem algum filho perdido? Bateu a culpa e você veio me contar, porque fique sabendo que eu estou pouco me fodendo pra sua vida, a parte que você já me contou foi o suficiente para eu não querer ouvir mais nada de você.

—Não é nada disso, muito pelo contrário, deixa eu me explicar!

—Não existe contrário nessa situação, é bastante simples, ou você ama ou não ama alguém, não tem meio termo, e você deixou bem claro onde você se encontra. Não venha atrás de mim.

As lembranças do dia em que eu falei a ela tudo o que na verdade não sentia, vieram me esmagar. Arrependimento e culpa me alcançando ao mesmo tempo. Ela precisava saber que eu não havia sido verdadeiro, mesmo que não adiantasse para mais nada.

—Eu menti, era tudo mentira!

Ela se endireitou, me olhando com fogo no olhar. Escutei o suspiro que ela deixou escapar dos lábios, se não parecesse tão estranho, eu diria que ela estava debochando da minha declaração. Será que ela não acreditaria nas minhas palavras?

—Claro que mentiu! Você acha que eu sou idiota? - aquilo não era nada do que eu estava esperando - Posso ter sido a menina boba com uma paixonite eterna por você, mas eu te conheço Harry Potter e eu sei que você dizia a verdade desde a primeira vez que disse que me amava.

—Você… você sabia? - as palavras dela me desarmaram completamente. Todos os meus pensamentos tinham sido voltados a tentar convencê-la de que eu tinha mentido, de que todas as minhas declarações naquele dia não haviam passado de um monte de besteiras sem fundamento algum, se ela sempre soube disso como eu poderia ter alguma chance de consertar as coisas?

—Você pode até achar que é um grande ator, que engana o mundo com esses olhos verdes, mas não a mim.

—Por que não disse nada?

—Lembro de alguém que não quis escutar uma palavra do que eu tinha a dizer, e você veio do nada com aquilo, não sei seus motivos e eles me importam tanto quanto aquele monte de lixo - ela apontou para a pilha de sacos escuros que repousavam esquecidos na caçamba de lixo da casa mais próxima - eu posso ser apaixonada por você, mas tenho orgulho próprio, não imploro pela atenção de ninguém.

—Apaixonada? - tudo o que ela dizia tinha um tom hostil, mas aquela frase se prendeu aos meus ouvidos, acendendo uma esperança quase desiludida e fazendo o meu coração bater mais forte em meu peito.

—Nem comece a se empolgar, você é passado, agora eu gosto de sotaques americanos - ela me olhou com desdém, mas era a minha vez de enxergar por detrás da fachada. Podia até tido risos e brincadeiras com o tal americano, mas não a ouvi se dizer apaixonada por ele, ou qualquer outra pessoa que não eu, até o momento.

—Quem está mentindo agora? - desafiei-a a me contradizer e claro que ela não gostou nada, arisca como sempre.

—Isso não te diz mais respeito, foi você que fez a merda, agora se vira pra viver com isso.

Dessa vez ela não me deu tempo nem de rebater, virou nos calcanhares e praticamente voou rua abaixo. Eu precisava de uma nova estratégia, ficar trocando farpas no meio da rua não estava levando a lugar nenhum. Decidi segui-la rapidamente, mas mantendo uma certa distância, eu a alcançaria quando chegasse na casa dela, o que se eu desse sorte, ela não estaria esperando também.

Enquanto ela procurava a chave na bolsa em frente ao portão de casa, eu me aproximei novamente, sendo recebido mais uma vez com exasperação.

—Não acredito que você ainda está me seguindo!

—Não vou embora antes de te dizer tudo o que eu vim dizer.

—Espero que você tenha trazido um guarda chuva então, porque a previsão anunciou um temporal para essa noite - eu a segui portão à dentro, parando à suas costas enquanto ela lidava com a porta.

—Eu falei sério.

—Eu também - rebati, porém ela girou a maçaneta, entrou e bateu a porta na minha cara antes que eu pudesse dar um passo sequer.

Claro que, assim como ela previu, as gotas de chuva não demoraram a cair, mesmo com a umidade ameaçando transformar os meus membros em picolés, eu não voltaria atrás na minha palavra, esperaria ali encostado no batente, nem que fosse até ela ter que sair novamente. Por sorte, eu usava um casaco grosso, mas meu cabelo já era um emaranhado de fios encharcados quando escutei uma movimentação na fechadura. Quase não acreditei quando a vi abrindo a porta.

—Entra logo - ela disse de mau grado, me deixando confuso quanto à mudança repentina, não era do feitio dela.

—O que fez você mudar de ideia?

—Minha ideia continua a mesma - eu a segui até o meio da sala que se abria para uma cozinha americana, e ela jogou uma toalha na minha cara - sorte sua que a Hermione ligou preocupada com você, e ela é muito boa de lábia. Pode ficar aí até passar a chuva, nem um minuto a mais. Não me pertube.

Não houve brechas para abordar o que eu queria tanto falar, ela rapidamente sumiu pelo corredor e eu escutei uma porta batendo e sendo trancada. Claro que ela não me daria a possibilidade de segui-la até o quarto.

—Merda! - xinguei, esfregando a toalha nos cabelos, estava tudo saindo errado.

Claro que eu não imaginava que seria fácil fazê-la me escutar, e eu nem esperava qualquer tipo de perdão, só precisava explicar o porquê de eu ter feito aquilo, mas acabei subestimando o que era tentar lidar com Ginny Weasley quando ela estava puta da vida.

A chuva não passou, ao invés disso, só aumentou de intensidade e eu agradeci aos céus por me dar uma ótima desculpa para não ir embora. As horas foram se arrastando, só me restou me acomodar no sofá e esperar, porém com o fuso horário diferente, eu não conseguiria dormir. Fiquei virando de um lado para o outro até que decidi me ocupar. Os primeiros raios de luz começavam a surgir no céu quando fui para a cozinha.

Era um cômodo pequeno e não muito bem equipado, apesar de bem decorado como o resto da casa que eu vi, do jeito que eu imaginava que seria. Se tinha uma coisa que a Ginny não tinha habilidade, ou gosto pra fazer, era cozinhar. Refeições preparadas em casa eram sempre minha responsabilidade, acabei apostando em recriar um desses momentos. Com os poucos ingredientes disponíveis, só consegui fazer umas panquecas simples e torradas, nada muito elaborado, mas eu sabia que ela gostava.

Escutei os passos dela pelo corredor e me preparei para a bronca que ela me daria mais uma vez.

—O que você ainda está fazendo aqui? - falou imediatamente ao me ver debruçado no balcão da cozinha. Ela tinha os cabelos desarrumados, os braços cruzados segurando o roupão confortável que usava.

—Não parou de chover - apontei para a janela.

—Você não é feito de açúcar, é só uma garoa.

—Eu não sou, mas essas panquecas…. - empurrei o prato contendo a refeição que eu tinha preparado, ela já estava de frente para mim no balcão para poder ver a extensão do que eu tinha feito na cozinha.

—Quem disse que você podia mexer na minha cozinha?

—Você também não disse que eu não podia - dei de ombros, com a Ginny não adiantava ser apenas apaziguador, ela tinha uma língua afiada e às vezes era necessário se arriscar nas respostas.

—E você está exagerando no atrevimento.

—Ainda está armada, por acaso?

—Não preciso de arma nenhuma pra te jogar para fora daqui, ou esqueceu que eu sempre ganhei em todos os nossos treinos? - um sorriso petulante acompanhou a provocação, evocando todas as brincadeiras que costumavam ser tão habituais entre nós.

—Vou adorar uma sessão dessas, que tal? - eu me apoiei sobre o balcão, aproximando os nossos rostos.

—Chega, Harry! - ela se inclinou para trás, voltando à realidade do momento - sem gracinhas, sem charminho, não somos mais você e eu, não tem mais espaço pra isso. Você. Terminou. Tudo!

—E eu estava errado, ok?

—Que você é o campeão das escolhas de merda, eu sempre soube, só não vou me sujeitar a elas - ela cruzou os braços, mais uma amostra de como continuava contrariada.

—O que custa você me escutar?

—Você está me cansando, Harry - ela esfregou a testa, como se tentasse afastar a dor de cabeça que eu me tornei, mas eu não ia parar ali.

—Pois eu aposto que você não pregou os olhos a noite toda, assim como eu, mas eu tenho o fuso horário como desculpa, e você? - contornei o balcão e apoiei minhas costas sobre ele, ficando mais uma vez a centímetros dela.

—Você não sabe de nada!

—Conheço o seu rosto de cor, Ginny sei direitinho quando ele acordou de uma boa noite de sono ou de uma noite péssima. Ficou pensando em mim?

—Se você quer tanto saber, fiquei sim! Em como você é irritante e ridículo de ter aparecido aqui - ela empurrou meu peito com o dedo indicador, e eu tive que me conter para não puxá-la para mim, eu precisava fazê-la escutar antes de qualquer outra coisa, mas era difícil.

—Aposto que não foi só isso - provoquei, sentindo a falta de seu toque.

—Você pode apostar até a sua alma, não importa.

—Vamos lá, Gin, as panquecas e as torradas estão quentinhas, mel e açúcar do jeito que você gosta.

—Agora você quer me subornar, patético, Potter. Pode ir, eu fico com a comida - ela apontou para a porta, mas eu não me mexi.

—Você está sendo intransigente!

—E você um pé no saco!

—O meu disfarce foi descoberto - despejei de uma vez o que precisava dizer, esse cabo de guerra não ia ser ganho por mim, o melhor era tentar de uma vez colocar aquilo para fora.

—O que?

—Na operação contra Tom Riddle.

—Harry! Como… - o efeito foi melhor do que eu previa, ela colocou a pose de irritada de lado por alguns instantes, parecendo buscar respostas para entender todas as informações que eu tinha compartilhado.

—Dois policiais corruptos do 7º esquadrão.

—E o que isso tem a ver?

—Vai me deixar explicar?

Ela ficou em silêncio por alguns instantes, até que - chacoalhando a cabeça  - ela falou muito a contra gosto.

—Me passa essas benditas torradas, mas sem enrolar!

Era só o que eu precisava, voltei para o outro lado do balcão e alcancei o prato que ela pediu. Ela se sentou no banco em frente do local onde eu tinha depositado a comida e começou a mordiscar a torrada, me enchi de uma felicidade idiota ao perceber que ela tinha gostado do que provava, mas eu não podia me desconcentrar, o assunto era sério.

—Eles me viram falando com o meu contato, foi um deslize de amador, mas virou uma merda grande - passei a mão pelos cabelos inconscientemente, como fazia sempre que estava nervoso e só de me lembrar daquela situação, tudo ficava turbulento na minha mente.

—Eu não sabia que você estava infiltrado na organização do Riddle.

—Ninguém podia saber, você sabe que é assim que funciona.

—Por isso suas horas de trabalho enlouqueceram.

—Sim, eu já estava chegando perto de conseguir acesso ao alto escalão, já tinha juntado várias provas importantes contra aquele filho da puta e aquele monte de retardados que o seguem.

—Então por que não o prendeu logo? Assim que seu disfarce foi descoberto?

—Porque eu ainda não tinha as evidências do caso dos meus pais…

—Ah…

A verdade era que eu só tinha insistido tanto em participar daquela missão suicida porque dentro daquela organização estavam as respostas que eu buscava há anos para entender como meus pais foram tirados de mim. Eu sabia que beirava a um tipo de obsessão, mas era muito importante para mim que o culpado pagasse pelo que fez e a Ginny sabia disso.

—Os dois corruptos, Crabe e Goyle, na verdade trabalhavam para o Riddle, mas tinham aspirações grandes demais para o próprio bem.

—Queriam assumir o controle da organização?

—Exatamente, e pra isso decidiram que eu era o ticket de ouro, eu colocaria o chefão atrás das grades e eles ficariam com os espólios.

—Como eles acharam que isso ia funcionar? Só podem ser dois retardados.

—Eles ameaçaram você.

—O que? - ela perguntou alarmada.

—Deixaram uma pasta na porta da minha casa, eram fotos e mais fotos, relatórios e itinerários da sua vida. A mensagem no final foi de que seria o mais simples possível te eliminar.

E esse era o centro do problema inteiro, ela tinha sido ameaçada e eu enlouqueci com o simples pensamento de que qualquer coisa pudesse acontecer, claro que acabei me precipitando e a ruiva à minha frente não deixaria isso passar.

—E não passou por um segundo nessa sua cabeça idiota de me contar isso?

—Eu te conheço, Ginny! Você ia querer ir atrás deles!

—Mas claro que sim, é a minha vida em risco!

—E fazendo isso ia apenas se colocar em mais perigo ainda, eu não podia permitir isso.

—Você não podia é ter tomado essa decisão sozinho, não diz respeito só a você - ela levantou a mão, apontando de mim para ela.

—Mas é minha culpa!

—Ai, Harry… - de repente ela se jogou de novo no banco, balançando a cabeça em negação -  já entendi direitinho o que passou nessa sua cabeça dramática. Você achou que me dando um bom motivo para aceitar esse emprego e ir para o mais longe possível de você, eu estaria a salvo e aí veio com aquela merda toda de não me amar mais, de querer terminar tudo…

—Sim… eu achei que…

—Achou que estava sendo brilhante? Que isso ia resolver magicamente tudo? Você, você é um imbecil, Harry Potter!

—Eu sei disso! - concordei, não tinha dúvida quanto a isso.

—E depois de me contar tudo isso espera o que? Que eu vá morrer de felicidade, ver o quão nobre você foi por querer proteger a pobre dama indefesa que sou? - a voz dela assumiu novamente um tom afiado.

—Você não é uma dama indefesa! - eu me defendi, nunca pensei isso sobre ela.

—Exatamente, porra! Mas você vê que foi nesse papel que me colocou? Não confiou em mim para que eu me protegesse, mas mais do que isso, não confiou em mim para que eu fizesse as minhas próprias escolhas.

—Eu confio em você, Ginny.

—Pois não é o que isso indica. Eu não sou uma criancinha que precisa de um pai e uma mãe ditando cada passo. Tenho minhas opiniões e responsabilidade o suficiente de arcar com as minhas decisões.

—Eu sei disso! Eu só não consegui imaginar alguma coisa acontecendo com você…

—Isso pode soar a coisa mais romântica do mundo para os ouvidos de algumas pessoas, mas pra mim é a prova de que você foi covarde.

—Sim, fui! - não consegui mais me manter com aquela distância entre nós, voltei ao seu lado e dessa vez eu tinha a vantagem de que ela estava confinada entre o banco e a bancada - Aquela organização infernal já tirou duas pessoas muito importantes de mim, eu não consigo perder mais uma, Ginny. Você está certa, eu devia ter te contado toda a situação ao invés do teatro idiota que montei, mas eu não consegui arriscar! Você entende o quanto eu te amo? O quanto ia me matar se qualquer coisa acontecesse com você?

—Harry… - meu nome saiu impressionantemente suave daqueles lábios vermelhos.

—Eu não sou perfeito, você sabe muito bem disso, e foi a saída que pareceu mais segura.

—E de que adiantou?

—Absolutamente nada! Aqueles dois merdas ainda estão no meu pescoço, meu chefe se recusa a me deixar denunciar os dois e acabar com o caso e… e eu só consigo pensar no quanto sinto sua falta - eu não tinha vergonha nenhuma em confessar tudo o que sentia.

—Para, Harry! - os centímetros que nos separavam pareceram surtir efeito não só em mim, pois a ordem não saiu tão incisiva como de costume.

—Mas é verdade! Eu sei que você está com uma outra pessoa que provavelmente te merece mais do que eu, que te faz mais feliz do que eu te deixei depois da merda que eu fiz, não espero que você mude sua vida, desista de nada por mim, mas isso não muda o fato de que eu ainda te amo e posso tentar esconder ao máximo, mas mesmo com todo o medo envolvido, eu era muito mais feliz com você na minha vida.

Ela podia me dizer que tinha outra pessoa na vida dela, mas eu não iria embora sem que ela tivesse certeza absoluta que na minha, ela ainda era a estrela mais brilhante.

—Vai se ferrar, Harry! - ela levou as mãos ao meu peito, me empurrando para trás e conseguindo sair do banco - você não pode fazer isso! Atravessar meio mundo, se colocar no meio da minha sala e declamar essa porra de discurso calculado para fazer o meu coração bater mais forte e me dar vontade de te agarrar.

—Não tem nada calculado, é só a realidade, o que eu sinto.

—Então eu vou te dizer o que eu sinto. Eu estou brava, Harry, puta da vida de olhar essa sua cara de cãozinho perdido quando tudo estava tão bem e foi você mesmo que estragou as coisas. Mas eu não sou de ferro, e você diz tudo o que eu quero escutar, mesmo sem realmente querer e eu sou obrigada a ficar com raiva de mim porque dá certo!

—Dá? - lá estava de novo a esperança.

—Fica quieto que eu ainda não terminei! - ela me cortou.

—Desculpa - respondi baixinho.

—Eu vou te dizer isso uma vez só, Harry, escuta direito - ele levantou o indicador -  se você fizer qualquer tipo de coisa assim de novo, eu nunca mais olho na sua cara, me ouviu? Pode ser a cara mais linda do mundo, mas não vai ter volta. Nunca mais esconda nada de mim, ou tente tomar as minha decisões. Você vai ter que rebolar muito pra me fazer esquecer essa sua palhaçada.

Ela estava realmente dizendo o que eu achava que ela estava dizendo?

—Prometo que vou me te recompensar até o fim dos meus dias e nunca mais vou fazer nada assim.

—Ótimo, estamos entendidos, agora você já pode ir - ela deu as costas para mim e voltou a sentar, se ocupando do resto da comida.

—Ir? - tentei esconder a decepção da minha voz, mas foi impossível, a dispensa caiu como um balde de água fria.

—O quarto é a primeira porta à direita, só vou terminar a minha torrada - ela me lançou um sorriso maldoso e atrevido que me disse tudo o que eu precisava saber, fazendo com que eu devolvesse uma expressão igualmente pouco inocente.

—E o seu americano? - levantei a sobrancelha.

—Não tem americano nenhum, aquele é só o meu parceiro, muito bem casado e pai de duas meninas lindas - ela falou aquilo de uma maneira que deixava claro o quanto fora proposital a omissão da informação até o momento.

—Você me enganou, sua diabinha! - acabei rindo, usando o apelido que eu havia dado a ela anos atrás.

—Tem certeza que quer entrar nesse debate?

—Não, vou me contentar em ficar apenas feliz. Só falta uma coisa… - era o último item que eu precisava cumprir.

—O que é?

—Você me perdoa? - prendi minha respiração ao esperar a resposta, temendo que não viesse da maneira positiva que eu desejava.

—Desde que realmente você nunca mais pense em me dizer aquelas coisas de novo.

—Nunca, nunca, nunca! - me adiantei até ela e agarrei suas mãos nas minhas, o fato dela estar sentada a colocava alguns centímetros a mais abaixo de mim.

—O que você me diria no lugar então?

Eu entendi que aquilo era um teste, um muito importante no qual eu tinha que passar.

—Repetiria pela milésima vez como eu te amo, como eu sinto saudade de cada pedacinho de você - subi minha mão esquerda pelo seu braço, parando meus dedos próximos ao pescoço dela, satisfeito ao sentir a pele se arrepiando com meu toque.

—Até da bagunça que eu deixo no seu armário? - ela provocou.

—Inclusive dela.

—E dos cafés da manhã péssimos que eu insisto em tentar fazer?

—Aham - continuei provocando, cada vez mais me aproximando, nossos corpos já estavam praticamente colados.

—E até da espera infinita toda vez que eu vou me arrumar?

—Tudo.

—Você é um bobo mesmo - ela chacoalhou a cabeça rindo - vem cá.

Não sei porque me passou pela cabeça que seria eu a selar o nosso contato, claro que foi ela que me puxou pelo colarinho da camiseta e colou nossas bocas que estavam igualmente sedentas para matar a saudade. Senti um arrepio gostoso percorrendo a minha espinha quando nossas línguas se entrelaçaram e nem me importei em conter o gemido baixinho que escapou quando ela prendeu meu lábio inferior entre os dentes.

—Perdoado, em estágio probatório - ela declarou e eu senti o sorriso na boca ainda de encontro a minha.

—Vou voltar a ser um namorado exemplar, você vai ver - completei assim que precisei de mais ar.

—Quem disse que quero um namorado de volta? - ela se afastou apenas o suficiente para me olhar direto nos olhos, os braços dela continuavam envolvendo meu pescoço, assim como os meus ainda apertavam sua cintura.

—Não vou deixar você correr de mim - acariciei o nariz dela com o meu, da maneira que eu sabia que ela gostava

—Eu estou a milhares de quilômetros de distância, Harry, você não vai ter como deixar nada - ela insistiu e podia até ser verdade, mas eu não desistiria por causa de distância.

—Pode até ser, mas a gente dá um jeito, não é pra sempre.

—Você esperaria por mim? - o tom de brincadeira desapareceu, ela parecia ansiosa pela resposta, que saiu naturalmente da minha boca.

—O tempo que for preciso - ela sorriu com a minha afirmação.

—Que bom que eu concordei com um treinamento de seis meses então.

—Sério? Só isso? Você queria tanto vir pra cá, eles são os melhores.

O projeto inicial não envolvia menos de um ano de treinamento, eu tinha ficado surpreso de descobrir que os planos tinham mudado, mas nem um pouco triste.

—São, mas aqui não é o meu lar, eu descobri isso na primeira semana, vou aprender tudo o que puder e depois volto para a divisão em Londres para ensinar aos bundas moles de lá.

—Mas e o capitão…

—Ele já está informado.

—Ninguém me falou! - protestei por ter sido mantido no escuro sobre isso.

—E deixar você felizinho antes do tempo? - ela debochou - claro que eu não ia permitir.

—Você é mesmo uma diabinha!

—E você adora.

—Amo - corrigi antes de puxá-la de volta para mim, mas dessa vez com intenção de levá-la dali.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Confesso que amei escrever essa versão "badass" durona da Ginny, quase me dá vontade de usá-la em uma história mais longa... mas paremos por aqui hauhauh
Não se esqueçam de me dizer todos seus pensamentos, ideias e opiniões lá nos comentários! Vão me deixar muito feliz, e quem sabem com vontade de escrever mais...

Bjus



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