The Life and Death Of Supergirl escrita por AcheleForever


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Negrito diz respeito ao passado.
Espero que gostem.



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Era uma noite fria de outono, as folhas coloridas que caíram das árvores enfeitavam o chão de pedra abaixo dos pés das duas. Era só mais uma das muitas em que passaram até tarde trabalhando juntas, Kara entrevistando-a pacientemente entre algumas ligações importantes. Ás vezes sobre Lena em si, ás vezes apenas sobre o ponto de vista da CEO sobre algum episódio ocorrido em National City. Como em todas às vezes anteriores, Jessie apareceu com precisão inglesa no escritório de Lena ás nove da noite com o rotineiro jantar compartilhado. Eram mais de dez e elas ainda estavam caminhando em direção ao apartamento de Kara. Essa era o jeito delas de fazerem as coisas.

Após tanto tempo de amizade e tempo compartilhado, era normal Lena saber de cor o tipo de café preferido pela loira. E em contrapartida, Kara também poderia ficar minutos á fio recitando (em ordem do mais apreciado para o menos apreciado)os muffins favoritos da morena. E assim em como todas as outras noites frias daquele ano, elas se dirigiram para a cafeteria mais próxima da LCorp. O caminho tão conhecido, apenas corpos se acompanhando pela calçada até se encontrarem ordenando os pedidos de sempre.

O caminho até o apartamento de Kara poderia ser feito em vinte minutos de caminhada, porém era feito em quase quarenta. Lena não diria que era por que apreciava a companhia de Kara, e a loira jamais diria em voz alta que sua calma ao caminhar era causada pelos olhos verdes que ela tanto gostava de encarar.

Seus corpos lado a lado, mãos segurando os copos de café com atenção redobrada. As duas sabiam, e era bem verdade, que suas mãos encontrariam o caminho uma da outra ao passo que seus braços se encontravam em abraços nos momentos mais inoportunos do dia. E Kara, assim como em todas as outras vezes, foi a primeira a deixar o braço descansar ao lado do corpo de Lena.

Sentindo o calor do corpo esguio batendo latente no seu, Lena nada mais pode fazer se não deixar sua mão descansar ao lado da mão que deu o primeiro passo. Sorrindo para a noite, ela não pôde disfarçar o rubor forte em sua pele muito clara assim que dedos espertos começaram a serpentear por entre os seus. Essa era a melhor parte do seu dia.

Ali, no caminho compartilhado entre a LCorp e o apartamento de Kara, era a melhor parte do seu dia. Era ali que ela poderia ser ela mesma, falar sobre todos os projetos de sua empresa e a loira ficaria realmente feliz em escutar todos eles. Lena escutaria sobre todas as manchetes que Kara assinou naquela semana (ou mês, ela jamais interromperia) na CatCo. Elas compartilhariam risos e elogios, e no final da noite ela dormiria como jamais pensou que dormiria. Inacreditavelmente, os pesadelos não apareciam nessas noites.

Depois da longa caminhada, elas chegaram ao apartamento de Kara de mãos dadas. O ritual de sempre fora repetido: Kara oferecendo para Lena ficar mais algum tempo, a morena recusando educadamente. Em suas noites rotineiras, Lena soltaria lentamente a mão de Kara e seguiria para o fim do corredor sem olhar uma segunda vez. Mas nessa noite, a morena apenas ficou mais alguns segundos segurando a loira entre seus dedos. Ela imaginou como seria se tivesse coragem para tomar o primeiro movimento, se elas realmente funcionariam juntas. Mas relembrando Lílian em sua mente, ela apenas sabia que Luthors não funcionavam com ninguém além deles mesmos.

Sorrindo uma última vez para Kara, ela fez como em todas as outras vezes em que deixou a loira na porta de seu apartamento. Com um leve movimento da cabeça, ignorou a regra número dois de ‘Luthors não abaixam a cabeça’ e seguiu para o fim do corredor. Puxou seu celular do bolso para solicitar seu motorista particular, mas sentiu alguns dedos em seu pulso. Olhando para trás, o verde encontrou o azul em mais um daqueles momentos em que elas compartilhavam cada vez mais. Soltando o ar que Lena ao menos sabia que estavam segurando, ela não teve tempo de reagir quando sentiu aqueles lábios nos seus. Essa talvez já pudesse ser classificada como a melhor noite de sua vida.

Sorrindo ao final do beijo, Kara apenas desejou boa noite para a menor e andou calmamente até seu apartamento. Recostou-se á porta assim que a fechou, e demorou até que ouvisse passos novamente em seu corredor. Foram tão calmos e calculados que talvez ela não tivesse escutado se não fosse sua super audição. Os batimentos que não saíam de seu radar ainda estavam altos, assim como quando elas estavam de mãos dadas em frente á essa mesma porta. Passaram-se cerca de quinze minutos até que Kara conseguiu tirar as mãos dos lábios e correu até seu celular para ouvir sua irmã dizer qual era o tamanho do estrago da ação que tinha acabado de executar.

Esse era um dos dias em que Lena sentia mais falta de Kara. O inverno chegara com força total, e com ele as horas em que ela passava encarando o closet em seu quarto. Ainda estavam todos ali, casacos de frio com algum padrão divertido e vestidos floridos que eram a personificação da loira. A morena tinha certeza que se puxasse um pouco suas próprias roupas para o lado lá estaria ele, o uniforme imponente com o símbolo da casa de El, zombando de tudo que Kara deixou para trás á alguns meses. Mas era óbvio que Lena não faria.

Ela apenas sentou na ponta de sua cama e quebrou a terceira regra de sua mãe. ‘Luthors não choram’, ela dizia. Mas Lena chorou pela morte da heroína de National City, pela morte de Kara Zor-El, pela morte da mais promissora repórter da CatCo e pela morte de Kara Danvers. E sobre tudo isso, ela chorou pelo amor de sua vida. Ela chorou pela mulher que chamava de esposa, pela futura mãe de seus filhos e pela parte mais linda de si mesma. Ela chorou por Kara Danvers Zor-El Luthor, a mulher que a ensinou que a vida poderia ser boa apesar de seu sobrenome.

Algumas noites eram apenas ruins para Lena. Todo o terror psicológico de Lex e Lílian simplesmente voltava com força total e ela apenas não conseguia respirar. O terror estava em todos os lados, ela tentava focar em sua respiração para não quebrar de vez. Mas quando uma dessas noites chegou, Lena recostou-se na cabeceira de sua cama e ligou para Kara. Olhando o relógio na parede, duas da manhã. Ela se desculparia no dia seguinte, naquele momento ela só precisava escutar a respiração de Kara para saber que tudo ficaria bem.

Ao olhar a tela de seu celular a loira sorriu. Estavam juntas á quase cinco meses e Lena jamais a ligara àquela hora da madrugada. Talvez estivesse apenas com saudade, ela pensou. Era compreensível, visto que Kara sentia saudades de Lena simplesmente o dia todo. Parando seu voo de ronda noturno em algum prédio não tão alto e silencioso, Kara atendeu Lena com sorriso na voz. Era sempre bom falar com a sua garota.

Ouvindo a respiração da morena acelerada, aprumou seus ouvidos para se assegurar que ela estava segura. Jamais se perdoaria se deixasse passar alguma coisa no apartamento de Lena. Ele era vigiado vinte e quatro horas por dia. Quando não por ela mesma, Alex se encarregava de colocar algum agente do DEO para fazê-lo.

‘Estou bem’, ela ouviu. ‘Apenas um daqueles pesadelos com Lex de novo’. E antes que Lena pudesse solicitar, ela já estava voando em direção ao apartamento tão conhecido agora. Demorando dois minutos no terraço para conseguir trocar de roupas, ela se segurou para descer os degraus que a levariam até a cobertura de Lena com velocidade normal. Ela ainda precisava de uma desculpa boa para explicar como chegara ali tão rápido.

Bateu duas vezes na porta e viu uma Lena fragilizada assim que a porta fora aberta. Tomando-a em seus braços, guiou-as até o sofá sentindo ainda os soluços da menor. Embalando-a com algumas palavras de conforto, sentiu sua camisa molhar com as lágrimas de desespero de Lena. Não sabendo exatamente o quê fazer, mas sabendo que deveria fazer alguma coisa, perguntou para a morena como poderia ajuda-la naquele momento. Apenas com um movimento de cabeça entendeu que Lena queria ser levada para o quarto.

Já deitadas na grande cama com destaque no quarto, ela sentiu quão frágil a CEO da maior empresa de tecnologias do país era. No escuro e deitada no deliciosamente confortável colchão, ela prometeu que nunca ninguém jamais machucaria Lena Luthor enquanto ela vivesse. E anotando mentalmente para conversar com Alex depois, ela asseguraria que ela não corresse perigo mesmo após sua partida.

Acalmando-se aos poucos escutando Kara contar sobre seu dia, Lena sabia que havia quebrado mais uma regra de sua mãe. Seria com nojo na voz que ela lembraria a morena de que ‘Luthors não amam’. Porém ela não poderia fazer nada a mais nesse mundo a não ser amar Kara Danvers, era sua missão nesse universo.

‘Você merece ser feliz, Lena’, Kara disse. ‘Me deixe te fazer feliz’. E Lena deixou, porque ela sabia que tinha aprendido o que era o amor naquele momento. E todos os momentos anteriores àquele não valeram de nada, porque ela simplesmente não estava com Kara. E tudo que viveu e sofreu deixaram de fazer sentido, e daquele momento em diante ela era uma nova Lena Luthor.

Todos os dias na LCorp eram difíceis. Aquela sala, aquele sofá, aquela mesa. Todos os objetos tinham muita história das duas para contar e Lena só não conseguia trocar de sala. Tudo ali a lembrava de Kara e como eram apaixonadas, e isso a fazia sofrer de uma maneira inimaginável. Mas Lena Luthor secretamente amava lembrar-se de tudo que viveu com Kara Danvers.

Talvez Winn, Maggie e até mesmo Alex (que surpreendente passou de cunhada para melhor amiga) achassem que ela havia superado a fase da dor. Lena era expert em fingir e a vontade de todos eles em acreditar que ela estava bem faziam com que os dois lados ficassem mais calmos. Alex em não precisar vigiar Lena todos os dias para que ela não fizesse besteiras, e Lena em não precisar fugir de Alex para tentar fazer essas mesmas besteiras.

Depois que Supergirl despediu-se a última vez da morena, ela passou a encarar horas a fio a varanda de seu escritório. Talvez em uma esperança vazia de que a loira passasse voando por seu prédio e decidisse agraciá-la com a sua presença. Ou talvez apenas relembrando as tantas vezes em que elas trocaram beijos e até algo mais na mureta que agora parecia ter perdido a cor.

A participação de Lena na LCorp passou de total para ‘apenas assuntos realmente importantes’. E de engenheira chefe ela passou á visitas esporádicas. Seu dia de trabalho apenas se resumia em assinar papéis e encarar a tela de seu notebook, a foto do casal sendo ostentada na área de trabalho. Sua vida era miserável, mas como ela deveria agir depois de perder Kara?

Quando um grande vilão surgia no país, o coração de Lena acelerava no peito. Sabia que era questão de tempo até que a Liga da Justiça contatasse Kara e que ela saísse voando por aí para tentar salvar o dia. Ela não podia impedir a namorada de fazer o que ela havia nascido para fazer, ser heroína era a essência de Kara. E a morena amava cada pequeno pedaço do que a loira era e representava.

E como em todas as outras vezes que se passaram, e ela sabia que ainda haveria muitas, Kara pousou na varanda de seu apartamento já vestida em seu manto azul e vermelho. Entrou sem fazer muito barulho, apenas para encontrar Lena encarando a TV e roendo nervosamente o canto da unha. Após um abraço demorado, elas compartilharam um beijo apaixonado enquanto a morena se agarrava á capa da maior como se o mundo dependesse daquilo.

‘Isso é apenas uma fase ruim’, Kara disse sorrindo ternamente. ‘Você é tão linda e já suportou tanto ao meu lado. Prometo que volto para você quando tudo isso terminar’. E ela voltou. Nessa, em tantas vezes antes e algumas depois também. Porque Kara tinha para quem lutar e voltar, e Lena acreditava cegamente na palavra de sua namorada.

Havia alguns dias em que simplesmente era insuportável para a morena a falta de Kara. Para esses dias, e para todos os outros também, ela escondia alguns objetos da loira por seu apartamento e escritório. Apenas para relembrar, ela dizia para si mesma. Mas em seu interior, ela sabia que era apenas para provar a si mesma que o verdadeiro amor existe. Para provar que ela foi uma pessoa melhor, e para lembrar-se do amor que a fazia dormir e acordar sorrindo.

E em mais um dia como esses, ela estava olhando para a parte de sua estante que era praticamente dedicada á loira. Dezenas de fotos das duas, o antigo celular, algumas joias que ficaram em seu apartamento e escondido atrás de um quadro das duas no dia de seu casamento, um pedaço da capa vermelha que com tanta dor no coração Alex lhe entregou naquele fatídico dia.

Puxando o pedaço surrado do pano até seu nariz, Lena ainda podia sentir o perfume restante de Kara. Aquele perfume floral que tanto amava sentir na pele sedosa, que preenchia os lugares ao qual a agora experiente repórter Danvers passava. E deixando uma lágrima solitária escapar, percebeu que o pedaço de pano escondia o último dispositivo tecnológico que Lena Luthor projetou sozinha.

Segurando o pequeno aparato contra o peito ela voltou para sua mesa, lembrando-se de cor o IP para acessar o monitor cardíaco que pressionara suavemente contra o peito da mulher que amava. E pela primeira vez desde que Supergirl deu sua vida para salvar Lena e toda National City, ela olhou para o contador zerado e chorou. Lena chorou pela realização de que já se passaram meses desde que Kara morrera e nada havia mudado em seu mundo. Ela ainda amava a loira com todas as forças do seu ser, Alex ainda amava a irmã, todos os seus amigos ainda sentiam imensamente sua falta. Mas por mais que tudo isso, ela chorou porque sabia que mesmo indo contra todas as possibilidades, ainda acreditava que Supergirl poderia retornar do mundo dos mortos. Ela conhecia a força da garota de aço e sabia mais ainda da força do amor que as unia.

Mas por mais que Lena acreditasse isso não tornava a opção verdadeira.

Durante o resto do dia e pedaço da noite, a morena focou no trabalho com energias renovadas. Escutara de Alex e todos os outros que era exatamente isso que Kara iria querer. A loira se apaixonara pela Lena compulsiva por trabalho, e era assim que ela deveria continuar para honrar a memória de sua esposa.

A lua estava alta no céu quando ela achou que havia ficado louca. Talvez estivesse alucinando, ela pensou. Mas ao passo que a luz vermelha do dispositivo piscou uma segunda vez alguns segundos depois, ela teve certeza de que não estava louca. Ainda. Achando ser uma brincadeira de muito mal gosto de quem quer que fosse, Lena abriu novamente o acesso ao monitor cardíaco e ligou para Alex ao mesmo tempo. Visto que o caixão com o corpo de Kara ficava enterrado exatamente á frente da sede do DEO em National City, a filha mais velha dos Danvers saberia exatamente o que estava acontecendo em segundos.

‘O monitor cardíaco dela foi roubado, Alex’, Lena começou sem ao menos deixar espaço para que Alex pudesse respirar. Escutando que precisava apenas de um minuto para saber o que realmente estava acontecendo, a morena sentiu. Uma brisa leve, um solavanco quase imperceptível para quem não estivera esperando esse tipo de mudança no ambiente. Mas Lena esperava isso á meses. E com os olhos já cheios de lágrimas, ela olhou para a varanda que já foi palco de tantos ‘Eu te amo’ e juras de amor incompletas. Kara, em sua túnica branca kriptoniana ao qual foi enterrada, em sua mais perfeita saúde. Parada, encarando Lena como na primeira vez em que se beijaram.

E foi ali que Lena Luthor quebrou a quarta e última regra de Lílian. ‘Luthors não se ajoelham’, ela sempre dizia com raiva na voz. Mas em algum lugar entre sua mesa que ficou para trás com os gritos de Alex ao receber a notícia dos outros agentes do departamento e os braços de mornos de Kara, ela apenas caiu de joelhos ao perceber quão abençoada ela era. Kara Danvers Zor-El Luthor, sua esposa, estava de volta do mundo dos mortos.

‘Lena! Eles disseram que o túmulo dela foi aberto de dentro para fora!’, foi o que ela teria ouvido se ao menos estivesse em seu escritório, e não nos braços de sua mulher em direção á sua casa. E naquela noite enquanto fazia amor com Kara, ela quebrou todas as regras de sua mãe de uma só vez. Porque ela amou a loira como nunca antes. Porque ela ajoelhou-se entre as pernas da outra como se fosse a primeira vez. Porque ela abaixou a cabeça ao escutar que Kara a amava tanto que isso a trouxe de volta. E porque ela chorou seu coração fora ao saber que nunca mais precisaria pensar em como sua vida seria sem sua garota.


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