A sombra escrita por Garoto da lua triste


Capítulo 1
Noite de terror


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Estava frio, tão frio que eu podia sentir minha alma congelando dentro de mim junto de toda minha vitalidade e esperanças. Meus dedos tremiam incessantemente, carentes de calor e pálidos pela agravante temperatura. Estava frio. Tão frio que nem mesmo os cobertores em que eu me escondia conseguiam me aquecer ou me fazer esquecer do perigo que existia lá fora.

Eu estava em meu quarto, sentado em minha cama, olhando para a frente com meus olhos fixados no vazio, enquanto fingia não sentir medo.

Pela janela eu podia ver as folhas secas de um carvalho sendo arrastadas pelo ar, enquanto um galho agredia violentamente o vidro pelo qual eu observava o mundo lá fora, de forma que causava um barulho que a cada batida conseguia destruir cada vez mais a minha frágil estrutura.

As gotas de água que despencam do céu pareciam ser chumbo atingindo meu telhado, e os raios o rugido de uma criatura enviada para causar o terror neste mundo. Eu me sentia no inferno.

Mas a pior parte é a escuridão. A sensação de fragilidade, de olhar para a frente e não enxergar nada alem do infinito escuro, e então, tudo que me restava era ser consumido pelo terror e pela solidão.

E um raio rasgou o manto do céu, e não demorou muito para que outro viesse, de novo e de novo, explodindo como fogos de artifícios violentos e grotescos, iluminando aquela escuridão por segundos, e logo deixando tudo para ser engolido pelas trevas outra vez.

E sempre que eles me iluminam por um curto tempo, eu o procurava. Mas, felizmente, ele não estava ali.
Por enquanto.

Uma martelada seria menos atordoante do que estas palavras.

Quanto tempo iria demorar para ele aparecer? Seria aquilo tudo uma brincadeira sacana dele? Estaria ele já aqui, me observando? Isso não importa. Afinal, em noites como essa, ele sempre aparecia.

A ansiedade me consumia centímetro por centímetro, partindo dos dedões dos pés e subindo pelo meu calcanhar e por toda a extensão da perna, buscando ajuda em meus pelos e chegando aos meus joelhos, e não demorou muito para que ela chegasse em minha barriga, e logo depois viesse a tomar todo o meu corpo.

Todos meus ossos estavam tremendo, eu conseguia sentir todo o meu corpo vibrando. Eu estava a tanto tempo nessa escuridão, que eu podia sentir ela me abraçando. E essa é uma sensação horrível.

Meu desejo é de que ele nunca mais venha, mas em noites como aquela, eu sempre fico agonizado, esperando pelo seu retorno. Como a fênix ele trata de renascer toda vez que é morto, ou talvez nunca realmente tenha sido.
Mas isso já não tem importância alguma, afinal, ele estava lá, com sua entrada triunfal.

A escuridão se torna ainda mais densa, e tudo começa a girar, e então, tudo se torna um grande vazio. Não existem paredes, chão e teto. É tudo uma gigantesca escuridão, e aqui, agora, tudo que existe é eu e minha cama.

E então seus dentes pontiagudos surgem na escuridão, se abrindo ali em um sorriso sadico. E eu sabia que ele esta prestes a começar.

Eu já não podia mais suportar, então eu deito minha cabeça sobre meu travesseiro, fechando meus olhos e fingindo que eu não ouço suas palavras.

Ele não é o tipo de monstro que te fere fisicamente, mas sim mentalmente, suas palavras são como afiados punhais desfiando lentamente minha alma, coração e mente. E no começo de seus discursos, eu já me sentia perdido dentro da minha própria escuridão.

Rezei bem baixinho para que eu conseguisse dormir, quando se esta dormindo, é como se estivesse anestesiado, sua mente não pensa e seus ouvidos não ouvem palavras maldosas, então dormir era minha escapatória.

Mas de nada adiantou, com ele ali, eu descansaria apenas caso me matasse.

Eu me escondi de baixo do cobertor e apertei o travesseiro contra minha cabeça, mas o som de tudo que ele dizia ainda sim chegava aos meus ouvidos. Não havia para onde correr, eu não tinha escapatoria.

 — Pobre garoto, sozinho no mundo. Ninguem sobrevive assim, sabe? Você certamente ira morrer. Todos que você conhece acham que é uma vitoria para você levantar da cama, acham que você está normal. Pobre garoto! Sozinho lutando contra mim. Sabe que sem ajuda eu sou praticamente invencivel de se vencer, certo? Você ira morrer ai, deitado nessa cama!

Ele terminou com uma enorme e estridente gargalhada que parecia a junção de todo o terror e tristeza do mundo em um só som. Ele iria continuar, mas, eu não podia deixar isso continuar.

Eu me levantei da cama e tentei o golpear, mas meu punho o atravessava, como se ele nem estivesse ali. Mas ele estava, eu conseguia o sentir e o ver. O corpo esguio, grande e alto. Com dentes e unhas grandes e afiados, um verdadeiro bicho-papão.

Eu continuei tentando, e ele nem sequer se mechia, eu chutava, socava, até tentei o morder, mas de nada adiantou, nada que eu fazia nem sequer o fazia se mecher. Ele estava certo, o vencer sozinho era quase que impossivel. Quase.

Eu parei de o golpear e dei alguns passos para trás e fiquei o encarando, com meus olhos marejados.

 — Você finge todos os dias que está bem para não deixar ninguem que você ama triste... Que homem bom você é. Eles acham que você esta melhorando, mas mal sabem eles que o remedio sem gosto que você toma todos os dias não esta tendo efeito algum em você.

Ele caminhou um pouco e se sentou na minha cama, virado para mim. Me virei para ele e o vi respirar fundo e soltar uma fumaça cinza que cobriu todo o quarto, e derrepente, aquele lugar ficou emetindo morte e melancolia.
 

— Todos os dias você acorda com o mesmo olhar que está me dando agora, vai para o banheiro, engole algumas pilulas e entra no chuveiro. Desce as escadas e coloca sua mascara e finge para o mundo que está tudo bem.

A expressão dele se alterou de sadica e risonha para a de uma pessa extremamente furiosa, e ele começou a crescer, dois, três metros, ela mal cabia no quarto agora, seu corpo se expremia pelas paredes e ela tinha que ficar curvada para conseguir ficar ali. Com uma mão, ele quebrou o meu criado-mudo, e com a mesma mão ela me acertou e me lançou de costas para a parede.
 

— QUE DROGA! Você é inutil, por que não para de resistir e se mata logo? Não é suicidio quando você já está morto por dentro! Você sabe, não é? As pessoas em estado irreversivel costumam ter as maquinas desligadas!
Ele estava certo, eu estava resistindo. Todos os dias eu lutava contra ele, mas eu me sinto perdendo as forças, de uma forma extremamente lenta, mas eu estou perdendo todas elas.

Ela começou a encolher, seus braços e pernas foram diminuindo assim como todo o resto, até que ele voltou ao tamanho original.
 

— Você sabe, não sabe? Você está tão fodido que acabou até me criando, uma alucinação que representa toda a sua tristeza. Você é pirado cara! Você não precisava gastar tempo me criando, se lá fora, existem centenas de pessoas como eu.

Seu rosto se torna sem expressão, assim como o meu.

O que ele disse é verdade, ele existe lá fora. Eu vejo o rosto dele no garoto popular, nas garotas, em todos que me cercam no mundo real.

Existem poucas pessoas nesse mundo que não me faziam me sentir assim, e uma delas se foi. Ela era linda, a forma que seus olhos eram tão vivos que até uma camera conseguia capturar a vida neles, o fato dela sempre saber de tudo e ser tão otimista sobre todas as coisas. Mas quando ela morreu, a criatura que ela estava me ajudando a vencer se tornou infinitamente mais forte.

Eu lembro que na epoca eu  chorei, chorei tanto que já não havia mais lagrimas para se chorar. Então eu apenas olhei mais uma trágica cena em minha vida, e um tempo depois, eu percebi que meus olhos se tornaram mais vazios do que antes. Tão vazios que se alguém olhasse neles, este alguém seria capaz de sentir a dor e o terror de estar destruído por dentro na própria alma.

Eu voltei a socar e chutar, e diferente de antes, ele começou a se desviar, se esgueirando velozmente pelas paredes e as escalando, subindo por elas e correndo pelo teto com suas mãos e pés.

Eu tentava o achar com meu olhar o tempo todo, de forma frenetica, olhei pelo quarto inteiro mas não achei nada, e quando eu pisquei, ele apareceu na minha frente, colado comigo.

— No meio da noite, quando você estiver se despedaçando, eu vou ser aquele que vai acabar com sua dor, te fazer sangrar e te pendurar pra secar. Eu sou seu fim, não negue isso.

— Vá embora! — Eu gritei

E por algum estranho motivo, ele foi embora. Simplesmente desapareceu. Eu o procurei e não o achei, seria isto verdade? Não, nem sei como pude acreditar nisso.

Em meu espelho eu vejo ele, me encarando. Ele começa a se desfazer em particulas negras, e no seu lugar, estava meu reflexo. O vidro começou a trincar, e quando eu pisquei, eu vi que no meu rosto, no espelho, eu tinha os mesmos olhos e o mesmo sorriso que a criatura.


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Notas finais do capítulo

Cara, se você leu até aqui, significa que ou você gostou da historia ou você odiou ela tanto que teve que ler até o final pra ver o quão ruim você conseguiria achar que a historia é, então, não custa nada deixar uma review ai pra eu saber o que você achou da historia e sobre o que acha que eu poderia melhorar na minha forma de escrita, pois acima de tudo, eu ainda sou um escritor iniciante :p

Espero que tenham gostado, e até a proxima!