Desabafo de um apegado escrita por Vinicius Emidio


Capítulo 1
Capítulo Único




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      Desabafo de um apegado (viciado).

 

 

 

 

Heroína, essa merda realmente é boa, hoje dia 01 de janeiro de dois mil e dezesseis, não sabia direito onde estava sentado em um colchão úmido, com uma seringa do lado, um quarto esquisito, um lençol velho, e uma mesa.

Cheirava a maconha e penicilina, havia acabado de acordar, tinha uma musica tocando do outro lado da porta, devia estar no ultimo volume, parecia uma boate, todos dançando um dubstep... Droga de dubstep.

Espera um pouco, vou começar antes disso.

Já faz anos que não sinto mais animo ou esforço em viver, eu era a personificação das descrições de Nietzsche, vazio, empático e louco.

Estou com 27 anos, divorciado, com um emprego de merda como publicitário e... Quer saber? Vou começar um pouco antes.

Quando tinha 16 anos, estudava em uma escola que os professores fumavam nas salas e ninguém se importava se você estava armado ou chapado de êxtase.

Não demorou muito pra experimentar meu primeiro “beck”.

Foi incrível, nunca tinha ficando tão em paz, como se uma aura de rei ou Deus, estivesse sobre mim.

Eu fiquei viciado (apegado).

Derrepente um convite como: “Ei vamos tomar um café”.

Tornou-se: “Ei, vamos fumar um baseado”.

Claro, alguns dizem que maconha não é viciante (geralmente os viciados dizem isso).

Mas, digamos que eu sou um tipo de cara, intenso, me apego (vicío), facialmente a qualquer coisa.

Com 22 anos, estava noivo e um pouco apegado em maconha, quetiapina, cocaína, álcool, quaaludes, cigarro, morfina e claro, minha noiva.

Todos me viam como um homem da vida perfeita, um emprego que pagava bem, uma futura esposa linda.

Mas, não conseguia parar de sentir raiva de mim e do mundo, não conseguia explicar a terrível tristeza e infelicidade que sentia.

As drogas me faziam esquecer um pouco de mim, isso era um alívio, já me sentia um morto vazio antes de ser um viciado, agora, nem me fazia diferença.

Com 25 anos, tive a minha primeira viagem (overdose), bem, quase morri.

Preferia ter morrido, mas acho que Deus não me perdoaria para ir ao céu e o Diabo não me aguentaria no inferno.

Apenas dois anos de casamento e minha esposa pediu o divorcio, ela não conseguia mais me olhar, talvez porque me odiasse, ou talvez porque as drogas me deixaram horrível fisicamente.

Fui demitido por ausência constante e falta de capacidade e obstinação.

Mas tudo bem, eu ainda tenho meus 20 melhores amigos em um maço de cigarros e minha vadia chamada, pó... É... Vou ficar bem.

Agora com 27, é não estou bem, adicionei heroína na minha lista de apegos, essa merda é ótima, o nome já diz tudo, me sinto como um herói quando estou com ela.

Mas, tudo tem seu lado ruim, meu corpo está destruído internamente e externamente, tenho dores de cabeça e no estômago constantemente, a tia morfina me ajudava com isso, me aliviava.

Alivio, eu me sinto como aquela música R U mine, com o trecho: “and satisfaction, feels like a distant memory”.

Queria que os momentos bons da vida, como as noites em bares com meus amigos, fossem pra sempre.

Mas no fim tudo acaba, como um vestido de formatura ou uma camisinha, a amizade dura o tempo que o prazer for mútuo e depois, descartamos.

Sem surpresas alguns vivem para o trabalho, outros para os prazeres ou família, eu sou aquele intenso, que escolheu os prazeres.

Mas quando você é um vazio, esta na biqueira mais próxima e ouvem traficantes falando sobre pornôgrafia infantil, você perde os sentidos.

Para o que viver? Para que agir?

Como diria o Comediante em Watchmen: “É tudo uma piada”.

Acordar em um colchão úmido, em um quarto destes, bem, esta na hora de rever os conceitos.

Este lençol velho e... Espere, tem um pedacinho de papel queimado de baixo do lençol, lembrava um pedaço de seda, mas não tinha a mesma textura.

Estranhamente esse pedacinho de papel queimado, me remete a inúmeras lembranças.

Na quinta serie, quando escrevi uma pequena declaração a garota que eu gostava, escrito somente: “Eu te amo secretamente”. O clássico namoro na folhinha.

No ensino médio, quando fui suspenso, aquela folha escrita: “O aluno Andrew Tyler estará suspenso por dois dias”.

Os convites do meu casamento, em envelopes chiques, mas eram só pedaços de papeis.

Aquela imensa papelada do divórcio para ser assinada, assinando aquelas pequenas partizinhas nos papeis, e perdendo metade de tudo que lutei.

Como somos frágeis, como esse papelzinho queimado. Frágeis como açúcar.

Eu sou a merda do mundo que faz tudo pra chamar a atenção, porque tentar se no fim vai queimar.

Tanta droga me fez parar de sentir medo. Mas o pensamento que tive me assustou.

Meu pai dizia que não tem nada mais perigoso, que um homem que não tem nada a perder.

E olha só o que me tornei, eu venderia o mundo por coca.

Olho aquele lençol velho e penso em amarra lo no ventilador de teto, talvez de azar e arrebente tudo.

Mas se tiver sorte, vou partir... Para minha viagem.

Viva rápido.

Morra jovem.

Divirtase.

Meu último trago será minha diversão, minha empatia me fez viver rápido, e este lençol velho fará riscar meu ultimo objetivo.

Amarro firme o lençol, faço um laço que daria orgulho ao meu pai.

Tinha uma mesa antiga, em cima um copo com Martine e energético, algumas carreiras de pó e uma lamina de Gilette.

Fecho a porta.

Finalmente subo.

E nas palavras de Kurt Cobain, “É melhor queimar, do que se apagar aos poucos”.

A sensação de estar sufocando, o Deus, é incrível.

Perdendo o ar, meu sangue virando ácido e me queimando de dentro pra fora.

Acabou a música vai ficando cada vez mais baixa até parar.

Enfim livre.

Deixa rolar.

Adeus.


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