Dangerous escrita por Glitery


Capítulo 1
Parte I


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem ♥



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Todo ano eu ficava na barraca do sushi no festival beneficente japonês que acontecia na cidade. Como eu nunca fui uma boa cozinheira, fato que eu descobri depois de alguns - muitos - desastres atrás de um fogão, eu ficava só entregando a bandeja para os clientes, pegando as fichinhas e anunciando os pedidos para os que realmente faziam todo trabalho.

Dessa vez não era diferente, eu estava enchendo os braços e as mãos com as bandejas de sushi para entregar para os clientes quando o vi. Eu quase derrubei todo aquele amontoado de peixe, arroz e alga. Ele estava me olhando com aqueles bonitos olhos verdes e seu rosto formou um sorriso brilhante, aqueles que eu não via há três anos. Pelo menos não de perto.

⁃ Wow, nossa. - ele parecia um pouco surpreso. - Quanto tempo, Agnes. - eu sentia meus olhos arregalados, eu não conseguia falar. Estava simplesmente congelada.

E eu me odiava por isso.

Então, forcei-me a descongelar e encara-lo.

⁃ Vicente. Muito tempo mesmo. Vai querer sushi? - "não, sua tonta, ele veio numa barraca de sushi só pra ver como é feito.". Ele deve ter pensado a mesma coisa, porque riu.

⁃ Sim, na verdade eu vou querer sim. - ele me estendeu a ficha e eu peguei. Virei para os cozinheiros.

⁃ Mais um! - gritei e logo em seguida me virei para Vicente.

⁃ Você mudou. - disse me olhando de cima a baixo. Corei e novamente me odiei por isso. Só constatava o fato de que eu ainda me afetava por ele.

⁃ Todos mudam. - que ótimo repertório de conversa, mas pouco me importava, queria mais é que ele fosse embora.

⁃ Poucos mudam para melhor como você. - há três anos, eu teria ficado mais mole que gelatina por essas palavras, apesar de naquela época eu nunca ter tido a perspectiva de ouvi-las. Por que agora?

Abri a boca para falar qualquer coisa que eu sequer sabia o que era, mas o som do sino que apitava quando o pedido estava pronto reverberou por aquela pequena barraca, e eu não podia ter ficado mais feliz. Peguei o pedido de Vicente e o entreguei.

⁃ Obrigada e volte sempre. - respirei fundo com a babaquice que eu tinha dito. A definição de "sempre" foi atualizada para três dias de festival.

⁃ Certamente eu vou. - piscou para mim e saiu. Soltei o ar que eu nem percebi que estava segurando. Devia ser um novo recorde. Também tive que me preocupar com os pulos nervosos do meu coração.

Depois de três anos, como ele podia me afetar tanto?

Respirei fundo novamente e voltei a minha tarefa árdua na barraquinha, decidida a esquecer todo a acontecimento de um minuto atrás. Trabalharia até às nove da noite e ainda era seis da tarde. Muita coisa aconteceria pela frente.

O festival havia acabado há uma hora e eu, Juliana e Pedro estávamos terminando de arrumar e limpar as últimas coisas.

⁃ Ei Agnes, se quiser pode ir. Eu e Pedro terminamos as últimas coisas, falta pouco. - Juliana disse.

⁃ O quê? Não, eu termino de ajudar.

⁃ Agnes, você foi a única que ficou aqui o tempo todo. Pode ir, vai descansar, a gente insiste. - dessa vez foi Pedro. Pensando bem, eu estava bem cansada e minhas pernas latejavam já fazia um tempo, mas eu estava tão ativa que nem dei muita importância a dor, mas agora eu sentia tudo.

⁃ Tudo bem. Obrigada gente, vocês são os melhores. - tirei o avental, a touca, as luvas de látex, peguei minha bolsa e meu agasalho. Me despedi dos dois e fui caminhando através das construções antigas do lugar que a gente fazia o festival. Era um espaço enorme e aberto, rodeado pelas ruínas da antiga usina que ficava lá. Estava tão absorta vendo os detalhes antigos daquele lugar que tropecei e teria caído, se alguém não tivesse me segurado.

⁃ Cuidado, Ags. - petrifiquei quando ouvi a voz que ouvira mais cedo. Olhei para ele e o pouco que eu conseguia ver vinha da luz amarelada do poste, mas mesmo assim eu conseguia ver aqueles olhos verdes brilhantes. Ele me soltou e eu pude ver mais dele.

Vicente segurava uma garrafa de cerveja na mão, mas não parecia estar bêbado. Ele estava sentado com a costa apoiada na parede, joelhos dobrados e os braços apoiados neles. Vestia uma jaqueta de couro preta e a luz do poste reluzia em seu colar de identificação militar. Sua barba estava aparada. Ele não tinha uma há três anos. Odiava admitir, mas ele só estava mais lindo. Me olhou de baixo, já que eu estava em pé.

⁃ Por que não senta? Vamos conversar. - ele disse e eu dei um passo para trás como forma proteção. Ele não sabia como eu me sentia dizendo aquilo.

⁃ Não acho que seja uma boa ideia. - cruzei meus braços ao redor do meu corpo de forma protetora.

⁃ Ah, qual é, a gente não se vê de verdade há anos.

⁃ Três anos. - disse por instinto, mas não era como se eu tivesse contando.

⁃ Três anos. - ele se corrigiu. - Vem cá. - bateu com a mão no chão ao seu lado e eu hesitei.

Havia tanta coisa que eu queria falar para ele, que eu queria desabafar e admitir. Talvez aquela fosse a minha única e última oportunidade. Eu ia jogar na cara dele o quanto ele me fez mal. Decidida, sentei ao seu lado. Respirei fundo antes de começar.

⁃ Escuta, eu gostei de você por um ano e meio. Você nunca me deu bola. Ao contrário, você deu em cima da minha melhor amiga e me usou para conseguir seu objetivo. Você foi um idiota. - comecei a falar e ele continuou em silêncio. E eu falei, admiti tudo, eu me sentia mais leve a cada palavra. - Eu não gosto mais de você e por muito tempo eu achei que te odiava. Mas não. Eu não posso. Eu não consigo. Eu ainda penso em você, Vicente. Não de um jeito romântico, mas... - respirei fundo, não sei se estava totalmente preparada para aquilo. - Você vai sempre ser o primeiro cara que eu gostei. Nada pode mudar isso. - terminei e não consegui mais olhar em seus olhos.

⁃ Isso é sério? - ele finalmente falou depois de uns longos e tensos minutos e eu tive vontade de lhe dar um soco. "Não, não. Eu fiz esse monólogo de meia hora e estava brincando". Mas eu só disse:

⁃ Sim.

⁃ Nossa, Eu nem sei o que dizer, não sabia que você tinha se sentido assim. - ele virou seu corpo para mim e me olhou pela primeira vez. Não consegui sustentar seu olhar.

⁃ Pois é, ninguém sabia.

⁃ Eu não fazia ideia, Agnes, e arrependo. Me arrependo muito. - ele parou e eu não disse nada. Não tinha o que dizer. - Me desculpa. Com toda a sinceridade. - foi aí que eu finalmente olhei para ele. Ele me encarava. Se ficamos assim por segundos, minutos, horas, eu não sei.

Só sei que ele começou a se aproximar de mim e seu olhar se desviou dos meus olhos, indo mais para baixo. Petrifiquei pela segunda vez no dia, as duas causadas pela mesma pessoa. Eu sabia o que ia acontecer e minha mente gritava para eu me afastar o mais rápido possível, chutar suas partes e sair correndo sem olhar para trás. Era isso que ele merecia por me fazer sofrer. Era isso que ele merecia por me ter feito chorar.

Mas eu não fiz nada disso que eu devia ter feito e só fui perceber quando seus lábios finalmente encostaram nos meus e eu senti que eu ia explodir. Eu quis isso por longos meses e, agora que eu não fingia não me importar mais, estava finalmente acontecendo.

Eu era burra, estúpida, idiota. Eu sabia que tudo aquilo era por pura pena, mas estava tão perdida em não querer parar que queria que se danasse. Seria uma única vez e nunca mais. Eu não iria impedir.

Agarrei seus cabelos e o puxei para mais perto. Seu cheiro era hipnotizante e parecia que envolvia toda a atmosfera ao redor. Ele segurou na minha cintura e eu senti aquela região queimar. Estava tudo muito confuso e a posição que eu estava fazia minhas pernas já não tão boas doerem, mas pouco me importava. A sensação dos seus lábios nos meus era melhor do que eu imaginei naqueles três anos. Profundo, intenso, forte. Ele apertava minha nuca e minha cintura e com aquele toque eu nunca me senti tão perdida.

Quem eu queria enganar. Eu nunca tinha superado Vicente.

Quando ele se separou de mim, ambos estavam ofegantes. Ele colou sua testa na minha e ficou fazendo movimentos circulares com o dedo pela minha bochecha até que nossa respiração confusa, quente e entrecortada voltasse ao normal. Depois se afastou de mim completa e bruscamente e eu senti o vento gelado passar pelo meu corpo. Aquela sensação foi horrível.

Novamente, eu não conseguia olhar em seus olhos. Garota boba e indefesa. Foi só um beijo. "Só" se for pra ele. Mexeu comigo mais do que eu me orgulharia em dizer.

Reuni toda minha coragem e finalmente olhei para ele, que não olhava para mim, mas para alguma coisa atrás de mim. Seus olhos estavam nublados, sem mais aquele brilho anterior. Quando viu que eu olhava, rapidamente desviou seu olhar e me encarou de volta, com a cara fechada.

⁃ É melhor você ir. - foi tudo o que ele disse, com um voz que poderia congelar o sol. Desviei o olhar dele, envergonhada e me sentindo mais estúpida que nunca. Não podia acreditar que aquilo estava realmente acontecendo comigo.

Eu tinha o amado e sido rejeitada por ele por um ano e meio, tinha aberto e exposto meu coração, ele se sentiu no direito de me beijar e eu permiti. Estava com nojo de mim mesma. Levantei bruscamente e, sem falar mais nada, corri, sentindo cada vez mais as lágrimas inundando meu rosto. Eu não me importava, eu só queria chegar em casa e esquecer essa noite.

Mal sabia eu que aquele era apenas o começo da minha ruína.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler ♥

Comentem! :3



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