Manual da Bruxa Iniciante escrita por Captain


Capítulo 1
O grande livro na porta




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— É o quê?.. – Mary Ann fez uma careta ao terminar de ler a sinopse do livro com a escura e grossa capa que fora deixado em sua porta. Pela segunda vez, olhou o pardo embrulho amassado e rasgado em sua outra mão, no qual viera o livro. Parecia mais um saco de pão desses de padaria, e não continha informação nenhuma sobre destinatário e remetente, apenas uma tímida escrita com as letras “M.A.”, que a garota julgou serem suas iniciais.


Do papel para o livro, seus olhos curiosos então passaram para a rua, de um lado ao outro, procurando quem poderia ter deixado ali aquele livro. Entretanto, estava vazio. A não ser pelo gato de farta pelagem negra e olhos amarelos que a encarava sentado no muro da casa da frente.
— Ah, tá, pode crer. – A menina franziu o cenho, cética, e começou a passar por sua mente uma lista de quem entre seus amigos lhe daria aquilo.

 

Com um breve suspiro, enfiou o livro debaixo do braço para ter a mão livre e procurar pela chave de casa dentro da bolsa cheia de quinquilharias. Aquilo sempre parecia levar uma eternidade, principalmente nos dias que chegava do colégio com vontade de ir ao banheiro.


 A porta abriu-se antes que Mary pudesse encontrar suas chave, e a jovem ergueu a cabeça no mesmo instante.
— Ah, oi! Já estava indo te buscar, demorou para chegar. – Seu pai deu dois tapinhas no topo de sua cabeça e voltou para dentro de casa.
 

Mary Ann o seguiu e fechou a porta.
— Quis passar numa cafeteria nova que abriu na rua de cima antes. Não é muito boa. – Ela trancou a porta, hábito que adquiriram recentemente, e seguiu até o balcão que dividia a cozinha da sala.
Seu pai sentou no sofá e ligou a TV no noticiário.
— Ann, fico feliz que tenha dado uma chance ao lugar. Parece que é o point da garotada da sua idade. Eu fui lá esses dias também e não achei nada mal.

 Mary tirou a bolsa do ombro e a deixou sobre o balcão. Em seguida mostrou o livro e deu um assobio curto para chamar a atenção do pai.
— O correio deixou isso aqui? – Perguntou-lhe.
— Não, querida, hoje não é dia de correio. Mas não acho que tenha passado alguém aqui hoje. O que é?
— Hum.. – Ela olhou a capa novamente – Provavelmente um romance de fantasia infanto-juvenil de baixa qualidade.
— Tem certeza? Parece antigo. Pode ser coisa da sua mãe. Ela que gostava desses livros velhos de sebo. Pode ter comprado e como não foi retirar na loja, entregaram aqui.
— É, pode ser. – Mary encerrou o assunto com sua entonação. Não gostava de jeito nenhum de falar sobre sua mãe. Ainda era tudo muito recente para ela. – Vou deixar no quarto dela.
 

Pegou algumas rosquinhas no pote de biscoitos e seguiu para as escadas. Depois de enfiar tudo na boca e chegar até o topo dos degraus, parou diante da porta fechada e respirou fundo.
Olhou a maçaneta e logo desistiu.
 

Abriu o livro e fez um sonoro “hã” com a surpresa; as páginas estavam em branco.
 Ela folheou um pouco para ter certeza e foi para seu próprio quarto. Jogou o livro na escrivaninha, abriu a janela e fechou a porta.

— É cada besteira... – Resmungou sozinha e se deitou na cama, de bruços, pegando o celular para checar as mensagens.
— É mesmo, não é?
— Diego! – Mary Ann quase gritou com o susto, mas depois deu uma risada. – Droga, eu já devia estar acostumada.
Virou-se para o dono da voz, o rapaz na janela.
— Bem, não te culpo. Seria mais fácil se eu pudesse fazer como uma pessoa normal e entrar pela porta da sala. – Ele botou uma perna para dentro e sentou-se no batente.

Diego morava nas redondezas e ele e Mary Ann estavam cada vez mais próximos. Ele era visualmente agradável e inteligente, duas ótimas combinações. Não estudava com Mary, fazia faculdade de medicina. O cabelo era loiro da cor do trigo e os olhos castanhos bem claros. A feição era delicada, de traços finos quase como fosse esculpido em mármore. E Mary Ann sentia que podia conversar qualquer assunto com ele.
— Já te disse que meu pai não gosta de você.
— Aquele velho careca...
— Ei!

A morena fez uma cara feia e depois riu. Sentou-se na cama e prendeu os cachos em um coque.
Diego deu um sorriso de canto para ela.
— Você está linda.
— E a senha está correta. Pode entrar. – Ela mordeu o lábio inferior com o elogio, o rapaz sempre conseguia lhe arrancar suspiros; suas amigas diziam que ele fazia o tipo de homem dos sonhos.

Ele entrou no quarto da jovem e caminhou lentamente até ela, passando a mão pelas penas dos diversos filtros dos sonhos presos ao teto.

Mary Ann levantou-se e chegou mais perto, em silêncio. O tocou com ambas as mãos nos ombros e as deslizou até o pescoço do rapaz.
— Feche os olhos..

Ela sussurrou, andando na direção dele devagar e fazendo ele ir para trás até suas costas estarem contra a parede.
Diego manteve aquele belo sorriso em seus lábios e fechou os olhos como ela pedira.
Mary ergueu o queixo para o beijar, e então..

— Ann, vamos sair. – Seu pai abriu a porta sem bater.
Mary Ann sem nem tempo para pensar empurrou Diego pela janela.
— Há! Ah! Pai! – Pelo menos “pai” era uma palavra de uma só sílaba, pois seu coração batia tão rápido que o sentia na garganta e mal conseguiria completar uma frase.
Ele entrou no quarto.
— Há, ah, filha. O que foi?
— Nada, só estava fechando a janela... – Ela olhou lá fora e não viu Diego. Fechou a janela e as cortinas. Se ele não a achava doida antes, com certeza acharia agora. Se não a processasse por uma perna quebrada. – Sair?
— Sim, vamos comer uma pizza. Naquela pizzaria artesanal que você gosta.
— Tá bem... – Ela assentiu para seu pai e ele saiu do quarto, deixando a porta aberta.

Mary pegou o casaco na cadeira da escrivaninha e foi até a cama para pegar seu celular. Olhando diretamente não o encontrou, então tateou por baixo da coberta e do travesseiro, e por fim decidiu olhar em baixo do livro. Lá estava. Enfiou o aparelho no bolso e devolveu o livro à escrivaninha; tinha uma certa mania por organização, e em seguida saiu do quarto e desceu as escadas atrás de seu pai.

Lá fora, olhou ao redor novamente e mais uma vez nenhum sinal do rapaz... nem mesmo mancando ao longe.
— E aí, Ann, gostou do livro? – Perguntou o pai enquanto entravam no carro e botavam os cintos de segurança.
— O livro? Ah, na verdade ele não tem nada escrito.
— Ah é? Talvez seja tipo um diário pra você escrever.
— É, pode ser. Mas acho bobeira.
— Então use para desenho. Faz tempo que você não desenha.
A jovem olhou para ele.
— Isso até que é uma boa ideia.

Em seguida, ligou o som do carro e foram escutando os hits atuais até a pizzaria.
O jantar foi ótimo e ficaram lá até o anoitecer, comeram uma pizza grande inteira e mais uma doce de sobremesa.
Na volta, ficaram presos no trânsito.

— Ah, ótimo... Isso não é normal para esse horário. Deve ter sido algum acidente ou caminhão de lixo que está atrasando tudo. – Seu pai reclamou.
Os carros não se moviam quase nada, e já passavam-se uns bons minutos que estavam ali.
Mary Ann pegou o celular no bolso da calça e desbloqueou a tela para conferir as redes sociais.

— Ann, guarda.
— Oi? – Ela olhou confusa para o pai.
— Guarda. Agora. – Ele olhou para a janela ao lado dela e Mary seguiu seu olhar. Deu de cara com um motoqueiro olhando diretamente para ela.

O homem estava numa moto grande, com uma jaqueta de couro e um lenço amarrado no rosto. Os olhos eram penetrantes e rodeados de delineador, bem ao estilo punk. Sua expressão, baseada em sobrancelhas e olhos era bem agressiva.
Assustada, Mary enfiou o celular entre as pernas e pôde ver o motoqueiro arquear as sobrancelhas como se tivesse um sorriso por baixo do lenço.

Seu pai buzinou.
O homem acelerou a moto e seguiu pelo meio dos carros, sendo seguido por mais alguns motoqueiros barulhentos.
— Nojento. – Mary sentiu, depois do medo, uma profunda raiva daquele homem.

— Essa cidade era tranquila até essa escória aparecer por aqui. Na reunião de moradores vou tratar de levar esse assunto até as autoridades. Alguém tem que fazer alguma coisa.

Mary suspirou e deitou a cabeça no banco do carro.
Ficaram mais alguns minutos ali até que tudo começasse a andar. Uma caminhonete havia quebrado à frente e parado o trânsito.
Já em casa, Mary Ann tomou um banho quente e botou seu pijama.

Sentou à escrivaninha e pegou seu porta-incenso e uma caixinha de novos incensos de canela. Depois colocou ao lado do livro um estojo e abriu na primeira página em branco. Pegou o isqueiro e foi acender o incenso, e no exato momento que a chama surgiu, pôde vislumbrar palavras na página que antes estava em branco.

Quase deixou o isqueiro cair.

Quando a chama se apagou, as palavras sumiram mais repentinamente do que apareceram.
— Como assim?...
Acendeu novamente o isqueiro, agora o aproximando até o livro.
As palavras apareceram com o fogo, escritas manualmente em nanquim.

“Parabéns, você descobriu como ver o manuscrito. Já que não é tão burra assim, o que é ótimo, poderá seguir para a primeira e uma das mais perigosas etapas. Mas antes, precisa saber de algumas coisas.”


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Notas finais do capítulo

(Faço tudo pelo celular, então vai me ajudar muito se me avisarem caso encontrem algo errado.)(Atentem-se aos detalhes, às vezes algo que aparenta ser sem importância será essencial posteriormente)(Coisas que parecem ter ficado no ar serão aprofundadas no tempo certo, paciência) (Um imenso pedido de desculpas pros meus leitores antigos que já estão com raiva de mim)



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