Living without light escrita por Blue


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Música: No Light, No Light - Florence and The Machine



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Ao longo dos meus muitos anos senti coisas terríveis e adoráveis, o amor por Daniel aqueceu minha alma por todo o tempo que estivemos juntos, sentia que podia tudo quando estava com ele, todos os reinos poderiam me pertencer e seriamos felizes, depois disso conhecia a perda e o ódio, que juntos levaram tudo que Daniel deixou de bom em mim e me transformaram em alguém amargo. Meu coração foi quebrando-se lentamente, obscurecendo diante do que sentia, uma dor inexplicável ao ver que meu amor havia partido, que minha mãe era responsável por isso. Mais tarde abracei a mágoa e esse foi o ponta pé da minha ruina.

Hoje, dentro dessa casa enorme e vazia, eu consigo ver. Me apoiei na mágoa, a usei como escudo e impulso. Fui cega. Fui tola. E fui fraca. Criei raízes grossas em meu coração, de rancor, perturbação, raiva, irá. Cai em uma prisão interna, no fundo estava presa em uma torre, sem acesso a qualquer coisa boa, sem acesso as alegrias que só lembrava de ter sentido com Daniel. E aceitei a prisão, tomei apresso por ela. Sozinha. Via a alegria como algo não cabível a mim e muito menos a quem me tirou.

Por Mary Margareth fui aos limites da minha prisão, me alimentei com a escuridão que se fazia presente todos os dias. Precisava vingar-me. Precisava vê-la sofrer. A morte era pouco, colocava um simples fim. Não queria isso. Queria a ver chorar e ter seu coração banhado por ódio. Queria vê-la se afogar em sentimentos terríveis.

Por minha mãe senti raiva. Porque todas as vezes em que pensava nela, também pensava que não fui suficiente. Que nós poderíamos ter tido apenas uma relação de mãe e filha comum. Poderíamos apenas ter crescido nós três, eu, ela e Zelena. Mas não. Cora fez tudo do seu jeito e sempre me encolhi ao pensar que tinha culpa, que eu poderia ter sido mais. E isso, só se findou dentro de mim quando estávamos literalmente no inferno.

Leopold me causava repulsa. Seu olhar sobre mim me deixava nauseada. Todo o momento em que passei ao seu lado senti em mim uma chama crescente de alguém que eu me tornaria e deixaria ser espaços para a Regina de antes.

E esses são alguns exemplos de coisas que senti, da pessoa que eu era até Emma chegar. Porque no dia em que ela me deu um oi tímido, tudo mudou dentro de mim. Foi como se trouxesse junto com aquele fusca, um ponto de luz amarelo para dentro da minha torre escura. A princípio me esquivei, fechei os olhos, procurei tudo que pudesse tampar aquela pequena luz, que a fizesse se dissipar. Mas sempre estava lá.

Me causou medo, desespero, angustia, por Henry. Quando o adotei o vazio que carregava pela maldição tornou-se menos denso. E ele a amava, ela o amava e custei a ver que nunca o tiraria de mim. Mesmo com as brigas, ameaças, Emma não o faria. Meu coração foi entulhado pela rejeição de Henry, por seu olhar de desprezo, de raiva e por vezes de confusão dirigidos a mim. E Emma foi a primeira a ajudar, a estender a mão. Foi quando abri os olhos e aceitei a luz na minha torre.

A pequena luz se alastrava, sua mão estava sempre estendida a mim. Um doce convite a uma vida diferente, a sentir novamente pequenas alegrias e sentir o coração leve. Eu não queria isso, não queria me arriscar a sentir coisas boas, a sair da minha escuridão e depois ser puxada a ela bruscamente. Contudo, Emma não desistia.

Se colocou a minha frente após a maldição estar quebrada, confiou em mim, me repreendeu, me xingou, me deixou louca e me ganhou. Não sei em que ponto. Talvez no momento em que estávamos no poço, quando drenei a energia evitando que ela e Mary morressem no caminho e Henry me odiasse, talvez quando nos olhamos e disse “bem-vinda de volta” eu tivesse inconscientemente aceitado sua mão para sair da torre. Para ver mais da sua luz.

Via em seus olhos algo comum. Talvez uma faísca de solidão diante de sua história. Talvez um lado bom e um ruim que conheci perfeitamente. Talvez fosse apenas loucura da minha cabeça. Não importa. Seus olhos me chamavam, transbordavam verdade, sinceridade, algo mais. Passei todos os dias tendo o cuidado de guardar o mais fundo possível todos os sentimentos que brotavam em mim sempre que a via, que tínhamos breves toques e intensos olhares. Não dizia ser amor, julgava ser uma admiração pela pessoa que ela é.

Vi sua melhor versão e agora vejo a que menos me agrada. Fico me repetindo sozinha “Emma vai se casar”, “Emma vai se casar”, “Emma vai se casar” e é tão errado. É tão absurdo. Killian não é bom o bastante. Se quer é digno de alguma coisa. Eu me lembro perfeitamente de como ele se portou quando soube que o transformou em Dark One, para salvá-lo. Conheço muito mais dele que ela pode imaginar e digo com firmeza, Killian não a merece. A princípio isso me causou extrema irritação.

Muitas coisas se passaram em torno dele. Precisei e me esforçar para não soltar todas as coisas que já pensei quando os vi juntos. Ainda preciso. Mas, no fundo, entendo Emma. E não me entendo, a primeira vez que fiquei sozinha e soltei essas palavras “Emma vai se casar”, senti o peso delas junto com um buraco se abrindo diante de mim ou mesmo dentro de mim. Algo novo fazendo morada, diferente de tudo que já citei, tudo que já vivi. Senti como se sua mão que foi estendida para mim lá atrás, tivesse me soltado. Eu posso voltar pra minha torre, posso tomar um caminho diferente, posso estagnar exatamente onde estou.

Zelena vai se mudar com a pequena Robin. Está louca arrumando as coisas, descobri que quando se trata de organização ela é um desastre. Há caixas por toda a casa, ela não sabe se arruma as roupas, os acessórios ou faz leite para a neném.

— Você vai fazer um buraco no chão, deveria me ajudar. – Zelena fala, estalando os dedos a minha frente. – O que está pensando.

— Nada demais. – Balanço a cabeça suspirando.

— Você vai no casamento? – Pergunta entregando a ponta de uma coberta para eu ajudá-la a dobrar. Reviro os olhos e maneio as mãos deixando tudo em ordem em um passo de mágica.

— Você deveria usar a magia para coisas simples como essa. E não, não vou. – Dou as costas para ela. Não quero que note qualquer falha no meu olhar sobre esse assunto.

— Não vou perder por nada Emma tomando a pior decisão de sua vida. – Ouço a risada de Zelena, é adorável e cruel.  – Talvez você devesse intervir.

— O que? – A olho. Ela ainda sorri. – Isso é loucura. Todo mundo sabe.. E você.. bem, ela gosta de você, né?

— Porque gostaria? – Rebato antes mesmo de sua frase terminar. Minha ideia de não transparecer nervoso é totalmente falha. Vejo seu olhar sobre mim mudar, como se dissesse “te peguei”.

— O que há de errado, Regina? – Pergunta se sentando.

— É o que você disse, é o maior erro da vida da Emma. – Dei de ombros.

— Mas não é só isso, não é? Você está preocupada com Henry? Com Emma? – Não respondo. Qualquer coisa que eu penso parece desculpa, vago, fútil. Meus olhos enchem-se de lágrimas que pesam e caem. Odeio me sentir vulneral. – Você está com medo! Isso é tão claro.

— Para, Zelena. Não quero falar sobre isso. – Levantei brincando com a pequena Robin.

— Do que você tem medo? Tem medo do amor ser grande demais e não caber dentro de você?

— E quem falou de amor? – Rio nervosa, batendo as unhas na grade do berço.

— Eu já imaginava isso, Regina. Como vocês se olham, se cuidam, se protegem e... você esconde bem, mas somos irmãs, somos parecidas.. – Zelena fala com propriedade, caminhando pela sala. Tira todas as minhas amarras, me sinto exposta em sua presença.
— O que você sabe de amor Zelena? Não fale bobagens.

— Oh, claro... É difícil eu saber, não é? Não cresci tendo amor de mãe, de irmã, de madrasta ou de uma legião de pessoas.. Suspirou. E quem dizia gostar de mim era ninguém menos que o... Enfim. – Faz-me a olhar e sua expressão é sombria. Minhas palavras lhe causam algo, algo que me arrependo de causar. - Provei em poucos minutos o que o amor é capaz de fazer, Regina. Andando de bicicleta com o próprio diabo, alcancei toda a leveza do ser e naqueles instantes eu era só Zelena, só uma garota apaixonada e feliz sendo guiada. Você sabe o que é isso? - Penso em Daniel, mas nada se aproximava disso. - É por isso que nem se deu conta que ama, porque não sabe.

— Eu já amei, Zelena. Daniel, foi meu amor. – Tento convencer a mim mesma dessa afirmação.

— Pensei que fosse Robin. – Revira os olhos. – Cada um aceita o que lhe convém, se você acha que Daniel foi seu único amor e está escrito que você não pode ter um final feliz, tudo bem, Regina. Emma também está aceitando que Killian é o que escrito para ela.

— Não é tão simples. Mesmo que eu aceitasse. Que TALVEZ, seja algo próximo a amor, ela tomou essa decisão e é impossível que sinta algo por mim.

— Quem sabe, não é? – Conclui e levanta.

Os dias seguem corridos para nós. Eu fujo de Emma e Henry. De qualquer coisa que lembre o casamento. Ajudo Zelena com a mudança, sua casa está linda, repleta de coisas verdes por toda a parte, inclusive a decoração do quarto da Robin. Dentro de mim é um emaranhado de linhas. Uma desordem. Por um segundo sozinha no quarto da minha sobrinha me sinto mal. Todo mundo tem alguém. E quando eu voltar para casa será só eu.

Zelena deixa uma caixa cair do lado de fora e faz um barulho grande que assusta a garotinha e me tira dos meus segundos dramáticos. A ajudo com o que falta e sentamos na sala, vejo em seu rosto serenidade, paz. Fico feliz por ela. Depois de tudo, ela é minha família e lhe desejo dias felizes e divertidos.

— Vai ficar bem sozinha? E se saísse daquele lugar e viesse morar conosco? – Me olha, sua gentileza me causa uma corrente de algo indefinivelmente bom.

— Sua bagunça me deixaria louca. Eu vou ficar, oras. – Faço-me de indignada, mas dentro de mim a perguntava ecoava “Vou ficar bem?”.

Volto para casa olhando ao redor, tenho a impressão de que todos estão se mobilizando para que esse casamento seja o melhor que já houve na história. Mary e David conversam no Grannys. Henry e Killian riem animadamente na rua. Belle está a frente da biblioteca com a expressão que fica quando viaja em seus pensamentos. Emma não está em lugar algum.

A diante a encontro. Está encostada em seu fusca em frente a minha casa. Minha vontade é virar as costas e voltar para a casa de Zelena. Paro na rua cogitando entre ir e voltar. Decido passar sem falar nada, como quem nada viu também.

— Tudo bem, Regina? – Ouço sua voz e aceno com a cabeça voltando a caminhar. Achei que nós pudéssemos conversar..

— Eu não estou afim de conversar agora.. – Sussurro e entro em casa. Porque ser tão grossa, Regina? Isso não importa. Encosto na porta ouvindo seus passos.

— O que houve? – Emma bate na porta, com toda sua delicadeza.

— ... – Não tenho o que dizer, sinto parte de mim agitada. Uma quer abrir. Outra me machuca. Mais batidas. Mais chamados. Me lembro do dia em também havia uma porta entre nós. A cena quase se repetia.

— Regina? Fala comigo... – Sua voz é baixa, soa como uma suplica. Dou risada desse último pensamento tolo. Lágrimas, escorrego pela porta. Agora sim. A cena se repete.

— Sai daqui, Emma. Por favor. – Digo, uma onda de determinação me envolve, preciso tirá-la dali, preciso que me deixem em paz até eu me sentir normal de novo. Até que eu possa esconder a confusão.

— Mas Regina, o que eu fiz? – Lembra-me Henry quando menor, com a voz chateada.

— Nada, Swan.

— Voltamos ao Swan? – O tom se torna ainda mais desanimado.

— Deseja que eu a chame de Swan-mills? Perdão. – Me obrigo a puxar um lado que havia deixado para trás a muito tempo.

— Regina, por Deus, o que está..

— Nada, Emma! Já pedi para sair, só saia! Ou vou comunicar as autoridades que tem um invasor na minha casa. – Levanto e posso ver através da porta, as mãos encostas, a cabeça baixa, ela morde os lábios nervosa. Coloco a mão na maçaneta a um ponto de abrir.

— Eu sou as autoridades. – Levanta a cabeça como se soubesse que estou olhando, desisto de abrir, não posso estar em sua frente e não saber o que dizer.

— Posso te tirar isso e para quem vai casar, não é bom estar desempregado. – Deixo escapar, coisas assim sempre prefiro deixar guardadas.

— Então é isso... – A vejo suspirar e tenho certeza que vejo também uma decepção crescente em seu olhar.

— Não sei o que é isso, mas, por favor, pode se retirar? – Deixo de olhá-la e ouço o portão batendo.

Acho que estou ficando louca. Essa é a única resposta que encontro enquanto sigo até meu quarto e me jogo na cama. Minha cabeça gira, confundo o que pode ser vertigem e excesso de pensamentos.

Mais dias se arrastam. Não tenho contato com ninguém além de Zelena e a pequena. Nestes dias repasso tudo que aconteceu. Desejo voltar, desejo pedir a Emma que ficasse quando Peter lançou a maldição. Desejo ter contato a verdade no início. Desejo ter impedido que conhecesse Hook. Desejo lhe dizer que está confuso aqui. Desejo não estar aqui.

— Merda. – Resmungo levantando. Henry tentou falar comigo por três vezes seguidas e não atendi. Emma também. Mary também. Essa insistência me agoniava. Alguém pode respeitar meu espaço?

Falta pouco para o casamento. Posso ver Henry experimentar um Smoke, Mary animada em excesso com tudo, David nervoso por casar a família e Emma recusando todos os vestidos. Uma imagem formulada em minha mente, que pode ser bem diferente na realidade. Vejo eles casando também e trocando alianças, as lâmpadas da casa se quebram.

— Você vai mofar nessa cama. – Zelena aparece com a neném no colo e a põe em minha cama.

— Ninguém realmente respeita meu espaço. – Suspiro.

— Regina, você não pode ficar assim para sempre!

— Quero ir embora. – Tenho um estalo. Não posso mesmo ficar assim. Nem aqui. – Eu vou sair da cidade, vou esquecer de tudo.

— O que? – Zelena senta e põe a mão em minha testa. – Você enlouqueceu? Vai deixar Henry?

— Deixá-lo ? Ele mesmo fez isso, sempre me deixou para trás, eu não estou fazendo isso.

— E Emma?

— Ela aceitou o que o destino lhe deu. Acho que não sou eu quem vai lhe dizer que ela pode mais. Que o destino não é dono de nada. Sabe a minha vontade, Zelena? Ir até aquela igreja e dizer "desculpe o atraso", e rasgar a garganta do Killian, porque ele não merece recebê-la naquele altar. Não estou dizendo que mereço. Porque nós, não temos finais felizes, não é justo que ele tenha o encontrado sem ao menos crescer e ser um homem de verdade, de honra. Queria vê-lo morrer. Mas não posso, a pessoa que sou hoje sabe que não pode. Agora sou boa e isso é sufocante em momentos como esse. É desesperador porque a vontade está em mim, mas eu mesma sou quem me barro. Só não posso fazer isso. E é tão injusto.- Desabafo, penso que esse é meu último ato. Desabafar tudo e depois desaparecer da vida de todos. Deixar de ser essa Regina. Ser alguém de uma cidade qualquer com um livro em branco. Não ter que sentir isso que eu nem sei decifrar o que é. Não voltar para minha torre escura. Não estar perdida porque Emma soltou-me. – Olha.. Henry queria uma boa mãe, me tornei uma. Snow queria perdão, o fiz de coração. Henry também e me desmanchei por meu pai. Nossa mãe está em paz. E Emma.. Ela não esperava o que eu não era, ela me aceitou. E eu sinto que ninguém no mundo é capaz de fazer isso. Eu já a vi com raiva, com dor, com alegria nos olhos diante de mim, mas nunca medo e isso é único, isso aqueceu meu coração por muito tempo. Agora sinto que sou uma cidade vazia, todas as luzes se apagaram e as pessoas encontraram um lugar melhor para viver. Até mesmo você. Não faço mais parte disso.

— Não é justo com você. – Seus olhos agora carregam lagrimas, seus dedos encontram os meus e apertam. – Odeio a Emma por te fazer sentir isso.

— É o certo, não é? – Deito a cabeça em seu colo, mexendo nos poucos fios da minha sobrinha.

— Não é. – Ela sussurra.

Não encaro de frente o que estou sentindo. Aceito que não consigo fazer isso. Aceito que é o certo a fazer e espero. Deitada na cama vejo as imagens aleatórias do que cada um está fazendo. Vejo Emma vindo em direção a minha casa pela milésima vez e voltando. Vejo as pessoas seguindo até a igreja. Killian esbanja alegria. David pergunta se a filha tem certeza disso. Mary não se cansa dos detalhes.

Emma segue para a igreja e eu ligo o carro seguindo para fora da cidade. Sem despedidas. Sem qualquer palavra entre nós. Apenas o abismo desses últimos dias. Tem que terminar mesmo em briga, porque somos nós. Henry vai superar. Todos vão estar ocupados demais para lembrar de mim.

Aperto o acelerador e passo o limite da cidade de olhos fechados. É o fim.

Abro e não vejo nada. Não estou mais no carro, sinto meus pés no chão e está tudo escuro e em silêncio. Ouço uma respiração. Alguém resmungando.

— Quem está ai? – Pergunto. Tento andar, mas meus pés estão presos, colados ao chão frio. Praguejo. – Que raios está havendo?

— Regina? – Ouço. É Emma. Reconheceria sua voz em qualquer lugar. – Você quem fez isso? O que está acontecendo?

— Porque eu faria algo assim, Emma? Eu sequer consigo mexer meus pés. – Respondo cruzando os braços. - Não sei dizer de que direção vem sua. Não consigo ver nada.

— Talvez você quisesse finalmente falar sobre qualquer coisa. Sobre o casamento, sobre seu isolamento. – Ela diz, não consigo identificar o que o tom da sua voz quer dizer.

— Na sua cabeça, eu não falei sobre isso todos esses dias e falaria hoje? Na hora do seu casamento? – Rio alto. De nervoso. Que bobeira. Queria sair logo dali. Minhas pernas tremiam. Estava sendo obrigada a encará-la, mesmo sem a ver.

— Poderia ser, não? Você simplesmente nos ignorou, acha que não me preocupo? – Começo a gostar do escuro, a agradecer por ele. – Eu queria muito conversar com você.

— O que queria, Emma? Queria me dizer como está feliz por casar? Ou me dizer que Henry vai morar com vocês? Ou me dizer se está tudo bem eu ficar sozinha? – Solto as palavras sem pensar em seu efeito, se estava sendo obrigada a ter aquela conversa que fosse franca.

— Sim, Regina. Queria te perguntar o que acha disso. – A voz de Emma passou a impressão de estar encurralada ou estar a um ponto de chorar. Quero conseguir dizer tudo de uma vez. Mas tudo me trava.

— Acho o maior erro da sua vida. – Falo e rio. – Acho que Killian ainda não é o suficiente para você. – E as lágrimas se juntam ao riso nervoso. Meu coração gagueja ao ouvir sua respiração mais pesada. A decisão de correr, sumir da cidade escorre por meus dedos.

— Porque não disse antes? Porque ignorou a todos? Porque me ignorou? – Agora sua voz é fraca e falha. Agora Emma me confunde.

— Eu não tinha o que dizer, é uma decisão sua. Além do mais, eu estou indo embora. – Confesso. Acho correto que saiba. Que possa dizer a Henry. Suspiro. Penso em meu caos dos últimos dias.

— Se me dissesse qualquer coisa, eu teria mudado minha decisão. Qualquer coisa. – Suas palavras passam por mim agressivamente. Me pergunto se isso é sério. – O escuro veio a calhar. – Sua voz agora denota o riso.

— Não pode desistir só pelo que eu diria. Não é assim que as coisas funcionam. Não sei porque te ignorei. – Minto. Não sou capaz de dizer que me senti amedrontada ao pensar que não teria mais sua atenção. E extremamente irritada. E chateada. E mais um milhão de coisas ridículas para eu sentir.

— Eu desistiria por você, acredita? – Sua voz agora é nervosa. – Eu teria desistido se você tivesse me deixado entrar aquele dia. E se dissesse que é um erro. Eu desistiria se você pudesse gostar de mim. É um absurdo, não é? Eu fui tão tola de pensar que talvez você pudesse me ver quando eu finalmente tomasse a atitude mais ridícula. Mas você não viu. O casamento estava a um fio de acontecer e eu ainda achava que você viria..

— Espera.., - A cortei tentando assimilar suas palavras. – Você estava casando porquê?

— Eu pensei que... se eu fizesse algo ruim... - porque algo bom eu já fiz – então você me veria, você prestaria atenção e... merda. É tolice demais. – E estende-se o silêncio. E depois seus soluços preenchem o espaço. Eu queria vê-la e não queria.

— Emma.. – Sussurro. Eu choro e rio. E choro. Agradeço a escuridão que não representa o que estou sentindo, mas me permite falar sem reservas. – Porque você faz isso?

— Você tem que me dizer, Regina.. Tem que me deixar ir ou me dizer o que fazer. Porque já faz tanto tempo e... não posso mais lidar com isso, não posso te ver e fingir que está tudo bem, que não te amo e não sinto nada. Não posso.

Emma diz me amar e sinto tudo em mim parar. Emma me ama. Emma me ama.

— Você acha que eu não te via? – Pergunto tentando não ser uma tola e falar merda.

— Sim, você não me vê. Mas isso nem importa, não é? Já está tudo feito. Nem sabemos onde estamos agora, nem podemos nos ver. E eu sinto tanto.. Queria te ver, Regina. Queria que olhasse em meus olhos e pudesse me ler, ver o que sempre tentei mostrar.

— Eu sempre te vi, Emma! – Digo em desespero. Tento me mover e ainda estou presa. – Sempre... E fiquei louca quando soube que se casaria! Porque... não posso aceitar. Você era como meu porto seguro e simplesmente me vi sem isso e sem nada. Minha luz está se dissipando todos esses dias. Como eu poderia confessar a você o que nem confessei a mim?

Penso no que viria adiante e antes que tome ar para falar seus braços me envolvem e me abraçam. Meus pés não estão mais presos. Me emaranho em seus braços. Me prendo. Aperto e não sou capaz de soltar. Nunca mais.

— Me diz para não fazer isso, e não farei. – Sussurra em meu ouvido, desliza a mão em volta do meu corpo e para em meu rosto. Estávamos nos olhando, mesmo sem luz, sabemos que nossos olhares estavam um no outro.

— Eu amo você, Emma. – As palavras dançam por meus lábios e saem baixas, mas concretas. – E o amar deve ser mesmo isso, estar no escuro na maioria do tempo.

— Não é isso, não pode ser. Quero ser luz para você, Regina. Quero que me veja como um porto seguro mesmo, alguém que vai te proteger e cuidar de você, alguém que nunca vai te abandonar ou te julgar.

Não tenho palavras, estou sendo tomada por uma onda de luz que é capaz de escapar das palmas da minha mão. Suas mãos me puxam e ela me beija. Fecho os olhos e posso dizer a Zelena que sei sim o que é amar. Que esses segundos foram mágicos e decisivos. Lhe confesso ainda mais do que sinto, mesmo sem palavras.

Ela se afasta e abro os olhos, a claridade faz meus olhos doerem. Estamos na igreja, todos estão sentados à espera da noiva, mas esta está segurando minha mão, com o rosto corado e um sorriso bobo. Todos nos olham. Zelena está na porta fazendo joinha com as mãos, foi ela, tenho certeza. Não consigo olhar para ninguém.

— Então... é a hora. – Digo a Emma soltando sua mão.

— Onde você vai? – Ela arregala os olhos, as pessoas cochicham. David, Mary e Henry ficam em pé nos encarando. – Olha pra mim, Regina. – Toca meu queixo, levantando minha cabeça. – Onde você estiver eu vou estar com você.

— E o casamento? – A encaro, segurando as lágrimas que serpenteiam em meus olhos. Segurando meu coração.

— Não posso fazer isso. – Entrelaça nossos dedos. – Não posso me casar com Killian. Não posso viver reprimindo o que sinto.

— Não pode deixar esse amor passar. – David diz surpreendendo-me.

Henry vem até nós e toma minha mão, apertando e sorri. Emma avança pela centro da igreja dando as costas a todos, me levando consigo. Atrás de nós as vozes se aumentam. Killian fica boquiaberto. Dando esses passos com ela de um lado e Henry de outro, sinto que qualquer coisa pode acontecer ao nosso redor, somos uma família e podemos lidar juntos.

Somos fortes, somos bons e melhores quando estamos lado a lado. Fecho a porta da igreja atrás de nós e posso olhar em seus olhos, vejo tudo tão claramente. A intensidade, a sinceridade, a entrega. Encosto nossas testas fazendo carinho em seu rosto, seu sorriso floresce e me desmancha.

— Finalmente você me viu.. – Diz em um fio de voz.

— Sempre vi.. só estava com medo. – Digo e escondo a cabeça em seu ombro, a abraçando.

— Nunca vá embora, Regina. Nunca.

— Nenhuma de vocês podem ir. – Henry coça a garganta. – Nunca desistimos de quem amamos.

— Nunca. – Dizemos juntas.

Posso respirar. Posso ver minha torre de longe agora, porque estou livre de tudo, das grades, das amarras, da escuridão. Posso sentir alegria. Posso ser feliz. Posso amar e não ter medo. Meu final feliz está diante de mim, em um lugar que gosto, com pessoas que amo e reciprocidade.


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