Saudade? Não, saudade é exagero sendo que mal o conheci. Arrependimento? Talvez, de se despedir e partir sem falar mais nada que um pai normalmente falaria. É impossível distinguir. Depois daquele encontro, eu continuo não sabendo coisa alguma sobre você, assim como antes, no entanto eu já previa o que ia acontecer comigo, então: Não devíamos ter nos encontrado.

Enquanto você segue a vida novamente, eu custo a tentar tirar essa sensação, a qual sequer consigo entender. Como mencionei antes, não se trata de saudade, é mais um misto de tudo.

Droga, Gon! Eu me pergunto por que tinha que ser tão parecido comigo? Você poderia simplesmente me odiar igual a qualquer outra criança ao descobrir que tem um pai de merda como eu. Isso acabaria com meu problema atual, na verdade ele nem existiria. Mas você tinha que me puxar, não é?

E o resultado disso foi a sua essência, que além de me cativar, me fez ficar dependente dela.

Quando seus olhos finalmente me encontraram no meio de toda a multidão, percebi que perdi aquele jogo de caçar. Por um instante fiquei tenso imaginando sua reação, mas logo me recompus. Procurei me manter imparcial, afinal eu estava preparado para lidar com você.

A verdade...

É que eu não estava.

A conversa no topo da Yggdrasil foi bem longe do que imaginei durante esse tempo. Digo, eu gostei... Muito. As horas corriam e ali, naquele momento, apenas nós existíamos. Exatamente como pai e filho. Por entre os risos e sorrisos, os relatos de nossas aventuras, acabei não me importando mais com a tensão sempre que ousava pensar em como você me via. E aos poucos, seu brilho me hipnotizou. Sem notar, me deixei levar por você.

A hora de ir chegou cedo, para meu próprio espanto. E ao vê-lo se afastar, senti um leve aperto no peito. Como desconhecia esse sentimento, ignorei.

Mais tarde, pude associar isso com algo paterno. Devo ressaltar que minha viagem de volta não foi pacífica. Minha mente ficou incontrolável, jogando imagens passadas. Lembrei-me de quando o carreguei nos braços e o levei até Greed Island e também o dia em que pedi para sua bisavó cuidar de você. Qual o sentido dessas memórias repentinas? Não faço ideia, emoções são complicadas.

Atualmente eu venho pensando em coisas que jamais pensei. Como seria se eu continuasse com você na Ilha da Baleia? Poderíamos pescar juntos. E depois, sob a luz das estrelas e com uma fogueira acesa, contar histórias; rir de várias idiotices. Ou talvez se ao invés de deixá-lo, eu o levasse comigo sem largar minha profissão. Seria insano, mas quem sabe não desse certo? Eu poderia desbravar esse universo todo junto de você.

A onda de raciocínios sem pé nem cabeça, me perturbou um bocado. Chegou ao ponto de eu querer jogar meu orgulho no lixo e ir atrás de você, implorando por perdão e pedindo desculpas. Querendo recuperar o tempo perdido o qual não quis ser seu pai. Imaginando a cena agora, seria muito estranho de minha parte. Portanto vou me lembrar de nunca fazer algo do gênero.

Sua ligação me deixou atônito. O que diabos você poderia querer de mim? Mesmo relutante, atendi.

Apenas me questionava sobre seu Nen. Eu gostaria de desligar na sua cara se fosse preciso, porque me sentia anormal. Provavelmente, por causa do sentimento louco de falar alguma coisa desnecessária. O assunto se encerrou com sua voz me desejando boa viagem e um tchau. Aquele arrependimento chato me atacou por um momento e foquei em minha missão para poder esquecê-lo.

Então, se por um acaso, eu realizar um ato sem lógica, não se surpreenda, a minha fama de maluco não é à toa. E saiba que você possui uma parcela de culpa por isso.

Porque estou dependente de você, Gon. E não sei o que fazer.