Amor Faminto escrita por Kelly


Capítulo 6
Capítulo 5: Esquece


Notas iniciais do capítulo

Hoje vou publicar este e mais outro! Fiquem atentos ;)



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“Ryan?” Alec bateu à porta. “Podemos falar?”

“Entra.”

Mathews fechou a porta quando entrou, não que isso fosse impedir alguém de ouvir o que quer que fosse naquela casa, mas de alguma forma tornava o ambiente mais restrito.

“O que se passa?” Ryan olhou o irmão.

“Ah, tiveste com a Octavia na sexta à noite?” Ele perguntou.

“Outra vez, Alec?! Pensava que tinhas percebido que-.”

“-Ela foi atacada nessa noite. Por um de nós.” Alec interrompeu-o.

Ryan abriu a boca para dizer algo, mas voltou a fecha-la. Ele parecia genuinamente surpreso e Alexander queria acreditar que sim, mas aquele era Ryan. Ele alimenta-se de pessoas, e não é suposto. Os seus pais esforçaram-se muito para terem a influência que têm no Conselho Vermelho.

“Não fui eu,” O seu irmão disse finalmente. “Sim, eu já me alimentei dela, mas fiquei com ela até o efeito da mordida passar. Eu tenho sempre cuidado. Além disso ela consentiu.”

“Ryan,” Alec começou. “A Lydia diz que tu foste sair com a Octavia naquela noite. Ela acha-.”

“-Então é a Lydia que te anda a meter estas coisas na cabeça?” Ryan levantou-se. “Uou, esquece lá. Não importa o que eu diga, tu quando estás cego por uma rapariga, estás mesmo cego. Já devia saber.”

Alexander cerrou os dentes, e os seus olhos pintaram-se de um brilhante azul, os seus caninos cresceram, tornaram-se espinhos branco, mortíferos. O seu irmão não se importou, e riu.

“A Lydia acha que eu ataquei a melhor amiga?” Ele repetiu. “E porque ela não veio falar comigo? Vocês já são íntimos um com o outro, é isso?”

“Ryan,” Rugiu.

“Bem,” Ryan aproximou-se. “Diz à tua cadelinha que eu não tive nada haver com o que aconteceu à Octavia, mas também estou interessado em saber quem se meteu com a minha miúda.”

Alec deixou um som aterrorizador escapar por entre os dentes cerrados.

“O que se passa aqui, meninos?” Lily espreitou pela porta. “Está tudo bem?”

“Sim, o Alexander estava já de saída, certo?” Ryan olhou-o.

“Sim.” Mathews murmurou e os seus olhos voltaram ao seu azul normal.

Lily abriu mais a porta, para permitir que Alec pudesse sair. Quando este saiu dos limites do quarto, Ryan olhou-o mais uma vez.

“Não me voltes a acusar, irmão.”

Alec deu-lhe um olhar torto antes de continuar pelo corredor.

Lydia não conseguia dormir com a curiosidade a martelar na sua cabeça. Então, deixou-se ficar acordada, a ver as horas passarem.

 “Lydia, não vais dormir?”

Amelia estava encostada na entrada do quarto. A ruiva estava sentada à secretaria, agarrava o telemóvel com tanta força que os seus dedos estavam vermelhos.

“Estou à espera de uma mensagem.” Lydia respondeu, sem tirar os olhos do ecrã escuro.

“Querida, mas já são onze horas, amanhã tens treino e-.”

A sua mãe foi interrompida por um pequeno toque. Jones endireitou-se na cadeira e desbloqueou o telemóvel. Abriu a mensagem acabada de receber.

Encontra-me no parque.

Lydia não precisava que a mensagem estivesse assinada, ela sabia muito bem quem era. Alexander Mathews. Ela levantou-se, e então reparou na expressão preocupada da sua mãe.

“É importante, mãe. Meia hora e estou em casa, ok?” A ruiva prometeu.

“Mas, Lydia-.”

Jones já estava a meio da escadaria, e embora ainda conseguisse ouvir a sua mãe, ela precisava de saber o que Alec tinha descoberto na sua conversa com Ryan.

“Lydia! Espera, tu-.” Amelia gritou mais uma vez do topo das escadas.

Lydia sorriu tristemente, como se a pedir desculpa, antes de bater com a porta principal. Ela abraçou o seu próprio corpo quando a brisa fria a envolveu, e deixou os cabelos vermelhos esvoaçarem livremente. Quando chegou ao parque, o seu nariz estava vermelho do frio, e não demorou muito para ela identificar a silhueta sentada no baloiço.

“Não precisavas de ter vindo a correr, eu podia esperar.” Ele levantou a cabeça.

“Não vim.” Lydia balançou a cabeça.

“Hm, isso explica o pijama.” Alec comentou sarcástico.

Jones olhou para baixo, as suas bochechas ganharam um tom rosado, a combinar com o seu nariz. Rapidamente, voltou a olha-lo e encolheu os ombros.

“Isto é uma vizinhança calma, ninguém quer saber.”

“Certo.” Ele sussurrou.

Lydia sentou-se no baloiço vazio e agarrou as cordas com força. Ela não queria ser a primeira a tocar no assunto, não queria parecer desesperada, e afinal tinha sido ele a mandar-lhe a mensagem.

“Falei com o Ryan.” Alec começou.

A ruiva esperou uns segundos para que ele continuasse, mas isso nunca aconteceu.

“E então?” Ela incentivou-o.

“Ele não lhe fez nada.”

“O quê?!” Lydia olhou-o perplexa. “Não! Ouve, ele é o teu irmão e entendo que queiras protege-lo, mas ela é a minha melhor amiga, Alexander!”

Alec levantou-se e colocou-se em frente à ruiva. As suas pérolas azuis eram tudo o que ela conseguia distinguir no escuro, e elas transmitiam súplica.

“Lydia,” Ele agarrou as cordas do baloiço. “Esquece este assunto. Entendido?”

“Não!”

Jones levantou-se num movimento brusco, e obrigou Alec a afastar-se. Ela passou a mãos pelos cabelos selvagens, numa tentativa de os domar.

“Eu disse-te, se tu não resolvesses isto, eu ia.” Lembrou-o. “Vou fazer queixa na PIP.”

Lydia passou por ele, e num piscar de olhos, ele estava na frente dela.

“Uou.” Lydia estava ofegante do susto. “Que porra.”

“Eu não estou aqui para te chatear ou nada parecido.” Alec disse sincero. “Estou a tentar ajudar-te. Sério, Jones, é o melhor. Mantém-te longe.”

“Tu, a ajudar-me?!” Ela forçou uma gargalhada. “Deves estar a brincar.”

Alexander tombou a cabeça para trás num gesto de cansaço.

“O Ryan pode ser muito idiota e, sim, ele faz muitas coisas estúpidas. Mas ele não fez aquilo à Octavia.” Ele então olhou-a. “Então, o que quer que tenha acontecido, não teve nada haver com ele, o que significa que é algo muito pior. Então… deixa para lá.”

Lydia engoliu em seco, e desviou o olhar.

“Ok.”

“Ok.” Alec devolveu.

A ruiva não disse mais nada, apenas prosseguiu para a saída do parque, deixando Alexander para trás.

“Espera.”

Lydia voltou-se para olha-lo, confusa.

“Depois do que aconteceu à Octavia talvez seja melhor não andares sozinha por aí, especialmente a estas horas.” Mathews não a olhou. “Não me parece que esta vizinhança seja assim tão calma. Pelo menos, não mais.”

“Sim. Eu nunca ando, não sozinha.” Ela encolheu os ombros.

“Eu, -.” Alec parecia conflituoso consigo mesmo. “Ah... vejo-te amanhã.”

A ruiva assentiu e prosseguiu o seu caminho.

Alexander, por sua vez, voltou para casa também, ainda a pensar na rapariga dos cabelos vermelhos, que ele tinha deixado ir para casa sozinha à noite com sabe-se lá quem ou o quê à solta.

“Alexander Mathews.”

Alec ignorou a pequena voz, mas ele sabia que vinha da sala escura. E ele sabia que era Lily, até mesmo antes das luzes se acenderem.

“O que foi?” Ele olhou-a.

“Onde estivestes?” A loira levantou-se e lambeu os lábios. “Cheira bem, hm.”

Alexander rolou os olhos de forma exagerada e voltou-lhe costas.

“Espera, maninho!”

“Eu sei o que vais dizer e-.” Ele começou.

“Eu ouvi a tua conversa com o Ryan.” Lily admitiu e ganhou a atenção do seu irmão. “Eu acho que devíamos contar aos pais.”

“Não.” Alec rapidamente negou.

“Mas eles sabem o que fazer. Tu sabes os ataques do leão da montanha? Quem sabe pode nem sequer haver um!” E então a loira baixou a voz. “Pode ser um de nós, Alec.”

“O pai disse que estava tudo bem, Lily. Que era mesmo um leão da montanha. Não nos precipitemos, ok?” Ele disse.

“Não estamos a precipitarmo-nos! Nós ambos sabemos que os nossos irmãos se alimentam das raparigas, mas também que são extremamente cuidadosos.” Lily lembrou. “Este ataque foi propositado para espalhar o pânico.”

“Bem, Octavia mal se lembra e eu consegui convencer a Lydia a esquecer o assunto.” Alec deu um pequeno sorriso. “Não te preocupes, Lily.”

“Alec, por favor.” A loira agarrou-lhe a mão. “Lembras-te do que aconteceu da última vez que achaste que tinhas tudo sobre controle?”

Ele puxou a sua mão bruscamente, os seus lábios uniram-se numa linha rígida ao longo da sua face séria.

“Achas que eu me esqueci?” Rugiu.

Lily olhou-o preocupada, mas não respondeu. Alec aproveitou o silêncio e escapuliu-se para a escadaria larga, sempre a deslizar a mão pelo corrimão escorregadio. Quando chegou ao cimo, olhou uma última vez para a sua irmã.

“A culpa é a maior lembrança que eu tenho.”

No dia seguinte, Lydia não estava menos preocupada e isso refletiu-se nas suas aptidões de volleyball no treino. Ela estava distraída. Lydia lançou-se para apanhar a bola, mas não foi rápida o suficiente. Os seus olhos verdes estavam atentos ao treino de Lacrosse no campo ao lado.

“Lydia!!” Octavia gritou mais uma vez.

“Era tua! Outra vez.” Amber acusou. “Estás a dormir hoje!”

A ruiva sorriu-lhes, e desculpou-se. No entanto, a sua atenção continuou num particular rapaz escondido debaixo do equipamento de Lacrosse. Com mais umas quantas falhas por parte de Lydia, a Sra. Williamson deu o treino por terminado.

“Estás bem, Lyds?”

Jones esperou acabar de calçar os seus sapatos de salto alto, para responder à sua melhor amiga.

“Sim.” Então pegou na sua mala castanha e na mochila com a roupa suada. “Vemo-nos em Português, O.”

“Espera, onde é que-.”

Lydia deixou Octavia para trás e, assim, o balneário. Espreitou discretamente para o balneário dos rapazes, mas já estava vazio. Então, procurou-o nos corredores, até finalmente identificar os longos cabelos escuros grudados à cabeça, provavelmente devido ao banho.

E marchou na direção de Ryan.

“Olá, Lydia Jones.”

A ruiva ignorou o cumprimento e prosseguiu o seu caminho, determinada em confrontar o atacante da sua melhor amiga. Afinal, ele merecia pagar pelo que fez a Octavia e se havia uma coisa em que Lydia era boa, era em obter a sua vingança.

A mão forte de Alec agarrou-lhe o braço e puxou-a de encontro ao seu peito.

“Onde pensas que vais?”

“Larga-me!” Ela tentou soltar-se.

“Tu disseste que ias esquecer o assunto.” Mathews lembrou-a.

Lydia percebeu os olhos de todos em sua direção. Ela certamente não iria perder o seu estatuto por causa daquele idiota, nenhum rapaz valia a pena a esse ponto. Principalmente, não Alexander.

“Eu apenas quero ir para a aula, ok?!” Lydia então soltou-se. “Idiota.”

Assim em vez de continuar a marchar em direção a Ryan, a ruiva entrou na sala logo à sua direita que por sorte era mesmo onde ia ter a próxima aula. Surpreendeu-se quando viu Malia já sentada no seu lugar, com os livros abertos.

“Ei, Mal.” Lydia aproximou-se da sua amiga. “Está tudo bem?”

Quando Malia a olhou, a ruiva notou rapidamente as grandes manchas vermelhas em volta dos olhos castanhos da sua amiga. Ela tinha estado a chorar, e de repente Lydia sentiu-se a pior amiga à face da terra, pois ela estava a preocupar-se sobre uma coisa que podia ser, muito bem, apenas mais um dos grandes sarilhos de Octavia.

“O que aconteceu?” Lydia puxou uma cadeira e sentou-se. “Mal?”

“Eu não sei em quem confiar, Lyds.” A sua amiga fungou. “Sinto que todos me vão julgar. Ainda para mais nós, certo? Sendo populares.”

“Ser popular não implica que não tenhas problemas, Malia.”

“Olha quem fala, ah.” Mal forçou uma risada. “Quem é mais perfeito do que a Lydia Jones? A menina de ouro, certo.”

A ruiva baixou a cabeça.
Perfeita? Lydia? Oh, se apenas Malia soubesse o quão longe Lydia estava de ser perfeita. Ela tinha problemas como todos os outros. Ela tinha um passado e segredos que queria guardar, como qualquer pessoa.

Eu não sou nem um pouco perfeita, Jones percebeu. No fundo, Alec estava certo, ela era apenas uma grande farsa. Algumas vezes a máscara estava tão presa que Lydia tinha dificuldades em lembrar-se o que estava por baixo dela.

“Podes contar-me. Não te vou julgar, Malia.” A ruiva encorajou.

“É sobre mim. Eu- Eu acho que há algo de errado comigo.” Mal soluçou. “Eu tentei, sabes. Sair com o Mark e fazer todas as coisas que devemos fazer quando um rapaz está interessado. Mas-.”

“Ei, está tudo bem, Mal.” Lydia agarrou-lhe uma das mãos trêmulas. “Tudo bem.”

“Não!” A outra puxou a sua mão bruscamente. “Não está tudo bem, Lydia!! Não está tudo bem! Eu gosto da Amber, ok? Não é suposto e- e é errado e-.”

“Para, Malia! Não há nada de errado contigo, ok? Nada.” Jones conseguiu a atenção da sua amiga. “A vida não é um grande sistema de equações, ok? Não há respostas erradas. Se tu gostas da Amber então faz algo sobre isso, convida-a para sair, o que quiseres, mas não digas que há algo de errado contigo, Mal. Porque não há.”

A campainha soou. A porta rapidamente se abriu e deixou entrar toda a turma, o professor sendo o último a entrar.  Ambas as raparigas quebraram o contacto visual e Lydia levou a cadeira de volta para o lugar.

“Bem, hoje vamos falar sobre os Lusíadas.”

No dia seguinte, quando Lydia entrou na escola, todos os olhares estavam nela. Ela estranhou, e olhou à volta. As paredes estavam cobertas de papéis, e com um olhar mais cuidadoso percebeu que se tratava de uma fotografia. Era a ruiva, a servir refeições aos pobres.

“Mentirosa.”

“Olha só a menina malvada não é assim tão malvada.”

“Tudo o que a fazia popular era isto, o que ela vai fazer agora?”

Lydia travou as lágrimas e dirigiu-se à parede do seu lado direito. Arrancou todas as fotografias em fila, e depois foi até ao outro lado do corredor e fez o mesmo.

Quando acabou, os seus olhos verdes encontraram os de Alec entre a multidão.

“Lydia.” Ele tentou aproximou-se.

“Vais pagar. Eu juro.” Lydia cuspiu-lhe.

E conforme entrou na escola, Jones saiu. Sob o olhar de todos. Ela não se lembrava da última vez que tinha chorado, parecia até não se lembrar como se fazia, mas quando as lágrimas começaram a cair, Lydia percebeu que não era algo que se pudesse esquecer.


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam a gostar! Deixem um comentário ♥



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