Amor Faminto escrita por Kelly


Capítulo 28
Capítulo 27: Olá, Amor




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CAPÍTULO 27

E sem perceber, era Sábado. 
O tempo passa depressa, isso não é um segredo para ninguém, mas ainda continuamos a desejar mais, mais tempo. Sempre achamos que vamos ter mais tempo, é esse um defeito dos humanos, não é mesmo? Querer sempre mais e não dar valor ao que tem. E que horrível defeito esse.

"Porque estou aqui?"

Estava um dia bonito, o sol estava alto, nada de vergonhas, estava no seu auge, a brilhar mais do que nunca. Sempre parece brilhar mais do que no dia anterior, na verdade.

"Estás aqui porque precisas de sair de casa, espairecer." Lily olhou para trás por uns segundos, apenas para continuar a andar depois.

"Uma caminhada era dispensável." Lydia resmungou, "Eu tenho a Sopa dos Pobres."

"Oh vá lá, não é a mesma coisa." A outra revirou os olhos.

"Pois, é melhor." A ruiva devolveu.

Lily parou e voltou-se para poder olhar a rapariga, cruzou os braços e esperou. Lydia olhava-a confusa, sem entender muito bem o que ela pretendia.

"O que queres fazer, então?"

"Eu sei o porquê de eu estar aqui." Jones confessou.

"Ai sabes?" Lily arqueou as sobrancelhas.

"Sim, tu queres falar." A ruiva gesticulou, "Achas que depois de me embebedares em cansaço eu vou falar abertamente contigo, não é isso?"

"Bem," A loira mordeu o lábio, "talvez."

"Lily." Lydia suspirou, controlou-se para não revirar os olhos.

"Eu só não quero que te sintas sozinha. Eu sei o que é isso e é horrível e se eu poder fazer por tu o que nunca ninguém fez por mim..." A Mathews disse-lhe, "eu vou fazê-lo."

"Eu estou ótima!" Ela devolveu.

"Sério? Apenas para, Lyds." Lily pediu, "Sê honesta! Esquece o que é educado ou apropriado e apenas sê sincera e honesta. Eu não estou interessada em que me agrades."

"Eu... Eu não sei o que dizer." Lydia olhou para a cidade, logo abaixo dela, "Eu só sinto tanta... raiva! Tanta."

"Isso é bom, raiva é melhor do que lágrimas, certo?" A loira aproximou-se.

"Mas eu continuo a chorar!" Jones gritou.

A ruiva ajoelhou-se na terra, suspirou para si mesma. Olhou para o lado. Lily pensou que ela estivesse a apreciar a vista de uma outra perspetiva. Depois, percebeu que Lydia estava a chorar. Conseguia senti-la a chorar. A tremer e a chorar. Ela não olhava para cima e, então, Lily colocou os seus braços ao redor de Lydia. Não disse nada. Algumas vezes, um silêncio compreensivo é melhor do que um monte de palavras sem sentido.

Ao contrário da ruiva, Alexander não se permitia chorar. Ele havia se juntado aos seus irmãos numa busca inútil pela cidade, enquanto Robert e o resto do Conselho Vermelho se havia ido reunir com o Conselho Azul. Desta vez, o líder achou melhor que os Mathews ficassem de fora, eram causadores de problemas nas reuniões, o que Alec tinha de admitir ser verdade.

Quando regressaram a casa, não estava vazia. A porta estava aberta, e todos sabiam que os seus pais tinham saído à caça para o jantar, e nunca deixariam a porta aberta. O cheiro delicioso finalmente atacou as narinas dos Mathews, o que despertou os seus sentidos supernaturais. Alexander foi o primeiro a entrar, deu imediatamente pelos corpos no chão, eram pelo menos três, mas o trilho continuava pelo corredor.

"Que raio..."

"Alguém está aqui." Ryan murmurou.

"Ali." Wesley apontou para o trilho de corpos que continuava.

Alec avançou pelo corredor e foi o primeiro a ver a mulher sentada confortavelmente no sofá, uma perna sobre a outra e um copo na sua mão. Ela era exatamente como Lydia havia descrito, cabelo platinado e curtinho, cabedal. Tinha de ser a vampira.

"O que tu queres?" Alexander cerrou os dentes.

"Bem, olá para vocês também."

Ryan passou por Alec e atacou a mulher, em cinco segundos estava no chão. Os seus irmãos arregalaram os olhos, Ryan era o melhor de todos eles e havia sido derrotado, como poderiam esperar derrotá-la.

"Agora que isto está fora do caminho, o que me dizem a uma bebida?" Ela sorriu.

"Nada de bebidas." Mark aproximou-se, "Só falar."

Wes estreitou os olhos, com raiva, "Quem és tu?"

"O que isso importa?" A loira desviou o seu olhar até Alec, "Diz-me, a Lydia já cumpriu a sua parte do acordo?"

"Deixa a Lydia fora disto!" Ele cuspiu.

"Porquê? É muito mais divertido!" A mulher largou uma risada.

"Diz o que queres ou morre, cabra!" Ryan ameaçou.

"Oh, é mesmo. Eu matei a tua pequena Octavia, certo?" Ela humedeceu os lábios, "Eu ainda me lembro do sabor..."

Alexander agarrou o braço de Ryan, impediu-o de se lançar novamente contra a vampira. Ela apenas lhes sorriu.

"O que tu ganhas com tudo isto?!" Alec perguntou.

"Vingança, claro!" A loira disse, óbvia, "Eu já planeava matar a Lydia, mas esperava poder divertir-me um pouco mais antes. Fazer-te sofrer, Alexander, sabes."

"Fazer-me sofrer? O que alguma vez te fiz?" Ele estava confuso, "Eu nem te conheço!"

"Eu entendo." Ela assentiu, "Eu vou-me embora agora."

"Tu não vais a lado nenhum!" Wes rosnou, "Nós vamos matar-te!"

Os Mathews preparavam-se para a atacar, presas de fora, olhos brilhantes, mas acabaram por ficar a encarar um grande nada. A vampira de cabelo platinado havia se evaporado, como se o que tivesse acabado de acontecer não passasse de uma alucinação. Se não fosse pelo olhar dos seus irmãos, igualmente confusos e raivosos, Alexander acreditaria nisso mesmo.

Lydia achava estar a perder a sua cabeça também, pelo menos a maior parte dos dias. Nunca se sabe o género de truques que a mente nos pode pregar, as alucinações tornam-se realidade e sem nos apercebemos vivemos dentro da nossa própria cabeça, enquanto acreditamos estar a viver aquilo que achamos que é a nossa vida.

Lydia pensou estar a enlouquecer quando chegou a sua casa e, novamente, a porta estava aberta. A sua mãe havia a ido substituir na Sopa dos Pobres para que ela pudesse ir na caminhada com a Lily, por isso ela não estava em casa.

"Alexander?" Tentou.

"Tenta outra."

Lydia voltou o olhar para a sala, os seus olhos arregalaram-se quando encararam a mulher sentada na poltrona, um sorriso maquiavélico estava nos seus lábios e com a sua mão direita girava a faca, enterrava-a, assim, no couro.

"Tu." A respiração de Jones ficou ofegante.

"Olá, amor." A vampira levantou-se, num movimente gracioso e procurou aproximar-se, "Eu tenho estado à tua espera."

"Fica. Longe." Lydia recuou, com medo nos seus olhos verdes.

"Não tenhas medo, minha pequena Lydia."

Enquanto piscou os olhos, a mulher havia se deslocado para trás de si, numa velocidade sobre-humana, a sua boca encostada ao seu ouvido. Lydia podia jurar que sentia o sorriso da loira, tentou normalizar a sua respiração, não mostrar que estava aterrorizada, mas estava.

"Eu vou fazê-lo rápido." A vampiro sussurrou.

A loira agarrou a Jones pelos longos cachos vermelhos e empurrou a sua cabeça contra a jarra em cima do balcão da cozinha, ao seu lado. A outra gemeu de dor, então o seu corpo foi lançado contra os armários, acabou por cair, depois, no chão. Sentiu o sabor a sangue na sua boca.

"Para." Lydia tentou.

"Eu vou, depois de te matar." A mulher aproximou-se.

A vampira puxou-a para cima, através do puxão na camisola da ruiva, colocou-a em pé. Lydia lembra-se de ouvir o som de material a rasgar. Os seus olhos verdes encheram-se de água, a dor alastrou-se por todo o seu corpo, mas ela não gritou. Apenas olhou a vampira nos seus olhos escuros, ela sorria.

"Lydia!!"

A mulher olhou para trás e largou a ruiva. O corpo de Lydia caiu, provocou um estrondo. Amelia, antes no hall de entrada, correu para a cozinha. Rapidamente, encontrou a sua filha caída no chão, encharcada em sangue. Ela gritou por ajuda.

"Lydia, por favor!!" Amelia chorou.

Lily aproximou-se, ajoelhou-se ao lado da mãe de Lydia, os seus olhos cheios de água. Lydia ainda estava acordada, gemeu de dor quando se tentou sentar.

"Fica quieta, Lyds." Lily ordenou.

Alexander e Alycia aproximaram-se do corpo, os olhos azuis do rapaz arregalaram-se. Não sabia o que fazer, não se conseguia mexer.

"Ela está a morrer." Alycia disse.

"Ela não vai morrer." Alec cerrou os dentes, "A ambulância está a chegar."

Ambos se ajoelharam, todos se olharam, mas ninguém disse nada. Lydia manteve os olhos entreabertos, entre a consciência e o quer que fosse o outro lado.

"T-Tem de a a-apan-apanhar."

"Eles vão apanhá-la, Lyds. Estão atrás dela." Lily sorriu-lhe.

Lagrimas caíram dos olhos verdes de Lydia. Levou a sua mão ao seu abdómen. Sentiu sangue quente sujar os seus dedos. Os seus olhos fecharam-se, lentamente, perdeu a sua consciência. Amelia chorou sobre o corpo da sua filha, gritou-lhe para que acordasse, assim como Lydia havia feito com Octavia, mas ela nunca abriu os olhos outra vez.

"Eu não acho que ela vá conseguir sobreviver." Alycia murmurou.

"Cala-te!!" Amelia gritou, "SAI!"

"Ela não é imortal, tu sabes, Alec!" A morena olhou para o irmão, "Vais perdê-la um dia!"

"Sim, mas não tem de ser hoje."

Ouviram as sirenes. Dois paramédicos entraram pela casa, acompanhados de dois agentes da PIP, um vampiro e uma humana. Pegaram no corpo de Lydia com cuidado e levaram-na para fora da casa amarela. 
Amelia agarrou-se a Lily, chorava pela sua filha. E Alexander também chorou, para si, enquanto pensava em como aquilo que a sua mãe lhe dizia era verdade. Se não dissermos que amamos as pessoas e elas morrerem, arrependemo-nos disso para o resto da nossa existência. E essa era a verdade, a crua verdade e doía.

Na manhã seguinte, Amelia estava sentada na beira da cama da sua menina. Apenas agarrava a mão dela, não a largou toda a noite, não dormiu. Alec não havia dormido também, limitou-se a observar as duas Jones da porta, ficou em pé toda a noite e não se queixou nem uma vez. Lily também havia ficado no hospital, pelo seu irmão, claro, mas acima de tudo por Lydia. A ruiva era a única amiga que ela tinha em cem anos.

Então, durante a manhã mais pessoas começaram a chegar, a notícia do ataque e da captura da vampira havia se alastrado por toda a cidade. Na verdade, foi o Conselho Azul que comunicou, mas isso não era importa, não agora pelo menos.

"É nossa culpa, não é mesmo?"

Alexander olhou para o seu lado e percebeu a morena que olhava através do vidro para o quarto do hospital do outro lado, Lydia ainda não havia acordado e a sua mãe não a tinha abandonado. Nem uma vez.

"Todas estas mortes. Toda esta miséria que acontece à nossa volta." Alycia balançou a cabeça, "Nós somos os monstros, não é mesmo?"

Ele engoliu em seco. As palavras da sua irmã magoavam-no, porque no fundo ele sabia quem era verdade. Lydia estava naquela cama de hospital por causa dele, porque ele a amava.

"Talvez eu devesse apenas... desaparecer."

"Talvez." Ela olhou-o, com um pequeno sorriso, "Talvez seja pelo melhor."

"Mas-." As palavras de Lily assombraram-no, "E ela? Ela vai ficar devastada se eu me for embora, ela vai-."

"Pelo menos ela vai estar viva." A morena olhou a ruiva adormecida pela janela, "Viva é sempre melhor."

"Nós matámos a vampira, não é suficiente?" Alec disse, em sofrimento.

"Achámos que era suficiente quando matámos a Evelyn, quando capturámos o Ethan..." Ela suspirou, "Mas nunca foi suficiente foi? Os nossos demónios não vão parar, Alexander."

"Eu não consigo fazê-lo, deixá-la." Ele fechou os olhos, "Eu sei que isso é ser egoísta, mas eu não sou capaz. Não é só por ela, é por mim."

"Se deixares a Lydia, isso vai assombrar-te para sempre..., mas nunca te vais perdoar se não o fizeres. Precisas de saber que fizeste o possível para a manter segura, não é mesmo, mano?"

Alycia olhou mais uma vez Lydia, depois o seu irmão, e então afastou-se. Deixou-o sozinho para pensar. Alec sabia que a morena tinha razão, mas Lily tinha razão também. Deixá-la iria salvá-la ou destruí-la? Ele sabia uma coisa: iria destrui-lo a ele.


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