Amor Faminto escrita por Kelly


Capítulo 23
Capítulo 22: Eu, Robert




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LYDIA

Estavam de volta à escola. Lydia continuava exausta, para dizer a verdade. Então, quando se sentou na larga mesa à hora de almoço, não se surpreendeu quando as suas amigas lhe perguntaram o que se passava. Era suposto ela responder de forma honesta ou inventar uma desculpa qualquer para evitar preocupá-las?

"Sério, parece que não dormiste as férias inteiras." Amber comentou.

"É. Tive umas férias em grande." Lydia acabou por assentir.

Octavia olhou-a de relance, sabia que era mentira. Ela tinha passado alguns dias em casa da ruiva, e ela tinha dormido na perfeição.

"Bem, acham que podem ir avisar a Riley que hoje não há treino?" O sorriu para as suas amigas, "É a única que falta avisar."

"Ah... claro." Malia levantou-se.

Amber seguiu-a. E ficaram sentadas à mesa apenas as duas melhores amigas, olharam-se e não foram precisas muitas mais palavras para Octavia perceber que tinha razão, algo tinha acontecido.

"Apanharam-no." Lydia sussurrou-lhe, "O Ethan, o vampiro."

"Sério?" Ela entusiasmou-se, mas então franziu a testa, "Porque pareces tão preocupada, então?"

"Eu não sei o que vai acontecer, O." A ruiva engoliu, "Mas algo mau está por vir."

Um arrepio percorreu a espinha de ambas. Lydia não teve de dizer mais nada para que o coração da morena disparasse. Jones achava-se egoísta por sentir a necessidade de partilhar a angústia que a assombrava, mas tentou lembrar-se que era seu dever avisá-la, prepará-la.

"Meninas."

Atreveram-se a levantar o olhar, era Wesley. Estava acompanhado dos seus irmãos, todos tomaram os seus lugares ao redor da mesa. Alec sentou-se ao lado de Lydia e, ao notar os ombros tensos da rapariga, puxou-a para si para depositar um pequeno beijo nos seus cachos vermelhos.

"Está tudo bem?" Perguntou-lhe, preocupado.

"Não." Octavia respondeu-lhe, em vez da sua melhor amiga.

"O que se passa?" Mark estreitou os olhos.

Ambas se mantiveram em absoluto silêncio, limitaram-se a olhar uma à outra. Procuraram apoio nos olhos uma da outra, esperança.

"Tu contaste-lhe, não foi?" Alec olhou a ruiva.

Ela então levantou a cabeça, "Sim."

"Octavia, tudo se vai resolver, ok?" Ryan inclinou-se sobre a mesa, "Nós vamos resolver isto."

"Não precisas de tentar fazer-me sentir melhor." Cooper cuspiu-lhe.

"O quê?" O rapaz franziu a testa, "Eu preocupo-me e-."

Octavia riu, "Tu o quê?"

"Sim, eu-."

"Tu e eu acabamos, lembraste?" Ela recordou com amargura, "Não em deves nada, Ryan."

Com isso, a melhor amiga da ruiva levantou-se da mesa, empurrou a cadeira com tanta força que ela voltou para trás e acabou no chão. Octavia não voltou para trás para a apanhar, nem se voltou para olhar Ryan mais uma vez.

"O que raio aconteceu?" Wes olhou o seu irmão perplexo.

"Tu ouviste. Nós acabámos." O outro disse-lhe, "Provavelmente magoei-a."

"Sim, talvez." Lydia olhou-o, com um balançar de cabeça.

"Eu não queria, Lyds. Eu fiz o melhor que pude, ok? Ela é uma rapariga espetacular e eu poderia fazer isto resultar, mas não seria justo para ela." Ryan explicou.

"Porquê? Ela gosta de ti." A ruiva devolveu, confusa.

"Bem, porque... eu ainda amo a Iris. E não seria justo para a Octavia estar numa relação em que não é amada como merece, com um rapaz que ama um... fantasma." O Mathews contou, "Algumas vezes temos de deixar as pessoas irem para que sejam felizes, temos de perceber que algumas coisas não são para nós."

"Ryan... lamento." Lydia deu-lhe um sorriso triste.

"Sim, eu também." Ele balançou a cabeça.

Ryan levantou-se também, e deixou os seus irmãos e a rapariga do cabelo vermelho para trás. Assim como Octavia, não se preocupou em olhar para trás.

"Desculpa." Lydia olhou o rapaz ao seu lado, "Por ter contado à Octavia, eu só achei que ela... merecia saber."

"Não faz mal, fizeste bem." Alec acalmou-a, "Hoje chega o Theodore e o Richard e, provavelmente, vão chamar o Robert."

"Sim, e depois devem chegar a um acordo, para poupar a vida do Ethan, e então avisam o Alfie." Mark preveu.

"Eles vão poupar-lhe a vida?" Lydia tentou controlar o pequeno sorriso que se queria abrir na sua face.

"É isso que a Alycia acha." Wesley encolheu os ombros, "Ela percebe dessas coisas."

"A vossa relação com a Alycia é estranha... vocês já a conheciam antes dela ir para o Conselho, certo?" Lydia comentou, curiosa.

Tanto Mark como Wesley desviaram o seu olhar para Alec, olhos procuravam permissão. A ruiva observou a situação com os olhos semicerrados, perguntava-se o que estava a acontecer ali e o que eles tinham haver com a Alycia, afinal. Seria ela outro interesse amoroso do rapaz ao seu lado? Por um breve momento, abelhas assassinas povoaram o seu estômago, talvez fossem ciúmes. De qualquer maneira, Lydia recusava-se a admitir que fosse.

"A Alycia é nossa irmã."

Lydia encarou Alexander com os olhos arregalados. Não sabia que se sentia surpresa ou aliviada, na verdade, um pouco dos dois. Pelo menos, não era uma amada perdida algures entre tantos séculos, isso de alguma forma era mais reconfortante. Afinal, ela era bonita e tinha muitas mais habilidades especiais que Lydia, entre essas, claro, o facto de ser imortal.

"Uou." A ruiva engoliu, "Eu não estava à espera disso. Porque nunca me contaram?"

"Bem, nunca ... calhou em conversa." Mark atrapalhou-se, "E nós meio que a odiávamos."

"O que aconteceu?" Lydia ajeitou-se na cadeira de plástico.

"É uma longa história." Wesley revirou os olhos, "Mas a versão pequena: pensávamos que a Alycia nos tinha trocado pelo Conselho Vermelho, o que afinal era mentira. Ela estava apenas a salvar a pele do Alexander."

"Salvar-te a pele?" Ela arqueou as sobrancelhas para Alec.

"O Conselho Azul queria a minha cabeça por te morto a... Iris." Ele respondeu-lhe, com alguma hesitação.

"Isso foi querido... certo?" Lydia sorriu, tentou aliviar, assim, o ambiente.

"Sim, a Alycia é a nossa irmã mais velha, sente-se obrigada a tudo." Mark concordou.

"Não tenho irmãos, mas gostava." A ruiva confessou.

"Bem, tu tens agora." Wes sorriu-lhe, do outro lado da mesa.

Ela olhou Alexander de relance e ele sorria-lhe também. Todos começaram a rir-se, sem razão aparente. Mas sabia bem, de vez em quando, rir-se sem razão. Aliviava a tensão, o stress. Era preciso, acima de tudo. Se se levasse sempre a vida a sério, ela perdia a piada.

"Eu não sou teu irmão..." Alec então sussurrou-lhe ao ouvido.

Lydia olhou-o e largou uma risada, "Sim. Isso seria estranho."

Jones esqueceu-se do quão exausta estava, dos pesadelos que a tinham assombrava nessa mesma noite. Por alguns minutos, ainda que poucos, não deixaram o peso que carregavam nos ombros impedi-los de viver. E isso era progresso.

ALEXANDER

A escola foi certamente uma coisa boa no dia de hoje, fê-lo esquecer de todos os problemas que o assombravam à noite. Hesitou, quando largou a mão de Lydia, que então arrancou com o carro. Estava com medo de a deixar sozinha. A sua segurança dela era um dos problemas que o assombrava quando fechava os olhos, e quando os tinha abertos, a toda a hora, na verdade.

"Eles já chegaram." Lily desligou o motor.

"Sim." Ele assentiu.

Saíram do carro e apressaram-se para dentro da mansão. Estavam todos na sala principal, e para surpresa de ambos, Robert também estava lá. As coisas tinham-se desenvolvido muito mais rápido do que Alycia tinha calculado.

"Chegaram." Thome olhou os seus filhos.

A expressão de todos os presentes estava o contrário daquilo que Alec havia esperado, pensava que todos estariam aliviados com o facto de terem apanhado o Ethan. Mas até os seus irmãos, também recém-chegados da escola, mantinham um olhar preocupado. Até mesmo Ryan.

"O que se passa?" Lily foi direta.

"Quem deve dar a inesperada notícia?" Robert levantou-se, com um largo sorriso. Parecia irónico, "Talvez eu deva-"

"É o Ethan." Alycia interrompeu-o, "Fomos lá para o ir buscar, quando o Theo e o Rich chegaram. Estava vazio."

"O quê?!" A loira gritou.

Alexander estava dormente, paralisado com o choque. Aquilo significava que a guerra estava mesmo aí, pois alguém o tinha ido buscar. O Ethan não estava em condições de fugir daquela fortaleza sozinha, o que implicava que mais vampiros estivessem na cidade. E, de repente, Alec foi assombrada pela terrível memória de que Ethan sabia onde Lydia morava.

"Não." Ele gemeu.

"Alec, o que foi?" Wes acudi-o.

"Ele sabe onde está a Lydia. Ele sabe onde ela mora."

"A humana, certo." Robert engoliu.

"Temos de avisar o Conselho Azul, Robert. Isto é guerra." Theodore aproximou-se, com preocupação no seu olhar.

"Nós tentamos salvar os nossos, mas estes não merecem todo esse privilégio." Rich recordou-o, "Eles merecem apodrecer por tentarem destruir o que tu tanto trabalhaste para alcançar."

"Eles têm razão." Alycia assentiu.

Robert ergueu o queixo. Olhou os Mathews, um por um, e só então, com uma expressão de angústia, voltou a falar. Olhava, nesse momento, diretamente, os seus velhos amigos, Andrea e Thome Mathews.

"Eu, Robert Carpenter, líder do Conselho Vermelho, retiro a proteção sobre os vampiros que procuram começar uma guerra contra os leais Mathews, no seu território."

"Obrigada, caro amigo." Tom sorriu-lhe.

"Vou passar a palavra ao Alfie. Eles são livres de resolver o assunto como acharem melhor e nós assim o faremos, também." O líder disse-lhes.

Alycia sorriu orgulhosa, a única vez em que se sentira assim por ser membro do Conselho. Primeira vez em que realmente achava que tinham agido de forma correta, na medida certa.

Alexander voltou costas aos presentes na sua sala de estar, rompeu pela porta de vidro. Não levou nenhum carro, foi pelo seu próprio pé. Parou em frente à pequena casa amarela, nem um minuto depois, e procurou os dois corações que deveriam estar a bater dentro de casa. Medo foi injetado nas suas veias quando, para sua preocupação, só ouviu um coração. Claro, podia ser apenas Lydia e a sua mãe ainda estar a trabalhar, mas se a ruiva havia levado o carro para a escola, isso não era verdade.

Entrou nos limites da propriedade e apressou-se a bater na porta branca e por momentos, quando ouviu passos, deixou de respirar. Antes mesmo de a porta lhe ser aberta, Alec já sabia o que esperar, o cheiro era inconfundível.

"Alec?"

Não lhe deu tempo de dizer mais nada, apenas a apertou contra o seu peito. Finalmente, respirou. Sentia-se muito mais que aliviado, sentia que o seu coração tinha sido liberto do aperto que o assombrava desde o momento em que soube que Ethan tinha fugido.

Então, houve espaço suficiente para se olharem.

"O que aconteceu?" Lydia preocupou-se, "Estás bem?"

"Tu estás bem?" Ele devolveu.

"Sim." Ela largou uma risada.

"Sim, estou bem." Alec suspirou, finalmente.

"Liguei-te sem querer? Foi isso não foi? Desculpa estava a arrumar e-."

Mathews agarrou-lhe a face e parou-a. Os grandes olhos verdes arregalaram-se com o gesto, ela estava visivelmente confusa e preocupada.

"Só quero que saibas... Não sou capaz de encontrar palavras para expressar o tamanho do meu alívio ao ver-te aqui, viva." Alexander sorriu-lhe, "Nunca fui tão grato por nada, Lydia Jones."

"Uou, ok." Ela então esticou-se para lhe beijar de leve os lábios.

Quando se voltaram a olhar, ele parecia muito menos desesperado. E ela muito mais feliz.

"E eu que pensava que me tinhas vindo convidar para sair." Lydia revirou os olhos.

"Bem, vamos sair?" Ele arqueou as sobrancelhas.

Jones mordeu o lábio para evitar sorrir que nem uma tola, não foi totalmente convincente. Rapidamente, sem pensar muito, assentiu. Voltou para dentro apenas para ir buscar a sua mala e então juntou-se a Alec. Caminharam até ao café mais próximo, não deram as mãos, nem nada. Mas Mathews não conseguiu parar de olhá-la todo o percurso, apenas queria ter a certeza que ela não era uma miragem, que era real. E que, realmente, Lydia estava viva.

"Sentamo-nos na esplanada?" Ela voltou-se para o olhar.

"Claro."

Tomaram os lugares mais solarengos e pediram um café para cada um, claro que ele não iria apreciar tanto quanto ela. Mas por ela, poderia fingir.

"Então, o que aconteceu?" Lydia perguntou-lhe.

"Não vamos falar disso agora, ok?" Ele pediu-lhe.

"Alec..."

"Eu sei. Eu vou dizer-te. Só... não agora." Mathews prometeu-lhe.

Os seus cafés vieram. Ambos falaram sobre todo o tipo de coisas, desde a escola até às fotografias da Lily, até chegaram a tocar na sua avó. Alec também lhe falou de quando era pequeno, e a sua mãe lhe costumava fazer beber um chá horrível, mas que o ajudava a controlar a dor do crescimento dos caninos. Afinal, ele era um semi-vampiro.

Alexander chegou à conclusão mais difícil da sua vida. Percebeu que estava apaixonado pela Lydia quando ela, a meio da conversa de ambos, se levantou. Aproximou-se de um senhor com alguma idade, que contava as moedas na carteira, e aparentava estar triste. Ele percebeu que estava apaixonado pela Lydia, quando ela agarrou em duas notas e entregou ao senhor esfomeado, fê-lo sorrir. Mas, o facto de ela voltar para a mesa e apenas sorrir e continuar a conversa, como se não tivesse acabado de salvar a vida de alguém, isso foi o que, realmente, fez Alec perceber que estava completamente e irreversivelmente apaixonado pela Lydia Jones.


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