Amor Faminto escrita por Kelly


Capítulo 14
Capítulo 13: Matei-a




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"Hm, bonita."

"Não estamos aqui para falar da beleza dela." Lily interveio.

"Certo." Alycia sorriu.

Lydia manteve o queixo erguido, os seus olhos verdes fixos nos de Richard que a encaravam curiosamente. Ele parecia intrigado.

"O que aconteceu mesmo quando foste atacada?" Ele acabou por perguntar.

"Ah," Jones olhou o namorado de O de relance. "O Ryan salvou-me. Eu tinha sido mordida e-."

"O Ryan?" Ela estreitou os olhos. "Sério?"

"Sim."

"Interessante." Alycia cruzou os braços.

"Acho que terminámos por aqui." Tom aproximou-se.

"Eu não acho que tenhamos."

Com isto, Richard abordou a rapariga dos cabelos vermelhos. Os olhos cor de mel hipnotizaram-na e ela deixou-se levar pelo toque no seu pescoço. Fechou os olhos.

"O que pensas que estás a fazer?" Andrea preocupou-se. "Deixa-a."

"Shh." Ele traçou o penso com os seus dedos. "Pobre rapariga."

"Acho que estás a ultrapassar os limites."

Lydia abriu os olhos com o timbre duro de Alec e encarou-o. Richard imitou-a. Ele tinha acabado de entrar na sala, os seus pais tinham achado melhor deixá-lo nas traseiras com Mark e Wes.

"Alguma coisa a dizer, Alexander?" Alycia sorriu-lhe desafiante.

"Sim," Ryan interveio. "A Lydia é uma convidada. O Richard está a deixá-la desconfortável."

"E?" Ela aproximou-se dele.

"Não queremos que mais ninguém saiba dos últimos ataques, queremos?"

"Ela não vai contar nada." Alycia então olhou a rapariga dos cabelos vermelhos.

"O que te faz pensar isso?" Tom perguntou-lhe. "Se a assustarem-."

"Porque ela está apaixonada." Richard disse-lhes.

Lydia tentou evitar contacto visual com Alec, ela tentou. Quando encontrou os olhos azuis, percebeu que ele também a olhava. Realização refletida nos seus olhos, lembranças.

"O que raio-." Lily tentou argumentar.

"Quem é, querida?" Alycia aproximou-se da rapariga. "Diz-me."

"Ninguém."

"Oh, pensei que fosses melhor a mentir." Ela desiludiu-se. "Vergonha."

"Não estou a mentir." Lydia desafiou-a. "Tenta-me. Ultrapassa os limites e vê o que faço."

"Isso é um ameaça?" Alycia olhou-a irritada. "Oh. Tu não sabes onde te estás a meter."

"Tu não me conheces." Jones aproximou-se. "O Conselho Azul-."

"Ok, chega." Andrea tentou intervir. "Meninas."

"Sei que és apenas uma humana." Ela cuspiu. "Vocês só servem para procriar. Nada mais. Isso é o que tu és. Nada."

Os olhos da rapariga de cabelos vermelhos estreitaram-se, pareciam estar em chamas.

"Estás chateada, é?" Alycia levou-lhe as mãos ao pescoço. "Pobrezinha."

"Chega!"

Alec, na sua velocidade supernatural, puxou a morena para longe de Lydia. Ela olhou-o furiosa e, então, foi parada por Richard.

"Peço mil desculpas." Ele encarou a rapariga. "Foi um prazer conhecer-te, Lydia."

E assim, ele arrastou Alycia para fora da mansão. Não importava muito para onde eles iam, mas que finalmente se tinham ido.

Todos largaram um suspiro.

"O que estavas a pensar?" Alexander voltou-se para Jones. "Suicídio?"

"Eu não fiz nada."

"Tu desafiaste-a!" Ele gritou-lhe. "Ela ia-te matar!"

"Os Conselhos não iriam permitir." Ryan lembrou. "A Alycia não podia. Ela seria morta."

Alec encarou o seu irmão e, nesse preciso momento, todos perceberam que aquele era um assunto para ambos resolverem sozinhos.

"Não sejas duro com ela." Lily murmurou-lhe.

Todos abandonaram a sala de estar e eles estavam finalmente sós.

"Não entendo o que fiz." Ela encolheu os ombros.

"Ela é uma vampira, tem séculos." Alec explicou-lhe. "Ela ter-te-ia morto num piscar de olhos."

"Os Conselhos não-."

"Isso não implica que ela não vá fazer a tua vida num inferno." Ele suspirou.

"O que isso sequer te importa?" Lydia forçou uma risada. "Provavelmente, nada."

"Para, apenas para." Alec pediu-lhe.

"Eu sou apenas uma humana. Tu ouviste-a, "Ela lembrou. "eu sou nada. Afinal é isso que nós humanos somos para vocês, não é, um pedaço de carne. Nada mais."

"Tu não te estás a ouvir." Ele balançou a cabeça. "Tu não entendes. Não és isso para mim."

"Sou tão idiota!" Lydia exaltou-se. "Tu vives do medo. De que alguém te veja como realmente és e, então, afastas as pessoas. Tu continuas a afastar-me!"

Ambos se olharam, em silêncio.

"Ok." Alec sentou-se na poltrona. "Pergunta-me o que quiseres."

Lydia riu forçosamente. Sob o olhar confuso dele, ela cruzou os braços e limitou-se a olhá-lo de volta. Ela não queria toda a sua história, ela só queria que ele a deixasse entrar. Ele não precisava de a proteger, ela não queria nada disso. Jones conseguia tomar conta de si mesma, não era isso que ela queria de Mathews.

"Havia esta rapariga, uma vampira. Ela apareceu do nada no nosso território." Alexander contou. "O nome dela era Evelyn."

Parte de Jones não queria ouvir, ela sabia que o quer que viesse dali não era bom. Nada que tivesse na origem de todos os problemas entre ele e o Ryan podia ser bom.

Mas ela limitou-se a ouvir.

"Eu apaixonei-me por ela e quando começaram a aparecer corpos... Ah... os meus irmãos acusaram-na. E eu não acreditei, não consegui." Ele continuou. "Então, traí-os."

"Alexander..." Lydia murmurou.

"Tu querias saber, então aqui está a verdade." Mathews olhou-a. "Eu tomei o lado da Evelyn e, no fim, eles tinham razão."

Jones percebeu a hesitação dele em continuar a história e quando ela se preparava para o impedir, ele retomou o relato.

"Eu estava cego, eu lutei contra os meus irmãos. Lily tentou chegar até mim, mas era impossível." Alec fungou. "O Ryan acabou por tentar matar a Evelyn e eu vinguei-me. Ela estava com ele, ela nunca o deixava, e eu matei-a."

"Quem, Alexander?" Lydia perguntou com medo.

"A Iris." Ele disse-lhe. "Ela era da família. O Ryan amava-a e eu matei-a."

O silêncio caiu entre eles, ninguém se atreveu a falar. E quando os seus olhares se cruzaram, ambos tinham lágrimas a brotar-lhe dos olhos. Lydia lembrava-se das acusações de Ryan naquela noite no parque e do seu olhar de dor. E de repente, ela deu por si a imaginar o sofrimento dele.

"Isso despertou-me." Alec engoliu em seco. "E eu acabei com a Evelyn."

"O que – o que queres dizer?" A voz dela tremeu.

"Eu matei-a."

Lydia cobriu a sua boca com a sua mão para impedir um soluço de escapar.

Ele manteve-se na mesma posição, apenas escondeu o rosto entre as suas mãos trémulas. Alec soava triste, alto e harmonioso, como um violino, mas agora era como se alguém apenas tivesse cortado as cordas.

"Meu deus," Ela murmurou. "meu deus."

Jones respirou fundo, acalmou-se e, só então, aproximou-se de Alec cautelosamente. Agachou-se à sua frente e envolveu-o num abraço. Procurou abraçá-lo com tanta força que todos os pedaços se encaixariam outra vez, como se nunca tivesse estado quebrado. Mas Lydia sabia que não podia fazer isso, só o agarrar e não desistir dele.

Não ainda.

Depois da revelação, Lydia achou que deveria pedir desculpas à Alycia. Afinal, ela não queria que a sua vida se transformasse num inferno. Já era má apenas da maneira que era, não havia necessidade para complicações.

"Ei, vai correr bem." Lily acalmou-o. "A Alycia nunca a irá magoar."

"Eu devia ter ido com ela."

"O Ryan está com ela. Está tudo bem." Ela disse-lhe com um sorriso.

"Eu contei-lhe." Alec desviou o olhar. "Sobre a Evelyn e a Iris."

Lily abraçou-o de lado e depositou-lhe um beijo no ombro. Ele encostou a sua cabeça à da sua irmã e fechou os olhos por uns momentos.

"Eu disse-te que ela iria entender."

"Não acho que mereça." Ele sussurrou.

"O quê?" Lily levantou o olhar.

"Ela." Alexander engoliu em seco. "Eu não acho que a mereça."

"Alec,"

"Olha para ela, ela é tão perfeita comparada comigo." Ele começou. "E eu não vou comprometer-lhe a vida só porque a quero, certo? Não vou permitir que a atribuam a um vampiro qualquer e eu, certamente, não a vou marcar."

"E que tal a deixares decidir isso?" Lily comentou.

"Não posso." Alec olhou o chão. "Todos temos a nossa cruz. Talvez esta seja a minha, sabes. Querer alguém que não posso ter."

"Tu podes tê-la, mano." Ela lembrou.

"Porque é que ela apenas não me odeia?" Ele pensou. "Eu contei-lhe o que fiz e, ainda assim, ela não se foi embora."

"Porque ela consegue ver que tu és uma boa pessoa." Lily lembrou-o. "Porque tu és."

"Nós somos o que o nosso passado nos faz." Alexander explicou-lhe. "A acumulação de milhares de escolhas diárias. Podemos mudar-nos a nós mesmos, mas não podemos apagar o que fomos."

"Mas podemos esquecer."

Ele preparou-se para lhe responder, mas a porta de vidro interrompeu-os. Ryan e Lydia saíram e ambos tinham um sorriso no rosto.

"Como correu?" Lily perguntou entusiasmada.

"Bem, eu pedi-lhe desculpa. Acho que correu bem." Jones encolheu os ombros. "Pelo menos estou viva."

Alec quis abaná-la e gritar-lhe que aquele não era um assunto para brincar. Alycia era uma vampira a sério, que não tinha qualquer problema em se vingar. Mas depois, todos riram e Alec não conseguiu evitar, juntou-se às gargalhadas.

Esta linda e inteligente rapariga corria perigo de vida, estava a ser perseguida por um vampiro louco qualquer e mesmo assim queria fazer piadas. Esta era de facto uma rapariga especial.

"Bem," Lydia olhou o relógio de pulso. "Tenho de ir para casa."

"Eu levo-te." Alec ofereceu-se.

"Ah..." Ela mordeu o lábio. "A Lily leva-me, se não te importares. Tu também tens de estudar biologia, então..."

"Tudo bem," A loira sorriu-lhe. "Eu levo-te."

Alexander limitou-se a olhá-la.

Estaria ela com medo dele? Afinal, ele tinha acabado de se abrir para ela, contado toda a sua razão de ser e agora ela estava com medo do que ele lhe poderia fazer. Ele era um vampiro, um monstro. Ninguém poderia esquecer isso, nem mesmo Lydia.

"Acho que vou para dentro." Ryan despediu-se. "Vejo-te segunda, Lyds."

"Sim, eu vou andando para o carro." Lily avisou e afastou-se.

E eles foram deixados sós mais uma vez. Limitaram-se a olhar-se intensamente, até que um deles se atrevesse a falar.

"Não é isso." Lydia explicou-lhe. "Mas tu ontem à noite- eu não sei... e tu costumas fazer isso. Afastar-me. E eu não posso ver-te a fazê-lo. Não hoje."

"Eu não vou fazê-lo." Ele assegurou.

"Tu tens de ficar, Alexander." Ela repetiu-se.

"Porquê que parece que tu me estás a afastar?" Alec percebeu.

"Eu não sei." Jones confessou e encolheu os ombros. "Não te culpo por não me perceberes às vezes. Às vezes eu não me percebo a mim mesma."

"Não é assim tão mau, Lydia." Ele balançou a cabeça. "Não tão mau quanto eu."

Ela inclinou a cabeça.

Por alguns segundos Alec viu através dos olhos verdes. E ele viu-se a si mesmo. Só que muito melhor, inteligente e forte do que ele pensava de si próprio. Uma melhor versão de si. E então percebeu o que Lily queria dizer, Alec realmente se esqueceu naqueles pequenos segundos quem ele haveria sido.

"Não digas isso." Suplicou-lhe. "Tu não és mau. Tu és apenas infeliz e isso posso ser curado."

"Eu disse-te," Alexander olhou-a. "o que fiz."

"Eu sei." Jones suspirou, então levantou o olhar. "Não faz mal se o que está por baixo da máscara não é bonito. Eu sabia que não era."

Então, ele lembrou-se.

De todas as razões pelas quais ele se deveria manter longe, que o fizeram ser tão rude a noite passada. E hoje aqui estava, a implorar à ruiva que não o deixasse, que não o afastasse. Como poderia ele ser tão egoísta?

"A Lily está à tua espera." Ele lembrou-a com um pequeno sorriso.

Lydia sorriu-lhe de volta, não pareceu surpresa com o seu término de conversa. Parecia-lhe normal, entre eles era. Sempre deixavam coisas por dizer, por fazer. 

Jones voltou-se costas, e desceu a pequena escadaria. Entrou no carro e a sua irmã arrancou rapidamente. Ele limitou-se a inclinar-se sobre a vedação e a observar o carro desaparecer algures no horizonte.

Largou um suspiro.

"Ela é especial."

Alec voltou-se, "O que queres?"

Alycia sorriu-lhe e pela primeira vez em muitos anos ambos estavam sozinhos. Ela aproximou-se da vedação e olhou-o nos olhos.

"Não faças isso, Alec." Ela pediu-lhe.

"O quê?" Mathews olhou-a confuso.

"Não te apaixones por ela." Alycia disse-lhe. "Acredita em mim, nada de bom vai vir daí."

"Eu não estou apaixonado por ela."

Ela colocou-lhe uma mão no ombro e deu-lhe um sorriso triste.

"Não me faças ter de o fazer, Alec." Murmurou. "O dever está sempre primeiro."

"Eu deixei o meu dever de lado por ti," Alec olhou-a. "lembraste?"

"Não valeu de muito, certo?" Alycia engoliu em seco. "Perdi-a na mesma."

"Eu fiz o melhor que pude." Ele garantiu-lhe.

Ela afastou-se. E começou a caminhar na direção da casa, sob o olhar de Alexander. Então, abriu a porta e voltou-se para o olhar uma última vez.

"Não quero ter de escrever o nome dela naquela lista." E entrou.

Alec tremeu só de imaginar o nome de Lydia Jones na lista.

Lydia pensou que a viagem iria ser silenciosa, mas ela certamente não conhecia Lily. Então, surpreendeu-se quando ela iniciou a conversa.

"O Alec contou-te."

"Sim. Eu-." A rapariga dos cabelos vermelhos engoliu em seco. "Eu lamento. A Iris era como família, certo?"

"Nós éramos melhores amigas, sabes. Mas eu nunca poderia culpar o meu irmão." Lily explicou-lhe. "Só gostava de ter sido eu a matar aquela cabra da Evelyn."

Lydia baixou o olhar e mexeu-se de forma desconfortável no banco.

"Desculpa." Lily olhou-a de relance.

"Tudo bem." Jones humedeceu os lábios. "O Alec... ele afasta-me por causa da Evelyn? Não é por ele ser mau, é por eu poder ser má?"

"O quê?! Não!" A loira riu. "Ele é louco por ti."

"Então o que eu tenho de errado?" Ela olhou-se. "Eu não entendo. Nós beijámo-nos e depois um dia ele chega e apenas... Eu não sei, Lily."

"É mais complicado do que isso." A outra disse-lhe. "Tu não entendes."

"Porque vocês continuam a dizer isso?!" Lydia exaltou-se. "Porque apenas não me dizem?!"

"Ok."

Jones esperou que Lily voltasse a falar, lhe explicasse. Mas quando o silêncio continuou, a ruiva encostou a sua cabeça à janela e deixou-se admirar a vegetação com um olhar triste.

"São os Conselhos." A loira suspirou. "Eles têm uma lista onde colocam três nomes de humanos aleatórios todos os anos e, algumas vezes, pessoas como tu, que precisam de proteção. E depois eles são atribuídos a um vampiro que não tenha companheiro."

"O quê?" Os olhos verdes arregalaram-se. "Como é que eles tomam decisões por nós? Nós -."

"Tu não tens uma escolha." Lily parou-a. "Ninguém tem."

"Oh."

"O Alec só te está a tentar proteger, Lydia." A outra contou-lhe. "Ele recusa-se e sempre se recusará a marcar-te e a outra opção é ires para a lista e seres atribuída a outro vampiro qualquer."

"Então é por isso que o Alfie e a Alycia me quiseram ver." Jones percebeu.

"Se nós apanharmos o vampiro e tudo correr bem... Podes ser livre. Mas não acho que eles vão permitir... Eles precisam de humanos. A outra hipótese é o Alec... apagar-te a memória e-"

"Mas ele não o vai fazer..." Lydia engoliu em seco. "Certo?"

Lily olhou-a de relance por uns segundos.

A pequena possibilidade de o esquecer deixou-a maldisposta. O seu estômago parecia andar aos saltos, e ela teve de se recostar no banco.

"Acho que vou vomitar."

"Lyds." Lily chamou docemente. "Nós vamos encontrar uma solução."

"Mas e se..." Ela fechou os olhos, hesitou. "E se eu me estiver a apaixonar pelo Alexander?"


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