Eu sou a Lenda escrita por Karina Ferreira


Capítulo 12
I-XI Parabatai


Notas iniciais do capítulo

Cap dedicado a Enyla que recomendou a fic *.*
Muito obrigada gatinha



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Emmett respirou fundo quando avistou os portões do castelo ao longe, era realmente curioso que estar longe de Bella significava estar no castelo, já que por tantas vezes precisou ir para longe daquele lugar onde sentia-se em casa.

Antes mesmo que terminasse de chegar aos enormes portões de madeira os guardas, provavelmente o reconhecendo, já abriam o objeto lhe dando boas vindas. Entrou cumprimentando de longe alguns amigos que sorriam em cumplicidade para ele, foi direto para a pequena casa aos fundos dos alojamentos dos soldados

A pequena casa fora exigência de sua mahmen*, a fêmea não suportava ficar longe do companheiro e este não podia se ausentar da presença do rei, já que, além de chefe da guarda real, era também, seu parabatai e estes não podiam separar-se jamais devido ao juramento que faziam

Parabatai tratava-se da união de dois guerreiros que decidiam lutar juntos como parceiros ao longo da vida, o vinculo entre eles ia muito além da vontade de dar a vida um pelo outro, mas também por um juramento feito diante ao anel real perante todo o concelho formado pelos lideres da glymera*. Em tal juramento, os guerreiros prometiam dar a vida um pelo outro, ir onde o outro fosse, morrer onde o outro morresse e ser enterrado onde o outro fosse.

Era extremamente raro encontrar guerreiros parabatais já que o juramento era eterno e poucos nutriam um sentimento tão forte de lealdade e cumplicidade a ponto de desejar fazer o ritual. Caius e Charlie cresceram juntos, sempre foram amigos e um dia antes de entrarem na arena - assim como pede a tradição, pois companheiros parabatais não podem ser consagrados após a arena - fizeram o juramento, ambos, sempre quando falavam do assunto se emocionavam e declaravam não arrependerem-se de o terem feito

— O que faz aqui recruta? – perguntou Caius de maneira dura assim que o vampiro entrou a pequena casa, o macho sentado a mesa da cozinha o olhava em repreensão – Não me diga que desistiu de ser um guarda real?

— Como se eu precisasse passar por aquele treinamento infantil para conseguir ser um guarda real – respondeu com o queixo erguido em mesmo tom superior que o outro e Caius entendeu de imediato o que estava acontecendo e então suspirou em um lamento mudo

— Meu filho – declarou a fêmea de meia idade entrando ao local com emoção na voz, a vampira correu de encontro ao filho o abraçando. Emmett retribuiu o carinho sentindo a sensação gostosa de estar nos braços daquela que lhe dera a vida – O que faz aqui?

— Eu... Estava precisando de um tempo – respondeu envergonhado e o sorriso da vampira logo sumira dando lugar a uma expressão de preocupação. – Hei, está tudo bem, eu estou bem – forçou um sorriso mas sabia que não conseguira convencer a mahmen* com ele

— Estamos precisando de reforços nas torres, você partirá amanhã no primeiro horário – declarou Caius levantando-se e já pegando a espada repousada próxima a saída da casa, estava na hora de reassumir seu posto ao lado do rei

— Eu pensei em ficar aqui – afirmou Emmett, não queria se isolar nas torres

— Você pensou errado – disse autoritário – O castelo não é tão longe assim do instituto, você irá para as torres, e isso é decisão tomada – Emmett crispou os olhos e fechou as mãos em punho

— Vou preparar um banho para você meu filho, e fazer bolo de nozes, ainda é o seu preferido certo? – colocou a vampira chamando a atenção do filho para si – Meu hellren*, o seu parabatai ainda não o está reclamando para si? – olhou sugestiva o marido, indicando que ele deveria ir, o macho negou com a cabeça e saiu sem nada dizer, em seu interior o desejo de por um fim aquele martírio. Jamais arrependera-se de ter se unido em juramento a Charlie, mas arrependia-se de ter trazido Emmett ao convívio da princesa, seja lá o que cercava aquela vampira, afetava muito forte seu garoto

...

Isabella entrou no ginásio encontrando o humano dando socos ritmados no saco de areia, Edward estava concentrado no que fazia e a vampira ficou alguns segundos parada olhando as costas desnudas do outro se movimentando enquanto ele se balançava de um lado a outro, até que se aproximou do ringue já enrolando as próprias mãos em faixas, assim como o humano

— É muito fácil lutar contra um saco que não pode se defender – provou fazendo um gesto para que o humano se aproximasse, uma expressão de desafio no rosto. Edward crispou os olhos, mas deixou um sorriso torto escapar por entre os labios fazendo a vampira rir também

Logo ambos se enfrentavam em uma luta corpo a corpo cheia de técnicas de ataque e defesa que para eles eram movimentos tão naturais quanto passos de dança. A empolgação crescia dentro da vampira, a adrenalina subindo por todas as suas veias logo se transoformava em um algo a mais que deixava seus movimentos ainda mais violentos, em sua mente a imagem clara do humano caído ao chão em uma poça de sangue totalmente inconciente, enquanto que ela por cima o acertava socos fortes na têmpora.

Ela podia fazer aquilo, se fosse rápida o bastante podia desnortea-lo a ponto de que o humano nem visse de onde o golpe veio, e então podia distribuir socos em sua têmpora até que estivesse inconciente. A vampira parou no lugar e o humano se conteve em meio a um golpe para não machuca-la quando percebeu que a fêmea não se defenderia

— Algum problema? – a vampira chaqualhou a cabeça tentando colocar os pensamentos no lugar e então saiu dali a passos rápidos deixando um Edward confuso para trás

Precisava se controlar, ela tinha de se controlar, não sabia como mas precisava se controlar. Repetia mentalmente enquanto tentava chegar a seu quarto

— Bella! Aí esta você! – gritou empolgada Alice voando de encontro a vampira que parou no lugar, atrás da fada Jasper andava igualmente empolgado e Isabella se irritou com a animação dos dois
— O que é isso? – perguntou Isabella olhando o envelope prateado que a fada lhe estendia sorrindo

— Um convite, trata-se de um rito de passagem, é comum entre meu povo comemorar o primeiro sio de suas fêmeas, nossa princesa teve seu primeiro sangramento ontem, já é uma mulher e a rainha está oferecendo um luau em comemoração, como o intuito é fortalecer as alianças o que acha de comparecermos a festa? – no fundo o que a pequena fada queria era poder ir a comemoração, mas sabia que não receberia permissão para ausentar-se do treinamento

Isabella olhou desconfiada da fada para o papel

— Eu acho que seria importante comparecer, - começou Jasper – É obvio que o convite só veio por que Alice está entre nós, mas se você comparecer estará mostrando que os vampiros tem respeito pelas tradições das fadas. - Isabella revirou os olhos, não conseguia ver sentido algum naquela comemoração estranha

— Okay, eu vou – o sorriso de Alice se alargou – desde que não precise ir fantasia de princesa – declarou por fim e a fadinha murchou no lugar

— É que a nossa rainha faz questão da presença da princesa, e acredito que vá se sentir desrespeitada caso não vá vestida a rigor – falou a fada em um muchicho

— Nesse caso, então não irei – declarou a vampira retomando seu caminho, já subindo as escadas apressada, Jasper correu atrás da vampira a segurando pelo braço

— Bella pense bem, você é a princesa, nada mais sensato do que se comportar como tal...

— Eu disse que não! – esbravejou empurrando o humano para trás, o loiro rolou as escadas parando aos pés da fada que a olhava de maneira amedrontada. Isabella olhou da fada para o humano ainda ao chão que também a olhava assustado e correu o restante de degraus que faltavam para chegar ao corredor de estatuas

Assim que entrou em seu quarto trancou a porta atrás de si e apanhou a adaga em cima da mesa de cabeceira e correu para o banheiro, com as mãos tremulas cortou o próprio pulso estendido sobre a pia, se estivesse fraca não poderia machucar ninguém, olhou o liquido vermelho escorrer pelo ralo e então encarou o próprio reflexo no espelho, a figura feminina refletida ali a olhava em ódio, como se disse que não tinha poder contra ela e Isabella engoliu em seco ainda olhando fixamente os próprios olhos vermelhos e violentos refletidos no espelho.

...

Emmett estremeceu dentro de seu casaco de pele assim que passou pelo portal. Olhou em volta toda a paisagem embranquecida pela neve até parar seus olhos na enorme torre acinzentada coberta de gelo, no alto da estrutura homens totalmente embrulhados em casacos pesados olhavam atentos para baixo com seus arco e flechas em posição de ataque

O vampiro sabia que todo aquele cuidado era preciso e feito até mesmo quando não estavam sobre ameaça de ataque

— Emmett? – olhou na direção da voz masculina, o sorrido do vampiro se alargou quando viu Garret parado o olhando em um misto de confusão e alegria – O que está fazendo aqui seu grande paspalhão? – perguntou enquanto se aproximava do vampiro o puxando para um abraço saudoso

Garret possuía a pele em um tom claro de castanho, e os cabelos dourados ornavam com os olhos em um tom que sempre fazia Emmett pensar em mel quando o olhava. O vampiro sempre tão comediante era poucos anos mais velho que Emmett, e ambos sempre treinavam juntos durante a infância

— Fiquei sabendo que você não dava conta, vim salvar sua pele – respondeu em igual nivel de zombaria

— Você não estava em treinamento? Oh, pela Virgem, não me diga que foi pego novamente tentando deflorar a princesa – gargalhou jogando a cabeça para trás e Emmett o olhou em uma falsa carranca

— Você sabe que a tenho como a uma irmã

— Sei... Sei... – continuou ainda rindo – Ande, vamos conhecer as guardiãs, você não as quer conhecer? Mas é claro que quer! Todos querem – continuou com o bom humor, e Emmett não sabia de onde o vampiro conseguia tirar tanta animação. – Estamos na torre da guardiã do inverno, ela é uma rabugenta, tão fria quanto a própria estação que rege – confidenciou, odeio esse lugar e todo o gelo dele, bom mesmo é na torre de verão, sol, calor e fêmeas bonitas, a guardiã do verão é linda você precisa ver mas o ahstrux nobsttrum* é o hellren* dela, pense em um asco de macho – contou com voz de repulsa ao lembrar-se do macho enquanto subia as escadas circulares, Emmett apenas ria dos mexiricos do amigo

A shellan* de Garrett morrera enquanto o vampiro ainda era uma criança, nunca se soube o que acontecera já que ainda não a conhecia, simplesmente em um belo dia quando encontrou o amigo pela manhã, Garret estava entristecido, esta foi a única vez que recordava-se de ver o vampiro sem um sorriso no rosto

Quando perguntou o que estava acontecendo o outro disse em um sussurro que sua shellan* havia partido ao fade* naquela noite, assim como todas as pessoas para quem o menino contou, Emmett não acreditou nas palavras precipitadas do garoto, mas este insistira, contara que acordara na calada da noite sentindo o laço que o prendia a outra se rompendo e algo fugindo de dentro de si

Em tal ocasião Bella e Emmett foram os únicos presentes no ritual de luto do jovem vampiro que ainda se quer havia provado sangue. Os três jovens precisaram fugir ao bosque, o mesmo em que anos depois Bella e Emmett tentaram matar seus companheiros, pois como não acreditavam no menino, os pais de Garret não permitiam que fizesse o ritual

Foi Isabella quem, representando um sacerdote, queimou a marca no pulso do jovem em sinal de seu luto, e cortou-lhe os pulsos para que sangrasse pela dor de sua perda, os três jovens entoaram cânticos fúnebres e rezaram para que a alma da vampira fosse bem recebida ao fade*

Mesmo ainda sendo jovem e não ter sua sede de sangue despertada o vampiro adotou as faixas brancas em torno dos pulsos, pescoço e tornozelos para que todos soubessem que sua shellan* não mais se alimentava de suas veias. Quando viram as tais faixas os pais de Garret ficaram enfurecidos, mas o garoto bateu o pé e as usou durante todo aquele ano. A historia toda apenas se confirmou com o passar dos anos, quando o vampiro jamais encontrou uma fêmea com a mesma marca que a sua

Emmett foi tirado de suas lembranças quando adentrou a enorme sala no alto da torre, todos os olhos se voltaram para os dois vampiros recém-chegados, em pé, olhando por uma janela havia uma fêmea loira com expressão melancólica e olhar distante, os cabelos claros desciam lisos até a altura dos seios, na testa, um arranjo prateado e as vestes brancas lhe cobriam todo o corpo

Outras três vampiras estavam ali e utilizavam o mesmo arranjo, diferenciando unicamente da vampira de cabelos castanho cacheados que no centro do seu arranjo havia uma pedra branca em formato esférico que reluzia prendendo a atenção do vampiro que corou quando a vampira sorriu para ele em divertimento

— Não precisa se envergonhar, todos ficam embasbacados quando a vêem pela primeira vez – falou a vampira sentada ao lado da que possuía a joia sorrindo simpática para o vampiro enquanto se aproximava dele – Eu sou Angela, guardiã da primavera – novamente o vampiro se viu hipnotizado, agora pelos olhos em um curioso tom de violeta que brilhavam tanto quanto a joia de quatro almas presa ao arranjo da outra.

Ainda constrangido por sua falta de tato perante as guardiãs Emmett avaliou a vampira em pé próximo a si lhe estendendo a mão, a fêmea com traços juvenis quase que infantis não deveria ter mais do que dezesseis anos, os cabelos negros estavam presos em uma grossa trança que caia por cima de seu ombro até o umbigo e estava todo decorado com flores coloridas a deixando ainda mais infantil, o vestido cumprido mesclava em tons de rosa e verde claro. O vampiro aceitou a mão da vampira depositando um beijo sem jeito nesta e todos riram de seu desconforto

— É agora que você nos diz seu nome – continuou a vampira enquanto o macho se colocava de pé avaliando o braço exposto da fêmea, onde inúmeras linhas finas e claras, - tais como cicatrizes - formavam símbolos interligados subindo por todo o braço da fêmea a partir da ponta dos dedos

— Emmett – respondeu novamente hipnotizado pelos olhos da vampira

— É um prazer conhece-lo Emmett, vou lhe apresentar minhas irmãs, esta é Jessica guardiã do outono– apontou para a vampira que possuía a joia que fez um aceno com a cabeça para ele, e o vampiro reparou que os olhos em um tom escuro de verde também brilhavam – Irina, guardiã do verão – a loira abriu um sorriso caloroso para ele e os olhos dourados também brilhavam – E Kate, guardiã do inverno – completou apontando para a primeira vampira que chamara a atenção do macho quando entrara. A guardiã do inverno parecia muito fisicamente com a guardiã do verão e Emmett supôs que as duas eram as únicas que realmente eram irmãs de sangue ali. A vampira loira apenas o encarou sem nenhum tipo de cumprimento, os olhos desta, assim como o das demais, também brilhavam, mas eram totalmente brancos, apenas uma fina linha negra os contornava distinguindo onde estava a iris e onde estava a pupila

— E estes são nossos ahstrux nobstrum*, Riley, irmão biológico de Jessica, Phury, pahmen* de Kate e Irina, Laurent, hellren* de Irina e Ben – Angela não acrescentou rótulos ao último, mas sua voz mudou de entonação, Emmett olhou o vampiro de pele clara e cabelos pretos parado junto aos demais, e parou confuso olhando as faixas cerimoniais brancas presas aos pontos de alimentação, o vampiro havia perdido a shellan* recentemente

...

Nalla avistou Isabella sentada junto a fonte no centro do jardim do instituto, a vampira estava sentada sobre a mureta arredondada olhando de maneira fixa a água. Nalla aproximou-se da fêmea sentando a seu lado, mas a outra permaneceu em sua pose como se não se importasse com a presença da professora

— Minha princesa, - começou em tom respeitoso – vim rogar-te que olhe para o lado da razão, o convite das fadas é uma oportunidade única para que estabeleça alianças, a sua negativa pode ser vista como prepotência dos vampiros e tornar as fadas nossas inimigas.

Isabella desviou os olhos da agua para a professora, Nalla reparou o quanto a pele da vampira estava ressecada e os lábios levemente embranquecidos, abaixo dos olhos, marcas escuras fazendo com que a vampira aristocrata se perguntasse quando foi a última vez que a princesa se alimentara de sangue

— Sempre tão diplomata não é mesmo Nalla? – começou em tom irônico – Eu cresci escutando falarem de você, a membro da glymera* que recusou a própria casta e família por um escravo – continuou agora com desprezo – a fêmea que teve coragem de ir pessoalmente ao rei pedir a abolição da prática de escravos de sangue

— E não me arrependo um só segundo – respondeu de forma altiva

— Não? Foi renegada pelos seus, banida do convívio com sua família e tudo pelo quê? Um escravo que a despreza - a vampira desfez a pose altiva abaixando os olhos ententrostecida

— Ele não é mais um escravo!

— Ele possui as marcas de escravo nos pulsos e pescoço, não possui? – sorriu de maneira maldosa – Seria tão terrivelmente triste se alguém convencesse o rei de que escravos de sangue são necessários não seria? Imagine a quantidade de vampiros de casta que já perderam os seus companheiros e agora não tem de quem se alimentarem, sim por que ter que pagar por algo de extrema importância a sobrevivência é um absurdo – os olhos de Nalla tremelicaram em temor – Sabe que eu sempre tive uma duvida, se o rei decretar a volta dos escravos de sangue, todos aqueles que possuem as marcas de escravo devem voltar as origens não é mesmo professora? – o sorriso de Isabella abriu-se ainda mais ao ver as lagrimas acumulando-se nos olhos da outra

— Minha princesa...

— Oh, está decidido! Irei ajuda-la, vou pessoalmente pedir ao meu pahmen* que retome a pratica de escravos de sangue, o rei é claro não negara um pedido pessoal da princesa, principalmente quando esta ainda não encontrou seu hellren*, a ama de Zsadist foi misteriosamente assassinada, portanto, o escravo pertence a primeira família*, você pode compra-lo, então o terá somente para si como tanto deseja

— Princesa por favor eu imploro! – rogou em desespero, as lagrimas escorrendo pelos olhos – Faço qualquer coisa, mas não condene meu hellren*

— E então chegamos onde eu queria

...

Emmett sentou-se a mesa de madeira disposta sobre uma tenda onde vários outros vampiros faziam suas refeições, enquanto comia, analisava todos que ali também estavam. Viu a guardiã do verão em uma outra mesa não muito longe de onde estava gargalhando animada, provavelmente de alguma piada que seu ahstrux nobstrum* fazia já que o macho era o único falando naquela conversa

Garret não exagerara ao falar do macho, o vampiro de pele escura e cumpridas tranças amarradas por um elástico atrás da cabeça, de fato aparentava muita arrogância, sempre analisando todos que aproximavam-se de sua Shellan*, ainda que estivesse rindo com a vampira, permanecia em pé, enquanto a fêmea comia, com a espada em punho voltada para baixo em uma postura relaxada volta ou outra olhava em torno como se esperasse que a qualquer momento alguém poderia atacar a vampira e ele precisasse a proteger

Viu a guardiã do outono entrar a tenda com uma criança pequena em seu colo - uma menina supôs o vampiro, já que mantinha os cabelos cumpridos em cachos bagunçados - acompanhada por Riley que assim como Laurent também tinha a espada em mãos e olhava a volta de maneira analítica, e um outro macho de cabelos claros como os da criança,q com quem conversava

A fêmea sentou-se ao lado da guardiã do verão enquanto o macho com quem conversava dirigiu-se aos doggens* já pegando uma bandeja. A criança no colo da fêmea saltou para os braços de Irina que a agitou no ar sorrindo dos gritinhos empolgados da menina. Riley se juntou a Laurent na vigília

Kate foi a terceira guardiã a entrar na tenda, no momento em que a vampira entrou todos se calaram e Emmett viu o sorriso de Irina morrer se transformando em uma expressão melancólica.

A guardiã do Inverno pegou sua refeição com os doggens* e encaminhou-se para a terceira mesa de madeira disposta ali sem falar com ninguém. Phury, um vampiro de meia idade e cablos loiros assim como os das filhas, caminhava o tempo inteiro atrás da vampira, também sem falar com ninguém, se quer cumprimentou os outros dois ahstrix nobstrum* que estavam ali. A vampira sentou-se e iniciou a refeição, Phury permaneceu em pé próximo a ela, assim como os demais, a espada pronta para uma luta e postura ereta olhando de forma dura para todos ali, como se buscasse um traidor entre os demais

— Ela perdeu o Hellren* a alguns anos – Emmett olhou espantado para o lado vendo Angela depositar uma bandeja com alimento ao lado da sua, a vampira sorriu amável para ele enquanto sentava-se. Atrás dela, Ben se instalou em pé próximo a eles, como todos os outros, o vampiro olhava atento tudo em volta – O hellren* de Kate era seu Ahstrux nobstrum*, assim como Laurent é de Irina, ele foi morto por um demônio enquanto fortalecíamos as barreiras dos elementais. – contou em tom baixo – Uma vez por ano precisamos fortalecer as barreiras, elementais não podem atravessa-las, mas sempre encontram uma forma de nos atacar. O pai fez o juramento assim que a cerimônia de luto acabou, Kate nunca mais foi a mesma depois disso – completou melancólica e Emmett deu mais uma olhada na vampira sentada ao fim da tenda e logo voltou a comer

Angela era realmente uma vampira agradável, o tempo todo deixava o macho a vontade contando-lhe as mais variadas historias, o vampiro já sabia que Mike – o vampiro de cabelos claros que conversava com Jessica – era o Hellren* da guardiã do outono, e Anne a filha deles. Riley – irmão de Jessica – sempre reclamava pela vampira somente ter conhecido seu Hellren* após o macho fazer seu juramento, o que os rendia boas historias da troca de farpas entre os dois

Irina e Laurent estavam prestes a oficializarem sua união, o que estava empolgando muito Angela que estava responsável por organizar a cerimonia de união. Cada guardiã tinha sua própria torre, uma afastada da outra e com suas próprias características de acordo com a estação que regiam e Ang – como gostava de ser chamada – sentia falta da sua. A vampira contava histórias de todos, mas pouco falava de si mesma

— E você? – perguntou Emmett olhando divertido para a fêmea quando esta finalmente parecia sem assunto, as bandejas de ambos já haviam sido retiradas

— O que tem eu? – perguntou sorrindo

— Qual a sua historia? – o sorriso da vampira morreu e ela desviou os olhos para a mesa, Ben voltou os olhos para eles aparentando preocupação e Emmett entendeu que tinha feito a pergunta errada – Desculpe, eu...

— Esta tudo bem – a vampira sorriu triste e então retirou a pulseira de pedras rosas que dava inúmeras voltas no pulso e estendeu o braço para que Emmett olhasse. O vampiro engoliu em seco olhando o pulso da adolescente, a pela clara não tinha nenhuma marca alem das finas cicatrizes do rito de transição para guardiã. Ao contrario de quem perdia seus companheiros e tinha a marca queimada, a vampira jamais a teve. Emmett já tinha escutado falar de bebês que nasciam sem marca, mas jamais tinha conhecido um, crianças que nasciam sem marca significava que não viveriam, tais bebês morriam dias, no muito, meses após o nascimento. O vampiro olhou novamente a adolescente perguntando-se como ela ainda estava viva

— Eu sei exatamente o que está pensando – falou recolocando a pulseira de volta ao pulso – acredite eu também me pergunto como ainda estou viva, é o que todos se perguntam, mas ninguém tem a resposta. Quem entende os planos da Virgem não é mesmo? – voltou a sorrir de forma doce. – A historia é essa, nasci sem marca e meus pais não querendo ver o bebê que geraram morrer me entregaram a roda de doação. Misteriosamente eu não morri – fez piada abrindo os braços para que o vampiro tivesse uma melhor visão de si mesma – Mas também nunca fui adotada, todos acreditavam que meus dias estavam contados e não queriam sofrer, mas eu gosto de contrariar sabe? Aos dez anos fui escolhida para ser guardiã, coitadinha, todos falavam, acreditavam que eu não resistiria a transição, e novamente, aqui estou eu, viva! – gargalhou – Eu não tinha ninguém que se importasse comigo bastante o suficiente para se oferecer a ser meu ahstrux nobstrum* durante meu rito – novamente ficou melancólica – Ben tinha acabado de perder sua Shellan* na época e ofereceu se sacrificar por mim – olhou de forma carinhosa para o macho que também a olhou

— Eu não tinha nada a perder – falou o macho em desdém

— Você também não acreditava em mim, pensou que eu morreria durante a transição e achou essa uma boa forma de morrer, caiu do cavalo, está preso a mim para sempre – gargalhou divertida – Você sabia que se uma guardiã morrer seu ahstrux nobstrum* vai junto com ela para o fade*? – perguntou ainda sorrindo e Emmett assentiu olhando o macho que voltava a postura rígida de antes, e Emmett se deu conta que mesmo após anos, o vampiro ainda mantinha as faixas brancas em sinal de seu luto

...

Jasper saiu do quarto ao mesmo tempo em que Edward, o loiro olhou o amigo com um enorme sorriso nos lábios, ao contrario do loiro o ruivo parecia pouco satisfeito com a ida ao reino das fadas

— Ânimo homem! É uma festa! – gritou empolgado subindo nas costas do outro que parou no lugar esperando que ele descesse – Por todos os deuses, você pode me dizer por que diabos não está animado?

— Vamos ser guarda costas da vampira de novo – reclamou rabugento – da ultima vez fui obrigado a duelar com um Nymph – os dois voltaram a andar pelo corredor

— Somos convidados – corrigiu Jasper

— Convidados tem o direito de escolher não ir – retrucou. Mais alguns passos no corredor e a porta do quarto de Isabella se abriu e a vampira saiu de dentro tão sorridente quanto o loiro. Jasper a olhou de cima abaixo avaliando o vestido simples que a vampira usava, o tecido fino em tom lilás descia a altura dos pés e uma enorme fenda deixava as costas da vampira a mostra, os cabelos ondulados estavam soltos. Nas mãos, a bolsa de flechas e o arco que logo foram colocados nas costas

— Eu pensei que teríamos uma princesa participando do luau das fadas – falou Jasper aparentando confusão

— E teremos – respondeu Bella sorrindo ainda mais, e então fez sinal para que alguém saísse do quarto, os olhos de Jasper quase saltaram para fora quando viu Nalla saindo de dentro do quarto vestida em uma túnica de tecido leve e esvoaçante que descia solto até os pés e arrastava atrás da fêmea conforme andava, o tom azul claro com bordados em fios de ouro ornando perfeitamente com os olhos de safira da vampira, os cabelos negros da professora também estavam soltos, no alto da cabeça a tiara prateada ornamentada com rubis vermelhos parecia realmente pertencer a vampira aristocrata tão delicada

Continua...


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Notas finais do capítulo

Glossário do Antigo Idioma:
Mahmen: mãe
Pahmen: pai
Glymera: Aristocracia dos vampiros
Hellren: companheiro
Shellan: companheira
Fade: reino atemporal onde os mortos reunem-se com seus antepassados
Primeira familia: família real
Doggem: servo
Ahstrux nobstrum: Segurança particular com proesas para matar

Oieeee eu estou tão, mais tão feliz hj. Cap passado teve um monte de comentários :D, a ficou ganhou uma recomendação, chegaram novas leitoras e as amadinhas comentaram tbm... É tanta alegria que não cabe em mim
Pra quem lê O Estranho no Sótão, eu sei que estou devendo cap lá e até o FDS sai o cap, mas eu estava tão feliz com Eu Sou a Lenda que precisava postar logo aqui para agradecer
Muuuuuiiiitoooo obrigada Enyla pela recomendação e muuuuiiitoooo obrigada a todas que estão acompanhando e comentando essa fic que eu amo tanto.
Se mais alguem quiser recomendar eu vou ficar muito feliz de novo ;)
Beijos meninas, nos vemos nos comentarios



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