Apesar da péssima noite, Kate acordou de bom humor. Hoje faria uma sessão de fotos para uma escola infantil e mesmo que não admitisse, ela adorava crianças. Claro, não era bem um tipo de mulher que constumava sonhar com casamento e filhos, mas, também não dispensava a hipótese de formar uma família um dia. Tudo em seu devido tempo, quando achasse a pessoa certa. Sua mãe costumava dizer que o coração sempre sabe quem é, de alguma forma ele sabe. Ela sorriu ao se lembrar da feição de sua mãe quando ela havia dito que seu coração  tinha  defeito, por que até agora não havia se encantado por ninguém, nada além de sua família e sua nova câmera fotográfica a ocupavam.

Levantou um pouco mais cedo, disposta a tomar um belo café, é talvez o líquido ocupe um espacinho em seu coração também, pois o cheiro dele sendo preparado logo pela manhã é algo facilmente de se amar. Beckett mais uma vez sorriu ao pensar no que sua mãe diria se ouvisse tal coisa. "Esse tipo de amor não é o que eu estou dizendo Kate! Não se faça de desentendida!" - Sim seria isso que dona Johanna responderia com a testa franzida e olhos cerrados. "Que ela nunca saiba então." - Kate resmungou sozinha. Encheu com o líquido quente sua caneca e levou para o quarto onde terminava de se arrumar. Entre uma escolha de roupa ou a produção de uma leve maquiagem bebia seu café.

*No loft*

"Querido você está escrevendo desde ontem?"

"Oi? Que horas são?" - Checando o relógio em seu pulso. - "Não acredito que passei a noite escrevendo."

"Faz tempo que não te vejo tão animado assim, o que ou quem devo agradecer por tamanha inspiração?"

"Ha ha ha engraçadinha, só tive uma ideia para uma nova personagem só isso."

"E esqueceu das fotos na escola da Alexis."

"Droga! Me esqueci completamente."

"Sua sorte é que Meredith ligou e perguntou se pode ir no seu lugar."

"Meredith está na cidade? Desde quando?"

"Não sei, e na verdade nem quero a ex esposa é sua. Ah ela está aguardando na linha."

"E só agora você me fala mãe?"

"Não vai mata-la uma pequena espera não é?!" - Martha disse piscando e saindo do escritório, porém voltou a por a cabeça na porta. - "E Richard? Depois me fala a quem devo agradecer." - Disse e saiu sorridente.

Depois de muita insistência Maredith conseguiu que Rick deixasse ela acompanhar Alexis no parque para as fotos da escola, era um projeto de primavera e seria supervisionado pelas professoras também, e se fosse sincero, não queria perder a inspiração causada pela bela fotógrafa que conheceu no dia anterior.

Não sabia explicar a tamanha inspiração que uma mulher lhe havia causado, ele já estava habituado com fotógrafos, repórteres e mulheres bonitas, sim muitas mulheres, mas ela, ela o atraiu de maneira surpreendente a tal modo que o fez passar a noite em claro escrevendo. Sua mãe estava certa, ele deveria mesmo agradecer, há semanas tentava terminar outro capítulo de seu mais novo livro e não conseguia. "Ah de as pessoas soubessem o trabalho que é escrever, mal se anuncia um livro e já precisa estar com outro quase pronto." - Seus pensamentos foram para Gina, sua ex mulher e agente publicitária. Ela sempre dizia que um grande autor nunca para de escrever.

"Falar é fácil dona Gina, quero ver escrever." - Ele disse se espreguiçando e sentindo o peso de ter passado a noite sentado. "Nada que um bom café e um banho não resolva." - Seu corpo dava indícios de cansaço, mas sabia que ainda tinha muito que escrever, afinal sua inspiração ainda estava fresca, fazendo brotar palavras e mais palavras em sua mente. Se tinha algo que ele sabia, era que precisava vê-la novamente e o mais breve possível.

*No parque*

Após longas horas tirando e deletando fotos Kate estava satisfeita com o resultado. As crianças e seus sorrisos eram tão belos que não precisava de muito esforço para que as fotos ficassem boas. Fotografou elas brincando com algumas folhas que havia no chão, alimentando os pássaros e individuais que eram uma lembrança para os pais após um evento da primavera. Diferente de alguns trabalhos, esse era diferente, as crianças são espontâneas e curiosas, então, Kate teve que parar diversas vezes, as vezes apenas para explicar pela milésima vez como ela tirava a foto, onde ela via eles e para alguns o porquê tinham que sorrir e não podiam correr. Pergunta que a fez sorrir pela inocência deles.
Quando estava quase indo embora, de longe viu uma das crianças e ela parecia estar sozinha. Ela olhou em volta e o parque apesar de não ser tão tarde estava vazio.

"Oi lindinha, o que faz aí sozinha?"- Kate disse ao ver uma linda menininha sentada de baixo de uma árvore cabisbaixa.

"Eu... É... Nada." - Ela disse um tanto tímida.

"Posso me sentar aqui?"

"Pode." - A pequena de olhos azuis á olhou desconfiada.

"Me chamo Kate, pode me dizer seu nome?"

"Alexis! Você é a fotógrafa não é?"

Kate olhou para baixo em direção onde sua câmera estava pendurada. - "É acho que câmera me entregou." - Ela sorriu tirando a máquina do pescoço. - "Alexis é um belo nome."

"Obrigada... Kate também é."

"Então, agora pode me dizer por que está aqui sozinha?"

"Acho que minha mãe me esqueceu." - A pequena disse arastando um pequeno graveto no gramado.

"Como te esqueceu? Você sabe o endereço da sua casa?"

"Ela estava comigo, daí o telefone dela tocou e ela foi embora."

Kate mal podia acreditar no que estava ouvindo. Que tipo de mãe esqueceria sua filha em um parque? - "E sua casa, você sabe chegar lá?"

"Sei, papai fez com que eu decorasse o endereço, caso algo acontece e eu precisasse chegar em casa."

"Inteligente seu pai, vem querida, vou levar você para casa."

"Faria isso Kate?"

"Claro meu bem, vem, vamos pegar um táxi."

Percebendo que a menina estava um pouco incomodada Beckett perguntou. "Algo errado Alexis?"

"É...É  que o papai me disse que eu não deveria andar com estranhos."

"E sabe, seu pai tem toda razão, já sei. " -tirando do seu bolso . " pega, aqui." - Ela esticou para a pequena seu crachá de identificação que usou na sessão fotográfica para escola. "Agora você tem aí meu telefone e meu nome completo, o que acha?" - Tentou ganhar a confiança da garotinha, afinal ela não podia deixar ela sozinha em um parque. 

Olhando em volta vendo o parque vazio e sentindo o esfriar do entardecer a pequena disse segurando o crachá. - "Bom, acho que você já não é estranha não é?"

"Esse pode ser nosso segredinho o que acha?"

"Unhum." - A menina segurou a mão da fotógrafa e após pegar seu equipamento foram em busca de um táxi.

*No loft*

"Alexis já devia ter chegado você não acha?"

"Calma querido, vai ver Meredith a levou para um lanche."

"Não sei, tenho um pressentimento ruim."

"Richard meu filho isso é coisa de mulher."

"Não senhora, é coisa de pai. Pai que se importa e não confia nem um pouco na mãe dela."

"Falando nela." - Martha disse sentada no sofá que ficava em frente a porta, observando a mulher entrar.

"Meredith? Cadê a Alexis? Como entrou?" - Castle disse vindo apressadamente em direção a ruiva.

"Ué, na escola eu presumo. E eu ainda tenho a chave "

"Na escola? O bilhete dizia que as crianças voltariam com os pais para casa." - Ele disse já pegando o telefone e ligando na escola.

"Não acredito que você deixou minha neta lá?" - Martha disse se levantando.

"Ela deve estar com a professora, eu precisei sair…" - Ela foi interrompida com o Castle levantando a mão fazendo um sinal pedindo que ficasse quieta.

"Oi aqui é Richard Castle, pai da Alexis. Ouve um mal entendido gostaria de avisar que já estou indo buscá-la " - Ouve alguma resposta ao telefone, resposta essa que o fez sentar pálido no braço do sofá. "Como assim não está aí? ... Não, a mãe dela não é bem um exemplo... ok obrigada."

Ele desligou o telefone e praticamente jogou o aparelho, correu para o escritório de onde voltou com as chaves e o documento.

"Richard o que houve? Onde está Alexis?"

"Não sei mãe, a secretaria da escola disse que as crianças ficaram com os pais e não viram a Alexis , presumiram que ela estivesse com a mãe."

"Onde você vai?"

"Buscar minha filha Meredith e torça para nada ter acontecido á ela ou eu não responderei por mim."

Quando estava abrindo a porta teve uma grande surpresa. Kate estava com uma das mãos levantada para bater na porta enquanto segurava Alexis adormecida no braço.

"Castle?"

"Ai meu Deus... ainda bem, graças a Deus você a encontrou." - Ele pegou a menina dos braços da fotógrafa. - "Entre, por favor."

"Alexis! Own!" - Martha disse ao ver a moça adentrando o loft.

"Viu ela estava com a fotógrafa." - Meredith disse irritando o escritor.

"Meredith acho melhor você ir. Conversamos mais tarde, agora não será um bom momento."

"Me dê ela aqui querido, vou por ela na cama." - Martha pegou a menina e subiu para o segundo andar do loft, se fizesse o que queria, provavelmente estrangularia a mãe de sua neta.

Meredith pegou sua bolsa e passou esbarrando em Kate batendo à porta ao sair.

"Me desculpe por isso, eu nem agradeci você, sente-se vou pegar algo para você beber."

"Não, obrigada! O taxista está me esperando."

"Obrigada Kate, é Kate não é?"

Kate levou alguns segundos para responder, o fato dele lembrar o nome dela á deixou sem palavras.

"Sim, não foi nada eu estava arrumando o equipamento para ir embora quando á vi sentada sozinha."

"Bom, nem preciso dizer que a mãe dela é uma irresponsável não é?! Como você  chegou aqui ?"

"Alexis disse que você a fez decorar e ela repetiu tantas vezes que até eu decorei." - Ela disse fazendo o escritor sorrir. - "Bom, agora que esta tudo bem, eu preciso ir."

"Me deixe te pagar o táxi? Um jantar? Meu Deus você trouxe meu bebê para casa."

Meu bebê? Por que derrepente ele parecia não ser o famoso Castle playboy das revistas? - "Não precisa mesmo Castle, fico feliz em ajudar e bom que ela sabia chegar aqui."

"Faço questão Kate. Deus sabe o que podia ter acontecido se você não tivesse achado ela."

"Está bem, mas preciso ir mesmo."

"Eu te acompanho."

Desceram em silêncio no elevador, Castle parecia perdido em seus próprios pensamentos. Foi realmente muita sorte ela encontrar a pequena e ela saber onde morava. As ruas de NY podem ser muito perigosas para uma criança da idade de Alexis. Mas para Kate foi uma enorme coincidência ela ser filha logo do homem que roubou longas horas de sua noite.
Na portaria do prédio foi Castle quem quebrou o silêncio. "Obrigado Kate, eu acho que nem todo meu dinheiro seria suficiente para agradecer."

"Que isso Castle, não quero seu dinheiro. Fico feliz que tudo terminou bem, só não deixe ela sair com pessoas assim mais."

"Nem precisa falar."

Enquanto Kate se despedia do simpático porteiro, Rick foi na frente e entregou uma quantia de dinheiro ao motorista do táxi que Kate jurava que pagaria para ela andar pela cidade toda.

"Castle eu disse que não era preciso."

"É o mínimo que posso fazer Kate, mas ainda te devo um jantar, que espero poder pagar."

Antes que ela pudesse responder ele a surpreendeu com um abraço caloroso. - "Obrigado mesmo, Alexis é tudo para mim." - Ele disse em seu ouvido.

Ainda nervosa com o contato e tudo  o que sentio ao estar perto dele, Kate apenas sorriu e se despediu entrando no carro. Mesmo que não olhasse para trás podia jurar que podia vê-lo em pé com o mais belo sorriso e os incríveis olhos azuis. Um jantar com Richard Castle talvez não fosse uma má ideia. Seria algo a se pensar, ela mal podia guardar o sorriso que estava em seus lábios. Quem diria que um dia normal acabaria com ela ajudando uma linda criança a voltar para casa e que essa criança fosse Alexis Castle. Apesar de que pensando bem, os olhos azuis da garotinha eram herança de seu pai… Continuou até chegar em seu apartamento presa em seus pensamentos. Hoje poderia ter sido um dia qualquer se não fosse o fato dela estar com o cheiro do perfume de Castle preso em seu casaco. 

Continua ....