(NOVO LINK! Leia as notas da história!) escrita por Acquarelle


Capítulo 9
CAPÍTULO 2, Epi.4: A tristeza que senti em sua voz


Notas iniciais do capítulo

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❣ ATUALIZAÇÃO: 16/06/2017
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Este "capítulo" já passou por 1 edição.

Antes de mais nada, MIL DESCULPAS pela demora - e também pela quantidade de palavras. Acabei passando por um bloqueio criativo que me impedia de trabalhar nas quatro coisas que gosto (escrever, desenhar, cozinhar e pixelar). Eu fiquei uns 3~4 dias fazendo nada por conta disso. Para minha sorte, ainda bem que passou rápido.

E sobre a quantidade de palavras, bem... A maioria é diálogo, eu juro! ♥



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— …?!

— O fragmento… desapareceu?!

A voz de Ribbon soou estranhamente surpresa.

Rashidi parecia nervoso com o que presenciou.

A culpa não tinha sido de sua runa, afinal.

— O que você fez com ele?

— E-eu…

A sereia gaguejava, ainda surpresa com o ocorrido.

Diante daquela situação, Ayase só pensava em se defender.

— Eu não fiz nada!! Eu só… segurei ele.

O olhar do vesper estava fixo na garota, visivelmente nervosa.

— Você destruiu o fragmento!

— Mas... eu só toquei nele!!

— Assuma sua responsabilidade!

Àquela altura, a pele de Rashidi já ganhava o tom avermelhado de sempre.

Ayase estava cada vez mais acuada com os gritos do rapaz, o que deixava a serpente marinha irritada. O clima de tensão se fazia presente no ar, e tanto Rashidi quanto Ryuuki pareciam nervosos o bastante para destruir um ao outro.

Void finalmente se manifestou, fazendo todos os olhares se voltarem para ele.

— Para nossa sorte, parece que meu palpite estava certo...

— …?!

Ele forçou um pigarro enquanto colocava seus pensamentos em ordem.

— Não é que ela tenha destruído o aglomerado. Ela apenas o absorveu.

— O que quer dizer com isso? Ela é uma esponja do mar agora?!

Rashidi arqueou uma sobrancelha, confuso com a explicação de Void.

O outro revirou os olhos, mas o elmo escondeu aquela expressão.

Void apenas continuou, ignorando a pergunta idiota de Rashidi.

— Ribbon, você pode checar se o fragmento que você detectou antes está mais forte ou mais instável? Qualquer tipo de alteração, por mínima que seja.

A inteligência artificial nem sequer contestou o rapaz, fazendo uma rápida análise.

— Alteração. Parece que a concentração dele está aproximadamente 10% mais forte.

— Tudo isso?! Incrível…!!

A julgar pelo tom de voz abafado por seu elmo, Void parecia surpreso.

Antes mesmo de ser bombardeado com perguntas, o rapaz tentou explicar.

— De alguma maneira, a senhorita Ayase está absorvendo a energia dos aglomerados. Quando isso acontece, como eles não precisam mais de uma forma física, os cristais se desintegram. É por isso que os escâneres da Ribbon detectam a energia de um aglomerado, mas a runa não consegue detectar a sua forma física.

— M-mas eu não queria fazer isso…

Ayase ainda estava acuada, e sua voz soou como um sussurro.

Ela não compreendia como as coisas estavam daquela maneira.

— Suponho que seja uma ação involuntária ou inconsciente, mas ainda é estranho que você não sinta nenhum efeito colateral. Os aglomerados são como veneno sólido. Mesmo o Rashidi não consegue tocá-los sem se machucar.

Void sequer teve tempo para refletir, pois Rashidi o interrompeu.

— Mais importante do que isso: o que faremos agora?

— Até que a Dama Branca entre em contato, teremos que levar a Ayase conosco. Claro que o mediador virá também... apesar de eu não saber onde encontraremos espaço na nave para colocar ele.

Void esperava alguma objeção de Ayase ou de Ryuuki.

Ao contrário do que ele pensava, quem reclamou foi Rashidi.

— Sério que vou ter que viajar com mais dois desconhecidos?!

— E o que você sugere, Vesper? Que deixemos alguém que absorve os aglomerados aqui, no meio do nada? Pense bem no que pode acontecer se os seus inimigos descobrirem que existe alguém com tal capacidade.

— …

O olhar de Rashidi repentinamente se tornou sério.

Ele não queria admitir, mas Void estava certo.

— Além disso, talvez a Ayase encontre um lugar novo para morar.

Ouvir a última frase mexeu com os sentimentos da sereia.

Encontrar um novo planeta para morar soava maravilhoso.

Ela poderia recomeçar as suas aventuras em um lugar que ninguém soubesse de seus poderes, posição social e até mesmo origens. Poderia ajudar criaturas com problemas, explorar novas áreas e até mesmo restaurar a sua antiga coleção de tesouros. Poderia conhecer pessoas novas e experimentar pratos nunca vistos. Ayase nem sequer se lembrava da última vez que tinha feito uma refeição decente, esquecendo até mesmo do sabor dos melhores pratos de Atlansha.

Um recomeço ao lado de Ryuuki seria tudo que ela precisava.

Aquela sensação de euforia logo se transformou em ansiedade.

Lá no fundo, ela sentia como se estivesse traindo cada uma das espécies que se extinguiram junto com o planeta. Ela não deveria ter o direito de uma segunda chance.

Seria como ignorar a morte de seus pais, parentes e serviçais. De todos os moradores de Althum, Sarrhna e Acchri, e das cidades que ela não tinha visitado. Das criaturas que brincavam com ela durante as viagens, e também dos amigos que ela não teve a chance de conhecer. Seria como ignorar as colônias de coral que deveriam estar enfeitando o mar.

Não seria justo viver como se nada tivesse acontecido.

— ...

Ela segurou o pequeno colar de náutilo com força.

A pequena rachadura ainda estava lá, como uma ferida.

— E-eu…

A voz de Ayase estava trêmula, assim como suas mãos.

— Vai ficar tudo bem.

Nas trevas da noite de Atlansha, a voz de Ryuuki parecia abraçá-la.

Ela apenas o encarou silenciosamente com uma expressão apática.

— …

— Mudança são assustadoras, não são? Eu te entendo perfeitamente.

O coração de Ayase parecia pequenininho diante das palavras do dragão-serpente.

— Mas você não precisa ter medo. Eu vou estar com você o tempo todo, milady.

— Ryuu...

Até o momento, a sereia estava se controlando para não chorar, mas ouvir tudo aquilo de Ryuuki fez com que sua frustração preenchesse cada pedacinho de seu corpo.

Ela sentia as suas forças esvaindo com as lágrimas que molhavam o seu rosto.

— V-você vai… ficar comigo?

— Vai ficar tudo bem, eu não vou te deixar sozinha.

Ele abaixou sua cabeça em direção à Ayase, que a abraçou sem pensar duas vezes.

O corpo da sereia era minúsculo em comparação com a verdadeira forma de Ryuuki, e o abraço ficou perdido entre uma das laterais da boca do dragão-serpente.

Ryuuki podia sentir o corpo cansado da sereia pedindo para que ele não saísse dali, e o dragão marinho apenas obedecia ao desejo inconsciente da garota como forma de retribuir a sua gentileza.

Ele estava ligado à Ayase pelas lágrimas das memórias que jamais voltariam.

Aquele abraço parecia interminável, assim como a tristeza que os envolvia.

Void apenas permanecia quieto, comovido com toda a situação. Os sentimentos de melancolia pareciam transbordar do inusitado casal, o fazendo sentir uma ponta de frustração por estar presenciando algo tão bonito, mas com uma carga tão negativa.

Era diferente das guerras e massacres que ainda o incomodavam.

Era diferente das mães que choravam por suas crianças mortas.

Era diferente do sangue inocente que regavam terras áridas.

Era apenas diferente.

Como o jardim de rosas azuis que ele encontrou em um campo de batalha.

Como as plantas que insistem em nascer nas terras mais impróprias.

Como a chuva de luzes coloridas que aparecia em seus sonhos.

— Sério…

O murmúrio silencioso do vesper despertou Void de seus pensamentos.

— ...vocês dois poderiam, sei lá, adiantar isso?

A expressão de Rashidi denunciava a sua impaciência.

Para ele, aquilo não passava de sentimentalismo bobo.

— É só uma droga de planeta...

A expressão serena de Ryuuki se transformou em uma aparente negação.

Ele se afastou de Ayase e vagarosamente seguiu em direção à espaçonave.

— Para alguém como você, Atlansha até pode ser apenas mais um planeta, mas…

Antes que pudesse completar a sua frase, a sereia o interrompeu.

— Sim… é só uma droga de planeta.

— …?!

O dragão marinho estava surpreso com a estranha reação da garota, mas apenas a observou em silêncio, tão quieto quanto as águas daquele planeta. Uma expressão diferente estava estampada no rosto da sereia, que mantinha seus olhos fixos em Rashidi.

Enquanto limpava suas lágrimas, Ayase diminuía a distância entre ela e o vesper.

Mas era a minha droga de planeta.

Diferente de Ayase apática e chorosa, sua expressão estava marcada com seriedade.

— Não fale como se você soubesse o que aconteceu!!

Seus lábios tremiam, e a voz soava mais grave e alta que o normal.

Eram como a voz do próprio monstro marinho. Do próprio Ryuuki.

— Sinceramente, peixinha... eu não dou a mínima.

— Isso já estava bem claro para mim, mas se você faz tanta questão de ter o seu ego inflado, irei te agradecer: obrigada por dizer o óbvio.

— Oh, então você–…

Ayase o interrompeu imediatamente.

— Vocês precisam de mim, não é? Que tal pelo menos tentarem ganhar a minha confiança? Eu posso recusar ir com vocês, sabia?! E tenho certeza que nenhum dos três será capaz de me arrastar para essa missão.

O rosto da sereia permanecia corado, mas Rashidi não sabia se era por conta das lágrimas que pareciam inundar ainda mais planeta ou pela raiva nítida na voz da garota.

Aparentemente, ele tinha conseguido irritá-la.

— E o que você sugere, peixinha? Viver em planeta morto até finalmente ser consumida pela insanidade? Pelo amor da deusa, você deveria saber mais do que ninguém que essa é uma oportunidade de ouro. E se você quer saber, eu também não estou nada feliz com a companhia de vocês dois.

No instante seguinte, a voz de Void ecoou nos pensamentos de Rashidi.

Ele recordava cada palavra dita pelo rapaz mais cedo.

“Não estrague tudo dessa vez, Vesper.”

— …

Rashidi soltou um breve suspiro e franziu as sobrancelhas.

— Ah, droga! Apenas se decidam de uma vez!

Ao terminar sua frase, o vesper sai do campo de visão, entrando em outro cômodo.

Pela primeira vez em sua vida, ele decidiu se dar por vencido em uma discussão.

— Para onde ele foi?

— Isso importa? Você fez o Rashidi desistir da discussão.

Void pareceu soltar um risinho, o qual foi abafado por seu elmo.

O rosto de Ayase estava ainda mais corado, e o movimento de suas mãos denunciava o seu estado atual: estava envergonhada por ter agido de maneira tão explosiva.

— E-eu não pretendia…

— É bom para ele esfriar um pouco a cabeça. Antes de virmos para Atlansha, lidamos com um problema meio chato e não tivemos muito tempo para descansar.

— Essas viagens devem ser bem cansativas...

— Sim, elas são. Mas a recompensa vale a pena o esforço.

Recompensa.

Esse era o verdadeiro propósito de estarem arriscando suas vidas.

— Você vai vir com a gente, não é?

A pergunta de Void seguiu por uma pequena pausa.

— Eu sei o quanto deve ser difícil para você acreditar em dois desconhecidos–…

A voz infantil voltou a ser transmitida nos alto-falantes, o interrompendo.

— Três!!! Não se esqueçam de mim!!

— Três, é claro! Me desculpe por te esquecer, Ribbon.

— Você é uma pessoa horrível, Void!

No monitor, uma carinha chorosa parecia estar fazendo drama.

Achando a reação de Ribbon fofa, Ayase não conseguiu segurar o riso.

Porém, ela ainda não estava conformada com toda aquela situação.

Void pareceu ter lido os pensamentos da sereia.

— Eu entendo a sua hesitação.

— …?!

O rosto de Ayase tomou uma expressão curiosa.

O rapaz deu um suspiro e continuou seu discurso.

— No seu lugar, eu também pensaria duas ou três vezes antes de aceitar essa proposta. Estranhos que surgem no meu paraíso silencioso e me dizem para segui-los em uma viagem para o outro lado do universo? Isso é bem assustador.

E mais uma pausa, seguida de uma falsa troca de olhares.

Ao perceber que Ayase não falaria nada, Void insistiu.

— Mas, quando conseguirmos resolver o problema a respeito dos aglomerados, você e seu mediador podem ficar no planeta que quiserem.

Ribbon complementou o discurso de Void com uma voz entusiasmada.

— Existem outros planetas como Atlansha, e do jeito que você tem facilidade para se comunicar, tenho certeza de que você vai se encaixar em qualquer um deles facilmente!!

— E-espero que sim…

Ayase abaixou a cabeça enquanto refletia sobre sua decisão.

Ela observou os grandes olhos dourados e ergueu a sua mão.

— Você vem comigo, não é?

O sorriso gentil que sempre abria o coração de Ryuuki estava lá.

— Eu te acompanharei até o fim, milady.

— Obrigada, Ryuu...

Águas negras tomaram o corpo do monstro marinho, o envolvendo em ondas tão escuras quanto o céu em suas cabeças. Da maneira rápida que se formaram, logo se foram, dando lugar ao corpo diminuto do dragão-serpente, que usava suas grandes barbatanas roxas para se locomover até a garota.

— Ahhhh!!! Você fica bem melhor assim, Ryuu!!

— Eu não consigo impor respeito com essa forma, milady...

— Mas fica tão mais fácil de te abraçar!!

Ao terminar sua frase, ela, de fato, o abraçou.

Ryuuki deixou um riso tímido escapar.

— Se você diz...

Enquanto dava uma última olhada em Atlansha, a tristeza voltou aos olhos de Ayase, os fazendo brilhar com as lágrimas que mais uma vez se formavam.

Ela segurou gentilmente a carapaça de náutilo em seu colar, e enquanto observava cada uma de suas listras, seus pensamentos pareciam lhe levar para longe.

— Então… é hora de dar adeus à Atlansha?

— Acho que sim…

O olhar de Ryuuki estava tão desamparado quanto o da sereia.

Tudo o que ele desejava naquele momento era confortá-la.

— Milady?

— ...

O pequeno dragão-serpente podia sentir a tristeza de sua companheira, afinal, ele a conhecia mais do que qualquer outra pessoa. Quanto mais quieta Ayase ficava, mais distante parecia ficar dele. Aquilo o deixava desconfortável e, acima de tudo, desanimado.

Quando finalmente encontrou palavras para se expressar, ele começou.

— Adeus, Atlansha.

A sereia, porém, continuou a olhar a pequena concha de náutilo.

— Atlansha me acolheu como um lar que nunca tive. Eu tive experiências maravilhosas no tempo que fiquei aqui. Conheci pessoas incríveis e lugares lindos, e até mesmo provei comidas que eu sequer sabia da existência. Foi bem divertido, não foi?

Com o rosto completamente vermelho, Ayase finalmente se virou para ele.

— Foi...?

— Sim.

Ryuuki deu uma pausa, observando os olhos verdes que agora estavam inchados.

— Eu pude conhecer você.

— Ryuu…

— No final, eu não fui capaz de fazer nada. Sinto muito.

— M-mas a culpa não foi sua!!!

O dragão serpente balançou a cabeça negativamente, se mantendo em silêncio.

Ayase o abraçou, fazendo com que as suas lágrimas o molhassem também.

— Obrigada por tudo, Ryuu…!

— Eu que preciso te agradecer.

Void permanecia quieto enquanto observava aquela estranha despedida.

A última coisa que aqueles dois precisavam era de alguém para apressá-los.

Ayase limpou as lágrimas de seu rosto, finalmente tomando sua decisão.

— V-vamos embora.

— Sim, milady.

O rapaz de armadura apenas abriu espaço para os dois passarem.

A sereia mantinha sua expressão triste, e as lágrimas ainda fluíam de seus olhos.

Adeus…

Sua voz saiu tão baixa que a palavra se perdeu no ar úmido do planeta.

Agora, Atlansha não passava das conchas que adornavam os cabelos de Ayase.

Conchas que carregavam cada tristeza, angústia e lágrimas. E também seus sorrisos.


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Notas finais do capítulo

Capítulo 2, parte 4/4. ʕ•̀ω•́ʔ✧

"Capítulo 02: O lamento da princesa do abismo" foi finalmente concluído, mas mas ainda tem muita história pela frente! Muito em breve vocês vão descobrir a primeira parada do nosso mais novo grupinho~! (⺣•̀◡•́⺣)

Obrigada por ler Stellarium~!
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