Pov. Cheryl Blosson

Acho que eu sempre soube que tinha algo de errado comigo, algo de errado no jeito que eu olhava para meu próprio irmão. Cresci sozinha, mesmo na companhia de milhares de babás, empregados e brinquedos, meus pais nunca estavam presentes e Jason sempre foi o único em quem eu confiava, o único que eu amava.

Tinha o hábito horrível de humilhar as pessoas na escola, maltratar as pessoas aliviava a dor que eu sentia constantemente, meus pais não me amavam, mesmo quando eles estavam em casa eu mal os via. Seus olhares estavam sempre em Jason, o garoto e filho perfeito, aquele que herdaria a herança deles. Eu sempre fui a filha problema, a criança que todos suportavam ao invés de gostar, e eu só queria que eles falassem comigo, que gastassem cinco minutos do seu tempo brincando ou me observando, mas eles nunca o fizeram.

Jason entendia, talvez por ser meu irmão gêmeo, ou talvez por estar comigo quase que 100 % do tempo. Ele sabia que eu não era o monstro que as outras crianças pensavam que eu era, ele sabia que eu era mais do que o fantasma que eu demonstrava quando nossos pais estavam em casa.

Eu o amava por tudo isso mais do que devia e do jeito errado. Sempre quis que ele me correspondesse, mas se um dia ele desejou metade das coisas que eu desejava,  Jason nunca demonstrou. Verônica estava certa sobre como eu amava meu irmão, mas não sobre matá-lo, eu nunca seria capaz de fazê-lo por tudo que ele já fez por mim.

Como amigo e irmão, ele sempre esteve ali. Me ajudando a dormir nas piores noites,  nos momentos que eu pensava que não seria capaz de suportar, ele me abraçava forte e ali nos braços dele eu me sentia intocável e invencível. Até mesmo quando eu pensei em fazer coisas horríveis comigo mesma foi ele quem me impediu, me protegeu de mim mesma e agora eu não sei como continuar vivendo. Estou sozinha, meu irmão se foi para sempre, e eu estou presa dentro dessa casa que sempre me encurralou.

Nos primeiros dias já era difícil o suficiente ter que aguentar os comentários maldosos dos meus pais sobre o meu envolvimento na morte de Jason, aparência e personalidade. A cada dia o desejo de me cortar, um vício que eu tinha jurado deixar pra trás anos antes, fica cada vez mais forte.  Não quero me matar, não ainda, mas me cortar sempre me trouxe alívio, algo que parei depois do Jason ter me implorado anos atrás.

Para completar Polly se mudou para nossa casa, juro que tentei relevar a raiva e ciúmes que sempre senti dela, mas não consigo. Olhar pra ela e sua barriga é doloroso demais. Uma eterna lembranças das minhas duas maiores decepções. O dia que percebi que Jason nunca corresponderia meus sentimentos e sua morte. Tentei substituí-lo com Archie, o que também não deu certo, por mais que ele também seja ruivo, não é Jason e nem nunca vai ser.

Tentei até mesmo fazer amigos, outro plano que deu totalmente errado. Se Deus existe mesmo, ele cometeu um erro terrível ao matar meu irmão e me deixar aqui, eu sou a gêmea má e a que deveria ter morrido.

Penso nos últimos acontecimentos, na raiva, na dor, na falta que Jason me faz e me corto. Não quero morrer, não ainda, o alívio é significante a cada corte, minha forma de suportar a dor que tem sido viver ultimamente.

Meu escape que costumava ser Jason agora é essa gilete e o pior é a certeza é que mesmo se alguém descobrir o que eu faço ninguém se importará de verdade. Meus pais ficarão envergonhados e o resto, bem o resto,  no máximo sentirá pena da pobre menina rica, isso se não ficarem felizes pela minha dor.