O Impulso Final escrita por Fujisaki D Nina


Capítulo 1
Invasor Perdido e Sorridente


Notas iniciais do capítulo

Voltei!!
Sim, com mais uma fic KamuSoyo (que de KamuSoyo nem teve tanta coisa já que é só um momento de interação entre eles)
E o próximo capítulo de Dango já tá quase saindo, apenas aguardem!
... Por que eu estou falando isso aqui?
Ah sei lá, mas agradeço a você por estar lendo. Agradeço a você por ter entrado nessa fic, aliás! Nessa história que eu fiz com muito carinho ao ver essa fanart lindinha que usei de capa :3


Sem mais delongas, aproveitem e boa leitura ^^



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Soyo olhava para a lua, para as estrelas, para o céu noturno que se estendia até onde a vista alcançava. Mirava o céu para não ter que ver as cidades logo abaixo.

Seu quarto no palácio era quase como o de uma princesa de conto de fadas – o quarto mais alto da torre mais alta – e de lá ela podia ter uma ampla visão do território de Edo. Não que isso fosse ruim, era uma bela vista, mas havia momentos em que Soyo não conseguia encara-la.

Porque se olhasse, iria começar a pensar nas pessoas que lá viviam e sonhar em como seria a sua vida se fosse apenas mais uma garota comum. Ela não reclamava de sua vida, tinha tudo do bom e do melhor, e seu irmão e seu Jiya lhe davam todo o amor de que precisava. Então por que, ainda sim, almejava tanto a liberdade que as pessoas comuns tinham?

Soyo nasceu e passou a vida toda no palácio. Sempre que saía era na companhia de seu irmão e, com ele, os guardas. A situação virava notícia por toda Edo e eles tinham uma escolta para leva-los aos lugares – que geralmente não passavam de eventos chiques onde ela precisava representar o papel da princesa fantoche, mansa e perfeita.

Com os olhos castanhos fixos nas estrelas, ela não conseguia deixar de imaginar o quão grande era o mundo- não, o universo! Bilhões de mundos para conhecer, comidas para se experimentar, amigos para se fazer... E ela presa naquela gaiola.

Soyo suspirou, afastando-se da janela ao notar que, olhando para cima ou para baixo, o desejo de sair um pouco de sua posição de princesa continuava. Seria mentira dizer que nunca havia pensado em sair do palácio por conta própria, fugir por um tempinho. Mas o medo era maior... Para onde ela iria? Como iria se virar? E se a descobrissem e ela ficasse encrencada?

Voltando para o meio de seu quarto, encontrou uma mesa com pratos variados; seu jantar. O pensamento de que comeria sozinha, por seu irmão estar ocupado hoje, só fez com que seu apetite diminuísse. Mas se não comesse nada, Jiya ficaria preocupado...

Disposta a comer nem que fosse três ou quatro sushis, ela ajoelhou-se à mesa e pegou os hashis. Porém, antes que pudesse sequer fazer o agradecimento antes da refeição, sentiu uma presença atrás de si, como se alguém tivesse entrado pela janela.

Tentou se virar, mas uma mão segurou seus braços e a sensação do corpo atrás de si a deixou tensa. Tentou gritar, mas outra mão cobriu sua boca antes que o fizesse. Sentiu-se a si mesma suando frio e o medo correndo por sua espinha. Quem era aquela pessoa? O que faria com ela? O que ela podia fazer naquela situação?!

— Não grite; se mover um musculo, eu te mato. – Uma voz masculina, meio infantil, ameaçou ao pé de seu ouvido. Soyo choramingou; algo naquele tom de voz lhe dizia que ele não estava blefando. – Eu só preciso te fazer uma... Ou melhor, duas perguntas. Está bem? – Os músculos de Soyo pareceram voltar a vida para ela assentir apressadamente. – Vou te soltar agora. Mas não grite. – Ela assentiu mais uma vez.

Sentiu como aos poucos era liberada do aperto do homem – porque só podia ser um homem. Seus pulsos doíam um pouco pela força que ele fizera, mas Soyo mal se importou com isso, finalmente respirando mais aliviada ao se ver livre do agarre daquela pessoa.

Girando lentamente a cabeça, pouco a pouco pôde ver a figura que invadira seu aposento. E a visão a surpreendeu. Era realmente um garoto, talvez seis anos mais velho que ela, os cabelos ruivos – meio rosados – eram presos numa bela trança, e o sorriso que trazia em seu rosto lembrava o de uma criança. As roupas que ele usava tinham um estilo diferente, como se fossem chinesas, e ele carregava uma sombrinha roxa, mesmo estando de noite. O invasor abriu os olhos, revelando um belo e misterioso tom azulado.

Soyo não teve a chance de admira-los muito bem, pois seu olhar ficou nela por um único segundo, antes de desviar levemente para outro ponto.

— Primeira pergunta. – Ele ergueu um dedo, que usou para apontar a mesa cheia de comida. – Você ia comer isso?

Dizer que Soyo estranhou aquela indagação, seria pouco para descrever. Aquele homem havia invadido o palácio e entrado em seu quarto só por causa de uma refeição?! Era muito estranho... Mas se era só isso que ele queria.

Ela afastou-se um pouco para que dar-lhe acesso à mesa e lhe estendeu os hashis. Suas mãos tremiam e Soyo teve que afogar um grito quando ele surrupiou os talheres de sua mão, para atacar a refeição logo depois.

Apesar de ainda assustada, a princesa tinha que admitir que aquela visão a intrigava. O garoto comia como se aquela situação fosse completamente normal... Será que era mesmo só isso que ele queria? Não, ele disse que tinha duas perguntas.

— A... ano... – Sua voz saiu fraca e trêmula, não tendo certeza de como nem se podia dirigir-se àquela pessoa. Os orbes azuis a fitaram, ainda com as bochechas cheias de comida. Aquilo fez uma parte de sua tensão desaparecer; era uma visão graciosa. – E qual a segunda pergunta?

— Ah é. – Ele engoliu o que tinha na boca, mas enfiou mais um bocado de comida antes de responder. – Eu fiquei de me encontrar com a minha tripulação num bar por aqui, mas acabei me perdendo, você sabe onde fica? – Pegou um folheto do bolso e entregou para ela.

Soyo pegou o folheto, mesmo sabendo que não havia chances de que ela soubesse onde ficava o bar. Era exatamente disso que ela estava se queixando antes, para si mesma: a falta de liberdade que tinha para andar por aí e conhecer lugares.

Mas foi observando a propaganda em sua mão, que a ficha caiu:

— Você se perde e acaba invadindo o palácio?!

— Oh, então aqui é um palácio? – apesar de dizer isso, aquela informação não pareceu ter muita relevância para ele, o que só intrigou Soyo ainda mais. – Está explicado porque a comida é tão boa. – E pegou mais um bocado de comida antes de virar-se para ela. – Mas e aí, sabe ou não?

— Desculpe, não conheço o lugar. – Ela pediu, apenada por não conseguir dar uma simples informação. Estendeu o folheto de volta para ele, mas o garoto a ignorou.

— Não importa, eu já consegui uma boa refeição, de qualquer modo. – Ele largou a vasilha de arroz que tinha em mãos e antes de atacar outra, completou: - Eu me encontro com eles na nave mais tarde.

"Nave”? “Tripulação”? Aquelas palavras atraíram a atenção de Soyo.

— Você é um viajante do espaço?

— É, algo como isso. – Respondeu com a boca cheia, sem sequer olhá-la.

O coração da princesa deu um salto de emoção. Ele viajava pelo espaço, com certeza já conhecera muitos mundos, pessoas e coisas que um pássaro engaiolado como ela só poderia sonhar! Quantas aventuras ele teria para contar... Será que poderia contar à ela?

— Me conte sobre suas viagens, por favor!

O garoto parou de comer para mira-la, meio estranhado, mas sem nunca parar de sorrir. Soyo não podia culpa-lo pela surpresa, ela mesma se perguntava o que estava fazendo, pedindo algo como isso para alguém que sequer sabia o nome e que só havia conhecido porque ele era estranho ao ponto de invadir o palácio por estar perdido.

— E por que eu faria isso?

— Po-porque... – Ela pensou rápido numa resposta. – Porque eu te deixei comer a minha comida.

— E? – O tom dele se tornava desafiante, embora o sorriso continuasse inabalável.

— E... e-eu não vou te deixar comer o resto de você não me contar, é por isso!

— Eu te mato.

Um arrepio gélido desceu pelas costas da princesa, mas ela não voltou atrás em sua palavra, continuando a sustentar aquela mirada azul-céu. Ela queria saber mais sobre o mundo e o espaço e agora que tinha a chance, não a desperdiçaria.

— O que custa você me contar? – Questionou, também desafiante. Sua postura fez o garoto arregalar um pouco os olhos, provavelmente não esperava que ela retrucasse mais. – Você me conta e eu te deixo comer quieto, todos saem ganhando.

Ele pareceu analisar pelo que foi um longo minuto, onde Soyo se sentiu tensa como nunca em sua vida e levando um pequeno susto quando ele se pronunciou:

— Feito. – A resposta aliviou-a de imediato. – Mas só porque não sou interessado em matar pessoas fracas.

Soyo não se importou com o insulto – sequer considerou-o um insulto, na verdade –, apenas sentou ao lado dele e ficou a espera das histórias.

Seu invasor risonho contou-lhe muitas coisas, sobre planetas próximos e distantes, sobre monstros e pessoas tão fortes quanto esses monstros, e principalmente sobre suas lutas com essas pessoas; vez ou outra os nomes de alguns de seus companheiros de tripulação – da qual, ela descobriu, ele era o capitão – também eram citados.

A princesa estava maravilhada. Embora ele comentasse mais sobre suas lutas do que qualquer outra coisa, ela conseguia imaginar bem os planetas e as pessoas que lá viviam, e era isso o que mais queria. Ele próprio pareceu gostar de ter uma ouvinte tão interessada.

A sessão de histórias pareceu durar horas e Soyo desejou que nunca tivesse um fim, que aquela noite fosse eterna. E bem lá no fundo, desejava que o garoto não fosse embora. Que ambos ficassem presos naquele momento, até que algo estourasse sua bolha particular.

No entanto, esse estouro veio mais rápido do que ela previa.

Terminando mais uma travessa de comida, ele a pôs de volta na mesa e, como vinha feito até agora, se dispôs a pegar outra. Porém estava tudo vazio.

Quando o garoto parou de falar, Soyo seguiu o olhar dele e surpreendeu-se ao ver que ele havia acabado com tudo que havia na mesa. Seu irmão tinha cancelado o jantar de última hora, então aquilo era para duas pessoas. Não pôde evitar olhar para o tronco de seu inesperado visitante; como ele podia comer tanto e continuar daquele jeito?

— Que pena, acabou. – Ele comentou, antes de sorrir mais uma vez e se levantar. – Bem, eu já vou indo. – Dizendo isso, pegou sua sombrinha que estava esquecida a um lado e começou a rumar para a janela.

Soyo apenas ficou olhando, o queixo caído por ele ter encerrado um assunto tão animado assim porque sim. Ela não queria que acabasse ainda. Queria ouvir mais um pouco. Queria ficar com ele mais um pouco!

Oferecendo a ela um último vislumbre de seu sorriso, o garoto finalizou:

— Obrigado pela comida, princesa. – Antes de pular da janela.

— Espera!

Soyo reencontrou sua voz e seus movimentos tarde demais. Apesar de gritar e correr para segura-lo, quando alcançou a janela, o garoto já havia sumido na noite. Mas as lembranças da conversa que tiveram não se foram com ele.

— Eu que agradeço. – Soyo sorriu, dando um suspiro sonhador enquanto apoiava-se no parapeito da janela.

Sentia um calor agradável em seu peito, enquanto olhava para os céus mais uma vez. Tudo sobre o que havia ouvido e muito mais, estava lá em cima. Será que algum dia ela conseguiria ver?

Riu para si mesma de seus pensamentos inocentes. SE algum dia ela fosse para o espaço, seria igual a ir para qualquer lugar de Edo, com uma escolta e um caminho já planejado. Sendo controlada como a marionete que era.

Sentindo seu ânimo baixar, ela resolveu tirar seus pensamentos do céu. Voltou-os então para a terra, para as cidades que podia avistar dali de onde estava. Ela não fazia tanta questão do espaço, ela não se importaria de só ir até a esquina, desde que pudesse ir sozinha, apenas como a Soyo.

Mas se nem isso conseguia! Porque não tinha coragem. Porque não tinha... não tinha...

As histórias que ouviu há pouco voltaram à sua mente. E ela acabou apertando o parapeito da janela, enchendo-se de raiva e por pouco não soltando um grito. Aquele garoto tinha viajado o universo inteiro, vivido mil perigos e ficando frente a frente com a morte mais de uma vez. Enquanto que ela não conseguia nem sair do palácio!

Querem saber, não mais. Foda-se tudo! Ela iria fazer aquilo!

Correu até seu armário e vasculhou-o até encontrar o kimono mais simples e desgastado que tinha. Não sabia se seria o suficiente para passar despercebida, mas teria que servir. Teria também que usufruir de um momento em que não tivesse nenhum guarda de plantão, mas sendo quem era, essa informação era fácil de conseguir.

Com um sorriso no rosto por seu plano e sem um pingo de fome por ter ficado sem jantar, Soyo se preparou para dormir. Precisava de uma boa noite de sono. Seria só por um dia – afinal ela não queria deixar seu irmão e seu Jiya para sempre –, mas ela agiria como uma criança normal.

No dia seguinte, ela fugiria do palácio.

E tinha de agradeceu a seu invasor perdido e sorridente, pois foi ele quem lhe deu seu impulso final para tomar aquela decisão.


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Notas finais do capítulo

Por hoje é só, pessoal!
Espero que tenham gostado, adicionem aos favoritos e/ou deixem um comentário bonitinho aí em baixo pra eu saber como foi.

Beijos de morango e até!



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