Efeito Marionete escrita por Leh Linhares


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

A fanfic começa com uma carta escrita pela Melissa para o seu agressor: Murilo

Espero que vocês gostem!



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Pov. Melissa

Querido Murilo,

Não entendo porquê ainda estou aqui para início de conversa, batendo na sua porta desesperadamente com lágrimas nos olhos. Preciso te ver, me desculpar, preciso que você diga que me perdoa, que me beije e que me abrace como sempre fez.

Não aguento essa dúvida e as mentiras que estão me dizendo. Meus amigos insistem para que eu me afaste de você, minha família parou de falar comigo quando pela milésima vez te defendi. Você é a única pessoa que tenho, não posso perdê-lo depois de ter abandonado todo o mundo para ficar com você.

Eu não acredito em nenhuma das mentiras que estão me falando de você. Eu não te denunciei, Murilo, eu nunca faria isso. Muito pelo contrário eu nem queria ir até a delegacia, tentei convencer os policiais a retirarem a queixa, mas eles disseram que pelos meus hematomas minha opinião não importava, o processo seria aberto eu querendo ou não.  Ainda não sei quem foi quem fez a denúncia, mas assim que descobrir vou falar com ela.

Não é justo que você seja julgado por uma ação completamente impulsiva. Eu sei que você me ama e nunca me machucaria intencionalmente, nunca passaria dos apertões ocasionais, dos beliscões e dos empurrões, feitos por minha culpa. Eu não deveria ter trago o assunto à tona, sempre soube que quando você está nervoso não consegue se controlar, eu, como uma idiota, fui falar dos meus amigos.

Me perdoe, ok? Nunca mais falarei deles ou de nenhum assunto que te irrite. Só não me deixa sozinha, eu preciso de você, eu te amo!

 Da sua Melly

...

A carta não tem a melhor aparência, a escrevi chorando no meio de um corredor escuro, com medo de algum vizinho me encontrar e me expulsar dali. Esse apartamento costumava ser meu também, morei com ele por um ano, mas agora com tudo isso, ele sequer me deixa entrar.

A luz da cozinha está acesa, sei que ele está em casa, sei que ele ignorou todas as minhas batidas na porta, e isso só me faz chorar ainda mais. Por que ele não pode entender de uma vez que eu não tive nada a ver com isso?

Deixo a carta por de baixo da porta e espero por algum tempo. Uma parte minha quer acreditar na possibilidade dele me perdoar, dele esquecer de tudo isso, de voltarmos a ficar juntos, estou tão confusa. Todos dizem para me afastar dele, a polícia disse que é o ideal, meus amigos e até mesmo minha mãe, que não fala comigo há meses, me ligou para dar conselhos e me chamar para viver com ela enquanto isso.

Todos falam horrores dele para mim, como se ele fosse um monstro, mas ele não é. Eu o conheço melhor que todo mundo, sei que ele não teve a intenção de me machucar, sei que ele me ama mais do que tudo e que quando tudo isso passar ele vai me perdoar.

Continuo sentada ali em silêncio, chorando com uma blusa dele nas minhas mãos, quero sentir o cheiro dele, mais do que isso quero estar perto dele e já que essa é a maior proximidade que eu posso ter, é aqui que eu fico até adormecer e ser acordada por uma das minhas vizinhas.

—  Olá, querida! Quer entrar um pouco? — Nunca realmente tinha conversado com ela, nossa vizinha de porta é bem mais velha. Ísis mora aqui desde antes do Murilo e tem como companhia dois gatos. Murilo costumava fazer piada disso, dizer que se eu um dia o abandonasse seria assim que eu acabaria. Ele costumava rir depois de dizê-lo, mas eu nunca ri, meu medo sempre foi real. Não queria terminar sozinha, não queria perdê-lo.

— Seria ótimo —respondo num murmúrio.

— Por que você não dorme um pouco aqui? — fico me perguntando se ela sabe tudo o que aconteceu.

— Estou bem.  Murilo logo abrirá a porta pra mim, eu só esqueci a chave.

— Querida, você estava dormindo no corredor, descanse um pouco aqui.  Amanhã você pode conversar melhor com ele.  Que tal?

— Parece uma boa ideia.

Eu não penso muito, acabo aceitando dormir lá mais por cansaço do que por qualquer outra coisa, mas ao deitar na cama minha mente viaja nas lembranças. Penso em quando nos conhecemos, em como seus vinte anos a mais que eu me encantaram e como eles sempre me fizeram sentir inferior a ele.

Penso em tudo o que as minhas amigas me diziam, em como muitas vezes ele me humilhava na frente delas, me chamava de burra indiretamente e eu simplesmente abaixava a cabeça. Sempre soube o que ele fazia, mas admitir era difícil demais, então eu preferi me afastar dessas pessoas. Murilo não era assim o tempo todo, a culpa era minha, que sempre o colocava em situações de estresse.

Aos poucos me afastei de todos os amigos que eu tinha, minha defesa incansável e cega as ações do Murilo não era compreendida por quase ninguém e os poucos que compreendiam repetiam constantemente que eu deveria terminar com ele.  

Minha própria família também insistia para que eu desse um fim a esse relacionamento, por isso me mudei. Escolhi ficar ao lado dele, porque na minha cabeça ele era o único que me amava o suficiente para não me abandonar.

Sinto falta dele, do ser carinhoso e amável, que ele sabia ser quando queria. Mesmo sabendo que muito do que ele fez comigo foi errado, não consigo me separar dele, só a ideia me assusta e me machuca.

Não consigo terminar com ele, mas talvez seja hora de ouvir a todos e me afastar por um tempo. Do que adianta passar todas noites num corredor ou dormindo de favor no quarto de hóspedes de uma vizinha? Quando for à hora, Murilo virá falar comigo, me perdoará por tudo e voltaremos a ser felizes juntos deixando tudo isso para trás.

Me viro, buscando uma posição mais confortável, e meu braço doí, me lembrando do porquê isso tudo estar acontecendo. Na madrugada da noite anterior tivemos uma briga, eu comentei sobre um amigo do trabalho e Murilo ficou com ciúmes, um erro totalmente meu, ele sempre foi muito ciumento.

Como em muitas das nossas brigas, essa passou dos limites, gritamos muito um com o outro e Murilo, por estar nervoso, segurou meu braço com muita força me machucando, me beliscou algumas vezes. Se eu não tivesse insistido tanto em brigar, se eu não tivesse dito todas aquelas coisas nada disso teria acontecido, sei disso. A culpa é minha.

Algum dos vizinhos ouviu nossa discussão e chamou a polícia. O inquérito foi aberto e agora estou vivendo esse pesadelo. Murilo está sendo acusado de agressão física, comprovada pelo laudo médico policial, e nós dois fomos obrigados a depor. Ele está correndo o risco de ser preso por minha culpa. As lágrimas que já tinham secado retornam, o que posso fazer para tudo isso sumir?

Com esses pensamentos de desespero eu adormeço. Acordando só no dia seguinte com a luz forte do sol nos meus olhos. Me sinto estranha, nada ainda parece fazer sentido, nenhum dos acontecimentos anteriores pelo menos.

— Como está se sentindo? — perguntou Ísis, quando eu entrei na cozinha.

— Estou bem... — disse sem ter muita certeza.

— Aceita um café? Minha mãe costumava dizer que nada não era capaz de ser curado com uma xícara de cafe.

— Foi você. Você nos denunciou. — eu falei em uma imediata realização. Toda essa bondade não podia estar vindo do nada.

— Não, eu o denunciei. Acompanho a vida de vocês através dessas paredes há meses, não podia mais me manter calada. Talvez você não saiba ainda, mas precisava de ajuda.

— Você não tinha esse direito.

— Talvez você tenha razão, mas ele também não tinha. Isso que vocês viviam não era amor, as paredes são finas, Melissa. Eu ouvi tantas coisas que me horrorizaram, o modo como ele te tratava, como ele te ignorava, como te fazia sentir louca, ás vezes que você gritava de dor...

— Ele não era sempre assim se você ouviu tanto sabe disso.

— Eles nunca são sempre assim. Eu mesma já tive um Murilo na minha vida, talvez até pior que ele, escute quando eu digo, fuja enquanto pode. Esse tipo de comportamento só piora com o tempo, nunca melhora. Se hoje ele foi capaz de te beliscar, sabe se lá o que fará no futuro. Se afasta um pouco de toda essa confusão, seus amigos e família vão te ajudar eu garanto e se não fizerem eu estarei sempre disponível.

— Como assim você já teve um Murilo? — questiono curiosa.

— Me casei muito jovem com um homem que parecia simpático, mas que fazia minha vida um inferno dentro de casa. No início eram só agressões verbais, ele fez com que eu acreditasse que tinha sorte de estar com ele, que todas as agressões eram minha culpa, mas não eram, sempre foram culpa dele. Até o dia que eu quase morri nas mãos dele, porque vesti uma roupa que ele não gostava. - Será que era isso que Murilo fazia comigo? 

— O que aconteceu com ele?

— Ele fugiu, nunca mais o vi, não sei se está morto ou vivo, mas demorei para perceber que a culpa não era minha. Se não fosse minha família e meus amigos não sei o que seria de mim. Procure ajuda, dê um tempo, tudo fará sentido mais tarde. 

Ainda perdida eu vou embora decidida á ficar um tempo na casa dos meus pais e a reconquistar meus amigos. Dar o tempo que Ísis recomendou e até procurar ajuda psicológica como foi recomendado na delegacia.

Ainda sinto falta do Murilo, mas não é como se ele estivesse disposto a falar comigo, o melhor que eu posso fazer agora é tentar compreender a situação, superá-la e seguir em frente. Sabendo que essa experiência me marcará para sempre.


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Notas finais do capítulo

Bem, a fanfic é um conto de um relacionamento abusivo. Um assunto que a sociedade por anos fechou os olhos.Foi inspirado na história da Emily e do Marcos do BBB e outros relacionamentos abusivos que vi na minha família e com amigos.
Reviews?

Aguardo um retorno de vocês

Beijos



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