Ambas tinham 16 anos e estudavam na mesma escola. As duas nunca conversaram, mas o ódio nunca dependeu disso.

A garota loira, Piper, era a garota esquisita da sala. Os olhos azuis brilhantes, bolsas que não Chanel e Prada e as roupas que não correspondiam a saias Dior ou vestidos Giorgio Armani faziam da menina uma lonely girl do fabuloso universo competitivo de Manhattan. Já a garota de cabelos escuros, Vause, desfilava Cavelli e escolhas total black em todas as festas. Era conhecida por todas e respeitada. A garota era extremamente vaidosa e irresistível. E o mais importante: Alex era cafajeste. Ela não se importava com o que dele pensavam, queria apenas o maior número de garotas passando por sua cama.

Piper queria o mundo, mesmo que tivesse de destruí-lo. Alex tinha o mundo e não se importava se ele estivesse em ruínas.

A The Calhoun School não era a escola mais cara da cidade, talvez fosse a terceira melhor.

Piper detestava Alex. Ao seu ver, ela era só como uma futura alcoólatra abusiva, que reproduzia comportamentos machistas e que desperdiçou a vida enrolando mais e mais mulheres por ser uma garota egocêntrica rica e sem noção alguma, além de provavelmente transferir sua relação problemática com o pai para suas relações amorosas ou meramente sexuais.

Alex a desprezará, já que ela pediu cola no exame final a loira e ela aparentemente alterou todas as respostas, fazendo com que a morena bombasse e fosse transferida para o Highland Preparatory School for Girls.

Chapman se formou com as devidas honras, mas isso não fez com que Carol, sua mãe, admirasse seu desempenho escolar. A intenção clara de que a garota seguisse seus passos simplesmente foi um desastre. Carol casara-se jovem, com um homem mais velho, o mais velho e mais rico homem que encontrou em sua vida. O pobre Bill, seu pai, falecera aos 57 anos, quando Piper completara 12 anos.

Pra Alex, em um mundo comandado por herança sanguínea e contas de banco, diplomas nunca foram prioridades. Seu próprio reino não era construído, era um legado deixado. Um legado que a torna uma garota mimada, arrogante, prepotente e rancorosa.

Durante a faculdade, Piper se transformou na rainha que sua mãe queria que ela fosse, mas sem precisar de homem algum. Pisar nas pessoas não fazia o seu tipo, mas se ela tivesse que fazê-lo? Ela faria! Seu temperamento forte agora era exposto sem medos e ela não possui receios de dizer claramente o que pensa. A garota loira se torna uma mulher bem sucedida e reconhecida.

Alexandra não foi aceita em nenhuma das oito universidade pertencente a liga  Ivy, já que sua mãe recusou-se a ajudar em seu ingresso,o que beneficiaria a garota, mesmo depois de seu fracasso no último ano - e do breve risco que isso causara na imagem perfeita de sua família. A família Vause se resume sua mãe. O pai abandonou a pequena aos dois anos, ele não soube lidar com a responsabilidade de ser pai enquanto Diane, sua mãe,  filha única – assim como Alexandra – herdou toda a fortuna de seu pai, um bilionário empresário de muito sucesso cuja facilidade de multiplicar dinheiro era muito conhecida. Entretanto, o charme irresistível era hereditário, já que Diane, desde o sumiço do pai de sua filha, casou-se cinco vezes, ao todo.

Alexandra resolve formar-se em administração cerca de dois anos atrasados em uma universidade famosa (mas não tão prestigiada), seguindo os passos da mãe e inspirada em seu avó, já que ela espera herdar o comando do Palace Hotel, um dos mais chiques lugares de NY.

A loira, aos 22 anos, é contratada, graças ao excelente histórico escolar pelo tablóide de maior circulação em Manhanttan. Aos 23, ela é promovida. Aos 25, tida como a garota prodígio do mundo da moda, logo foi selecionada para editora-chefe de um importante jornal nova iorquino. Sua revista possui um concurso anual para eleger a cover girl, a garota que abrirá as capas do próximo ano. E a loira quem era responsável pela organização do concurso neste ano. O concurso acontece no hotel mais elegante de NY!

Enquanto isso, Alex conseguiu levar para sua cama mais de cem mulheres no período de doze meses, aprendeu 3 idiomas e assumiu os negócios da família. Além disso, em seu aniversário de 23 anos, bebeu durante dois dias seguidos e não sabe até onde em que condições deixou que fosse tatuada. Ela carrega um saleiro em suas costas e não lembra o motivo exato, mas resolveu que essa era uma ótima história para se contar. O que são aventuras em Mônaco sem um porre de dias e uma tatuagem indesejada?

Porém, sofrem um golpe do destino no momento em que Piper checava pessoalmente os últimos detalhes do desfile de uma das etapas do concurso de sua revista, Alex está borrando todo o batom que uma das modelos do concurso, que acontece em seu hotel e levando-a para um dos quartos. Piper reconta as modelos, duas, três, cinzo vezes e faltam duas. Ela manda que Emilly, sua secretária, rode o Palace inteiro em busca da vigésima garota, já que a décima nona estava trancada no banheiro vomitando algodões.

Ela não se importava que as garotas perdessem ou ganhassem. Ela só visava a perfeição do evento, com todas as participantes se apresentando, impecavelmente, e sendo julgadas com toda a frieza própria do júri.

Alexandra e Mercy, a vigésima modelo de Piper, beijavam-se na cama, numa confusa entre fechos de sutiãs e roupas ao chão, quando Emily passou pelo corredor, gritando na busca pela garota.

— É a Emily... MEU DEUS, o desfile!!!  – a modelo disse, levantando-se abruptamente, deixando Alex sem entender nada.

— Quem? – Alex perguntava, colocando a mão na nuca da garota e tentando beijá-la. – Há mesmo algo mais importante do que nós duas nessa cama? – Alex diz, observando a menina que já levantara.

— Você não está entendendo. – a garota diz, procurando sua roupa pelo quarto, vestindo-a rapidamente. – Eu preciso voltar para concentração. Você sabe como eu posso chegar o mais rápido possível lá?

— Ei, kid, calma. Tem um elevador no final do corredor. – Alex disse, visivelmente irritada. – E quem é ela?

— Imagina o demônio? Então, é ela, Ela fala como um anjo, se veste como um anjo, mas é o diabo disfarçado. – a garota diz vestindo sua blusa e abotoando sua calça, e depois pega seus saltos nas mãos e caminha até a porta.

A garota abriu a porta e Emily parecia nervosa, parada no corredor, em quase desespero. Ela temia que seu emprego foi pelos ares em um momento, mas em outro, tudo o que ela queria era que o desfile acontecesse o mais rápido possível e ela enfim pudesse ter uma noite de paz. Piper sabia intimidar e sabia diminuir as pessoas até reduzi-las a pó, quando o seu futuro estava em jogo.

— Você sabe quantas vezes ela recontou as modelos? CINCO VEZES. Eu posso jurar que vi as sobrancelhas dela arquearem. E se isso acontecer, nós duas estamos na rua assim que o desfile acabar.

— Me perdoa, Emily. Eu perdi a noção do tempo. Meu Deus, ela vai matar a gente! – Mercy falava, atropelando as palavras, em desespero.

Nesse momento, elevador abre. E Alex observa as mulheres agora paralisadas.

— Srta, Chapman, eu achei Mercy. – Emily quebra o silencio que se instaurou no corredor.

— Os detalhes da sua incompetência não me interessam, Emilly. – a loira disse, saindo do elevador, retirando os óculos escuros vagarosamente e colocando-os dentro da bolsa branca que carregava. E Alex ri, entendendo que aquela devia ser a mulher de quem Mercy falara. - E eu adoraria não importar-me com a sua presença insignificante, mas nesse exato momento as outras modelos estão provando os vestidos. Você... Garota, me diz, por que não está com as outras?

— A culpa é minha.  – Alex anuncia sua presença, dando um passo a frente, enquanto as mulheres sequer haviam notado sua presença. Ela permance olhando para baixo como se estivesse encabulada. Uma Alex Vause que nunca se sentira intimidada em sua vida, encarava o chão, tímida diante a presença de Piper Chapman.

 - As pessoas realmente estão dispostas a me irritar hoje, não é possível.  – Piper diz, e vira-se para Vause, que a encara. As duas parecem estar envolvidas demais naquele momento e a loira caminha até Alex, agora mais curiosa do que irritada com a intromissão da morena. Piper parece avaliar todo o conjunto. As calças jeans apertadas, mas com um corte perfeito, o blazer preto e a camisa social recém-abotoada.

A morena não conseguia deixar de encarar Piper. O desejo que sentira pela loira parecia forte demais para ela ser ignorado, mesmo que ela se portasse como uma megera.

— Lindos óculos. – Piper disse, mordendo o lábio inconscientemente e recordando-se do quanto odiava Alex no Ensino Médio, entendia agora que podia ser apenas uma atração reprimida, já que ela era uma mulher lindíssima e igualmente arrogante, tanto quanto a sua nova versão.

Alex respondeu a loira, piscando em sinal de flerte com um “São pra te ver melhor!”, e Chapman gargalhou. Mercy e Emily observavam as duas, surpresas, e incrédulas. Piper Chapman parecia ter apenas duas expressões: uma mistura entre descaso e sua habitual frieza e a indignação quanto as pessoas e sua incapacidade. As pessoas apostavam que Chapman possuía um complexo de superioridade por ter sido mimada demais na infância ou que algum trauma na adolescência que a tornara uma pessoa sem coração. E agora ela estava rindo com uma provável desconhecida. Elas sequer percebem que as outras já foram embora e que agora estão realmente sozinhas. A cumplicidade instaurada já dava essa atmosfera assim que os olhares se encontraram, mas Piper precisa continuar seu trabalho.

— Foi quase um prazer revê-la, Alex Vause. – a loira disse, dando as costas e deixando Alex intrigada e extremamente interessada para trás.