O Vingador Infernal escrita por Elliot White


Capítulo 2
Uma nova tatuagem e uma nova dor de cabeça


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde e boa leitura!



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Quando acordei, minha cabeça estava doendo. Eu estava deitado no chão frio, sem ver ninguém a minha volta e tive dificuldades em levantar sozinho. Depois de um tempo tentando, estava de pé, mas dolorido no corpo todo.

Além de tonto, não conseguia mais distinguir onde estava no terreno baldio. Não via a piscina de bolinhas nem o ônibus. Parecia que se passaram horas, porém o sol ainda não tinha nascido.

Comecei a andar.

Não era o mais sensato a se fazer, afinal correr e ir embora desse pesadelo seria ótimo, no entanto havia uma chance de eu ser pego mesmo tentando fugir. Saber o que aconteceu daria um fim nisso. Quem sabe eu achasse um telefone e poderia assim chamar a polícia ou ajuda se continuar tentando. Há pessoas inocentes dependendo disso. Era melhor manter os inimigos por perto.

Depois de um tempo mancando e marchando lentamente e tropeçando no caminho, achei algo. Não era uma máscara como da outra vez, e sim uma arma. Estava em meio à terra, e suja.

Quando me abaixei para pegá-la, ouvi uma voz.

— Não toca nisso. – Uma voz grave pronunciou.

Congelei no momento.

— Se vire e coloque as mãos onde eu possa ver.

Eu o obedeci. Era um dos bandidos fantasiados, estava armado. Outros dois me cercaram e seguraram em meus dois braços.

Enquanto seus olhos afiados sem máscara me desafiavam, eu não sei como mas revidei, e tirei uma força não sei de onde. Me remexi sem pensar, obrigando os criminosos a se moverem. Parecia que alguém estava antecipando minhas ações antes de eu tomar as decisões. O cara que segurava a arma estava nervoso e parecia não saber onde mirar. O tiro que ele deu acertou em cheio o ombro do parceiro, que gemeu e caiu na hora.

— Desgraçado! – Ele gritou.

A seguir, consegui desviar da força que o outro sujeito me impunha, de um jeito que eu não sabia explicar. Minha mão envolveu o pescoço largo e tatuado dele, contra a minha vontade e o ergueu no ar. O mesmo se debateu, urrando e sem sucesso.

— Larga ele! Ou eu atiro!

Por sorte, o revólver falhou. Acabou a munição. Quando o olhei, sua expressão passava medo e quando largou a arma a jogando no chão, já estava se preparando para ir embora.

— Não vá sem o seu amigo. – A minha voz provocou, sem parecer que era eu quem falava. Meu braço tomou impulso e lançou o corpo do bandido contra o outro, e os dois caíram, nocauteados. Não fazia ideia de como tinha feito aquilo.

A cena a seguir fui eu desnorteado sem entender o que tinha acontecido, olhando para mim mesmo e para os dois corpos caídos. Meus braços tremiam.

Logo depois, surgiram dois rapazes. Não estavam fantasiados. Fiquei imóvel, paralisado sem saber o que fazer. Fui cercado e já não tinha mais forças nem raciocínio para reagir.

— Está tudo bem. Não vamos te machucar. – Um deles disse, se aproximando.

Depois disso, fui levado de carona em um carro. Os dois bandidos foram colocados no porta-malas, mas eu estava no banco de trás. Se eles quisessem me machucar, já o teriam feito e eu não estaria recebendo este tratamento.

— Já sabíamos desse tipo de crime acontecendo na região. Eles se inspiraram nos americanos que se vestiam de palhaços do terror durante o Halloween e saíam as ruas. Só que estes matavam pessoas por diversão. – Uma voz grave soou, explicando, do banco do motorista.

— O que aconteceu com os reféns? – Perguntei, rouco.

— Estão mortos. Serão enterrados, de um jeito digno. Mas os tratantes não terão o mesmo tratamento. – Ele continuou; a informação me chocou.

— Você está bem ferido, quando chegarmos, tem uma enfermeira que cuidará de você. Eu só não consigo entender como não te mataram antes, e como conseguiu escapar. Foi o único sobrevivente. – O amigo dele, do banco do carona, afirmou.

*

O veículo parou em um prédio de dois andares, amplo. Agora o sol já estava nascendo, e o lugar não era deserto como onde eu estive, e sim uma vizinhança em um bairro que parecia ser o centro da cidade.

*

— Pode se sentar. – Uma voz feminina pronunciou, enquanto eu entrava na sala.

A sala estava muito clara, não sabia se era a pintura ou a escolha de cores dos móveis, pois eu sou daltônico. De alguma forma, minha visão estava alterada agora, eu só conseguia enxergar dois tons, um escuro e outro claro. Fiz o que a enfermeira pediu, puxando um assento.

— É melhor ser grave para ter me tirado da cama a essa hora. – Ela pediu, se sentando na minha frente. – Tire sua camiseta, por favor.

Obedeci novamente, me levantando e removendo a roupa, de frente a um espelho. A visão não me agradou: os ferimentos do rosto e de onde eu levara chutes e pisoteadas eu já imaginava que estaria assim, mas os meus braços... eu nunca tinha feito tatuagem. Não teria como, vivendo em um orfanato desde pequeno. E tinham desenhos na minha pele escura, descendo pelos ombros até o pulso, em tinta preta formavam figuras que lembravam um corpo, idênticas nos dois membros, e no fim da tattoo, onde ficava o meu pulso, tinha uma cabeça decorada, um cão. Eu tinha dois cães gravados no corpo, e não tinha ideia de como. Minha expressão não poderia ser mais alterada olhando o meu reflexo, e logo a garota perceberia. Era melhor ela não saber que era novidade para mim. O corpo era o mesmo de sempre, agora com hematomas, magro e liso, parecido com o corpo de outros rapazes com quem comparei durante a juventude, porém nada que se destacasse.

— Está tudo bem? Nossa, eles te feriram muito mesmo. – A mesma se levantou, era aparentemente um pouco mais nova do que eu, igualmente negra e uma gata. O decote que usava acentuava bem sua comissão e suas curvas.

— Ai! – Gemi, quando ela passou a cuidar de meus ferimentos. Tudo doía.

— Ora, seja homem.

— O que é este lugar? – Fiz a pergunta.

— Uma academia e também uma loja de suplementos. Ensinamos vários tipos de luta. É melhor você dormir depois que eu terminar aqui. Eu farei o mesmo.

E foi o que eu fiz, dormi. Pelo menos a cama era boa. Mais tarde eu descobriria que o que esse lugar é, é muito mais do que isso.

Quando comecei a despertar, minhas pálpebras abriam e as poucas cores que eu era capaz de identificar não surgiam. Apenas dois tons, preto e branco. O quarto estava com a porta aberta, e um dos garotos que me buscaram estava parado esperando.

— Ei, vocês acharam os meus pertences? – Quebrei o gelo, recebendo um olhar não muito grato.

— Talvez, mas preciso que me acompanhe agora. Se vista. – Ele respondeu, friamente e deixou o local. Eu fui atrás depois de me vestir, pois tinha ido dormir apenas de cueca. Agora meu rosto tinha pontos e meu corpo, gazes, faixas de primeiro socorro e Band Aids. Coloquei as roupas que não eram minhas, que me deram, e o segui.

O moço desceu por uma escada escura para um andar de baixo. Como estávamos no térreo, supus que estivéssemos indo até o subterrâneo ou porão. Quando chegamos, me assustei, como era grande. Uma câmara ampla fora construída debaixo do prédio. Me intriga em saber o que era feito aqui. Medo eu não sentia mais.

Fomos parar em um cômodo isolado, um me aniquilava com o olhar de um lado e outro fazia o mesmo do outro canto.

— Nos conte, o que você é. – A voz grave dele exigiu, seus cabelos eram claros, de uma cor que eu não identificava e crespos, seu rosto branco cheio de sardas. Era alto, mas jovem, mais do que eu.

— Como assim? – Respondi.

— Não faça isso, não minta. Será pior. – O outro explicou, ele era oriental e não tão alto como o seu amigo, porém mais forte e impunha mais respeito apesar de também ser jovial e ter pouca barba no rosto.

— Sou um rapaz assim como vocês. Aliás, um pouco mais velho.

— É melhor não fazer gracinha. – O mesmo continuou. Outra voz deixou a sua opinião a seguir. “ Não conte a eles. ” A voz não parecia humana e não vinha de nenhum dos dois. Não tinha mais ninguém ali, então não sabia quem tinha sido. Uma dor de cabeça começou a fulminar em mim.

— Você deu conta de dois sujeitos experientes sozinho, e não parece saber lutar. Além disso, sua força é maior do que a de um garoto na sua idade. – O mais alto, continuou provocando, como se fosse um interrogatório.

“ Não pode confiar neles, Gary. ” A voz prosseguiu, agora causando uma enxaqueca no meu crânio, era insuportável, e os dois se comportavam como se não escutassem nada. Quem falava sabia o meu nome? Como?

— Estamos falando com você! – O asiático gritou, sem paciência. – Já chega. Venha.

Ele me puxou pela gola da minha camisa, me arrastando para fora da sala chegando a um corredor, onde algumas pessoas circulavam. No final do corredor, tinha uma extensa grade que fazia o local parecer uma prisão, mas era mais como uma jaula. Um auditório com muitos assentos em volta daquela gaiola. Do outro lado da cela, estavam dois caras que me eram familiares.

— Acho que vocês já se conhecem. – O garoto crespo anunciou, e olhei bem nos rostos, associando com os dois criminosos vestidos de palhaço. Suas roupas foram trocadas, para trajes mais surrados e velhos, estavam algemados; um era o mais alto e forte, o que fora chamado de Golias, e o outro mais velho e baixo, magro e feio.

— Eles causaram problemas ontem à noite. Será que se arrependem? – O mesmo continuou, enquanto se aproximava da porta. – Sansão, abra a arena.

Um outro sujeito chegou, seguindo a ordem do menor e apanhando um molho de chaves que abriria a porta. Ele era mais velho e barbudo. Quando destrancada, os dois se inseriram. Eu fiquei do lado de fora, olhando enquanto os dois que tinham me dado uma surra pareciam indefesos e intimidados.

— Atacar pessoas inocentes, vocês deviam saber que isso é covardia! – Quem falou agora foi o oriental, cercando os inimigos.

— Por favor, nos deixem ir! Não faremos de novo! – O mais velho dos bandidos implorou, soando amedrontado, falando pelos dois.

— Jinrei, vamos dar uma lição nele. – O de cabelos enrolados dialogou.

— Eu concordo, Bento.

A cena a seguir foi confusa. Enquanto o mais jovem e branco rosnava e se debatia como um animal, sua feição mudava. Escamas surgiam em seu rosto, decorando sua pele com outros tons, que eu não definia, mas em uma escala de cinza se destacavam do resto do corpo.

Guelras aparecem no seu pescoço, e um bigode liso e fino que se mexia sozinho. Suas mãos tinham agora fibras e garras. Era como se ele tivesse virado um peixe. A expressão de susto na face dos adversários era a mesma que em mim.

— Não podemos acreditar na palavra de um meliante. – Jinrei respondeu, agora assumindo outra forma, como o amigo. Suas pernas sumiram, dando lugar a dois pares de patas de equino. Ele agora estava mais alto que todos na sala, pois da cintura para baixo era um garanhão de tons escuros, acinzentados em minha visão, com uma cauda esvoaçante. O oriental virou um cavalo. Ou melhor, um centauro. Eu já tinha lido sobre isso. Porém nunca tinha visto com meus próprios olhos.

— Maus elementos nunca cumprem com o trato! – Bento, o homem sereia, exclamou, agora partindo para cima dos dois. É claro que os parceiros do crime levaram desvantagem, e foram feridos por garras e coices cavalares, levando uma pancada da mesma intensidade que eu levei deles. Quando se deram por satisfeitos, a dupla encerrou o corretivo.

Os dois, antes culpados e agora vítimas, continuaram jogados no canto do pátio, abatidos. A cela foi novamente fechada.

— Agora você vê? Isso é o que nós somos. Mostre o que você é. – Jinrei exigiu, voltando a forma normal e diminuindo drasticamente sua estatura. Isso era mesmo real?

— Eu não sei o que eu sou. Eu sempre fui eu, mas agora isso mudou. – Respondi.

— Não se faça se sonso. – O garoto de cachos se pronunciou, dando um sumiço nas escamas e barbatanas.

— É a verdade. Eu sou humano. A não ser que...

— O quê?

— Foi depois da surra que eu levei. Depois de apanhar, que tudo começou a mudar. Ah! – Minha fala foi interrompida por uma dor latejante na cabeça, de novo.

— Olhe aquilo! – O oriental berrou, apontando para o meu braço. A tatuagem ainda estava ali, e embora os dois ignorassem ela, parecia que tinha chamado a atenção deles.

Quando levei meu olhar até ela, o meu pulso estava brilhando. Em que cor, eu não sabia. Onde estava desenhada a cabeça do cachorro, os olhos exalavam brilho, e no outro pulso, teve a mesma reação.

“Não conte a eles. ”

“Não são confiáveis. ”

“Só pode confiar em nós, Gary. ”

“ Um sereio e um centauro. Não pode confiar neles. ”

As vozes no meu cérebro continuavam, eram como se fossem duas diferentes. As duas discutiam entre si.

— O que você é? Diga! – Bento gritou, e as vozes junto. “Não divida o seu segredo com ninguém! ” “Você não é igual a eles! ”

Eu desmaiei.


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Notas finais do capítulo

Desculpe pelas 2mil palavras, mas foi preciso.
Obrigado pelos acompanhamentos e deixem review please!!



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