A Matéria Perfeita escrita por RafaelaJ


Capítulo 2
Capítulo Dois


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Espero que gostem desse segundo capítulo!
Nos vemos lá em baixo!



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 sobrenome Lacerda se referia a mais do que uma família; eles eram um império. E manter o seu prestígio era a única tarefa de Fenando. E, por isso, mesmo com a parca idade, ele já assumia um grande cargo na empresa Interliga.

A posição de presidente dava à ele muitos privilégios era verdade. Mas lhe dava ainda mais responsabilidades. E Fernando era lembrado disso todos os dias.

Fosse seu pai, sua mãe ou seus acionistas, sempre havia alguém observando suas atividades. Ou criticando suas atitudes. Sempre havia alguém se achando no direito de lhe dizer o que fazer. O fato de alguém achar que tinha algum direito sobre si somente mostrava como eles não o conheciam. E isso irritava o empresário extremamente.

No entanto, nada o tirava mais do sério do que ter um obstáculo entre ele e seus objetivos. E, atualmente, era isso o que Luiza Brandão representava para ele. Uma pedra no caminho.

A questão era simples: ele precisava fechar um grande e vantajoso contrato. Contudo, ele tinha consciência de que não conseguiria fazer isso tendo seu rosto estampado nas capas de revistas de fofoca. E era aí que a jornalista entrava.

Fernando andava a passos rápidos em direção a sua sala. Debaixo do braço ele carregava a última edição da Focos&Flashes. Ali havia uma matéria sobre si. E, o empresário refletia como menos de mil palavras podiam lhe prejudicar tão avidamente. Essa perecia ser uma habilidade especifica de Luiza.

— Senhor Lacerda - a secretária, Vanessa, o cumprimentou.

Ele encarou a morena já tão conhecida. Ela tinha os olhos verdes, e uma estatura baixa. Os labios eram finos e sempre coloridos, assim como as bochechas.

— Ah, Fer... senhor Lacerda - ela sorriu um pouco encabulada por quase usar seu primeiro nome - O senhor Jasper está aqui para vê-lo. Eu o deixei entrar já que achei que não tinha problemas...

— Tudo bem - Fernando a interrompeu. Odiava quando a mulher começava tagarelar - Eu preciso conversar com ele mesmo.

Fernando seguiu em direção a sua sala sem dar chance para a mulher retrucar. Ele entrou no cômodo já tão contumeiro a si. As paredes claras em contraste com os moveis escuros haviam sido uma escolha pessoal. O branco o acalmava. Assim como as obras de arte abstratas penduradas. Todavia, no momento, nada disso podia aparcar sua ansiedade.

Sentado na cadeira de couro marrom estava Jasper. O senhor, de quase sessenta anos, se virou no instante em que a porta foi aberta. Os cabelos grisalhos estavam penteados para trás rigorosamente. O terno cinza prenchia seu corpo perfeitamente. No entanto, o sorriso costumeiro não estava em seus lábios. Pelo contrário, a tensão em suas feições era visível.

— Não fala nada! - Fernando exclamou se sentando em sua cadeira em frente a Jasper.

— Você já sabia onde isso iria dar - Jasper disse.

Fernando observou atentamente a expressão do mais velho. Os lábios precionados em uma linha fina expunham sua preocupação, mas, para o alivio do empresário, não parecia haver decepção ali. Resignado era uma palavra mais correta para descrevê-lo.

Fernando conhecia Jasper desde que se lembrava. O senhor era mais que um advogado, era parte da família. Ele e Heitor haviam estudado juntos, sempre foram melhores amigos e, por isso, Jasper tinha sido escolhido como padrinho de seu único filho. Desse modo, Jasper sempre esteve presente para Fernando. Independente da maneira como ele precisasse. Com o passar dos anos, Jasper havia se tornado um tipo de base, um apoio, uma pessoa com quem contar. E, por isso, sua opinião era tão importante ao mais jovem.

— Eu sei que isso é culpa minha - Fernando passou a mão pelos cabelos despenteados. Ele estava com tanta pressa para sair de casa que preferiu não gastar tempo para arrumá-los. - Mas convenhamos, ela não precisava ter dado tanto crédito a isso.

— Ela? - questionou Jasper com uma sobrancelha erguida.

— A jornalita, Luiza Brandão - Fernando quase cuspiu as palavras.

— Ah! - exclamou Jasper em entendimento - A que está te perseguindo.

Jasper havia dito a última frase em zombaria, mas para Fernando não havia brincadeira ali. Aquela era a quarta matéria em menos de dois meses que Luiza escrevia sobre si. Aquilo, certamente, só podia ser uma questão pessoal.

— Exatamente - Fernando se reclinou sobre a mesa - E então, vamos processá-la?

Jasper suspirou em aparente cansaço.

— Quantas vezes tenho que te falar que não podemos processá-la?

Agora foi a vez de Fernando suspirar. Ele sabia que essa seria a resposta de Jasper, mas ele não podia negar que havia um resquício de esperança em si.

— Eu sei... eu sei. Isso vai pegar mal.

— Vai mais do que pegar mal - rebateu o advogado - Pensa comigo Fernando, você é um milionário que usa e abusa dos privilégios da vida, e ela é apenas uma jovem fazendo seu trabalho. Quem você acha que vai sair como vítima nessa história?

— Ela - Fernando respondeu a contra gosto - Mas, então, qual é o plano?

— O plano? O plano é você se aquietar e tentar ao máximo limpar a sua imagem.

Fernando bufou insatisfeito. Ele odiava o valor que a reputação tinha em seu círculo social. Tudo rodava em torno das aparências. Inclusive seu grandioso acordo.

Fernando estava prestes a fechar um contrato com uma das mais conceituadas empresas de informática. E, sendo a Interliga uma empresa do ramo de comunicação, esse contrato valia muito. Era a chance de alavancar sua empresa e valorizar suas ações. O único problema, entretanto, estava em seu futuro sócio.

Otávio era algo que Fernando repudiava: conservador. Descendente de japoneses o senhor valorizava muito conceitos como família. Desde o início o fato de Fernando ser solteiro e - na visão de alguns - devasso havia desagradado o empresário. Agora essa matéria de agressão somente pioraria tudo. A imagem de irresponsável era tudo o que Fernando não precisava.

— Você acha que o Otávio já viu? - perguntou Fernando com a testa apoiada nas mãos.

— Eu não sei. Mas se não viu ainda não vai demorar muito. Os advogados dele estariam sendo negligentes se o deixassem na ignorância.

— Então, eu não tenho como escapar?

— Não - Jasper respondeu enfático - Tudo o que podenos fazer é amenizar. E, como eu já disse, tentar limpar sua imagem é um começo.

— E como você espera que eu faça isso?

Jasper se reclinou sobre a mesa como se fosse dizer algo extremamente privado.

— Um relacionamento.

Fernando quase pulou da cadeira ao ouvir isso.

— Como assim?

— Eu tenho pensado sobre isso. O Otávio valoriza muito a família. Então, seria uma boa ideia você mostrar que pode viver sob esses conceitos. E uma namorada pode demonstrar isso perfeitamente.

Um arrepio atravessou o corpo de Fernando à menção do termo "namorada". Ele já teve experiências o suficiente para saber essa palavra nunca trazia coisas boas. Nunca mesmo. E ele estava cansado de se meter em relações sem futuro.

— Sem chance! - Fernando começou a organizar alguns papeis a sua frente freneticamente. Ele não podia evitar o efeito que isso causava nele. Fernando e relacionamentos eram como água e óleo; não se misturavam - Acredite em mim, isso é mais um problema do que uma solução.

Ele levantou os olhos e encarou os orbes azuis de Jasper.

— Fernando, eu não estou dizendo para você encontrar sua alma gêmea e viver um conto de fadas. O que eu estou dizendo é que seria vantajoso ter alguém para assumir esse papel.

— Uma namorada falsa, você quer dizer?

Jasper acenou e Fernando se acalmou um pouco com isso. Ele refletiu por um segundo. Uma namorada falsa até que soava bem - ainda mais se "ela" pudesse resolver seus problemas.

Então, ele passou a pensar em suas possibilidades. Ele podia ligar para uma empresa se modelos ou uma atriz. Poderia ser qualquer uma, desde que fosse discreta. Uma mulher escandalosa era o que ele não precisava agora. 

— Tudo bem - respondeu o empresário - Eu vou achar alguém para fazer isso.

Jasper acenou, novamente.

— Eu só espero que isso seja o suficiente.

— Eu também - murmurou Fernando.
                                            .    .    .

Fernando suspirou pela segunda vez em poucos minutos. Ele podia sentir diversos olhares sobre si, mas pela primeira vez não se incomodou. Ele tinha coisas demais na cabeça para ligar para meia dúzia de curiosos.
 

Ele levantou o olhar e encarou os doze acionistas acomodados na enorme mesa retangular. Os senhores - e as duas senhoras - estavam discutindo sobre as estatísticas de exportação e importação. E, no presente momento, aquilo não despertava o mínimo interesse no presidente.
 

Fernando olhou para trás de si e, pelas janelas de vidro, pode ver a escuridão que tomava o céu. Já passava das oito, ele supunha, e ele ainda estava ali; preso com um bando de velhos chatos.

Era irresponsabilidade pensar assim, ele sabia. Mas com tantas coisas na cabeça ele não podia evitar o desejo de uma fuga. Uma cerveja era tudo o que Fernando precisava. Bem, talvez duas. Isso certamente melhoraria o seu dia de merda.

Não bastasse a conversa com Jasper mais cedo, ele ainda teve que ouvir sermão de outras pessoas. Até mesm seu pai teve a audácia de lhe ligar. E aquele não havia sido um telefonema nem um pouco agradável.

E, por esse e outros motivos que, mesmo sendo uma segunda feira, ele se permitiria realizar as vontades. Todos mereciam um pouco de paz, afinal.

— Senhores - ele pigarreou chamando a atenção de todos. Fernando olhou em se relógio de pulso e continuou - Já são oito e vinte, está tarde, e eu acredito que possamos terminar isso amanhã.

O rosto de parte dos acionistas se retorceu em uma careta. Mas, como o esperado, não houve nenhuma oposição. E, com isso, Fernando sorriu quase imperceptível. Era bom ser o presidente às vezes.

Ele se levantou e ajeitou o terno preto fechando os últimos botões.

— Nós nos vemos amanhã, então.

Assim, ele pegou sua pasta e partiu.

Um suspiro escapou de sua boca no instante em que ele se viu livre. Uma satisfação quase infantil tomava conta de si.

— Senhor Lacerda - Vanessa o chamou quando ele apareceu no hall - A reunião acabou?

— Sim - ele respondeu - Eu dispensei todos. Você pode ir também.

Ela sorriu levemente antes de se voltar para suas coisas.

Fernando seguiu seu caminho até a garagem subterrânea do prédio. Ele entrou em sua Mercedes e sorriu sentindo o couro do banco envolver seu corpo. O perfume do carro adentrava suas narinas. Isso sim era bom.

Ele deu a partida e saiu, em um primeiro momento, sem rumo. Ele dirigia pelas movimentadas ruas de São Paulo. Aquela cidade era algo que ele adorava; a agitação, as pessoas, as opções de entertenimento. Tudo era perfeito. Ao menos era perfeito para ele.

E, sendo assim, ele decidiu onde deveria ir. E, com um sorriso, Fernando mudou seu caminho.

A noite estava longe de acabar para ele.
 


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Sei que esse capítulo foi um pouco parado, mas necessário para seguirmos para o próximo. Comentem; deixem suas opiniões e críticas construtivas.
Beijocas!



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