Autumn Leaves In a Snowstorm escrita por Miss Moonlight


Capítulo 13
Rejection


Notas iniciais do capítulo

Opa, turu bom com vocês?

Sim, eu voltei, e sim, na maior cara de pau depois de quase um mês desaparecida.

Então, dando início a parte em que eu deixo aqui minhas desculpas, minha vida está uma loucura e não vai parar tão cedo infelizmente. Mas além de não ter tempo para nada, como eu meio que mudei o rumo da estória no último capítulo, eu acabei fodendo a mim própria - se me permitem a palavra chula - apesar de eu achar que foi para um bem maior. Em resumo, eu tive que arrumar esse e os próximos 4 capítulos que já estavam prontos para que eles se encaixassem nesse novo caminho que a estória está levando. Não foi fácil e nem está sendo (já que ainda estou fazendo isso), mas o que realmente importa é que aqui está o 13!

Então, sem mais desculpas, espero que gostem e tenham uma boa leitura!



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Já havia perdido a conta de quantas vezes eu havia me encontrado daquela mesma forma: sentada na mesma escrivaninha, com o mesmo bloco de notas fechado a minha frente e com o mesmo impasse: teria eu coragem o suficiente para ler seu conteúdo?

Dessa vez eu tinha a permissão de Charles, mas isso não significava que eu conseguiria abrir aquele objeto e descobrir finalmente o que ele escondia em seu interior. O resquício de medo – agora quase inexistente, mas ainda inegavelmente presente – que eu sentia do garoto, impedia minhas mãos de virarem a capa que seguravam com tanta firmeza, apesar de estarem trêmulas. Havia dias que eu tentava fazer aquilo quase que em um ritual de tortura aparentemente sem fim.

Minha curiosidade adormecida havia voltado a toda força após Charles dizer as tão esperadas palavras que eu mal sabia que ansiava tanto em ouvir: “Você finalmente tem a minha confiança". Mas será que ele tinha a minha? Será que eu confiava nele ao ponto de envolver-me em qualquer que fosse o seu tal objetivo, no qual ele parecia estar envolvido até o pescoço?

Eu confiava meus sentimentos a ele, meus pensamentos mais íntimos, coisa que eu não confiava para mais ninguém. Mas será que era o suficiente para me fazer abrir aquele bloco de notas e conhecer o verdadeiro Charles escondido ali através de sua caligrafia invejável?

Batidas em minha porta fizeram com que meu corpo pulasse na cadeira e com que minha mão fosse até meu coração, apenas para senti-lo batendo freneticamente. Só após guardar o objeto no fundo de minha gaveta, murmurei para que a pessoa responsável pelas batidas entrasse no local e logo Sra. Stevens aparece no meu campo de visão.

A mulher de meia-idade parecia inquieta, ansiosa e esboçava um sorriso um pouco maior do que o seu costumeiro. Suas mãos estavam entrelaçadas em frente a sua boca enquanto ela encarava-me. Retribui o olhar, em silêncio, virando meu corpo em sua direção e esperando que dissesse logo o motivo de estar ali. Mas quando os segundos se passaram e nada da mulher abrir a boca, deixei minha ansiedade tomar conta de mim.

— O que houve, Sra. Stevens?

— O Sr. Baker, Autumn. Sra. Baker acabou de ligar, avisando que ele acordou – ela disse em um tom de animação que eu nunca tinha escutado em sua voz antes. Não entendi o porquê de ela estar assim, mas não tive tempo de pensar muito no assunto, pois estava pasma demais e feliz demais para dizer ou pensar em qualquer outra coisa.

— Tudo bem se eu for até lá? – Indaguei, já me levantando e pegando minha bolsa junto ao meu cachecol.

— Mas é claro, querida. Só lembre-se de me avisar caso for demorar muito – ela respondeu, antes de ajeitar meu cabelo carinhosamente e fazer um leve carinho em minha bochecha esquerda, que fez com que a mesma esquentasse consideravelmente com seu súbito ato. – Estou tão orgulhosa da mulher que você vem se tornando, Autumn.

Seus olhos castanhos estavam brilhantes e seu sorriso ainda estava largo, realçando algumas de suas rugas. Eu agora tinha a mesma altura que ela e de repente lembrei-me de quando mal batia na cintura da mulher, que naquele tempo era bem mais jovem e quase não tinha fios brancos entre os seus cabelos escuros.  Nunca fomos muito próximas, apesar de toda o falatório que faziam sobre nosso relacionamento, mas ela era, de fato, a primeira pessoa que eu buscava quando precisava de ajuda.

Naquele tempo eu ainda permitia-me abrir-me pelo menos com ela, então eu contava-lhe sobre quase tudo e não era difícil vê-la largar alguns afazeres para dar-me a atenção que eu precisava no momento. Não era uma relação de mãe e filha, não se enganem, mas era de certo companheirismo. Ela era alguém no qual eu era grata e que sabia que poderia confiar apesar dos pesares. Nunca havia me esquecido disso, apesar de ter negligenciado esse fato por certo tempo.

Tomada pela emoção do momento, eu a abracei, só percebendo o que eu havia feito, quando a mesma envolveu seus braços ao redor de minha figura também. Apesar de sentir-me um pouco acanhada por não agirmos daquela forma há mais de uma década, eu a mantive ali.

— Obrigada – eu murmurei ainda com o rosto enterrado no ombro da senhora. – Você sabe que é uma das responsáveis por eu ser quem sou hoje.

No fundo eu queria dizer mais, dizer o quanto eu era agradecida pelo o que ela havia feito por mim e do quanto eu sentia-me sortuda por ter tido alguém como ela em minha vida, mas não sentia que conseguiria, não ainda pelo menos. Abraçá-la e dizer aquelas palavras já tinha sido constrangedor demais para mim. Soltei-me o mais gentilmente que pude da senhora e dei um passo para trás, tentando disfarçar a provável vermelhidão em minhas bochechas por detrás do cachecol.

— Eu queria ter feito muito mais por você, Autumn, mas coordenar praticamente sozinha um orfanato não é fácil – disse Sra. Stevens, suspirando logo depois. Não pude ver seu rosto, pois estava ocupada demais, encarando meus sapatos surrados. – Mas enfim, vá logo, querida. Aposto que está morrendo de vontade de ver o Sr. Baker.

Rapidamente assenti com a cabeça e disse, despedindo-me:

— De fato. Até mais tarde então, Sra. Stevens. – Quando estava há cinco passos da minha porta e consequentemente da mulher, parei de repente no corredor e olhei-a outra vez, antes de virar e continuar meu caminho: – Ah, e caso Charles pergunte, o avise sobre o Merle, por favor.

—––

Quase uma hora depois, eu estava em frente à porta do quarto de Merle. Dessa vez não fiz cerimônias e logo agarrei a maçaneta, batendo na porta rapidamente e abrindo-a, não conseguindo conter minha ansiedade. Entretanto a cena que eu vi não era a que eu tinha imaginado durante o percurso, e ela fez com que o sorriso, que eu mal havia percebido que carregava, desaparecesse completamente do meu rosto.

Eu esperava ver um Merle Baker finalmente acordado e contente junto a uma Martha chorosa, mas de alegria. O que eu vi fez meu coração parar por um instante e depois apertar-se de modo doloroso, provavelmente a mesma dor que as pessoas devem sentir quando dizem que seus corações foram partidos em milhões de pedaços.

Eu infelizmente sabia o que aquela cena significava.

Merle estava com uma das mãos cobrindo o seu rosto e a outra envolvia sua mulher, qual estava abraçada em seu tronco e tinha o rosto enterrado em suas vestes de hospital. O som do choro de Martha invadia o ambiente, fazendo-me ficar cada vez mais sem chão. Eu não sabia o que fazer ou o que pensar, não estava preparada para aquilo, apesar de saber perfeitamente que deveria estar. Então só fiquei parada ali, fitando-os.

Deviam ter se passado intermináveis segundos, minutos ou até horas talvez. Eu não era capaz de dizer ao certo. Foi só quando a voz rouca e falha de meu chefe chamou-me de um jeito surpreso, que eu acabei saindo – mesmo que não completamente – daquele transe.

— Autumn?

Seu rosto coberto de curativos estava vermelho e molhado por lágrimas, seus olhos brilhavam com uma tristeza profunda que eu nunca imaginaria ver em seu rosto e que eu descobri machucar-me terrivelmente. Além disso, seus olhos estavam arregalados, como se estivesse espantado ao ver-me ali. Martha afastou-se de seu marido e virou sua cabeça em minha direção, olhando-me com a mesma expressão do rosto de Merle, contudo sem a surpresa.

— O que ela faz aqui, Martha? – Perguntou ele em um tom de desespero, dirigindo-se agora a sua esposa. – Tire-a daqui, não quero que ela me veja assim.

A confusão provavelmente estava nítida em meu rosto junto à decepção, pois eu não estava no clima para tentar esconder o que eu sentia no momento, sabendo também que a probabilidade de eu falhar era alta.

— Como assim, querido? É a Autumn. Ela veio te ver e te apoiar, assim como fez nos outros dias, ficando com você por horas – Sra. Baker disse ao marido, fungando.

Ela levantou-se e logo veio em minha direção, abraçando-me de lado.

— Martha, por favor – ele murmurou, virando seu rosto para a janela do quarto como se quisesse evitar nos olhar.

A mulher ao meu lado suspirou, fechando os olhos e fazendo com que algumas lágrimas escorressem pela pele negra de seu rosto até se encontrarem em seu queixo.

— Tudo bem então. Vem, querida, vamos dar um tempo para ele.

Ela guiou-me para fora do quarto e eu a segui, mesmo que meus olhos não conseguissem desviar do homem sobre a cama hospitalar. A mulher fechou a porta e sentou-se no banco que havia ali, encostado a parede, indicando para que eu sentasse-me ao seu lado.

Eu estava atônita, mal conseguia raciocinar o que havia acontecido. Senti meu rosto molhado e surpreendi-me ao notar que havia chorado em algum momento daquele intervalo de tempo. Enxuguei-o rapidamente, agora percebendo a ardência em meus olhos e o nó que havia se formado em minha garganta. Tentei segurar a vontade de chorar que parecia não querer ir embora, mas isso durou até a mulher ao meu lado envolver-me em um abraço apertado.

— O que a gente temia aconteceu, Autumn – ela murmurou com voz de choro logo acima da minha cabeça, agora encostada em seu peito, provavelmente rendendo-se as lágrimas assim como eu. – Quando ele acordou, eu estava tão, tão feliz. Mas então, depois que ele estabeleceu-se por completo, Merle disse que não... Não estava conseguindo... Sentir suas pernas – disse com muita dificuldade, como se cada palavra proferida fosse como uma facada em seu peito. O que foi praticamente o que eu senti ao escutá-las e imaginar a cena que me descrevera.

Ficamos ali, abraçadas, por um bom tempo. Eu queria poder dizer algo para ajuda-la de alguma forma, mas como eu faria isso, se eu sentia que precisava de alguém para me dizer essas palavras também?

Tentando pensar logicamente, afastei-me gentilmente dela depois de um tempo, endireitei-me e enxuguei meu rosto. Olhei para uma Martha extremamente desolada ao meu lado e respirei fundo, concentrando-me no que seria mais correto a se fazer naquele momento. Sabia que precisava pensar positivo para ajudar as pessoas nas quais eu importava-me, mesmo que por dentro eu soubesse que não estava tão positiva assim.

— Eu sinto muito, Martha – eu disse quase em um sussurro, tentando achar conforto em minhas próprias palavras também. – Mas nós conhecemos o Merle, ele é forte, vai conseguir dar a volta por cima como ninguém, você vai ver. Ele está conosco aqui agora, vivo e bem, devíamos nos concentrar nisso.

Peguei sua mão e a apertei levemente, passando-lhe força, mesmo que eu não possuísse muita no momento. Suspirei um tanto aliviada ao vê-la balançar a cabeça e colocar sua outra mão em cima da minha.

— Tem razão, meu bem. Eu sei que ele vai superar isso, que é só mais um obstáculo dos muitos que nós já tivemos, é só que ele está tão frágil agora. Ele mal podia suportar que você o visse daquele jeito, muito menos que o olhasse sabendo que agora ele está... Paraplégico – disse a última palavra com dificuldade, engolindo em seco logo depois. – Não o entenda mal, Auttie. Você sabe que ele a ama, só não queria mostrar-lhe aquele seu lado.

O que ela havia dito acalmou meu coração, que estava preocupado por ele não querer-me ali. Entretanto também fez que o mesmo acelerasse, trazendo um calor incomum e agradável que me preencheu por dentro. Era a primeira vez que eu ouvia algo daquele tipo dirigido a mim, era estranho e eu não sabia como reagir. Talvez nem fosse verdade, talvez Merle não sentisse algo tão forte em relação a mim e Martha estivesse apenas exagerando. Mas no fundo meu coração dizia o contrário e, ao olhar em seus olhos, minha opinião apenas fortaleceu-se.

— Eu sei que faz sentido ele sentir-se assim, é só que não entra na minha cabeça. Mas também sei que não posso força-lo a fazer algo que ele claramente não quer no momento, então só me resta esperar que ele mude de ideia – eu falei, enxugando meu rosto com a mão livre e levantando-me do banco. – Acho melhor eu ir então, deixar vocês dois a sós. Devo ir para a cafeteria amanhã?

— Melhor não, pode ficar em casa, meu bem. Acho melhor não abrirmos essa semana – ela também se levantou ainda sem soltar minha mão.

— Cuide dele, Sra. Baker. E caso aconteça algo ou ele mude de ideia sobre querer me ver, por favor, me ligue – pedi a senhora a minha frente, quase em uma súplica.

— Claro, Auttie, não se preocupe. Eu sinto muito por isso – disse, logo me envolvendo em mais um de seus abraços que, naquele estágio, eu já estava mais do que familiarizada

— Eu também – murmurei, inalando seu cheiro tão conhecido, que agora remetia-me a lar, a minha verdadeira casa.

—––

Quando cheguei ao orfanato, foi difícil colocar a máscara de indiferença de volta, principalmente com a minha cabeça girando sem parar ao redor do casal Baker. Subi as escadas até meu quarto, querendo chegar o mais rápido possível no local e jogar-me em minha cama, permitindo que eu entregasse-me às lágrimas pela última vez naquele dia.

Estava prestes a segurar a maçaneta de minha porta, quando Charles sai de repente de seu quarto, assustando-me e assustando a si próprio também. Ele ainda estava com as roupas que havia ido trabalhar, provavelmente tinha acabado de chegar. Se não estivesse tão distraída na volta para o orfanato, teria notado que já estava escuro e que estava no horário em que eu e ele voltávamos de nossos respectivos trabalhos.

— Autumn – disse meu nome em um tom baixo e com sua voz rouca, fechando a porta de seu quarto atrás de si. Ele olhou-me nos olhos e franziu o cenho, parecendo confuso e surpreendentemente preocupado. – O que aconteceu?

Era como se ele tivesse lido meus pensamentos e soubesse o que havia acontecido. Ou talvez minha cara só não estivesse a das melhores, apesar de todo o meu esforço para não demonstrar nada. Mas o fato era que ele sabia que havia algo de errado e agora não havia escapatória.

Charles aproximou-se de mim, ainda analisando meu rosto e provavelmente tentando achar alguma pista do motivo para eu estar daquele jeito. Eu só queria entrar logo no meu quarto e soltar as lágrimas que eu vinha segurando desde que saíra do hospital, mas ele estava fazendo tudo ficar ainda mais difícil, encarando-me daquela forma.

— O que houve, Autumn? Foi alguma coisa com o Sr. Baker? – Perguntou outra vez.

Ouvi-lo referindo-se ao Merle fez com que a imagem dele sobre aquela cama de hospital e a realização de sua atual situação – que eu tanto tentava evitar pensar – voltassem a minha mente dolorosamente. Aquilo havia sido o estopim para mim e para toda a avalanche de sentimentos que eu estava segurando dentro de mim. Quando vi, meus braços já estavam em volta de sua cintura e meu rosto enterrado em seu peito.

Eu não sabia como ele reagiria ao que eu tinha acabado de fazer, muito menos eu sabia como reagir. Na verdade eu não pensava em mais nada no momento, a não ser em Merle e em como meu peito doía ao fazer isso. Senti quando suas mãos seguraram meus braços suavemente e logo imaginei que ele me afastaria de si. Já estava preparando minhas desculpas pelos meus atos, quando elas escorregaram até minhas costas e apertaram-me levemente contra o seu corpo, fazendo meu coração acelerar e a angústia que sentia nele diminuir mesmo que um pouco.

A sensação de conforto foi inevitável e me vi chorando mais ainda, molhando significantemente seu cardigã. Ele parecia não importar-se com aquilo, o que me surpreendeu, pois era algo que Charles White faria. Seu abraço era estranhamente aconchegante e uma das principais razões talvez fosse a mistura de cheiros que ele exalava, algo parecido com café, canela e algo amadeirado que eu nunca havia sentido antes, provavelmente porque nunca havia estado tão perto dele assim.

— Ah, ótimo, temos companhia – o ouvi murmurar acima de mim, com seu queixo apoiado sobre minha cabeça.

Afastei-me devagar, apesar de no fundo querer continuar ali por mais tempo, e virei minha cabeça para ver sobre quem ele estava se referindo. Porém Charles foi mais rápido, abrindo a porta e conduzindo-nos para dentro de meu quarto, antes que eu pudesse ver mais alguma coisa além de cabelos masculinos tom de caramelo.

Charles fechou a porta atrás de nós e foi impossível não sentir-me estranha. Era a primeira vez que ele entrava em meu quarto, mesmo que o meu não fosse nada demais e quase idêntico ao seu. Ele virou seu corpo em minha direção, ainda com um de seus braços ao meu redor, e encarou-me profundamente, aparentando não perceber ou não se importar com aquele fato. Deu alguns passos para frente, conduzindo-me até a minha cama, fazendo-me sentar na mesma e logo se sentando ao meu lado.

— Você acha que consegue falar agora ou precisa de mais algum tempo? – Sua voz era grave, mas suave, quase como um afago aos ouvidos.

Enxuguei meu rosto, tentando recompor-me e voltar a agir mais como a Autumn que eu costumava ser ou que vinha fingindo ser – naquele momento eu não sabia mais de nada. E sentindo a mão de Charles ainda no meio de minhas costas, eu só queria apoiar-me nele outra vez, experimentar mais daquela sensação reconfortante de antes e sentir seu cheiro acolhedor até esquecer-me de tudo. Portanto não hesitei em encostar minha cabeça em seu ombro e fechar meus olhos, pretendendo permanecer daquela forma por um bom tempo.

Mas quando sua mão gélida fez seu caminho até o meu braço e começou a subir e descer lentamente, em uma forma de carinho, lembrei-me de que lhe devia uma explicação pela minha reação. E então, sentindo-me mais calma e respirando fundo, comecei a contar-lhe sobre Merle, como ele havia se negado a ver-me e até mesmo sobre a Martha ter contado sobre o suposto sentimento fraternal que ele nutria por mim.

Durante aqueles minutos, que sinceramente eu mal vi passar, ele não era Charles White, o garoto estranho e assustador que havia quebrado os braços de um órfão, no qual havia o agredido de várias formas por anos; ele era só o Charles, o garoto mais inteligente que eu conhecia e de humor sarcástico, que me irritava ao mesmo tempo em que me divertia, que agora eu sabia que conseguia acalmar-me em segundos e que era o meu único e melhor amigo.

Tinha medo de olhar em seus olhos claros encantadores e vê-los encarando-me com pena, por isso os mantive presos nos botões de sua camisa ou mesmo sobre o chão de madeira sob nossos pés. Porém quando terminei de falar e o silêncio se fez grande demais para ser suportado por mais tempo, tive de tomar coragem. Afastei-me e direcionei meus olhos até os seus, encontrando-o fixados em mim.  Era difícil identificar o que eles estavam transmitindo, parecia algo como compreensão, mas a única coisa que eu tinha certeza era que não havia dó ali, o que fez com que eu respirasse mais tranquila.

— É compreensível a atitude dele – respondeu depois de um tempo, estendendo sua mão livre e limpando timidamente uma lágrima que caíra dos meus olhos enquanto eu discursava. – Pelo o que você me descreveu, acho que seria normal o Sr. Baker se sentir inseguro em mostrar aquele seu lado para você. Ele se vê como uma espécie de figura paterna para você, alguém no qual você pode se apoiar e contar sempre. Obviamente que vê-lo frágil daquela forma, só destruiria a imagem que o Sr. Baker quer que você tenha dele. Ele só precisa de um tempo, Autumn.

Meu nome havia saído tão graciosamente de seus lábios que foi quase impossível segurar um suspiro. Eu não estava sabendo lidar com aquele Charles, ao mesmo tempo em que gostava dele e não queria que desaparecesse. Depois de um tempo encarando-o sem palavras, desviei meus olhos numa tentativa de voltar a concentrar-me no assunto e não no rapaz ao meu lado.

— Sim, eu entendo o lado dele. Mas ele não vê que eu poderia ajuda-lo a passar por tudo isso junto a Martha, mesmo não sabendo ao certo como?

— Em minha opinião você sabe exatamente como fazer isso, mesmo que pense o contrário, só precisa de um pouco de prática. Se quer saber, acho que é algo natural seu – disse ele, lançando-me um pequeno sorriso e atraindo meu olhar de volta a si. – Não precisa se preocupar, tenho certeza de que os dois são muito agradecidos por ter você junto a eles nesse momento, acontece que o Sr. Baker não percebeu isso ainda, mas vai mais cedo ou mais tarde.

Não consegui e nem quis segurar o singelo sorriso que se formou em meu rosto também. Sentia meu coração um pouco mais leve com suas palavras. Parecia que Charles White também tinha um talento natural em ajudar pessoas desamparadas, mas resolvi guardar aquilo para mim, com medo dele ficar constrangido e trazer o antigo Charles de volta.

Antes que eu pudesse agradecê-lo por suas palavras, o rapaz levantou-se da cama de repente e não pude evitar o sentimento de decepção que me atingiu ao imaginar que iria embora. Mas ao invés disso, para o meu alívio, ele virou-se e perguntou-me:

— Você não jantou ainda, jantou? – Balancei a cabeça em negação, tentando adivinhar o caminho que aquilo levaria. – Ótimo.  Por que não toma um banho e coloca roupas mais confortáveis, enquanto eu pego algum coisa para gente comer? Eu já volto.

Fiquei um tempo encarando a porta por onde ele havia saído, tentando recuperar-me de toda aquela mudança repentina de personalidade. Foram minhas lágrimas que causaram tudo aquilo? Ou o abraço? Ou apenas o fato de eu ter lhe confiado tudo o que tinha acontecido? Bom, eu só sabia que iria continuar aproveitando daquele Charles amigável o máximo que pudesse, ao mesmo tempo em que torcia para que ele nunca desaparecesse totalmente da minha vida.

Meus devaneios não foram tão longe, pois o som de seus passos logo parou, chamando minha atenção. Não muito depois, uma voz masculina, não tão grave quanto a de Charles e um tanto desengonçada, fez-se presente. Ela não estava tão alta, indicando que estava um pouco mais afastada da minha porta, apesar de ainda estar próxima. Não foi preciso mais que alguns míseros segundos para que eu descobrisse quem era o seu dono.

— Por que estava no quarto dela, White? E por que ela estava chorando? Eu juro que se você a tiver machucado...

Havia sido um tanto difícil entender o que foi dito, sua voz estava embaralhada e ele falava em um ritmo mais lento do que era acostumado. Eu não podia vê-lo ou mesmo sentir seu cheiro, mas tinha quase certeza de que o jovem rapaz estava sob efeito de álcool.

— Vai fazer o que, Bennett? Hm? – Ouvi a voz de Charles em um tom hostil e nem um pouco suave como antes, quando ainda estava falando comigo. – Você realmente precisa começar a tratar dessa sua obsessão pela Autumn, já está ficando doentio, sinceramente. Você é o que dela? O pai? – Ele bufou como em uma risada um tanto presunçosa.

— Não, mas eu sou...

Ficaram em silêncio por alguns segundos. Provavelmente Bennett estava tentando encontrar um termo exato para o que era em relação a mim e Charles, conhecendo-o como eu o conhecia, deveria estar sorrindo de puro escárnio enquanto o mais novo penava a sua frente.

— É, Bennett, acho que finalmente percebeu que você não é nada. O problema é que você age como se fosse, o que chega a ser triste e patético, se me permite dizer, mas isso se eu ou a própria Autumn ao menos ligássemos para a sua existência insignificante – disse Charles em um tom frio, que me deu arrepios mesmo estando relativamente longe e atrás de uma porta, não vendo absolutamente nada, apenas imaginando a cena através do que ouvia.

— Seu filho da puta! – Gritou o mais novo.

A próxima coisa que ouvi foram barulhos estranhos e seus sapatos batendo rapidamente contra assoalho. Foi possível também escutar um grunhido quase inaudível vindo de Charles e logo depois um urro de Bennett.

Não demorou para que eu levantasse da cama, apressada, e corresse porta a fora, somente para comprovar o que já estava imaginando: Charles e Bennett brigavam como duas crianças do ensino fundamental no meio do corredor.


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Notas finais do capítulo

Bom, é isso por hoje!

Prometo não demorar para voltar dessa vez, só espero que ainda tenha alguém lendo kkkkk... eu tô rindo, mas é de nervoso.

Como sempre, vocês, leitores guerreiros, sintam-se livres para deixar suas sugestões, opiniões e críticas. E caso encontrem algum erro, não hesitem em me informar.

Muito, muito, mas muito obrigada por terem lido e espero que tenham gostado!

Vejo vocês no próximo! ♥


Tati.



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