Mulher Gavião, a série escrita por darling violetta


Capítulo 6
Perdidos no Tempo


Notas iniciais do capítulo

Eu...



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Shayera sentia-se confortável debaixo dos lençóis macios, mas então ela percebeu alguém a seu lado e sentou-se. A figura a seu lado também se sentou, e segurou seus braços.

─Chay-ara, tudo bem?

Não demorou para notar o homem, muito parecido com Carter, seu marido, mas com enormes asas douradas. Ela possuía as mesmas asas douradas. Olhou ao redor e se viu num lugar que lembrava uma das pirâmides que escavava.

─Você está bem?

Balançou a cabeça.

─Tive um sonho ruim. ─Ela disse. ─Sonhei que éramos humanos, e explorávamos minha tumba. Então, você... você morreu...

Como ela começou a chorar, Katar riu levemente.

─Foi apenas um sonho. Eu estou aqui, assim como você...

─Sim, estou...

Lembrando-se de algo que ela não deveria lembrar, saiu da cama em direção à janela. Abaixo, e até onde sua visão se estendia, era visível o próspero e crescente reino egípcio. Katar juntou-se a ela, abraçando-a no processo. Shayera aceitou o carinho, embora a presença familiar do marido lhe parecesse irreal. Tudo ali era irreal.

*****

John Stewart e Wally West entraram numa caverna mal iluminada. Sua única fonte de luz vinham de algumas velas espalhadas pelo local. Numa mesa de pedra, eles avistaram Shayera deitada. Ela trajava apenas um top esportivo e calças, estava descalça e tinha marcas pretas pintadas na pele.

─Shay...

Wally foi para tocá-la, porém uma mão o impediu. Tanto John quanto Wally olharam para cima e viram um velho homem, encurvado e vestido com uma túnica roxa.

─Se tentarem despertá-la antes da hora, sua amiga ficará presa para sempre...

John sacou a arma e apontou para o velho.

─Espero que a traga para nós.

─Abaixe esta arma, John Stewart. Isto não será necessário.

─Como sabe meu nome? ─Indagou.

─Não se preocupe, ela me disse sobre vocês. Sou o Guardião da mente.

Enquanto John se acalmava e guardava a arma, Wally olhou de Shayera para o velho.

─E... o que fez com ela?

─A senhorita Sauders veio até mim em busca de ajuda. Ela está em outro tempo agora, revivendo o passado, e buscando respostas.

─Respostas para que?

Tocou-lhe a testa. Ela ficava mais quente. No entanto, ela ainda tinha algumas horas. Algumas horas até o amanhecer.

─Para as dúvidas de seu coração.

*****

Mais tarde, Chay-ara decidiu dar uma volta pelo palácio, tentando descobrir o motivo da estranheza. Ela se sentia tão deslocada ali, ma estava em casa, certo? Ouvindo a voz do marido, aproximou-se do salão principal.

Katar estava no trono, de frente a dois outros homens. Atrás dele, havia um quarto elemento, que por algum motivo, ela não gostava. Em algum momento, Katar viu sua amada de pé na porta e se ergueu com um sorriso.

─Chay-ara! ─Ele disse. ─Venha até mim.

Ela obedeceu. Enquanto caminhava, ele continuou.

─Moswen e Bashari retornaram da guerra com boas novas para nós.

Os dois homens se voltaram para ela. Eles eram idênticos a seus amigos Wally e John. Seu coração disparou, e ela teve suas lembranças de volta. Agora, Shayera sabia porque se sentia tão deslocada. Ela não era Chay-ara, a esposa do Deus gavião. Ela era Shayera, a nova mulher gavião. Ela estava fora de seu tempo!

Aquilo era demais para ela. Sentiu suas pernas fraquejarem e ela foi ao chão. Quando acordou, estava em uma cama enorme e macia, infelizmente, não em seu mundo.

─Chay-ara. ─A voz de Katar começava a irritá-la.

Ele se aproximou, mas ela livrou-se dele. Vendo o olhar de surpresa, sua ira se amenizou.

─Desculpe-me.

Ele ergueu a sobrancelha. Sua esposa agia misteriosa o dia todo.

─Tem algo a me contar?

─Sinto como se fosse outra pessoa. Sinto que não deveria estar aqui.

─Não é isso a que me refiro. Você desmaiou e...

Percebendo o que ele queria dizer, ela riu. Shayera riu tão alto, como se as palavras dele fossem um grande absurdo.

─Oh, não, não. ─Saiu da cama, ainda aos risos. ─Não estou grávida. A última coisa que quero em minha vida é ter filhos.

Shayera não notou o olhar desconfiado de Katar, enquanto ela saía sem olhar para trás.

─Mas você... ─Não terminou a frase, mas estava decidido a descobrir o que havia de errado.

*****

Shayera foi dar uma volta no palácio, procurando uma maneira de voltar para casa. Pouco depois, descobriu a área de treinamento dos soldados, e ela imaginava que John e Wally, ou melhor, Bashari e Moswen, estariam entre eles. Ouviu a voz de John e soube que estava no lugar certo.

─Aquele que vencer meu desafio ganhará a primeira rodada de bebidas na casa de Senet.

Em instantes, começou o som de metal contra metal das espadas. Sorriu, pensando que seu amigo era um guerreiro desde os primórdios. Deu os poucos passos restantes para dentro da área. Mal entrou e os soldados curvaram-se perante ela.

Chay-ara nunca gostou de ser tratada como deusa, e Shayera gostava menos ainda da recepção. Mandou-os se erguer e se aproximou da pequena arena. Para sua surpresa, não era John a duelar, e sim Wally e outro soldado.

─Estou entediada. Posso juntar-me a vocês?

─Não seria apropriado... ─Começou Wally.

John riu, apesar do espanto de Wally.

─Dê-lhe uma espada, Jahi.

O rapaz que duelava com Wally entregou-lhe a espada que tinha em mãos. Com uma reverencia, afastou-se um pouco.

─Quanto a você, irmão, trate nossa rainha como ela merece.

John ignorou o estranho olhar que a versão egípcia de Wally lhe enviou. Relutante, trocou a espada da mão direita para a esquerda e ficou em posição de luta.

─Não haja como se eu não pudesse levá-lo, Moswen. ─O nome soou estranho em sua língua. ─Lute como se eu fosse outro soldado.

─A senhora nunca seria um soldado. Mas aceito o desafio.

Eles logo começaram a duelar, no entanto, para Moswen, aquela não era sua adorada rainha. Seus modos, sua postura, eram completamente diferentes. Como ninguém percebeu antes? Deixou que ela o derrubasse. Shayera apontou a espada para ele, triunfante.

─Venci.

─Eu percebi.

Ficou de pé, entregando a espada a Bashari, seu irmão. Sem palavras, deixou o campo de treinamento.

*****

Wally andava de um lado a outro, nervoso. John apenas assistia o velho Guardião checando a temperatura de Shayera. Ela ficava mais quente à medida que a manhã se aproximava.

─Por que faz isso? ─Indagou.

O homem o encarou.

─Se o dia amanhecer e ela não despertar, sua mente ficará perdida em outro mundo para sempre. E seu corpo, irá morrer. No entanto, ela sabia das condições impostas.

─E Shay aceitou?

─O tamanho do risco é proporcional ao resultado almejado. Sua amiga precisava urgente de mim. ─Suspirou. ─Espero que ela consiga voltar.

*****

A tarde avançava, e o sol estava prestes a desaparecer no horizonte. Shayera saiu de seu banho nas margens do Nilo, seguida de duas criadas. Uma cabeça vermelha surgiu no horizonte e foi se encontrar com ela. Era Wally, ou Moswen.

─Deixe-nos a sós.

As criadas saíram, dando risadinhas.

─A semelhança é impressionante, contudo há diferenças que não escapariam aos olhos dos mais atentos.

Ela franziu o cenho.

─Não sei aonde quer chegar, Moswen.

─Minha senhora luta com destreza e age como uma verdadeira rainha. Já você, se não me engano, tem os modos de um soldado destreinado.

Cruzou os braços.

─Você é um soldado.

─E não é desonra nenhuma, a não ser que seja nossa rainha.

Vendo-se sozinha com Moswen, Shayera teve uma idéia.

─Por que não me acompanha em um passeio? Assim poderemos conversar.

*****

Sentaram-se debaixo de uma grande árvore no jardim do palácio. A presença de seu amigo, mesmo uma outra versão dele, trouxe-lhe um pouco de conforto. Ela riu em descrença.

─Você e John, quer dizer, Bashari, são irmãos?

Ele assentiu.

─Minha família foi morta no deserto, e uma caravana egípcia me salvou. Os deuses me levaram à uma nova família.

─Faz sentido.

─E quanto a você? Como os deuses lhe trouxeram?

Mowen contou-lhe a história de sua vida, então, ela deveria fazer o mesmo.

─Vim de uma terra distante, um outro tempo. Eu precisava organizar minha vida, e conheci um mago, que me mandou para minha existência passada. Parece loucura, eu sei.

─Acredito em você.

O sacerdote e conselheiro de Katar, Hath Set, observava escondido a interação entre a rainha e um simples soldado. Aquilo o enfurecia, pois sabia que o rei era cego em relação à tudo que ocorria no palácio, ao contrário dele. Mas ele ajeitaria tudo.

*****

Anoitecia e Moswen sabia que precisava voltar para seus aposentos. Bashari descansava em uma rede quando percebeu a presença do irmão.

─Espero que suas escapadas com a rainha tenham valido a pena. Porque isso não pode continuar.

─Não sei a que se refere.

Bashari sentou em sua rede.

─Ouço os comentários entre os criados, e logo chegarão aos ouvidos do rei.

─São boatos, irmão. Afinal, também comentam sobre você.

─Boatos ou não, terão de parar.

*****

Hath Set foi falar com o rei. Suas palavras foram ignoradas, principalmente após a chegada da rainha. Ela o expulsou, como se ele não fosse importante. Ele era um sacerdote, e foi tratado por do que se trataria um escravo! Mas ele não deixaria as coisas como estavam. Ele traria ordem ao palácio.

*****

Katar preparava-se para ir aos aposentos reais quando Hath Set surgiu novamente.

─Pensei que fui claro ao expulsá-lo. Saia.

─Eu não o obedeço mais, senhor.

Diante dos olhos de Katar, Hath Set transformou-se numa gigantesca cobra.

─Guardas!

O rei gritou, mas era tarde, como ele foi engolido pela cobra. Os guardas também foram em vão contra seu poder. Ele agora ia em busca de sua vingança.

*****

Os gritos vinham de todos os lados como eram atacados. Shayera saiu dos aposentos da rainha para ver o que acontecia, e se deparou com uma cobra gigantesca devorando um soldado. O monstro veio para seu lado, e ela foi puxada por Bashari e Moswen, que seguravam a porta, impedindo o monstro de entrar.

─Não vamos resistir por muito tempo. ─Disse Bashari. ─Tire-a daqui, Moswen.

─Não partirei sem você, irmão.

─É uma ordem.

Relutante, ele e Shayera saíram. Ambos ouviram os gritos de Bashari, enquanto ele lutava contra o monstro. Shayera e Moswen correram por suas vidas. O dia amanhecia e ficava difícil se esconder na escuridão.

Quando Hath Set em forma de cobra apareceu, Moswen depositou um suave beijo em seus lábios. Ele lutou bravamente, mas não era páreo para a fúria do oponente. Shayera se encolheu, assistindo com horror seu amigo também ser devorado. Ela estava sozinha e desarmada, e sem motivos para lutar. Seus amigos se foram, e ela não tinha para quem correr.

Restava-lhe somente o mesmo fim que seus amigos receberam.

*****

Shayera começou a se debater. O velho aproximou-se dela. Ela queimava de febre. O sol também nasceria em breve.

─Não é bom. Não é bom.

─O que ela tem?

─Ela está lutando, porém, não pode vencer sozinha.

─Podemos trazê-la? ─Indagou Wally.

O velho balançou a cabeça.

─O preço é alto, mas há um jeito. Voes deverão entrar em sua mente e ajudá-la com o despertar.

─E se não conseguirmos?

─Também ficarão presos.

Os dois homens se entreolharam.

─Sabe, John, a gente não tem se falado nos últimos dias, mas você é como um irmão para mim, e Shay também é minha amiga. Eu morreria por qualquer um de vocês, e sei que fariam o mesmo por mim, apesar de brigados. O que me diz?

John fitou por um instante a ruiva que ainda se debatia. Ele sabia que faria qualquer coisa por seus amigos.

─Somos um trio, certo?

─Certo.

John e Wally seguraram as mãos de Shayera, e deram as mãos em seguida.

─Vamos trazê-la de volta.

*****

Shayera estava encolhida, quando ouviu a voz de John, seguida pelo tiro.

─Viemos ajudá-la.

─Como? Por quê? ─Balbuciou.

─Somos amigos, Shay. ─Era Wally. ─E amigos sempre se ajudam.

─Agora, enfrente-o. A não ser que queira ser o café da manhã.

Juntos, os três derrotaram a cobra gigante. Quando o monstro caiu, o sol acabava de surgir. Eles venceram. Shayera não teria conseguido sozinha, sem o auxílio de seus bons amigos.

*****

Os três estavam diante do mago. Em sua mente, realidade e sonho se misturavam.

─Aquilo foi real?

─Tudo que acreditamos ser real, torna-se real. Você disse que estava confusa em relação a seus sentimentos, assim como os homens presentes em sua vida.

Os três se entreolharam. O mago continuou.

─Eu sabia que você não sairia sem a ajuda deles, e seus amigos precisavam ignorar o que sentiam e cooperar, para escaparem. O que cada um tira desta lição, diz respeito apenas a cada um.

O mago desapareceu na frente deles, como num passe de mágica.

─Acho que ele tem razão. ─Disse John. ─Shayera, você é uma mulher incrível, e trouxe algo novo à minha vida. Confesso que me senti atraído por você, mas eu amo Mari. E não quero brigar com meu melhor amigo por causa de uma mulher.

─Por que não vai dizer à sua esposa que a ama? ─Indagou.

─É o que farei. Comprarei flores e a levarei para jantar.

John saiu apressado, na frente de Wally e Shayera.

─Qual sua lição a respeito disso?

─Eu gosto de você, Shay.

─Wally...

─Não, deixe-me dizer isto. Eu gosto muito de você, mas acima de tudo, somos amigos. John, você e eu. Somos um trio, e lutamos juntos. Dói saber que você não me corresponde, mas doeu muito mais quando nos separamos. Então, sermos amigos, nós três, é bom. O que me diz?

─Eu não esperava menos de vocês.

Eles se abraçaram, e caminharam assim para fora da caverna.

─Ainda não disse o que viu antes de chegarmos.

─Coisas.

─Não pretende me contar?

─Um cavalheiro não faz perguntas e uma dama nunca responde. Agora vamos sair daqui.


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