Mulher Gavião, a série escrita por darling violetta


Capítulo 10
Vena Amoris




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John caminhava com Shayera em uma manhã ensolarada de terça-feira. Apesar do dia lindo, Shayera usava óculos escuros, enquanto John a guiava pelo parque, para uma área cercada por uma faixa amarela.

─E pensar que estou perdendo uma relaxante manhã de inventário para isso. ─Ela comentou. ─Vocês não têm peritos?

Ele coçou a cabeça.

─Temos, mas eu precisava de uma opinião diferente.

Apesar de erguer uma sobrancelha, Shayera seguiu o amigo pelo resto do caminho sem mais perguntas. Pouco depois, ela se viu em meio à bagunça que era uma cena de crime. Seu visual de camisa, saia e salto alto destoava dos macacões e uniformes dos peritos.

─Assustador? ─Indagou.

─Diferente. Normalmente, não é meu trabalho.

─Eles precisavam de uma especialista, e você é minha especialista.

Quando Shayera se viu, ela estava em uma nada agradável cena.

─Gargantas cortadas? Que dia!

*****

Apesar da manhã nada agradável, o dia seguiu completamente calmo para Shayera. Não houve alarmes, chamadas da polícia ou algo com que devesse se preocupar. Já Wally estava em seu amado laboratório, quando John chegou.

─O que tem pra mim, Wally?

─Uma enorme curiosidade de perguntar porque chamou a Shay para uma cena de crime, mas, como sou profissional, vou deixar passar por enquanto.

─Até quando vai evitá-la? Sabe que ela não teve escolha.

O ruivo deu de ombros. Caminhou até alguns papeis e os analisou.

─Eles foram dopados, mas isso é meio óbvio.

─Os O’brien estavam desaparecidos há uma semana. Para Shayera, foi algum tipo de ritual de canibalismo.

─Quando ela virou sua consultora?

─Wally... ─John repreendeu-o. ─Para.

─Não está aqui quem falou...

*****

A mulher chorava, ainda meio grogue. A lâmina fria tocou seu pescoço, enquanto uma mão tapou sua boca.

─Sinto muito, meu amor. ─A voz masculina disse. ─Feche os olhos. Está tudo bem...

Apesar do medo, ela o fez. Morrer pelas mãos de seu amado. Ao menos seria rápido, porém, nada indolor. Ela gritou, sentindo a lâmina cortar sua carne, contudo, logo sua vida esvaía.

O homem, também em lágrimas, largou a faca. Ele olhou do corpo inerte da amada esposa para a figura sinistra que estava à sua frente.

─Satisfeito? ─Sua voz entre dor e raiva. O sotaque latino acentuado. ─Agora, deixe-me ir...

Mas a figura negou-lhe. Calmamente tirou uma faca da manga da blusa e aproximou do homem.

─Desculpe, senhor Alba, mas já viu meu rosto. Alem do mais, provou que não amava tanto assim sua esposa, ou teria sacrificado sua vida por ela.

─Eu fui rápido. Juliete não sofreu!

─O senhor foi egoísta. Espero que ela o perdoe quando encontrá-la no paraíso. Ou inferno. Eu realmente não me importo.

Alba tentou fugir, mas suas pernas amoleceram e ele caiu, também sob o efeito vestigial da droga que lhe deram. Mesmo com a visão embaçada, pode ver a figura velha se aproximar com uma faca. Era seu fim.

*****

Shayera acordou às cinco da manhã com uma chamada de John. Atendeu, meio sonolenta.

─Você só pode estar brincando comigo. Ok, ok. Me dê meia hora.

Com um suspiro pesado, forçou-se a sair do calor de suas cobertas e foi para o chuveiro. Uma ducha melhoraria seu humor.

*****

Ela estava em outra cena de crime. Mas porque tudo lhe parecia tão familiar? Oh, sim, a maneira como o assassino agia. Outro casal jazia sobre o solo. Juan Alba, um homem latino de 45 anos, e sua esposa, dois anos mais nova. Já os O’brien eram bem jovem 22 anos cada um. Como se lesse seus pensamentos, John disse em voz alta.

─Qual a ligação entre os O’brien e os Alba?

─Além de ambos serem casais com problemas matrimoniais? ─Disse Wally, com sua câmera, tirando fotos. Ele então notou Shayera. ─Oi.

A ruiva respondeu com um aceno de cabeça. Porém Wally devia estar certo. Ele sempre estava.

─Que casal não discute? ─Era John.

─Linda e eu nunca brigávamos, por isso, achava que estava tudo ok. Quando me dei conta, ela me trocou por um cara rico de meia idade.

John teve que rir, por isso ganhou um olhar desaprovador do amigo.

─Se serve de consolo, Wally, não há nada pior do que ver seu marido morrer na sua frente. ─Disse Shayera.

─Ver minha garota com outro foi bastante dolorido pra mim.

Shayera não tinha certeza, mas aquelas palavras duras se dirigiam a ela. John tossiu, tentando voltar ao foco da investigação. Durante toda a perícia, os ruivos trocavam farpas. Não era difícil perceber a tensão entre eles. Ainda bem que logo acabou, e Shayera pode voltar para sua entediante rotina no museu.

*****

Naquele fim de noite, após um dia turbulento, Shayera estava em seu escritório, trabalhando até mais tarde, como normalmente fazia. Ela ouviu um barulho como vidro se quebrando e foi verificar.

Algo a atingiu no pescoço. Mais que depressa, ela tirou o objeto. Um dardo tranqüilizante. Ela tentou se apoiar, mas suas pernas fraquejaram e ela caiu.

*****

Do outro lado da cidade, Wally também trabalhava até tarde. Estava irado com John, e também com Shayera. Apesar das distrações, estava a ponto de concluir seu relatório quando ouviu um barulho.

Ele normalmente ficava sozinho, e seria incomum ter outro alguém, mas não impossível. Com a resolução que seria outro colega de trabalho, continuou seu relatório.

De repente, algo o atingiu, e o mundo ficou escuro.

Quando acordou, percebeu que estava amarrado, mas não estava sozinho. A voz feminina familiar veio até ele.

─Fico feliz que esteja vivo, Wally.

─Shayera? Pode me soltar?

─Eu o farei, quando conseguir me desamarrar.

Eles estavam em uma sala escura e quando alguém acendeu a luz, eles tiveram que piscar algumas vezes até conseguir distinguir a forma masculina idosa parado na porta.

─Vejo que os pombinhos estão acordados.

─Quem é você? ─Indagou Wally.

─Sou um amigo, e vou ajudá-los a resolver seus problemas.

─Nos amarrar é um bom jeito de resolver os problemas.

*****

John estava no laboratório de crime, onde havia objetos quebrados, e seu melhor amigo havia desaparecido. Pegou o relatório em que Wally trabalhava.

─Hum, interessante...

*****

O velho andava de um lado para outro.

─Gostaria de ser conhecido como Vena Amoris. “Vena amoris” significa “veia do amor”. Eu normalmente trago casais com problemas, para que enfim percebam que se amam. Antes de sua morte, claro.

─Sério? ─Shayera questionou. ─Você acha que funciona assim?

Vena amoris então tirou uma arma escondida da cintura.

─Ficaria surpresa em saber o quanto as pessoas podem fazer se pressionadas.

─Ela sabe. ─Wally retrucou.

─Não é a hora, Wally.

─Oh, sim, sim. É a hora perfeita para discutir a relação.

Ele depositou a arma em uma pequena mesa, ao lado de outros equipamentos de tortura. Pegou uma enorme agulha e um vidro com um líquido transparente. Logo, Wally sentia a agulha em seu braço. Pouco depois, sentia-se um pouco tonto. Algo como se fica grogue por falta de sono.

─Eu me sinto engraçado. Parece que fumei uns dez baseados.

─Senhor West, diga à sua amada senhorita Sanders como se sente.

─Como sabe meu nome? ─Ele indagou.

─Tenho meus meios. E então?

Wally estava de costas para Shayera, amarrado na cadeira. Abaixou a cabeça e suspirou.

─Estou decepcionado com você, Shay. Pensei que fosse melhor que isso, mas agora vejo que é igual aos criminosos que caça. Espera! Por que eu disse isso?

─Soro da verdade. Já que trabalha na policia, deve saber o que é.

─Fui drogado?

Shayera tentou ver Vena Amoris, que estava na frente de Wally.

─É. Por que ele e não eu?

─Terá sua vez, senhorita Sanders. Agora me diga, Wally, onde Shayera e caçar criminosos se ligam?

─Shay é a Mulher Gaviao. ─Uma pausa. ─Sei que não deveria estar dizendo essas coisas. Me desculpe, Shay.

─Tudo bem, Wally. ─Afirmou, embora não tivesse tanta certeza.

Vena Amoris deu a volta e parou na frente da heroína. Tocou-lhe o rosto. Ela tentou desviar, mas ele a segurou firme.

─Quem diria? Peguei alguém famoso.

Quando ele a soltou, com uma risada debochada, Shayera cuspiu em seu rosto.

─Vadia! ─O tapa veio certeiro, e ficaria vermelho por algum tempo. ─Não me deixa escolha.

Pegou a agulha, e foi a vez dela de sentir-se tonta. Sentia-se mole e a cabeça pesada.

─Diga, minha cara. Como se sente ao ouvir a verdade vinda de seu amado?

─Wally não é meu amado. Mas me sinto péssima em saber que ele me odeia agora.

─Não te odeio, Shay. Você apenas me decepcionou.

─Lindo. ─Zombou. ─Estamos trabalhando os sentimentos para fora. É um começo. Quem será o primeiro?

─Primeiro a que?

─A partir desta para uma melhor.

Fingiu pensar, então caminhou para sua mesa de tortura. Pegou uma faca e se aproximou de Shayera. Ao contrário do que imaginava, ele soltou as cordas que a prendiam.

─Por que me desamarrou?

─Eu prefiro fazer os maridos matarem suas adoradas esposas, no entanto, será divertido ver alguém como você ceifando a vida de seu amado.

Shayera fitou de seu opressor para Wally. Ele desviou o olhar, e ela fez o mesmo.

─Me obrigue.

─Ah, eu posso fazê-la se arrepender de pedir.

*****

Shayera também não respondia suas ligações

Onde seus amigos estavam? John começava a se preocupar seriamente.

Talvez fosse hora de colocar a policia atrás deles.

*****

A ruiva estava amarrada em uma cadeira. Vena Amoris fez cortes em seus braços, e os hematomas roxos surgiam em seu belo rosto. Ela gritou quando ele girou a lâmina em sua pele, mas então o velho se afastou e começou a sair.

─Você é forte. Vai exigir todo meu arsenal.

─Por que não acaba com isso, Shay?

─Cale a boca, Wally. Se confiar em mim, eu o tirarei daqui depois, poderá parar de falar comigo novamente.

─Desculpe, eu...

─Eu sei...

Pouco depois, ele voltava.

─Decidi que quero acabar com isso. ─Ela disse.

Vena Amoris sorriu e caminhou até Shayera.

─Boa menina. Mas eu mudei de idéia.

─E o que pensou?

Sem palavras, o velho abaixou-se e beijou-a. A surpresa do momento deixou-a desconcertada, mas ela acabou de se soltar, e roubou-lhe a faca. Quando ele percebeu, tinha a lâmina contra sua garganta. Ela sorriu, vencedora.

─Sua expressão mudou. ─Vou cortá-lo e fazê-lo sofrer muito mais do que estes pequenos cortes que me infringiu.

*****

Uma hora depois, John recebeu uma ligação de uma residência fora dos limites da cidade. Ele mandou as viaturas para o local, e encontraram além dos ruivos, o corpo de um velho. Shayera e Wally contaram uma versão resumida do ocorrido.

Tempos depois, os ruivos se encontravam sozinhos. Eles se encaram por alguns segundos, e o silencio cresceu desconfortável.

─Obrigado, Shay.

─Tudo bem, eu faria por qualquer um.

─Apesar de tudo, eu ainda amo você.

─Eu sei, eu entendo.

─Acho que ainda estamos drogados. Foi bom falar com você, Shay. Fico feliz que não tenha cortado meu pescoço.

Ela assentiu e começou a se afastar, mas parou e se voltou para o amigo.

─Gostaria de me levar até em casa? Temos muito a conversar...

*****

Wally a deixou em frente a seu apartamento. Estava prestes a ir quando Shayera segurou sua mão e o puxou para perto.

─O que?

Ela o beijou.

─Também amo você. Não deixe que eu me arrependa disto.

Ainda sem entender, Wally deixou-se ser guiado para o apartamento dela.

*****

Shayera abriu os olhos saindo levemente de seu sono e fitou Wally. Sentia-se quente e amada pela primeira vez em tempos. Ele sorriu para ela e ela retribuiu. Os raios de sol entravam através da janela parcialmente aberta.

─Não consigo me mover. ─Disse. ─Mas ainda quero...

─O quê? Não! Você não quer, eu não posso.

─Não é o que você está pensando. ─Aconchegou-se mais contra ele, ainda sonolenta. ─Apenas quero ficar abraçada com você. Amo você, Wally.

─Também amo você, Shay.

Logo voltavam a adormecer, abraçados um ao outro, sentindo o amor que lhes era tão necessário.

*****

Do lado de fora, Carter assistia com uma ira crescente a traição de sua esposa. Ele viu quando Shayera chegou com outro homem, viu-a subir para o quarto e não era preciso muito esforço para imaginar o que faziam juntos.

Enervava-lhe imaginar outro homem tocando aquela que um dia foi sua. Que ainda era sua. Seu desejo era invadir a casa e acabar com tudo. Mas uma força maior o fez se virar e ir embora. Uma sombra escura o seguiu, sua risada ecoando pelo local. A Mulher Gavião mal podia esperar pelo que viria.


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