Pedaços Transformados escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 43
Bem-vindo




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bem-vindo

CALUM, 11 ANOS

Uma semana.

Uma semana que não aparecia em "casa".

Uma semana que não fazia diferença na vida de Calum - a parte de aparecer em "casa", porque aquela semana havia feito diferença na sua vida.

Foi uma semana vivendo - completamente vivendo e não apenas... existindo.

Foi uma semana que passou ao lado de pessoas que gostava e que gostavam dele, encontrando motivos para se levantar a cada dia e sorrir mais e chorar menos.

Foi uma semana que tinha que acabar em algum momento, porque Calum tinha que acordar para o mundo, porque ele não podia viver com os Hemmings, porque ele tinha que ir para "casa".

—Ele não pode ficar aqui, Andrew - sussurrou Liz para não ser ouvida e Calum tentou não se sentir um intruso, indesejável.

Ninguém gostaria de uma criança tanto tempo na sua casa quando não era nem parente - e tudo bem que Liz havia sido cuidadosa, carinhosa e tivesse perguntando muitas e muitas vezes se ele não queria mais um travesseiro ou um lençol ou uma torrada ou qualquer outra coisa, mas Calum não pode não perceber o olhar que ela lhe mandava às vezes, como se tivesse pena dele.

—Mamãe vai ganhar - opinou Julie, sentando-se ao seu lado no alto da escada. - Ela sempre ganha.

Luke ficou calado, olhando fixamente para a porta para que pudesse apurar os seus ouvidos, se concentrar completamente na sua audição, antes de dar um meio sorriso à seu amigo e alcamá-lo:

—Papai vai ganhar dessa vez.

—Hum. - Julie olhou para seu irmão duvidosa antes de inclinar a cabeça, ouvindo sua mãe falar. Apenas sua mãe falando. - É - concordou ela. - Papai ganha quando vale a pena.

—Não que eu não o queira - explicou Liz - mas uma semana! Uma semana!

—Andrew não está nem dizendo nada - murmurou Calum. O que aquilo significava?
Andrew não o queria? Não se importava?

—Por isso eu disse que papai vai ganhar - disse Julie impaciente. Será que seu amigo não entendia o que aquilo significava?

—Explique as coisas, Julie - sugeriu Luke, revirando os olhos. - Não é como se Calum fosse entender se você não disser que papai joga sujo e fica calado, esperando que mamãe fique com a consciência culpada.

—Papai joga sujo e fica...

—Eu entendi, Julie.

—Como? - questionou Julie, sorrindo provocativa. - Luke mandou eu explicar, porque não é como se você fosse entender que...

—Shiii! - pediu seu irmão, tapando sua boca para que pudesse ouvir a mãe deles falando.

—Eu já estaria louca se ficasse sem ver meus filhos por tanto tempo. Eu não entendo como Kora não está, como ela... - Liz inclinou-se para frente e sussurrou mais baixo: - Não se preocupa. Eu estou preocupada e olhe que estou vendo e revendo Calum sempre que posso para ter certeza que está tudo bem, que ele está bem.

—Liz? - chamou Andrew quando ela parou.

Calum inclinou-se para frente, esperando pratos serem quebrados, mas só ouviu os sapatos batendo e batendo enquanto Liz provavelmente andava em círculos, pegando e soltando o que estivesse na sua frente para não jogá-los no chão, e seu coração - seu coração batia rápido e rápido e alto, tão alto que sua respiração ofegante parecia silenciosa, e Calum não sabia o que significava esse silêncio de Liz, porque ela não estava fazendo nada, porque estava calada, e ela era igual a Julie, falando e falando e nunca tendo palavras suficientes... e agora elas faltavam?

Luke estava certo e Andrew ganharia a discussão? (Não que ele estivesse discutindo...) Ou Liz... Liz... Calum iria querer ficar por uma consciência culpada, por Andrew ter feito-a achar que ter ele ali era o certo?

—Está tudo... - começou Julie, mas parou, dando apenas um sorriso que poderia significar tudo ou nada ou o mundo, que poderia ser triste e feliz ou apenas feliz, mas ela apertou sua mão e Calum a apertou em retorno, entendendo o significado de sua amiga estar ali com ele, por ele.

—Você a ouviu - disse Luke, dando de ombros quando Calum o olhou cético (porque Julie não havia dito nada). - Papai ganha quando vale a pena.

Até aquele momento Calum não havia percebido que... Não. Ele ainda não entendia, não percebia, não importava, mas apertou a mão de Luke que havia pego quando seu melhor amigo começou a batê-la impaciente apesar de suas próprias palavras (um pouco surpreso por ainda estar segurando-a), esperando que ele entendesse, que houvesse uma comunicação silenciosa de olhares e que Luke visse algo que ele mesmo não podia.

—Certo - disse Liz, suspirando. E Calum olhou para frente, esperando a decisão final. - Eu vou falar com ela.

—Eu tenho certeza que você vai fazer um ótimo trabalho - elogiou Andrew antecipadamente e Liz sentiu como se alguém (ele, seu marido) estivesse massageando seu pescoço e retirando todos os nós tensos antes dela entrar no ringue. - Muito melhor do que eu poderia.

—Não é difícil - murmurou Liz. - Não vindo de alguém que não tem tato e fala a primeira coisa que vem na cabeça.

Andrew deu um sorriso que dizia "por isso que estou te pedindo para fazer isso" antes de dar cinco passos para trás e mudá-lo para "desçam, crianças, vocês ganharam um irmãozinho" e dizer antecipadamente, com um sorriso caloroso e amável e familiar:

—Bem vindo ao lar, Calum Hood.


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Notas finais do capítulo

Sinceramente? Eu tenho um certo problema com incesto e tenho que dizer que se não soubéssemos (é, plural; eu e vocês) que Julie tem namorado (não que isso signifique algo) e que o romance é entre Calum e Luke (isso significa algo), aquela cena de "o sorriso de Julie podia significar tudo ou nada ou o mundo", me faz achar que Calum é apaixonado por ela. Mas - um mas beeemm grande - Julie é irmã de Calum e Calum é contra incesto, e Calum é gay.
(Não me diga!)
(Vocês estão surpresos?)
Contudo também senti uma vibe entre Calum e Luke - essa é a intenção, né?



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