Pedaços Transformados escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 3
Normal & Estranho


Notas iniciais do capítulo

Estou num pique só para atualizar.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/730915/chapter/3

normal & estranho

CALLIE, 4 ANOS.

Callie não sabia explicar o que sentia. Era um frio na barriga, uma vontade de vomitar, uma sensação de que algo estava errado, que algo ruim aconteceria... Callie queria chorar.

As lágrimas chegaram aos seus olhos antes que dissesse não, sendo mais forte do que sua determinação e o desejo que isso não se repetisse, mas isso sempre se repetia.

Callie não gostava de escolas novas, de alunos novos, de tratamentos novos... Callie não queria estudar, preferindo o conforto familiar e confortável da sua casa, mas Malia achava que isso não era bom o bastante e que, como irmã mais velha, seu dever era forçar sua irmãzinha ao que não queria, fazê-la enfrentar a vida.

Callie queria enfrentar sua cama, seus livros, seus animes... Callie queria enfrentar qualquer coisa que não fosse o fato de amanhã ser o primeiro dia de aula numa escola nova, com alunos novos, mas... Como faria isso se não conseguia nem enfrentar seus olhos fechados, seus sonhos assustadores? Ou manter seus olhos abertos e enfrentar a verdade?

—Você está acodada? – questionou Malia, rolando na cama ao lado para poder vê-la melhor. – Bem, dã, é claro que você está.

—Eu não quero ir para a escola – murmurou Callie. – Não amanhã.

—Nem depois de amanhã – continuou sua irmã. – Nem depois, depois de amanhã.

—É – concordou Callie. – Eu não quero.

Callie não iria mentir e dizer que depois, depois de amanhã – depois de alguns dias, algumas semanas, alguns meses – considerava seriamente que estaria. E Malia sabia disso, qualquer um sabia disso, porque elas tinham tentando ir para a escola no ano passado, mas sua irmã não conseguiu, entretanto Malia sabia que tinha que forçá-la. Ela queria estudar, ela queria estudar com sua irmãzinha. Ela estudaria com sua irmãzinha.

Ano passado, Callie não a teve; esse ano Malia recusaria qualquer coisa que não fosse ficar em una sala com sua irmãzinha, para protegê-la de tudo e de todos. E de si mesma.

—Mas nós vamos – disse Malia firmemente, de um jeito que não deixava espaço a opiniões contrárias. – Vamos ao menos tentar. Quem sabe nós fazemos amizade com alguém realmente legal?

—Quem sabe não? – questionou Callie em retorno. – E eu não... Não sou quem nem você, não consigo fazer amizades.

Malia ficou calada, pensando sobre aquelas palavras enquanto colocava as pontas dos dedos gelados no chão mais gelado ainda e corria para a cama vizinha. É claro que Callie não era com ela, Callie era bem melhor e talvez fosse completamente tímida, mas Malia a conhecia e sabia o quão gentil, engraçada e leal sua irmãzinha era, o quanto as pessoas brigariam para tê-la como amiga, porque Callie era alguém que quando pegava o osso não o soltava mais.

—É só você ser você – disse Malia, deitando-se ao seu lado e puxando o lençol e travesseiro para ela. – E jogar uma borracha no chão, é o que eu sempre digo. Jogue uma borracha no chão ou qualquer outa coisa e quando alguém for pegar, você se aplesenta e... Bam! – gritou Malia, empurrando o rosto contra o dela até que estivesse nariz contra nariz. Callie nem piscou. – Você tem uma amiga.

—Ou um amigo – completou Callie, cedendo completamente a colcha. Malia era mais fraca e ficava doente facilmente. – Ou nem um dos dois. Ou alguém morto. Ou eu condenado.

—Respile e respile – murmurou sua irmã, já sonolenta. Sua resposta padrão para coisas que não entendia – Você não estalá sozinha, eu estou com você.

Mas Callie sentia que estava mesmo tendo sua irmã ao seu lado, porque... Ninguém entendia aquele sentimento de estar errado e Callie não sabia como dizer. As pessoas já olhavam de forma estranha, dizendo coisas estranhas, agindo de forma estranha... Callie estava cansado de ser estranho, querendo apenas ser quem era. E normal.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então...
Minha frase favorita do capitulo é "Callie era alguém que quando pegava o osso não o soltava mais."



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pedaços Transformados" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.