Pedaços Transformados escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 22
Ceia


Notas iniciais do capítulo

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ceia

LIZ, 30 ANOS.

—Então... – disse Liz, cruzando as mãos sobre a mesa e fazendo o seu melhor para não mostrar que estava nervosa. Ou ansiosa. Ou com medo.

Cozinhar? Pff, é claro que Liz Hemmings sabia fazer uma ceia natalina que não era completamente industrial, que não era descongelar e colocar no forno e depois no prato e torcer para estar bom, para estar dourado por fora e suculento por dentro.

Hum... Liz sentia sua boca encher de saliva só de imaginar comer algo assim. Qual foi a última vez que comeu algo assim? No dia anterior, e no dia anterior a ele, e em todos os dias anteriores desde que Andrew passou a cozinhar. Ela tinha que reconhecer que apesar de tudo ele sabia cozinhar – foi a primeira coisa que Liz ousou admitir sobre ele.

—Então... – repetiu ela para os seus convidados, olhando para cada um sentados ao redor da mesa.

—Então... – murmurou seu filho, virando-se para a irmã. – Julie?

—Malia? – sugeriu a própria, olhando para frente.

—Calum – respondeu prontamente. – Calum sabe.

—Está muito... – murmurou Calum, olhando para cada um dos seus amigos que se recusava a olhá-lo. – Como é? Eu não consigo lembrar a palavra.

—É – concordou Andrew. – Exatamente assim. Está sem palavras. Não consigo pensar em uma que consiga abranger a complexidade, nem meu paladar consegue.

—Está tão ruim assim? – questionou Liz, colocando uma colher na boca, com um pouquinho de cada coisa. – Oh meu Deus! – tossiu, sentindo que iria vomitar. O arroz estava salgado demais, o peru queimando por fora e congelado por fora e tinha passas na farofa. Passas! Ela odiava passas! – Vamos pedir pizza.

—Estamos numa nevasca, querida – relembrou Andrew.

“Por isso você cozinhou”. Liz não ouviu, mas tinha ouvido tão bem como se seu marido tivesse sussurrado na sua mente e ela se sentiu levantando o lábio superior como se fosse uma loba e fosse rosnar e pular sobre a mesa para atacá-lo.

—Estou me irritando com essa história de querida – avisou Liz, batendo a mão na mesa enquanto se levantava .

—Você está amando – provocou ele. – Como sempre.

—Continue repetindo isso e você dorme no sofá.

—Que-ri-da – disse pausadamente.

—Vocês estão assustando Calum. Vocês deveriam serem educados. Dar o exemplo. Coisas assim – resumiu Julie. – Não ficar flertando descaradamente. Não reclamem quando eu começar a flertar descaradamente.

—Liz? – Andrew soou surpreso. – Qual foi a última vez que flertamos descaradamente?

—Hum – pensou ela. – Não lembro. No nosso casamento? No aniversário de dois anos das crianças? Ou no de 4? Qual foi a última vez que Josephine nos visitou?

—Ontem – respondeu Calum.

Devagar, como se fossem máquinas não calibradas e necessitadas de óleo, todos viraram a cabeça devagar para Calum, como se ele tivesse problema.

Ele tinha problemas, reconsiderou Liz enquanto observava a inocência no rosto de Calum. Não se ensinava mais figuras de linguagens para crianças? Ela precisava de uma conversa séria com a professora dele.

—Obrigada – agradeceu Liz devagar.

—Por nada.

—Você vem sempre aqui?

—Só quando você está – respondeu Calum, sorrindo galante para ela.

Liz sorriu abertamente, sentindo suas bochechas doerem – mas valia à pena. Talvez as crianças aprendessem algo na escola. Ou ela fosse uma ótima influência. Ou seu marido. Ou seus filhos. Ou sua família completa. Era difícil escolher.

—Andrew irá cozinhar agora – disse Liz, puxando a cadeira dele e oferecendo seu braço. – Você poderia nos contar mais sobre isso. Ou apenas a mim.

—Mãe, já é quase natal e não comemos – interrompeu Luke.

—Desde quando você comemora natal, Luke Hemmings?

—Eu não tenho fome, mas estou bem perto de ficar – disse Julie. – Meu limite é meia-noite.

—Você poderá se gabar que comeu bem a meia-noite no natal aos seus amigos.

—Eu não tenho amigos.

—Você poderá fazer amigos quando se gabar disso – corrigiu sua mãe.

—Eu não tenho certeza disso.

—Confie na sua mãe, querida. Ela está sempre...

—A ceia está pronta! – gritou Andrew, empurrando um prato no meio da mesa.

—O que?

—A ceia está...

—Eu ouvi da primeira vez.

—Então?

—Como... – Liz estava sem palavras. Todos aqueles depósitos na geladeira estavam agora na sua mesa, abertos e com uma ótima cara e cheiro. – Você cozinhou e guardou e não disse nada?

—É.

—Você me deixou cozinhar mesmo sabendo que tudo iria sair péssimo?

—Sim.

—Eu te amo – disse Liz, pegando o primeiro utensílio que viu e enfiando no que tinha a melhor aparência. – Eu te amo. Com toda certeza eu te amo. Eu não sei se já te disse isso, mas, hum... – gemeu ela, saboreando a comida.

—Eu te amo? – sugeriram quase que todos, menos Andrew que só sorria.

—Eu amo sua comida.

—Eu sei, querida. Eu também te amo.


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Notas finais do capítulo

Liz é nova. Muito, muito nova – ao menos para mim ela é. Ela teve seus filhos com 22 anos nas minhas contas e estava no último ano na faculdade.



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