Pedaços Transformados escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 164
Acreditava – P A R T E U M




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acreditava – P A R T E  U M

setembro, hoje

—Ei, Julie.

—Hum? – murmurou ela, cansada.

Seus olhos teimavam em se fechar não importava o quanto ela tentasse mantê-los aberto. Ela estava tão, tão cansada, mas não cansada o suficiente para querer dormir; não o suficiente para sair dali. Ela não sairia dali até ter notícias de Calum; até ter certeza que ele estava bem, melhor; até abraçá-lo apertado e dizer o quanto o amava e recusava-se a perdê-lo também.

Por que eu?

Por que ele?

Por que Calum?

Ela não iria perdê-lo.

Ela não iria.

(Talvez, se repetisse o bastante, as palavras tornassem verdades, seu pedido fosse escutado, seu desejo de realizasse. Talvez sorte existisse e ela tivesse alguma, soterrada em baixo de todo aquele azar que a perseguia.)

—Julie – chamou Ashton novamente, apertando suavemente seu ombro. – Querida?

Sua querida não gostava de ser chamada de querida, mas Ashton sentia-se um pouco desesperado por uma reação (e gostava de como ela reagia) e queria ver Julie sendo Julie e ser chamada de querida era o jeito mais rápido dela acordar daquela letargia, de fazê-la reagir, embora ele não tenha se sentido bem sucedido quando ela sorriu, porque parecia mais uma careta e uma mentira.

Julie sorriu, sentindo o rosto congelado e a dificuldade que era levantar os lábios no que poderia ser um sorriso, mas ela tentou por um momento até desistir e fechar os olhos, apoiando a cabeça no peito de Ash, sentindo-o levantar e cair e bater abaixo de si, sentindo-se fazer o mesmo.

O coração dele parecia um sussurro distante, porque tudo o que Julie ouvia era o seu, correndo, e as vozes em sua cabeça que perguntavam "por que?", e tudo o que ela queria era suspirar pela angústia que sentia, era uma vontade de chorar e gritar e clamar por...

Por que eu?

Por que ela?

Por que Calum?

Calum.

Vivo, vivo, vivo, vivo, era como ela queria que o seu coração batesse.

Por favor, por favor, por favor, clamou a qualquer um que ouvisse.

Julie odiava como as pessoas só davam importância a Deus quando a situação era crítica, quando precisavam Dele, mas... mas...

Ela não sabia.

Julie acreditava em Deus, ela acreditava numa força maior e não num acaso cósmico ou numa explosão intergaláctica que originou a vida; ela acreditava em Deus e acreditava na ciência e acreditava que ações boas atraiam reações melhores.

Julie acreditava em Deus e agradecia todos os dias por ter as pessoas que tinha na sua vida, por ter tido uma melhor amiga mesmo que por pouco tempo, por ter um pai maravilhoso mesmo que ele não estivesse mais fisicamente ao seu lado...

Julie acreditava em Deus e não sabia como demonstrar isso, porque... tentar ser uma boa pessoa era a melhor forma de mostrar isso, não? Ela não estava dizendo que era a melhor pessoa do mundo, mas Calum era e ela torcia para isso ser um fator decisivo, de desempate, o que fosse...

Julie acreditava em Deus e não sabia o que fazer, ela apenas esperava que tudo desse certo.

—Sem querida – avisou, mordendo a bochecha levemente, só para se fixar no aqui e no agora e no fato de não estar fisicamente machucada, de não haver motivos para lágrimas. – Que história é essa de querida agora?

—Ahn, querida – gemeu Ash, carinhosamente, virando a cabeça e encostando o nariz nos cabelos dela, suspirando e expirando o cheiro doce. Ele não era um aficcionado por doce que nem Julie, mas, sim, ele podia se acostumar a isso. – Você trás o meu lado romântico para fora – confessou.

—Ah, é? – Julie duvidava disso, mas estava grata pelas palavras, por tudo e qualquer coisa que não a fizesse querer se encolher e lamentar a vida. – O que você quer?

—Bem – Ash não sabia, mas... – Já que você perguntou...

—Não – interrompeu ela, virando a cabeça para encará-lo.

—Você nem...

—Não.

—Mas...

—Não.

—Você vai me deixar perguntar? – perguntou Ashton, exasperado.

—Não – cantarolou ela, os lábios fracamente levantados, mas era um começo.

Julie agradeceu-o.

Ashton congratulou-se.

—Você pode dizer não depois de ouvir, que tal? – sugeriu rapidamente, antes que sua namorada o interrompesse. – Mas eu realmente preciso dizer isso agora.

—Você já sabe a resposta, não sabe? – Ela sorriu. Sim, ele sabia, ela sabia que ele sabia e ela sabia que ele sabia que ela sabia.

—Não – retrucou ele, com covinhas tão fofas aparecendo que ela não podia dizer não. Ainda não. Julie ficou calada por um momento, esperando. – Então...

—Pergunte logo para que eu possa negar – provocou.

—Que impaciência – suspirou Ash, dramático. – Eu não posso querer prolongar o momento, adiar o meu inevitável coração quebrado? – dramatizou, tocando seu nariz no dela e vendo o sorriso tornar-se cada vez mais real e verdadeiro.

—Não – respondeu Julie.

—Ok, ok, ok.

Ele respirou fundo, tentando reunir sua coragem, embora soubesse que não era preciso, porque... embora estivesse sendo ou fosse ser 100% sincero, ainda não era...  Ashton acreditava que ainda não era o momento. Não era tão real e verdadeiro quanto queria que fosse.

Ainda não.

—Ashton – incitou ela.

—Julie.

—Vamos, diga. – Ela arregalou os olhos como sempre fazia quando tentava levantar a sobrancelha. - Ou pergunte. Ou sugira. Ou...

Ashton mostrou como se fazia, dando o seu melhor sorriso de flerte.

Ou tentando.

É, ele entendia porque Julie achava tão difícil sorrir verdadeiramente, não que... não que seu sorriso fosse falso agora, só não era o seu melhor.

Mas seria.

Calum estaria bem.

—Você quer casar comigo?


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Notas finais do capítulo

Espero que todo mundo entenda a piada, mas não se pode ter tudo nessa vida.



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