Pedaços Transformados escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 155
Pontos


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu iria postar ontem, mas... eu não sou a mais pontual em relação a ser pontual.



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pontos

maio, quatro meses atrás

Começar a namorar com Lydia não foi uma decisão que Luke fez, não conscientemente ao menos. Ele nem achava que teve uma decisão a ser feita, porque num momento Luke Hemmings estava solteiro e no outro não; num momento ele estava no canto de uma festa sozinho, porque Julie e Calum haviam ido atrás de alguma bebida, e no outro Lydia o beijava e ele a beijava de volta.

Aparentemente, para ela, beijar alguém já era um pedido de namoro, então por que não? Lydia era bonita e... Só. Tudo que Luke conseguia enxergar nela era a sua beleza, não porque a beleza mascarasse o resto, mas porque era realmente tudo que ele conseguia ver.

Lydia não o fazia rir, não se preocupava com ele, não... Não era sua amiga, não era alguém que Luke conseguia pensar em amar, mas ela beijava bem. E também não estava apaixonado por ele, então por que não? Não era como se Luke fizesse algo com ela que Lydia não queria, não era como se os sentimentos dela estivessem em perigo, não era como se o coração de Lydia fosse ser quebrado... Mas ele não era assim, Luke sabia. Ele não era um desses garotos. Ele não queria ficar com alguém apenas pela carne - carne por carne, qualquer um tinha carne.

Luke não queria ficar com alguém que dava em cima do seu melhor amigo quando não olhava. Ele não queria ficar com alguém que dava em cima de Calum.

A grande questão era essa: Luke sentia-se traido. Não era a primeira vez que alguém preferia Calum a ele e isso doía, porque Luke sabia que seu amigo não tinha feito nada, não tinha dado em cima de Lydia, Calum apenas tinha sido ele, e ele sendo ele era alguém que todo mundo queria. E ele sendo realmente ele nem era alguém que todo mundo conhecia. Luke conseguia imaginar a fila de pessoas na sua casa se alguém conhecesse Calum como ele o conhecia. E Luke não podia culpá-los. Não podia culpar Calum por isso.

A culpada de tudo isso era Lydia e Luke tinha que terminar algo que ele nem começou, porque uma coisa era ficar/"namorar" com alguém que beijava bem, outra era colocar em risco seu melhor amigo por alguém que beijava bem. Luke não precisava nem pensar: Calum vinha primeiro, vinha antes de Lydia. Sem pensar duas vezes. Sem pensar uma vez.

Contudo Lydia parecia não entender isso; ela não entendia como alguém podia não querê-la e recusava-se a ser dispensada gentilmente. Luke já estava se irritando.

—Lydia - disse ele não pela primeira vez e tinha um sentimento que não seria a última. - Eu não gosto de você, você não gosta de mim, nem somos amigos, nem... - Luke realmente não entendia o que eles faziam. - Eu não sei nem porque namoramos, porque não existe razão para isso.

—Porque, porque... - gaguejou Lydia, procurando uma razão e não encontrando nenhuma. - Porque sim!

Luke suspirou, fechando os olhos e rogou a Deus por mais paciência. Ele se considerava bastante paciente, mas aparentemente sua paciência era exclusiva de Julie, porque o que mais queria agora era gritar com Lydia, para fazê-la entender que ele não queria ela.

É, Lydia, eu não quero você, diria Luke. Eu não quero uma pessoa apenas porque ela é bonita ou beija bem, eu quero ficar com alguém que me faça bem, que me faça querer apresentar a meus amigos, que tenha o selo de aprovação Julie Hemmings e que goste da minha irmã, não como eu gosto, eu não espero algo tão impossível assim, mas que entenda o quão importante ela é para mim. Ah, e eu quero alguém que não saia dando em cima do meu melhor amigo. Adivinhe? Você não entra nessa lista, não passa bem perto.

Entretanto Luke não disse nada do que queria, porque, para ter ficado com Lydia durante quase dois anos (dois anos indo e voltando e parando no meio), ele deve ter tido alguma paciência; por ter demorado dois anos para terminar com Lydia, alguma paciência ainda devia restar. E foi essa que Luke usou para não gritar o que queria.

Entretanto Calum não tinha essa paciência. E, quando Luke já estava quase desistindo da sua, tentando explicar porque deveriam terminar, seu melhor amigo o interrompeu beijando-o.

Luke gostaria de dizer que aquele foi a primeira vez, que estava surpreso demais, mas isso seria uma mentira, do começo ao fim, e nada explicava o fato de Luke Hemmings não ter retribuído o beijo - não que ele não quisesse, não que ele fosse, não que ele tivesse pensado nisso... Não que isso importasse, porque Calum o beijou rápido demais, tão rápido que quando Luke iria fechar os olhos para acompanhá-lo, ele afastou-se e perguntou com um sorriso rápido e um pouco forçado - muito pouco forçado para que alguém, além de quem o conhecesse realmente, percebesse:

—Você já está pronto, querido?

—Vocês estão... Você é... - balbuciou Lydia. - Ahn, está explicado.

Luke sentiu-se um pouco como sua irmã ao se virar devagar e levantar uma sobrancelha (embora ela nunca fosse conseguir fazer isso), porque aquelas palavras era tão... Elas causavam grande irritação em Luke, porque ele não sabia o que estava explicado, porque não tinha o que ser explicado. Aquele beijo era uma surpresa para Lydia, assim como era para Luke. O que estava explicado?

Lydia deve ter visto a confusão no rosto de seu ex namorado traidor, porque completou igualmente confusa:

—Vocês estão sempre juntos, você sempre fala dele quando está comigo, você... Você estava me traindo, não?

Luke olhou para Calum e encontrou os olhos dele, igualmente surpreso. Ele fazia isso? Ele falava de Calum sempre que estava com Lydia? Bem, sim, ele falava de Calum (e de Julie), mas não era assim que amigos, melhores amigos, agiam?

Antes que Luke pudesse dizer algo, Calum deu um passo para o lado, para mais perto de Luke, e sorriu para Lydia

—Não - disse ele. - Luke queria terminar com você antes que tivéssemos algo.

A boca de Lydia caiu aberta e ela começou a balbuciar palavras desconexas, muito surpresa pela honestidade nas palavras de Calum para perceber o momento que Luke bufou e Calum lançou-lhe um olhar de aviso acompanhado de um meio sorriso.

—Bem, Lydia - começou Luke, pegando a mão de Calum e sorrindo para ele, falando para ele, tentando não rir, principalmente quando sentiu os dedos travados de seu amigo que se recusava a abrir. - Acho que agora você entende porque eu não te quero, não tem como eu te querer quando tenho alguém tão... Quando tenho Calum ao meu lado. Você sabe - disse Luke dando de ombros casualmente. - Olhe para ele. Calum é lindo, engraçado, gentil, inteligente... E ganha alguns pontos a mais por gostar da Julie.

—Alguns? - repetiu Calum, incrédulo. Verdadeiramente incrédulo. - Eu mereço todos os pontos do mundo por gostar da Julie.

—Não abuse da sorte - avisou Luke, empurrando-o com o ombro.

—Eu não estou. E eu quero todos os pontos que mereço e alguns de bônus porque todos os pontos do mundo ainda não é o suficiente.

—Você não vai ter todos os pontos que merece nunca, imagine um bônus - murmurou Luke. - Sua aula já terminou?

—Você deveria saber melhor o horário escolar do seu namorado.

—Estamos namorando?

—Você pretendia me usar e depois jogar fora?

—Eu nem te usei ainda, querido - galanteoou Luke, jogando um braço sobre os seus ombros. - Muito cedo? - questionou ele, sentindo Calum tenso.

—Sim.

—Certo. - Luke pensou. - Eu não vou te jogar fora nunca... Melhor?

—Um pouco menos romântico - sugeriu Calum.

—Eu não planejo te jogar fora - disse Luke simplesmente.

—Bom. Muito melhor. A medida certa de simplicidade e romantismo para um recém romance de... Cadê a Lydia?

—Fugiu quando você começou a falar sobre nosso amor de um minuto - respondeu Luke, mantendo o braço ali.

—Um minuto? - questionou Calum, não fazendo nada para tirá-lo. - Pensei que estávamos no amor desde que você viu os meus maravilhosos olhos escuros.

—Eu estou no amor por você desde que você me mandou quebrar o outro braço - comentou Luke, levemente, pegando o # do instrumento como o bom namorado que era.

Calum gemeu, deixando que ele o levasse, porque era o mínimo que poderia ganhar, já que não ganharia pontos extras e nem os que merecia legalmente.

—Você não vai superar isso? - murmurou.

—Claro que não. - Sorriu Luke, dando um aperto reconfortador no seu ombro. - Você sabe que amanhã... Não, hoje, todos já estarão falando sobre isso, certo? Dizendo que...

—Algum problema? - interrompeu Calum, sentindo-se...

Por favor, pediu ele, não, não tenha nenhum. Se Luke tivesse, Calum não... Calum achava que não poderia continuar gostando do seu amigo do mesmo jeito. E não era nem de uma forma romântica, era de forma que... que poderia ficar ao lado dele se Luke achasse que estava envergonhando.

—Não tenho nem um - afirmou Luke, parando e forçando-o a parar. Calum sentiu que lentamente, lentamente, Luke retirou o braço do seu ombro, deixando-o livre e apenas lá, sozinho e indefeso, antes de entrelaçar a mão com a dele lentamente, sem retirar os olhos dos seus... Dando-o a oportunidade de fugir, de se recusar. - Você?

Calum sentiu seus músculos relaxando, o peso saindo dos seus ombros, e a vergonha de por um minuto ter duvidado dele. E então amor, agradecimento, e a certeza de ter se apaixonado pela melhor pessoa que poderia pedir.

Mesmo que não fosse recíproco.                                                                                         

Mesmo que talvez Luke nunca soubesse.

—O que você acha? - questionou Calum e respondeu, já revirando os olhos, enquanto o puxava atrás de si, recusando-se a soltá-lo e deixá-lo livre. - Estou tão preocupado sobre o fato das pessoas acharem que estamos ou não namorando, há quanto tempo isso acontece, como isso é errado e...

—Eu te amo? - interrompeu Luke.

—É, e você me ama - concordou Calum mal dando um olhar a seu amigo, mas sorrindo. É, ele o amava; e amor era amor e Calum não se sentia exigente. - E vai contar a Julie, porque nenhuma quantidade de pontos vai me fazer abrir a boca para ela e dizer o que aconteceu.


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