Pedaços Transformados escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 146
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abril, um ano atrás

—Então... - disse Ashton, estralando a língua. - Hum... Isso é comum? - perguntou, não especificando o que era "isso".

Calum não precisava de uma especificação -e duvidava que alguém ali precisasse, mas Ash e Michael ainda olharam para ele, como se eles mesmos não soubessem que não, não era comum.

Julie não falava palavrões.

Nem quando estava irritada.

Nem quando estava muito irritada.

Ela de vai estar muito, muito irritada.

Julie tinha tentado uma vez quando saiu do hospital, mas percebeu rapidamente que aquela não era ela - Julie podia não saber quem era, podia estar querendo descobrir quem era, mas com toda certeza sabia quem não era.

(Calum entendia isso - ele sabia como era não saber algo, não saber o que estava errado, mas saber que não estava certo.)

—O que foi? - questionou Calum, virando-se no sofá, percebendo algo diferente.

Se Julie não falava palavrões e agora estava? Tudo bem, às vezes sua amiga gostava de ser quem não era, como se esquecesse era.

(Como se tentasse esquecer quem era.)

Mas Luke?

Nop.

Na frente de Julie?

Com Julie...

Ferida.

Percebeu ele, sentindo algo dentro de si, que não, isso não era comum.

Cortada.

Machucada.

Sangrando.

Calum aproximou-se, preocupado.

Sua xícara.

Quebrada.

Em pedaços.

Bem pequenos.

—Oh, merda.

Ele entendeu.

—Foi ele - acusou Julie, apontando com sua mão enfaixada para seu irmão.

Culpada.

Ela abaixou a mão devagar, hesitante, vendo o que todos deviam estar vendo.

Culpada, culpada, culpada.

Culpada.

Era um veredito.

—Desculpe - murmurou. - E-eu...

—Está tudo bem, Julie - disse Calum, desviando os olhos para ela. - Não se preocupe.

—Eu não estou preocupada. - Ela riu, esfregando o requisicio das lágrimas que estavam nos seus olhos, limpando as manchas em sua bochechas, passando a mão no nariz.

—Está tudo bem - repetiu Calum, surpreso por está.

Por ela não.

Aquilo era apenas uma xícara.

Apenas uma xícara.

Calum nem abriu os braços e sua irmã já estava nele, apertando-o como se precisasse daquilo, e ele entendia.

Porque precisava.

Porque às vezes precisava.

Porque às vezes precisava perceber que não estava sozinho.

Porque às vezes precisava de alguém que amava para se sentir em casa.

Para se lembrar que tinha não uma, mas várias.

Porque às vezes você precisava só lembrar.

Descobrir.

Re-descobrir.

—Está tudo bem.

—Não está - murmurou ela contra seu ombro, teimosa.

—Está tudo bem - repetiu Calum num sussurro, só para ela, em segredo, porque estava.

Sua irmã só precisava descobrir isso.

Às vezes ele também.


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