O que ele estava fazendo ali?

CALUM, 13 ANOS.

Calum queria ir.

Calum não podia.

E sua lista de pós e contras só tinha isso até agora, porque sempre que tentava pensar, ele voltava para esses.

Calum queria ir.

Calum não podia.

Calum queria ir para casa dos Hemmings, abraçar Julie, dizer o quanto a amava e... e estar com sua família.

Calum não podia. Porque ela não era sua família. Porque, por mais que quisesse, os Hemmings não eram sua família e aquele era um momento de família.

Calum queria ir.

Calum não podia.

E os contra e os pós não superavam nem um nem outro, não tinha um que se destaca, porque seu desejo de ir e o fato de não poder era... igual, tinha o mesmo peso para ele.

Calum queria ir.

Calum não podia.

E odiava estar sentado naquele sofá tão duro, que não estava acostumado à pessoas sentando-se sobre ele, porque era tão não maleável e não podia nem sequer imaginar sujando ele, porque... Kora não iria nem notar.
(Se fosse Liz, ela o faria limpar com a língua.)

—O que você está fazendo? - questionou Kora, confusa, e de modo automático, não consciente, Calum encostou-se no sofá, no modo mais inadequado possível.

Existia um modelo para apresentar a sua mãe e esse modelo consistia em ser tão desleixado quanto possível, tão  "masculino" quanto os papéis sociais de cada gênero dizia que precisava ser - se precisava ser um mal educado para isso... Bem, Calum podia lidar com as consequências dos seus atos, mesmo que sua coluna estivesse formigando para se sentar direito. Ele quase podia ouvir a voz de Liz, no seu tom maternal que não aceitava contrariações, ordenando-o que comportasse como um cavalheiro, porque ela não criou um delinquente.

—Hã... eu... isso não é... eu não estou...

—Você não deveria estar em outro lugar? - continuou Kora, confusa, franzindo a testa para ele. - Eu pensei que Julie saísse do hospital hoje.

—É, ela sai - murmurou Calum.

—O que você está fazendo aqui? - repetiu Kora, as mesmas palavras que um dia trouxe lágrimas ao seu filho, mas que agora...

Calum olhou assombrado para ela e então sorriu, porque aquela mulher...

Apesar de tudo, apesar de às vezes não, de às vezes querer que não, Calum a amava.

Não havia malícia em sua frase, ela não havia dito para fazê-lo se sentir mal, Kora estava apenas confusa.

E com razão.

O que ele estava fazendo ali? Calum lembrou-se de algo que tinha esquecido, de algo que fazia parte de quem ele era, de que Liz, Luke e Julie eram sua família. E de que ele fazia parte da deles também.

O que ele estava fazendo ali? Calum levantou-se e não se importou de estar altivo, de suas costas estarem eretas, porque Kora tinha o ensinado a se comportar assim e ele havia aprendido. E ele era assim.

Calum Hood era assim.

E não era para estar ali.

—Para onde você estar indo? - perguntou sua mãe, confusa, vendo-o ir para a porta e depois voltar e subir as escadas.

—Eu preciso de um guarda-chuva - gritou do andar de cima.

—Por que?

Porque eu tenho que ir para casa, Calum não disse, em vez disso, afirmou, descendo as escadas rapidamente:

—Porque Julie saiu do hospital hoje. E é aniversário dela.

E de Luke.

Oh, droga, praguejou Calum mentalmente, puxando o zíper do seu casaco para cima e o capuz para sua cabeça, ele tinha esquecido-se dos presentes - se bem que poderia dar uma de Julie (ela iria fazer o mesmo) e dizer que era o presente.

—Você não vai sair nessa chuva - disse Kora, assim que ele esticou a mão para a porta e preparava-se para sair, embora soubesse que nem um preparo o prepararia para o frio que sentiria assim que abrisse a...

—Hã? - Calum virou-se, cético. - Eu não vou?

Calum não esperava por isso.

—Eu te levo.

Calum definitivamente não esperava por isso.