Pedaços Transformados escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 122
Quem era ela?


Notas iniciais do capítulo

Sim, a edição está péssima, sem parágrafo nem nada, meu computador quebrou. Novamente. Mais uma vez. Quando ele for consertado (se for), eu ajeito isso.



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quem era ela?

JULIE, 12 ANOS.

Julie sabia que estava viva, sem nem uma sombra de dúvida, porque queria morrer. Era meio que aquela história de que não se tem o que se quer e ela preferia qualquer coisa do que continuar ali, sentada, não fazendo nada – encarar ou não encarar Taylor, sua psicóloga, tinha o mesmo efeito na sua vida: nada.

—Como você se sente com a perda do seu pai?
Julie suspirou, com os olhos fechados, a mão no queixo, entediada. Completamente entediada.

—Eu o perdi? – murmurou ela. Até a última vez que tinha olhado, seu pai continuava onde sempre esteve. Ao seu lado. E ele continuaria lá não importava quantas vezes ou quando olhasse.

—O que aconteceu então? – retrucou Taylor.

—Eu não estou pensando sobre isso – respondeu Julie, sinceramente, ao abrir os olhos e encará-la. – Algum problema com isso?

—Você que me diz.

Julie gemeu – o que mais odiava na Taylor era isso. Talvez fosse uma característica dela ou uma generalização que todos os psicólogos aprendiam com o curso, entretanto Julie não via razão em ficar nesses jogos indo e vindo e indo e vindo, com nada, nunca, sendo respondido, como se a resposta estivesse dentro dela e ela precisasse encontrá-la sozinha. Talvez a resposta estivesse fora. Alguém havia considerado isso? Julie queria saber.

—Você deveria... hum – pensou Taylor, mordendo os lábios. – Eu não sei.

—Você não sabe? – ecoou Julie, cética. O que ela estava fazendo ali então? – O que estou fazendo aqui? – perguntou finalmente.

—Você só sai com a minha aprovação – lembrou sua psicóloga, batendo a caneta contra seu bloco de anotações.

—O que você está fazendo aqui então? – Julie reformulou a pergunta, cruzando as pernas para encará-la, como se fosse a psicóloga da relação. – Você acha bonito prender jovens e inocentes garotinhas dentro de um hospital?

—Você está presa? – retrucou Taylor, levemente amarga.

Julie sorriu – ela tinha pego-a.

—Você acabou de admitir que eu só sai com a sua aprovação, isso parece muito para mim com o que acontece com prisões. E, sinceramente, se eu quisesse sair eu sairia, então acho que não, eu não estou.

—Sairia? – ecoou Taylor.

Julie não gostou do tom dela ou da sobrancelha levantada, ela não gostava quando Taylor falava com ela, como se Julie Hemmings fosse uma idiota acéfala. Ela era idiota? Sim, era, mas também era inteligente, muito inteligente, e, mesmo que não fosse, quem era Taylor para dizer o contrário? Cada um era inteligente do seu modo e Julie Hemmings era inteligente de todo modo.

—Bem, Taylor, foi um prazer conversar com você. – Julie levantou-se. Não, não foi um prazer, e seu tom dizia justamente isso (Julie queria saber o que ela achava disso). – Mas tenho que ir. Sabe como é, não? Muito tempo sem vida, muito tempo sem viver, muito tempo triste e... – Julie sentia-se divagando. – Muito tempo. Te vejo por aí.

—Sente-se, Julie Agnes Hemmings, ainda não terminamos.

Julie suspirou, seus pés voltando para onde estavam, porque aquele era seu nome completo e, às vezes, ele parecia uma maldição, como se alguém tivesse controle sobre ela – era por isso que nomes do meio eram segredos, para que ninguém controlasse ninguém quando os Antigos existiam, então por que – por que – Taylor sabia o seu nome completo?

Porque ela estava num hospital.

Porque aparentemente médicos tinham licença para saber seu nome completo e controlá-la remotamente, magicamente.

Porque ela era uma fada e fadas não tinham liberdade.

Julie suspirou.

—O que foi agora? – questionou, afundando no sofá, porque Taylor havia ordenado assim. Ela realmente odiava nomes do meio. Especialmente o seu. Principalmente o seu. Agnes. Quem dava Agnes para uma criança? Agnes era nome de aranha!

—Por que você quer sair agora? – perguntou Taylor, curiosa. – Margaret disse que você estava tentando convencê-la...

—Eu não estava – discordou Julie.  – Eu a convenci.

—Ela não me pareceu convencida.

—Pode acreditar que ela está - afirmou Julie, sem dúvidas.

Margaret era sua madrinha, Julie a conhecia desde pequena, então, sim, ela sabia se tinha convencido-a ou não. E ela tinha. Margaret era uma manteiga derretida e faria qualquer coisa para sua afilhada querida. E era indiscutível que Julie Agnes (urg) Hemmings estava pronta para sair.

—Você quer sair agora porque... – incentivou Taylor, balançando a cabeça.

Julie suspirou, perdendo a conta de quantos suspiros tinha dado desde que entrou naquele consultório, pensando em dar o que ela queria - não a verdade, o que Taylor realmente queria era uma promessa cheia de esperanças e sonhos e felicidades e... Um arco íris de emoções.

—Eu completo aniversário amanhã – disse Julie.

Dê o que ela quer. Dê o que ela quer. Era difícil dar sem mentir e Julie não queria mentir, ela queria a verdade, ela queria acreditar no que dizia. Ela queria uma realidade tão maravilhosa quanto Taylor queria ouvir.

—E?

—Meu irmão também completa aniversário amanhã – disse Julie devagar. Ela precisava dizer palavra por palavra o que queria?

—Eu sei, Julie, vocês são gêmeos.

—Apenas me certificando.

Uma pausa.

—Certo – disse Taylor quando ela não continuou. – O que tem?

Julie suspirou. Sim, certo, ela deveria saber. Taylor a faria dizer palavra por palavra o que queria, ela só a deixaria ir se tivesse o que queria. Dê o que ela quer, pensou Julie novamente, embora fosse a cada segundo mais difícil fazer isso.

—Eu não quero passar meu aniversário aqui. Eu já estou... – Julie parou. Não, ela não estava. – Eu já estou andando e posso até correr, eu não tenho razão em continuar aqui. O que quer que eu precise não está aqui, está lá fora. Está na vida real e não aqui, suspenso no tempo. Eu quero pode pensar no meu pai enquanto vivo, eu quero que ele tenha orgulho de mim, eu quero...

—Estou feliz que você esteja melhor, Julie – completou Taylor, não a forçando a dizer que estava bem. Julie ficou grata, ela estava melhor, mas não estava bem e... e isso era bom. – Por finalmente estar conhecendo a verdadeira Julie Hemmings.

—É? – disse Julie, cética, e murmurou: - Eu gostaria de saber quem é ela.

Taylor sorriu.

—Tenho certeza que um dia você vai. E não, você não vai sair hoje, mas eu vou pensar quanto amanhã.

Julie resmungou, tentando não sorrir, porque era tudo parte do plano e seu presente para seu irmão seria sua saída – não havia sentindo nela sair um dia antes do seu aniversário, agora no dia... ela não iria precisar dar nada a ele.

Quem era ela?

Ela era Julie Agnes Hemmings.

E Julie Hemmings era um gênio.


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