começar

JULIE, 12 ANOS.

—Tenho duas notícias ruins para você - suspirou seu amigo, triste.

—Hum?

Julie não entendia. Calum parecia muito feliz para quem iria dar uma notícia triste, não que não estivesse triste, mas ele não estava... triste.

—Hunter versus Hunter tem 146 episódios.

Julie abriu a boca.

—Ah... Isso... Eu... Nossa!

Julie assobiaria, impressionada, se soubesse assobiar.

—É – concordou ele.

—Qual é a próxima?

—Só tem 146 episódios – murmurou, desalento. – Apenas 146 episódios! – exclamou, revoltado, ao encará-la. Julie o encarou de volta. Calum não recuou. – Você sabe o que é isso?

—146 episódios? – tentou ela, séria. Ou tão seria quanto possível. Porque. Só tinha. 146 episódios! Era o fim do mundo.

—Ha ha ha, muito engraçado. Vamos ver se você vai continuar assim quando chega no minuto final e perceber que é... Só. Isso.

—Se eu conseguir passar do primeiro episódio a gente ver isso.

—Não – discordou Calum, sério. – Se você conseguir passar do arco quimera ant, a gente ver isso.

—O que tem no arco qui... – Julie franziu a testa. – Nesse arco?

—Seu pior pesadelo – amaldiçoou seu amigo.

—Qual é o meu pior pesadelo? – questionou, devagar, porque Julie não conseguia pensar em um.

—O final do seu ship favorito.

—Eu tenho um ship favorito?

—Assista e descubra.

Julie não podia dizer não a um desafio.

—Eu. Odeio. Você – disse Julie, pausadamente assim que a pessoa que mais deveria odiá-la entrou no seu quarto. – Calum - reclamou ela. – Como você pode fazer isso comigo?

—O que você fez? – perguntou Luke, virando-se para encarar o amigo. Sua irmã estava num estado lastimável, os olhos vermelhos, os cabelos despenteados e... viva. Ou tão viva quanto tinha visto nesses últimos meses.

—Eu a apresentei para o pior caminho da humanidade. Eu a tornei uma viciada.

Luke parou. E decidiu que aquilo também não era da sua conta. Ele deu uma meia volta e voltou por onde veio.

—Vou pegar café.

—Calum – reclamou Julie novamente, não se importando com a saída do seu irmão. – Você sabe o que é querer assistir algo até o fim e ser proibido porque você tem horário de dormir? Mamãe pegou o meu notebook e teve que ordenar a enfermeira para me dar algo para dormir! E eu odeio remédio! Você sabe! E eu estou sem notebook ainda! Mamãe disse que eu não estou de férias e tenho uma rotina a seguir e apenas quando terminar o que tenho de fazer eu...

—Então por que você não está seguindo-a?

—Hã?

—Por que você está aí, sentada, ao invés de seguir sua rotina e fazer o que tem de fazer para poder assistir?

Julie parou. E decidiu que aquilo era uma idéia de gênio. Como ela não tinha tido-a? Mentes simplórias eram tão impressionante às vezes.

—Eu te amo – disse ela, rapidamente enquanto apoiava as mãos no colchão e puxava-se para uma posição sentada. – Vá atrás da Margaret...

—Margaret?

—A esposa de Klaus – respondeu. – Nosso diretor Klaus. Meu padrinho Klaus. Vá atrás dela agora. Rápido, rápido, rápido – apressou ela. – Se não conseguir encontrá-la, pergunte sobre a enfermeira chefe e diga que a afilhada dela está pronta para começar.

—Pronta? – ecoou Calum, sem entender. – Pronta para começar o quê?

—Para o quê? – zombou Julie, porque era obvio. – Pronta para a fisioterapia! Para a andar! Para sair daqui e descobrir o que acontece com meu shipper favorito!

—Hã?

—Não quero saber! – gritou Julie, levantando as mãos para os ouvidos e tapando-os. – Agora saia daqui e encontre Margaret! Eu não tenho tempo para perder, eu tenho que andar!