Pedaços Transformados escrita por Kurohime Yuki


Capítulo 117
Vida - P A R T E U M




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vida – P A R T E  U M

LUKE, 12 ANOS.

Luke não queria deixar sua irmã sozinha.

Talvez ela precisasse estar sozinha, talvez não, mas ele não queria. Aquela era sua irmã e Luke... Luke queria estar ao lado dela a cada momento, a cada titubear, a cada medo e indecisão e solidão, mas ele sabia que ela precisava estar sozinha. Às vezes.

Todos precisavam.

Eventualmente.

Julie precisava lutar contra seus próprios demônios sozinha, porque, por mais que quisesse, Luke não podia ajudá-la, não podia entrar em sua mente, vestir sua armadura e derrotar cada pensamento negativo, seria ela contra ela a todo momento e ele não estaria sempre ao lado de sua irmã, amparando-a.

Entretanto, mesmo contra todos os medos e receios que Julie poderia ter, Luke sabia que sua irmã sabia que ele estaria lá quando ela realmente precisasse dele, para ajudá-la a se levantar quando caísse, para abraçá-la quando ela precisasse se aquecer, para amá-la de qualquer jeito.

E ela devia saber que ele queria continuar ali, ao lado dela, materialmente, fisicamente, em carne, osso, sangue e lágrimas, contudo ele não podia.

Luke tinha uma prova de recuperação para fazer.

E sua mãe o obrigaria a lavar pratos até o resto da sua vida se ele repetisse o ano.

—Luke – começou sua irmã.

—Julie... – reclamou ele antes que ela dissesse algo e o convencesse.

Lavar pratos? Luke gostava de lavar pratos, o que ele não gostava era de deixar sua irmãzinha sozinha.

—Luke – repetiu Julie, mais forte, mais decidida, e, por um momento, pareceu ela de novo, pareceu que aquela era Julie, sua irmãzinha Julie, a pessoa que mais amava, admirava e se orgulhava, mas então ela sorriu e Luke sabia que ela não estava como sempre e que nunca mais seria.

Foram dias, foram semanas, foram meses – foi muito tempo sem falar, andar, sorrir. E aquele sorriso que Julie deu não era nada parecido com o que dia ela já deu, não era um sorriso que Luke sentia que aquecia sua alma, alegrava seu coração, era um que parecia sugar tudo de bom que existia dentro de si, porque sua irmã estava ali, estava viva, mas não estava bem.

E Luke faria qualquer coisa para fazê-la bem – ele trocaria de lugar com ela, ele cumpriria todos seus desejos, ele não se importaria com bondade e maldade, porque ninguém havia se importado com isso.

E agora sua irmã estava assim.

Triste.

Quebrada.

Destruída.

Viva.

Morta.

Mas ele estava com ela. Sempre estaria. Luke nunca a deixaria.

E ela estava viva.

E ela estava sorrindo.

E era um começo.

Seu sorriso não era o mesmo de antes, não tinha como ser depois de tudo, mas ela estava sorrindo – e tudo podia ter mudado, mas Luke a conhecia e a entendia melhor do que ela mesma, e aquele sorriso era a prova.

Era um sorriso tenso.

Hesitante.

Preocupado.

Mas era um sorriso.

E sua irmã não era uma mentirosa.

Julie escolhia sorrir.

Julie escolhia viver a vida.

—Não se preocupe – disse ela. E ela quis dizer aquilo, Luke sentia a verdade em si. – Eu não vou ficar sozinha, eu tenho Calum aqui. Comigo.

—É – concordou seu amigo, acenando com a cabeça. – Vou grudar nela como carrapato.

—Hum... – Julie franziu a testa, encarando-o duvidosa. – Você não precisa mentir, Calum, todos nós sabemos que você está caidinho pelo garoto do quarto ao lado e vai sair na primeira oportunidade.

—Você não sabe nem quem é o garoto do quarto ao lado – resmungou Calum, não percebendo seu erro.

Luke queria bater a cabeça na parede por ele.

—Oh, é? – Julie sorriu, provocadora. – Então existe mesmo um garoto no quarto ao lado? Ele é bonito?

—Ele é bonitinho – murmurou Calum, sentindo suas bochechas vermelhas e a mentira óbvia.

Luke queria apertá-las ou apenas cutucá-las, mas ele não estava gostando do rumo daquela conversa – o garoto no quarto ao lado era... bonitinho, como sua mãe diria, e bonitinho era o mesmo que feio, na opinião dela.

—Eu tenho que ir, sério – disse, mas não se mexeu.

—Não estou te impedindo – apontou sua irmã, virando-se para ele.

—Não mesmo – assentiu Calum.

—Eu sei porque você está concordando comigo – continuou Julie. – E não vai funcionar. Eu não vou esquecer.

Luke revirou os olhos – todos sabiam, era tão óbvio. E Julie iria esquecer. Quando ela não tinha esquecido algo? Aquele showzinho deles era algo que tinha sentido falta, tanta falta. Luke sentia falta de sua irmã provocando, Calum entrando no jogo e dele tentando ser o que tinha a cabeça no lugar.

—Certo, ok. – Luke revirou os olhos mais uma vez para ter certeza que todos viam, antes de se inclinar sobre sua irmã e beijar a bochecha dela. – Eu te amo.

—Eu também – disse Julie.

—Eu também amo você, Calum – provocou, beijando também a bochecha do seu amigo ficando satisfeito ao vê-lo ainda mais vermelho do que antes ao se afastar. – Lembrem-se de comer. Não fiquem acordados até tarde. E torçam por mim.

—Você não vai precisar – balbuciou seu amigo.

Luke realmente queria apertar as bochechas dele, sentir o quão quente elas estavam, o quão fofo Calum era.

—Eu queria que você estivesse certo, Calum. – Luke suspirou, dramático. – Mas você deve ter se esquecido que a prova é de física.

—Oh, eu odeio física – murmurou Julie. – Você está ferrado.

—Você...

Uou. Luke piscou. Agora sua irmã falava palavrões? Aquela seria a nova Julie?

—É – concordou ela. – Algo contra?

Não. Nop. Luke balançou a cabeça. Sua irmã estava falando. Sua irmã estava falando e ele não teria nada contra o que sairia da sua boca enquanto isso continuasse desse jeito, enquanto ela continuasse falando.

—Não deixe mamãe ouvi-la – aconselhou. – Tchau.

Luke saiu antes que sobrasse para ele.


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