Desespero.

“Hannah Barker mentiu”.

Foi o que Justin lhe disseram assim que ela correu para os seus braços em busca de respostas, e ele garantiu aquelas palavras e ela repetiu miseravelmente para si mesma – mas quem ela queria enganar? Havia um quê de dúvidas do que aconteceu realmente naquela noite, ela estava bêbada e dormiu apenas com o namorado, certo? Ela não tinha respostas para essa pergunta e milhares de outras que surgiram ao longo das semanas subsequentes ao que aconteceu com a Hannah.

 Hannah, aquele nome surgiu com as lembranças das respostas sarcásticas e divertidas. Quantas vezes Hannah a ajudou? Quantas vezes Hannah mostrou seu sorriso singelo e doce? Quantas vezes Hannah segurou sua mão no Monet’s antes de tudo aquilo? Mas todos eles disseram, e ela mesmo disse, e o que marcou e destruiu a imagem dela em sua mente com essas três palavras: Hannah Barker mentiu.

Mentiu, Jessie? Você realmente acredita nisso? Será mesmo, Jessie? Sua mente traiçoeira lhe interrogou como se a simples palavra de Justin não valesse nada naquele território desconhecido, e Jessica sucumbiu a loucura.

Clay foi o único a dizer que acreditava nela, e o único a pergunta “como você está, Jessica?”, Davis apenas apertou os lábios com força e pensou em mil e uma coisas naquelas semanas. O que estava acontecendo consigo? Não acreditava nas suas próprias palavras, nas palavras dos demais, porque? Porque? 

Ela estava caindo nas profundezas do seu próprio desespero – bebidas e drogas estavam arrastando lentamente Jessica Davis para a sua ruína, a cada gole que dava era mais um passo estava mais próxima de Bryce, afinal eram amigos. Não eram? Justin só queria atenção, só atenção, até gritar para ela com toda a raiva reprimida: Porque ele te estuprou.

Grito de sua mente: Porque ele é maldito estuprador!

Choque. Hannah Barker mentiu, certo?

Hannah Barker não mentiu, Jessie— e aquela maldita voz dominou seus pensamentos e os flashes de misturavam. Será? Não, não e não. Justin não mentiria, mas ele mentiu, Jessie.

Seu quarto – o refúgio que era seu, apenas seu: Um castelo de uma princesa, como seu pai a chamava, estava sufocante para si.

Correu da sua mente, precisava se lavar: Água.

Caia sobre seu corpo – enquanto violentamente lavava suas costas, braços e peito, e tentava inutilmente lavar sua alma junto – Jessica Davis sentiu as lágrimas salgadas se misturarem a água fria, e o nojo e as lembranças vinham como socos no seu estomago.

Hannah mentiu, certo? Nem mesmo mais sabia o que era mentiria, ou o que era verdade. Não se sentia como a Jessica de sempre, seu pensamento surgiu em meio as nevoas de sua mente enquanto as imagens se multiplicavam e as coisas estavam sem sentido em suas memorias. O que há de errado, Jessica?

Hannah Barker não mentiu, sua mente aceitou.

E a realidade era como um soco na boca do estomago – Jessica limpou seu quarto depois de lavar seu corpo – as garrafas eram retiradas debaixo da sua cama enquanto as lágrimas deixavam rastros pelo seu rosto, e o liquido marrom foi despejado pelo ralo da pia.

Não caia, Jessie, aquela voz soou do fundo da sua alma – e olhou em seu espelho, os cabelos desgrenhados e a pele mal cuidada assim como os olhos marejados e cheios de nojo de si mesma, o que fez para merece isso? Nada. Era uma boa filha, certa? Tinha seus pecados é claro, mas quem não tinha?

E naquele segundo, Jessica Davis percebeu o quão asquerosa é a realidade e assim como as pessoas ao seu redor, será que foi que Hannah sentiu? 

—Jessica. 

A voz de seu pai se tornou presente no quarto maculado pelo que Bryce fez com ela – Jessica observou o rosto enrugado do pai que parecia preocupado e esperava uma resposta, e ela mordeu o lábio inferior com força, e pensou: Se Hannah tivesse dito aos pais o que estavam havendo, teria um final diferente? Aquele pensamento deu força a Jessica. 

Se ela se calasse agora diante do seu pai – provavelmente nunca falaria para ninguém sobre isso. 

Ela precisava de proteção, e seu pai iria lhe conceder esse desejo de volta. 

Ele seria seu escudo. 

—Preciso te contar algo, pai.