Orchideos escrita por Natur Elv


Capítulo 2
Cumplicidade


Notas iniciais do capítulo

Yay, 20 anos de Harry Potter! Yay!

Postar esse capítulo hoje foi uma coincidência total, ahahahahah! Mas que bom, eu acho. Na real, eu tava com o segundo capítulo na minha cabeça há mo tempão, mas quando comecei a escrevê-lo, vi que não ia dar p encaixar aquilo nesse momento, então primeiro fiquei pjta da vida, ghajajasd, depois recomecei a escrever esse cap e passei toda a ideia anterior p capítulo 3! Então tenham dó de mim, heh.

De qualquer forma, claro, espero que gostem! E me digam o que acharam, por assim, bem como se encontrarem algum erro e tudo mais.

Ah! E também: eu tava pensando em fazer uma história a parte c o Victor como aluno da Durmstrang (na verdade, na primeira vez em que pensei em fazer esse AU, essa era minha ideia, mas eu queria, ~óbvio~, manter os dois sempre juntos, e por isso resolvi colocá-los em Hogwarts, mesmo, hahaha), mas não sei... Me digam o que acham???? Dependendo, né, vai que dá bom!

Anyway, boa leitura!

Ah! Rapidinho: vai aparecer um personagem chamado Stéphane. Foi o nome que eu decidi dar p "boy magia misterioso" do Chris no anime, haushdas



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Mesmo sem o frio de doer os ossos era gostoso saborear uma boa cerveja amanteigada no Três Vassouras. Yuuri, Victor, Chris, Phichit e Stéphane compartilhavam a mesma mesa num dos cantos do salão, próximos à uma das janelas adornadas com pedras calosas. Era ótimo estar um pouco fora da escola, para variar, especialmente depois de tantos relatórios terem sido entregues para as aulas de Feitiços, lecionadas pela professora Lilia Baranovskaya. 

"Quando é a próxima partida de quadribol?" Chris perguntou após bebericar a cerveja. 

"Como quando é a próxima partida? Você está no time, Chris!" Stéphane o repreendeu, e Chris bocejou da forma mais elegante que se pode, ignorando a indignação do amigo. 

"Eu não guardo o calendário de partidas dentro da minha cabeça. O que não quer dizer que não me prepare para os jogos." 

"Bem, você devia pelo menos lembrar as datas das partidas, Chris." Victor, que era, além de um dos batedores, capitão do time de quadribol da Grifinória, disse. 

"Victor tem razão, Chris." Yuuri concordou, levando o copo com a cerveja à boca. 

Chris revirou os olhos e fez um movimento de desdém com a mão. "Está bem, está bem. Mas não sei por que estão implicando comigo. Sabem que sou péssimo em lembrar as datas das partidas, o que" ele deu ênfase "não influencia no meu desempenho em campo." Chris era um dos artilheiros do time. 

Phichit riu aquela risada dele que causava a sensação de centenas de bolhas surgindo gostosamente no estômago de todos que a escutassem. "A próxima partida é daqui a três semanas. Contra nós, Lufa-Lufa." Ele piscou, o sorriso animador nunca abandonava seu rosto alegre e gentil. "Os treinos têm sido bem reforçados. Estamos todos muito animados. Especialmente Kenjiro." Os olhos cinza escuro de Phichit caíram sobre Yuuri ao dizer. 

"Minami Kenjiro?" Chris perguntou, recebendo um aceno positivo de Phichit. 

"Kenjiro é um grande fã seu, Yuuri, não para de dizer o quanto quer alcançá-lo, apesar de jogarem em posições diferentes." 

Yuuri grunhiu. Minami Kenjiro era um aluno da Lufa-Lufa. Yuuri sempre o via nas arquibancadas – por conta de seu cabelo muito chamativo – nos jogos da Grifinória contra Corvinal ou Sonserina e ele sempre estava torcendo para a Grifinória – ou, mais especificamente, para Yuuri. Não era que o japonês se incomodasse com todo o entusiasmo e presença do aluno mais novo, também japonês, era só que o sentimento de responsabilidade para com alguém que enxia-se tanto de expectativas em relação a ele o sufocava e pressionava um pouco – e também não era como se Yuuri não quisesse causar uma boa impressão para Minami e inspirá-lo, era só que havia a possibilidade, que para Yuuri era, muitas vezes, muito real, de falhar e ao mesmo tempo não conseguia entender como alguém como Minami Kenjiro podia se inspirar nele – como qualquer pessoa poderia fazê-lo. 

Fora todos esses sentimentos, Yuuri admitia para si mesmo ter um pouco de inveja da constante animação e confiança que Minami sempre mostrava. 

"Yuuri," foi a voz de Victor que o trouxe de volta e quando Yuuri encontrou os olhos azuis dele, sabia que Victor sabia o que passava em sua cabeça. E o olhar que recebia, além de lhe deixar claro aquilo, estava cheio de ternura. E Yuuri queria afundar-se nela ou fugir. 

"Vocês nos venceram na última partida." Yuuri disse, finalmente, voltando a atenção para todos na mesa. "Minami jogou belamente, foi muito ágil." 

"Para ele, não foi nada." Phichit informou. "Claro, passou dias e dias comemorando junto conosco e contando para quem quisesse ouvir o quão feliz estava por ter feito uma partida como aquela com você. Mas ele ainda acha que tem que se esforçar mais. Isso é bom, acaba motivando todos nós, também." 

Yuuri prendeu um suspiro e sentiu a mão de Victor em seu joelho, apertando-o de leve, a fim de confortá-lo, e quando voltou os olhos para ele, encontrou seu perfil firme e bonito e escutou-o perguntar aos outros: 

"Vão querer mais cerveja amanteigada? Vou buscar mais para mim e para Yuuri." 

"Já que você fará o favor." Chris disse. Phichit e Stéphan não recusaram a gentileza. 

Victor se levantou e esperou que Yuuri o acompanhasse. Yuuri sabia por que ele estava fazendo aquilo. Buscar as cervejas era uma desculpa para tirá-lo dali por um momento, eles poderiam muito bem pedir a um garçom ou garçonete que os servissem, afinal. Felizmente, ninguém trouxe aquela possibilidade à tona e a situação não tornou-se estranha. 

Os dedos de Yuuri e de Victor se entrelaçaram facilmente, sequer precisavam pensar para que o ato acontecesse. Victor beijou os nós dos dedos de Yuuri, ainda o oferecendo um olhar cheio de ternura e compreensão. 

Chegaram ao balcão e fizeram o pedido, informando que se encarregariam de levar as bebidas à mesa. Então Yuuri deixou aquele suspiro finalmente abandoná-lo, pesado e alto, e Victor o abraçou, fazendo-o descansar a cabeça em seu ombro. 

"Obrigado." Yuuri murmurou. 

"Por que está agradecendo, Yuuri?" Victor segurou seu rosto entre as mãos, obrigando-o a encará-lo. "Yuuri!" Havia um tom de animação escondido em sua voz. "Você é um ótimo jogador, sabe disso, um apanhador excepcional." 

Enquanto Victor sorria, Yuuri pensou em dizer alguma coisa, mas mal abriu a boca e já estava tornando a fechá-la completamente. 

"Todo mundo sabe disso, dentro e fora de Hogwarts." 

"Não me chamo Victor Nikiforov." Yuuri respondeu. "Você já foi convidado para diversos times, até mesmo para nacionais. E eu sinto que... Sinto que você devia ter continuado como apanhador. É o que todos pen-" 

"Não estamos falando de mim, Yuuri." Victor o interrompeu. "Não estamos falando de quem nos assiste em campo. Estamos falando de você e de como você é bom jogador, um excelente apanhador, ágil e esperto. Ninguém é mais rápido do que você. Ninguém faz uma Finta de Wronski como você." 

"Você faz." 

"Yuuri!" Victor fez um bico, inflando um pouco as bochechas, emburrado pela teimosia de Yuuri. 

E Yuuri não conseguiu conter uma risadinha baixa e muito breve antes de rodear o pescoço de Victor com os braços. "Obrigado." Um sorriso pequeno tomou seus lábios, seu olhar livre de toda a preocupação de momentos atrás. 

"Yuuri, sei que apesar de jogarmos em posições diferentes, você se inspira em mim como me inspiro em você. Somos fãs número um um do outro, lembra?" Victor riu, recebendo um sorriso maior de Yuuri. 

"Pelo que Phichit disse, acho melhor se esforçar mais no papel de fã número um do apanhador da Grifinória, porque parece que um lufano está tomando esse lugar." 

"Yuuri!!" O bico e a expressão infantilmente emburrada estavam de volta e, mais uma vez, Yuuri não pôde evitar a risada que veio. "Como eu estava dizendo," Victor continuou, sua expressão relaxando e sua voz voltando ao tom suave ao falar: "Sei que deseja que ele não colocasse expectativas sobre você, amor, mas não encare isso como algo ruim. Tente motivá-lo, também, como ele sempre está lá para nos motivar." 

"Dá para ouvir os gritos dele da arquibancada, não dá?" 

Victor riu. "Sim. Kenjiro é um bom rapaz e gosta muito de você. Nós perdemos a última partida e ele ainda o idolatra como se tivesse sido você quem o treinou para uma boa performance em campo." 

"Eu estou pensando demais nisso, não estou?" 

Victor não respondeu em palavras, mas Yuuri recebeu seu sorriso gentil. 

"Pense em Minami como algo para motivá-lo." 

"As cervejas." Uma terceira voz juntou-se a eles e não demoraram a pegar cada um uma bandeja com os grossos copos. 

"Não há nada de errado em ter medo, Yuuri." Victor falou ao darem as costas ao balcão e Yuuri sorriu um sorriso pequeno antes de trocarem um selinho rápido. 

Os três amigos comemoraram quando as bandejas foram postas à mesa e cada um pegou um copo para saborear a bebida quente e saborosa. 

Minutos depois, Leo de La Iglesia, colega de casa de Victor, Yuuri e Chris, e Guang Hong Xi, aluno da Sonserina, juntaram-se a eles no Três Vassouras. Traziam consigo alguns pacotes de guloseimas da Dedos de Mel – Leo foi obrigado a dar sapos de chocolate para Victor, Yuuri e Phichit, que absolutamente adoravam o doce. 

— 

A mão de Victor estava quente contra a de Yuuri enquanto subiam o pequeno morro para chegarem a uma velhíssima construção conhecida como Casa dos Gritos. Não havia nada de realmente assustador lá, apesar do nome. Tirando a aparência do lugar que era realmente acabada, com janelas bloqueadas por tábuas velhas, paredes descascadas e cobertas por musgo aqui e ali, a grama alta no pequeno jardim ao redor. Há anos os gritos haviam parado e nenhum morador de Hogsmeade, ou visitante do vilarejo, parecia se incomodar com a permanência da casa ali. Era quase como se fosse um ponto turístico àquela altura. 

"Yayy, chegamos!" Victor comemorou ao alcançarem o topo e terem a visão completa da Casa dos Gritos. 

"Por que viemos até aqui?" Yuuri perguntou, dando uma boa olhada em todo o vilarejo lá embaixo. A Casa dos Gritos em si podia não ser a visão mais agradável do mundo, mas a vista que tinham de todo o vilarejo de Hogsmeade era, com certeza, linda. 

"Por isso mesmo, Yuuri." Victor falou, recebendo o olhar confuso de Yuuri. Então seus olhos azuis fixaram-se nas várias construções que seguiam lado a lado, formando ruas e becos, lá embaixo. "É uma visão encantadora, não é?" 

Yuuri apertou de leve a mão de Victor e, antes que pudesse concordar, antes mesmo que pudesse voltar a atenção ao vilarejo, Victor o puxou, fazendo-o rodar como numa dança desajeitada, que teve fim em seus braços, e o abraçou enquanto o peito vibrava com uma risada alta e gostosa. 

Victor e Yuuri, bem como seus amigos, adoravam visitar Hogsmeade, especialmente em dias de festival – várias barracas eram montadas ao longo das ruas, velas flutuavam no ar para somar ao clima de festa, tudo era colorido na cidade normalmente tão marrom, e havia tanta coisa nova à mostra e à venda. Victor particularmente adorava ver os novos artefatos mágicos que vinham de outras cidades e países para serem expostos e vendidos nos festivais. 

Quando voltaram à Hogwarts, foram direcionados ao salão principal, porque estava na hora do jantar. Muitos haviam se alimentado em Hogsmeade e, portanto, o salão não estava tão cheio como de habitual e mesmo os alunos e alunas que estavam lá comeram muito pouco pela mesma razão. 

Victor e Yuuri dividiam o mesmo dormitório junto com Chris e mais um estudante grifinório e nenhum deles podia esperar mais para, depois de um bom banho quente, se esconder debaixo das cobertas nas camas confortáveis. Victor se cobriu junto com Yuuri na cama deste e o abraçou apertado com braços e pernas, como se quisesse instantaneamente transferir o calor do corpo de Yuuri para o próprio. 

A primeira aula no outro dia seria Defesa Contra as Artes das Trevas, com o professor Yakov Feltsman, e ninguém parecia muito empolgado. Não era que as aulas de Yakov fossem ruins, na verdade sempre eram muitíssimo proveitosas e interessantes, é só que o professor alternava em teoria e prática e a primeira se resumia em escutar, escutar e escutar o professor a falar e falar e falar enquanto anotavam isso e aquilo tão cedo pela manhã. Às vezes era um pouco maçante. E a aula daquela manhã era justamente uma teórica. Poucos se sentiam realmente acordados quando sentaram à mesa para o café da manhã. 

Victor era um dos alunos e alunas que já estavam dispostos àquela hora. Por mais incrível que pudesse parecer para algumas pessoas, o jogador e capitão de quadribol era uma pessoa bastante matinal, e ainda que brincasse, dizendo não estar com energia suficiente para as aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas, sabia que ao menos se manteria acordado sem dificuldade. 

Victor tinha um imenso carinho por Yakov, o professor. Apesar de não serem da mesma casa, fora Yakov quem o indicou para o time de quadribol, na época como apanhador – posição que cedeu a Yuuri por pura e honesta vontade, por ver nele toda a capacidade em carregar o título de apanhador do time. Victor, e todo o resto, lembra-se das más perspectivas que haviam sido depositadas em Yuuri àquele tempo – o próprio japonês não tinha tanta confiança em assumir aquela posição no início –, mas logo Yuuri provou ser completamente digno do título de novo apanhador da casa e de estar num lugar antes ocupado por Victor – o melhor apanhador que a Grifinória já teve, todos diziam – ainda que às vezes, como lá no Três Vassouras, Yuuri duvidasse de si mesmo. 

Agora Victor jogava como batedor e ainda era um jogador espetacular – o melhor batedor que a Grifinória já teve, era o que todos diziam atualmente. E todos sabiam ser verdade. 

Yuuri era reconhecido como o segundo melhor apanhador que a casa já teve. Para Victor, eles sempre estariam no mesmo pé de igualdade. Yuuri era rápido, tão rápido quanto Victor, mas às vezes o faltava confiança e era aqui que o trabalho conjunto entre os jogares – entre os próprios Victor e Yuuri, especialmente – entrava. 

Fora a popularidade como apanhadores, de Victor e Yuuri, havia também o novo apanhador da Sonserina, Yuri Plisetsky – ou Yurio, como a irmã de Yuuri o havia apelidado ao assisti-lo em seu primeiro jogo pela Sonserina. Dois Yuri's é confuso demais, ela havia justificado. 

O garoto entrou no time no momento em que teve a oportunidade para fazê-lo e desde o início deixou claro que não estava em campo para qualquer tipo de brincadeira, estava em campo para vencer, ainda que aquele nem sempre fosse o resultado. 

Victor conhecia Yuri Plisetsky há um bom tempo, uma vez que as famílias de ambos costumavam se encontrar, casualmente, em estádios para assistir à partidas de quadribol ou em festas de gala oferecidas pelo Ministério da Magia ou qualquer outra baboseira de luxo. Mesmo que nunca tivessem dedicado tempo para conhecer mais um sobre o outro antes de Hogwarts, Victor sabia que Yurio era bastante ambicioso – não é à toa, afinal, que fora selecionado para a Sonserina sem o chapéu ter que ponderar duas vezes. 

Em Hogwarts, Victor descobriu que Yurio podia ser muito implicante, também, porque tudo indicava que ele e Yuuri eram os alvos preferidos de suas grosserias e rebeldias, depois do apanhador da Lufa-Lufa, Jean-Jaques Leroy – e se Victor estava sendo realmente honesto consigo mesmo, nem mesmo ele tinha muita paciência com o jogador lufano. 

A sala de aula estava muito bem iluminada ao entrarem, a luz natural atravessava as janelas e invadiam todo o cômodo espaçoso e cheio de mesas, armários e artefatos mágicos. Yuuri e Victor dividiam a mesma carteira, bem como na maioria das aulas que faziam juntos. 

Quando Yakov entrou, toda a conversa e farfalhar de pergaminhos e livros foi diminuindo ao passo que a presença do professor se tornava maior dentro da sala. Yuuri deu um último beijo no rosto de Victor para então endireitar sua postura. 

"Abram na página quatrocentos e noventa e dois, por favor." Yakov disse após cumprimentá-los. 

Yuuri procurou pela página e deixou o livro no centro da mesa ao encontrá-la, então uma risadinha em forma de ar saiu por suas narinas quando Victor descansou a cabeça em seu ombro, lançando-o um olhar cheio de cumplicidade e diversão antes de mirá-los à página do livro. 

Ao passo em que as sombras lentamente mudavam de posição por toda a sala, Yakov lia e explicava sobre como identificar objetos amaldiçoados e como verificar exatamente qual maldição havia sido lançada sobre tal. Victor já havia lido aquele capítulo do livro – sem muita atenção, porém; só passado o olho por cima, mas não era como se não tivesse absorvido e, portanto, as explicações de Yakov complementavam perfeitamente tudo em sua cabeça. 

"Professor," a voz de uma garota chamou a atenção da sala. "Desculpe por interrompê-lo, mas tenho uma dúvida." Ela abaixou o braço e mirou o livro sobre a própria mesa a fim de consultá-lo. 

"Diga, senhorita Yang." Isabella Yang pertencia à Lufa-Lufa, era artilheira e companheira do apanhador da casa, Jean-Jaques. 

Ela pigarreou. "Acredito ser uma pergunta um pouco ingênua, mas... Existe uma maneira de saber quem rogou a maldição sobre o objeto? Digo, não de maneira específica, mas – quero dizer, não são apenas bruxas e bruxos que são capazes de rogar maldições, diversos outros seres também o fazem. Há alguma maneira de saber se quem o fez foi ou não uma bruxa ou bruxo?" 

"Nenhuma pergunta é ingênua demais para não ser colocada para fora, senhorita."  

Victor conteve uma risadinha devido ao ar de sábio que Yakov portava e, forçando uma expressão para tentar imitar o professor, sussurrou para Yuuri: "Nenhuma pergunta é velha demais que eu não possa responder, já que estive lá nas descobertas das respostas de cada uma delas, senhor Katsuki." Victor sempre fazia piada com Yakov, devido sua idade, devido ao modo como contava e explicava as coisas – coisas tão antigas – como se estivesse presente em todas as vezes em que foram descobertas e esclarecidas, havia muita propriedade e segurança no que o professor falava e Victor o admirava muito por aquilo, também, mas não poderia se dar ao luxo de perder a oportunidade da piada. 

Apesar de ser um dos melhores alunos que Hogwarts já tivera o prazer de receber, não era incomum Victor fazer a Grifinória perder pontos nas aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas. Não porque estava leigo no conteúdo, como pode imaginar. Mas não era como se se importasse com os pontos perdidos. Na verdade, era confiante o suficiente para dizer ao professor e à sala "tire quantos pontos achar justo, eu os ganharei de novo e em dobro" e ele sempre os ganhava, tirando cansados e pesados suspiros de Yakov que não podia ser parcial demais em decidir não dar a ele, e à casa, os pontos quando era claro que os merecia. 

Yuuri riu breve e em silêncio pela piada de Victor, mas o repreendeu – ou tentou – com um tapinha sem força no braço. 

"Quando se trata em saber se a maldição foi realizada por uma bruxa ou alguém não-bruxo, é possível descobrir, uma vez que os métodos são diferentes." A voz de Yakov preenchia a espaçosa sala. "Há, no mundo mágico, aqueles que não são bruxos ou bruxas, mas que são capazes de realizar magia através de itens externos: uma casca de árvore, um animal morto, um pouco de pelo, o pedaço de uma orelha, o raio de Sol ou a luz do luar na posição necessparia. Ou através da maneira como a magia se manifesta em seu ser – não-bruxo. Aprendemos muito com esses seres, muitos unguentos e poções, por exemplo, foram descobertos e desenvolvidos por eles." Ele dizia com o mesmo tom sábio de antes. 

"Uma vez que a fonte de magia é diferente, é possível distinguir se a maldição foi lançada por meios externos ou por magia bruxa. Não há diferença muito gritante, para ser honesto, mas é possível." Yakov explicou, prendendo a atenção de todos os alunos e alunas, incluindo Victor e Yuuri. "Embora – lembremos –, nem todo tipo de mágica é possível ser realizada por não-bruxos, bem como há coisas que nós não somos capazes de fazer. Uma maldição Imperius, por exemplo, apenas acontece sob as mãos ou varinhas de um bruxo ou bruxa." Era em momentos assim que a admiração de Victor por Yakov se mostrava clara em seus olhos, concentrados com admiração no professor, que, apesar de usar como fonte para piadinhas e brincadeiras, era alguém por quem Victor tinha muito respeito e, mesmo não sendo de sua própria casa – Yakov pertencia à Corvinal –, era o professor por quem tinha mais afeto. 

"Professor," desta vez foi a voz de Victor que chamou a atenção de todos. 

"Diga, Victor." 

Livrando o ombro de Yuuri e arrumando a postura sobre a cadeira, Victor falou: "Ainda que sejamos os únicos capazes de conjurar algo como a maldição Imperius, não-bruxos também podem controlar outros seres, sim? Mas não por muito tempo, certo? Eu li que o efeito de controle é usado para que a pessoa, ou ser, controlada faça algo que originalmente não quer ou não pretendia e o efeito dura por um curto tempo, algumas semanas ou meses." 

"Absolutamente correto, Victor." Um pequeno sorriso tomou o canto da boca de Yakov. "Como você disse, outros seres são capazes de praticar o controle, mas por um curto tempo e para coisas muito específicas. O ser controlado age de acordo com o desejo de seu controlador sem que tenha consciência de que o está fazendo, sem saber que está sob uma maldição. Ainda que haja limitações, sua magia de controle, desde que feita corretamente, não é menos eficiente e tampouco menos perigosa." 

"Sim, senhor Katsuki?" Yakov passou a palavra a Yuuri ao ver sua mão erguida à altura dos ombros. 

"Quanto à identificação em objetos amaldiçoados," Yuuri começou "o senhor explicou que há como saber se a maldição foi rogada por uma bruxa ou bruxo ou por um ser não-bruxo." Yakov fez que sim com a cabeça. "Eu pensei... Bem, bruxos e bruxas como da Escola de Magia de Uagadou não usam varinha para conjurar feitiços. Existe alguma diferença? Quero dizer, se ao tentar identificar a origem da maldição, há como especificamente saber se foi rogada através de uma varinha ou não, em se tratando de seres bruxos? Desculpe se não estou fazendo muito sentido..." 

"Interessantes perguntas, senhorita Yang e senhor Katsuki. Está fazendo todo sentido." Yakov fixou os olhos claros em Yuuri antes de caminhar para perto de sua própria mesa. "Há, sim, como saber se a magia foi conjurada por mãos ou por varinhas, mas é algo mais difícil, mais complexo do que saber se fora rogada por bruxos ou não. A diferença é extremamente sutil e, infelizmente, nem sempre conseguimos ser precisos o suficiente para sabermos de fato." E concluiu: "Mas, sim! É possível. Muito, muito difícil. Mas possível." 

"Obrigado, professor." Yuuri suspirou. Sempre sentia-se nervoso em fazer perguntas em voz alta na sala. 

"Mais alguma pergunta?" 

Silêncio preencheu a sala então, e Yakov voltou ao ritmo anterior da aula. 

— 

Em poucas semanas viriam as provas do fim do ano letivo e então as férias de verão. O último jogo do ano também estava cada vez mais próximo, Grifinória contra Lufa-Lufa, e todos estavam ansiosos para descobrir para qual iria a Taça das Casas, apostas já tinham sido feitas. 

Depois do treino naquele fim de tarde, Victor e Yuuri mal podiam esperar pelo banho que os aguardava na grande banheira e ambos suspiraram felizes e aliviados quando a água quente acolheu seus músculos abusados. 

Victor não se continha em esconder sua alegria e diversos "yay's" vieram para mostrá-la. 

"Estou feliz que o treino finalmente acabou." 

"Está dizendo que não sou um bom capitão?" Victor fez um bico, olhando para Yuuri, todo ofendido. 

"Claro que não!" Yuuri falou. "Digo, claro que não é um mau capitão. Você entendeu." 

O bico de Victor diminuiu, mas permaneceu lá, a fim de prolongar seu drama. 

"Você pegou pesado conosco hoje." 

"Estamos próximos da partida, não podemos perder o ritmo." 

Yuuri suspirou, descansando a cabeça na banheira, fitando o teto alto. "Você está certo." 

"Espero que não tenha ficado bravo." Victor aproximou-se de Yuuri e recebeu os olhos castanhos um pouco confusos. 

"Bravo?" 

"Acha que não percebi a cara que fez quando disse para prestar atenção no pomo mais de duas vezes? Você não estava se concentrando direito, Yuuri, estava muito disperso. No que estava pensando?" 

"O- não. Não." Yuuri atrapalhou-se com as palavras e então uma risada breve e honesta deixou sua garganta. Ele estalou a língua e deslizou a mão molhada pelo ombro de Victor, tocando sua nuca no fim, e aproveitando para acariciar os cabelos curtos lá, um sorriso em seu rosto e uma coloração mais rosada em suas bochechas. "Não fiquei bravo por chamar minha atenção, esse é o seu dever. E eu não estava mesmo conseguindo me concentrar no pomo." Victor o olhava com curiosidade agora e Yuuri sabia que não tinha mais como parar por ali. "Eu acho que fiquei um pouco excitado." Ele confessou, sentindo o calor da água subindo por suas bochechas enquanto assistia os olhos de Victor se arregalarem num brilho que já estava há muito acostumado, mas que sempre lhe causava o mesmo efeito de formigamento no estômago. 

"Yuuri!" Não havia qualquer repreensão na voz do capitão da Grifinória, empolgação e surpresa eram mais apropriadas. 

"É só que..." Yuuri desviou o olhar por um segundo, encarando a sereia que silenciosamente penteava os cabelos longos com os próprios dedos na moldura da janela. Quando voltou a encarar Victor, uma de suas sobrancelhas estava levemente arqueada. "Você realmente pegou pesado conosco hoje, sabia? Estava muito exigente." 

"Quero que ganhemos a Taça mais uma vez." Victor não escondeu o desejo para a última partida do ano letivo. 

"Eu também." Yuuri concordou. "Você estava muito sério." Victor continuava a encará-lo com curiosidade. "E-e... eu..." 

"Yuuri!" Havia empolgação demais na maneira como Victor disse seu nome para poder significar qualquer coisa inteiramente racional e Yuuri teve certeza de que algo estava prestes a vir quando um sorriso torto partiu os lábios largos do outro. "Você fica excitado quando estou sério?" 

"N-não é isso." 

"Então o que é?" 

Yuuri não respondeu. Sentia que sua cabeça iria explodir a qualquer momento devido ao calor em suas bochechas e em seu corpo. 

"Yuuuuri," Victor aproximou-se, pousando uma mão em seu rosto antes de beijá-lo devagar, mas muito sugestivamente. 

Yuuri suspirou entre o beijo, porque não havia muito o que fazer naquela situação se não aceitar suas próprias vontades. 

"Yuuri, você está excitado agora?" Victor sussurrou com um sorriso no rosto e Yuuri teve certeza absoluta de que a qualquer momento iria explodir. 

"Não. Talvez." 

"Yuuri!" 

Victor voltou a beijá-lo, desta vez, porém, aproveitou para sentar em seu colo. Yuuri não tinha como esconder como se sentia, daquela forma, e pouco se importou ao suspirar novamente contra a boca do outro, mais arrastado e pesado devido ao contato sob a água da banheira. 

Yuuri deu uma última olhadela na sereia na janela, uma súplica em seus olhos castanhos. O rosto da sereia formou uma careta rápida, emburrada, e então ela virou na pedra em que sentava, mostrando a ele suas costas nuas. Não era como se aquilo o deixasse menos nervoso, mas pelo menos ela não estaria olhando – ele queria confiar – e não era capaz de ouvi-los.


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