-  Onde que é? Que merda!- Um garoto de tranças negras vociferou, correndo pelos corredores do hospital, tentando encontrar o número do quarto que a recepcionista tinha lhe dado. Alguns médicos o paravam para dizer que era proibido correr no local, mas, sem perceber, isso o fez correr mais ainda. Parou rapidamente, ofegante, enquanto olhava para a porta onde continha o número que tinha recebido. Olhou-a por alguns segundos antes de entrar calmamente, ao contrário do que estava antes.

- Bill?- Perguntou, nem acreditando que aquele ser que estava na cama era seu irmão gêmeo. Mas, mesmo assim, ainda tinha seus traços.

- Tom?- Bill piscou os olhos várias vezes antes de virar e ver o mais velho fechando a porta, logo em seguida o encarando.- Eu não queria que você me visse assim...- Sorriu timidamente, passando a mão pela cabeça, não sentindo mais nenhum fio de cabelo.- Tão feio...

- Que isso... Cabelo cresce...- Sorriu triste, pegando a cadeira  a arrastando até a beirada da cama, segurando a mão do mais novo, apertando-a fortemente, tentando mandar para longe o medo que começava a apoderar-se de si.

- Sabe, Tom... Tantas coisas que eu queria ter te dito antes, mas não tive coragem. Mas parece que ela surgiu somente quando estou aqui, quase morrendo.- Viu que o moreno iria proferir alguma coisa sobre isso não acontecer, mas não queria ouvir mais nada. Não tinha tempo. Era sua hora de falar. A única.

- Tantas vezes nós brigamos e, mesmo que depois ficássemos bem, eu nunca te pedi desculpas. Eu nem lembro quando foi a última vez que pedi. Tantas coisas que eu queria te dizer, dar um conselho para você, mas achei que não iria gostar e me culpar. Todas as vezes que você queria sair à noite, aproveitar a vida da sua maneira, mas eu não te deixei, algumas vezes só por birra mesmo. Desculpe por ter te impedido de viver esses momentos do seu jeito.

- Eu queria que a mamãe estivesse aqui, para dizer à ela que eu a amo muito. Palavras que eu não me importava em dizer. Eu sei que ela sabe, mas aposto que adoraria ouvir um “ Eu te amo” meu todo dia de manhã.

- Você vai pode fazer muito isso, Bill...- Os olhos de Tom lacrimejaram, pois nem ele mesmo acreditava nas próprias palavras. Uma pontada no peito foi o bastante para ele tentar negar o que estava por vir.

- A banda...Meu sonho realizado. Vivi os melhores cinco anos da minha vida, isso eu posso te dizer com clareza. Nós...- Sorriu e apertou seus dedos magrelos com os fortes do outro.- Nós fizemos isso juntos. Só conseguimos isso porque eu tinha você e você me tinha.

- Cala a boca, Bill...

- Sabe...- Ignorou o irmão.- Me pergunto se as fãs vão chorar por mim por muito tempo? Mas eu sei que um dia elas vão me esquecer. Mas se não forem, não vão mais sentir a dor da minha perda. Isso é algo que some com o tempo, já que ele cura tudo, ou ameniza. Por isso eu te digo, Tom: eu vou, você vai sofrer, mas um dia vai superar.

- Não vou, Bill. Você sabe que a gente nunca funcionou direito um sem o outro... Eu não penso direito sem você...

- Vai sim. Pode durar meses, anos, o que for. Vai encontrar alguém e formar uma família. Eu sei que você não acredita nisso, mas eu sei que você vai. A pessoa vai chegar e vai curar essa ferida aos poucos. Logo, todos me terão apenas como uma simples lembrança, e não como algo que causa angústia por ter perdido.

-  Eu estou feliz. Tive os melhores vinte anos que alguém poderia ter. Valeu por uma vida inteira.  Muitos morrem de inveja por isso, mas não vê que por trás de todo o luxo tem uma vida árdua de trabalho duro.

- Bill, por favor...- Se tinha algo que Tom não fazia nunca, era chorar. Mas agora ele derramava lágrimas com tanta intensidade que nem ele mesmo conseguia parar seus soluços. Eles eram gêmeos, uma conexão forte. Ele sabia que o irmão iria partir. Mas quem disse que queria aceitar?

- Cuide da mamãe, cuide do Gordon. Eles vão precisar muito da sua ajuda, Tom. Sabe, acho que  a nossa família deu sorte. Nascemos gêmeos e vou morrer agora, mas eles ainda têm você, a outra metade. – Enrolou uma trança no dedo.- Eu te amo, saiba disso.

Tom escondeu o rosto nos lençóis verdes claros da cama onde Bill estava deitado, deixando ali uma mancha mais escurecida pelas lágrimas.

- Nós ainda vamos viajar pelo mundo...

Piiiiiii, piiiii

- Vamos visitar países que ainda não fizemos turnê...

Piiiiiii, piiiii

- Vamos  ler várias cartas das fãs que ainda não foram lidas...- Ignorou o barulho, mesmo que ele entrasse diretamente pelos seus ouvidos, machucando-o como nunca. Era lentamente doloroso.

Piiiiiii, piiiii

- Você vai se apaixonar como sempre quis...

Piiiiiii, piiiii

- Vai dar um segundo sentido ao sorriso que sempre abre no palco, dizendo que não é apenas felicidade der alcançar o topo, mas de ter encontrado alguém para amar.

Piiiiiii, piiiii

-  Vamos engordar o Gustav encomendando pizza até ele virar um panda...Era o que você sempre dizia...

Piiiiiii, piiiii

- E...E você não pode mais me ouvir...- Levantou ligeiramente sua face, deparando-se com a do irmão. Morreu sorrindo. Morreu de olhos abertos fitando a pessoa que sempre afirmou ser sua alma gêmea. Morreu novo, mas realizado. Morreu deixando milhares chorando para trás.

Deu vida ao seu sonho , mesmo que não tivesse aproveitado como queria. Mas, mesmo assim, poderia se afirmar com gosto que Bill Kaulitz fez o que mais gostava até o fim de sua vida, pena que foi curta demais.

Médicos chegaram rapidamente ao ouvir o barulho constante e, antes de levarem o corpo, Tom pode ver uma última vez o sorriso do gêmeo mais novo antes de o levarem embora.

Tom apenas se arrependeu de não ter dito um último “ Eu te amo, meu irmão.”

Era assim que tudo terminava.

Tudo tem um fim. Cedo ou tarde.

Você nunca sabe a hora exata de partir. Quando menos espera, você não vê e não ouve mais nada.

Sente vontade de fazer algo, faça.

Sente vontade de dizer algo, diga.

Porque no seguinte minuto você pode não estar mais aqui.

E isso é algo irreversível.

FIM