Os três se reuniram logo depois da aula.

— Pensei que vocês não viriam. - disse a garota fechando o livro a sua frente.

Ela tinha os cabelos encaracolados, num tom de castanho arenoso, seus olhos tinham um tom de verde folha seca como no outono. Estava usando uma túnica escura e mangas soltas, uma maga pensou Julian.

— Mas chegamos não é mesmo? - respondeu o outro em um tom ríspido.

Khalil estava com o cabelo solto; era volumoso com cachos pequenos. Também usava uma túnica amarela. Ele se sentou colocando seus livros sobre a mesa.

— Bom… foi você quem propôs esse encontro. - disse Julian.

— Eu quero saber exatamente o que estava acontecendo naquela enfermaria ontem. - ela bufou.

— Pois bem, mas primeiro… como você se chama mesmo?

— Ela é…

— Eu sou Milena, Milena Salam.

— Você é egípcia?

— Sim.

— Eu vou explicar…

— Mas Julian…

— Khalil, não tem problema. Se Milena não tivesse me ajudado é provável que eu estaria meio “enrolado” agora. - ele se virou para a garota - Eu me tornei um animago…

— O que?! - os olhos dela quase saltaram para fora - Você está dizendo que realizou sozinho o processo para se tornar um animago, e que conseguiu, e que por vias de regra é um animago ilegal?

— Ei, ei! Não era para ser pensado assim…

— Como não?

— OK, agora vamos falar de você, Senhorita Ofidioglota…

— Eu acho isso um segredo muito mais escabroso… - comentou displicente Khalil.

— Tudo bem... faço parte da linhagem de Herpo, o Sujo.

— Como?! - exclamaram os dois em uníssono.

— Eu pensava que toda a linhagem de Herpo estivesse na Europa… - disse Khalil.

— Até onde eu sabia, nada é confirmado. Mas devido a essa característica que se chamou ofidioglossia, que era a habilidade de se comunicar com as cobras e animais dessa linhagem, o mundo bruxo acabou inferindo que Sonserina, um dos fundadores de Hogwarts, tivesse alguma ligação sanguínea com Herpo. Consequentemente a essa ligação se estende a afamada família Gaunt, a família de Lord Voldemort ou Tom Riddle se preferir.

— Uau! Você sabe mesmo sobre a linhagem dos Ofidioglotas…

— É que isso é matéria do terceiro ano em Castelobruxo. Quando estudamos espécies reptilianas normais e fantásticas.

— Entendo…

— Partindo desse pressuposto, como você…

— Em minha família acreditamos que nossa linhagem veio de uma ramificação abastada, bastarda se preferirem - ela revirou os olhos - de Sonserina.

— Agora ficou um pouco mais plausível.

— Dizem que foi quando ele saiu Hogwarts…

— Mas e você Julian… seu sobrenome não é nada latino-americano.

— Eu também não sei explicar ao certo… porquê… - o olhar dele se desviou para um canto da sala.

— Ele não conheceu os pais! - ele tapou a boca, envergonhado - Desculpa é que quanto mais forte o sentimento com o qual a lembrança está ligado mais intenso é…

— Então você um legilimen…- ambos se voltaram para Khalil.

— É uma questão de família… nós Khalfanis somos uma família versada na legilimência.

— Espere… é isso… sua família em grande maioria pertence aos Aurores do continente. Graças a habilidade exímia de vocês em leitura da mente, vocês são interrogadores.

— Você sabe bastante sobre a minha família - disse para garota.

— Vocês já foram chamados até mesmo para auxiliar em casos mágicos no Ministério da Magia, na Europa!

— Sim, foi o meu pai…

— Julian, os entes dele já foram chamados até mesmo para interrogar comensais da morte. Corre um boato de que mesmo oclumentes versados não passam pelo poder de legimência dos Khalfanis.

Um pouco embaraçado Khalil deixou um sorriso escapar de lado.

— Bom pelo que estou vendo neste livro, parece que a única legilimen que tinha habilidades como a de sua família, Khalil, era… - ele vagueou os olhos pela página que estava aberta - Queenie Goldstein, que era uma legilimen americana.

— Então é isso: temos uma ofiodioglota da linhagem de Salazar Slytherin. Temos também um legilimen de uma linhagem treinada na arte da Legilimência reconhecida no mundo inteiro. E, agora, um animago ilegal.

— Um animago ilegal, que se transforma num Thunderbird. - completou Khalil.

Os olhos da garota quase saltara para fora das orbitas.

— Espere, espere, espere… - ela disse atropelando as palavras - Julian, a sua forma animago é uma criatura mágica?!

— Xii - ele fez para que ela diminuísse o alarde.

— Sim - ele sussurrou - quando fiz minha primeira transformação na caverna ontem, a forma que veio foi um Pássaro Trovão.

— Você tem noção do quão raro isso é?

Ele fez um sinal negativo com a cabeça.

— Acredito que se não estiver errado o número de animagos registrados que tem forma de alguma criatura mágica é ínfimo.

— O professor Ejomu é um dos únicos conhecidos…

— A Serpente Chifruda… - ele comentou.

— Sim… originalmente o professor Ejomu é Americano de pais Africanos, por isso ele estudou aqui e aqui leciona. - É claro que não sabemos quantos animagos ilegais existem que podem ser criaturas mágicas, no entanto…

— Eu não pretendo me registrar… - ele disse como se desferisse um soco, rápido e sem hesitação.

— Como? - responderam os dois uníssono.

— Você tem que registrar faz parte da norma.

— Não tenho intenção alguma de seguir a norma, não agora, se eles confirmarem que eu fiz o processo para me tornar um animago por conta própria, talvez eu possa ser expulso tanto de Uagadou como de Castelobruxo.

— Julian…

— Isso pode ser muito perigoso.

— Escutem eu estou confiando em vocês para guardar esse segredo pelo menos por enquanto…

Khalil e Milena se entreolharam e afirmaram com a cabeça em sinal positivo.

— Mas como você fazer a prática é a única forma comprovada de se aperfeiçoar a transformação.

— Eu sei disso, e eu irei me aperfeiçoar. Praticarei todos os dias na caverna até que possa fazer e desfazer a transformação com perfeição. Mas precisarei da ajuda de vocês, foi fisicamente muito complicado voltar a forma humana, eu tive dores terríveis.

— Você teve de ir para enfermaria.

— Exatamente e não posso de forma alguma continuar a aparecer com frequência por lá.

— Então você quer que nós cuidemos de você, na volta à forma humana?

— Seria de grande ajuda, poções, feitiços anestésicos… essas coisas.

— Julian… e quanto as cobras… as que estavam na enfermaria… - perguntou hesitante Khalil.

— Acredito que nós três poderemos investigar quem as invocou, talvez possa ter sido apenas uma peça de alguém num novato intercambista.

— Mas ainda assim…

— Temos um acordo? - indagou a menina.

Os três apoiaram suas mãos selando um acordo.

— Seremos os Peculiares…