Existia essa garota, Megan, que durante toda a sua vida quis fazer um intercâmbio, ir pra fora do país, aprender novas línguas, conhecer novas culturas, novos lugares. Sonhou com isso por anos e anos e anos. Um dia quando já estava perto dos 30 decidiu: seria agora ou nunca. Largou o emprego para voltar para a sua cidade e conseguir um trabalho melhor por lá, morar na casa da mãe para economizar cada centavo e usá-los na realização deste sonho.

Depois de um ano e alguns meses trabalhando muito, ela conseguiu. Economizou o suficiente para fazer um curso de inglês de duas semanas em Londres. O que ela não sabia era: essas duas semanas se transformariam em uma vida inteira.

Conseguiu todos os documentos necessários, comprou todas as roupas de frio que deveria. Estava chegando o grande dia! A sua viagem. A realização do sonho de toda uma vida. Depois disso morreria feliz se assim acontecesse, pois esse era de certa forma, o último sonho que lhe faltava realizar. O último que ela considerava possível, os "impossíveis" eram apenas devaneios feitos em conversas com uma grande amiga virtual ou nos momentos nos quais ficava sozinha. Porém, o universo lhe guardava uma grande surpresa.

No dia da viagem estava muito nervosa, principalmente pelo avião, pois sua mãe sempre lhe dizia: Todo avião cai no mar. Isso ficava dando voltas em sua mente durante todo o voo. Finalmente, estava chegando a Londres, alguém da escola que contratou estava lá a sua espera. Com aquelas plaquinhas com o nome, ela achou engraçado, se sentiu até meio importante.

Megan preferiu uma acomodação na própria escola, queria ter o máximo de liberdade possível. Chegou sexta-feira, a primeira aula e tour pela escola seria na segunda, teria todo o fim de semana para explorar e se perder pelo local. Começando a treinar seu inglês que ainda era precário. Ao chega estava muito cansada, mas conseguiu fazer sua primeira amizade. Christiana, sua colega de quarto, era uma garota de Recife e as duas prometeram só falarem em inglês, contudo isso nem sempre era cumprido.

No sábado acordou extremamente cedo, mesmo odiando acordar cedo, entretanto, naquele dia tinha acordado as seis e tão feliz como nunca fora. Tomou um belo banho de banheira, coisa que nunca tinha feito, depois de vestir um sobretudo cheio de estilo pegou sua câmera e saiu por aí. Caminhou sem destino, sem saber o que encontraria pela frente, nessa linda cidade que nunca estivera antes, vendo pessoas que nunca vira antes, afinal aquele era o dia do "nunca"... Era o dia de fazer e sentir coisas que nunca fizera e sentira por toda uma vida.

No primeiro passeio por um parque de Londres, ela foi tirar uma foto, mas não conseguia ajeitar o foco, então começou a andar para trás. Nesse mesmo momento um homem corria por ali, seu celular começou a tocar e ele se atrapalhou na hora de atender. Quando deu por si estava se esbarrando nessa garota de cabelos pretos que falou várias palavras desconhecidas enquanto caíam.

—Eu sinto muito. – Disse ele. – Você está bem?

Ela estava com muita raiva, mas foi como nos filmes, ao se olharem foi uma paixão a primeira vista. Ele a chamou para um encontro, passaram as duas semanas juntos. Megan conseguiu estender sua estadia até o fim do mês, porém depois teve de voltar para o Brasil.

Megan e Mark faziam chamadas em vídeo, conversavam sempre que dava, mas não era o suficiente. Megan decidiu fazer a maior loucura da sua vida, ela nunca tinha imaginado fazer algo assim, mudar sua vida por causa de alguém. Ela sempre falou que por questão de emprego faria qualquer mudança necessária, porém por homem seria estupidez. E era como ela estava se sentindo. Estupidamente apaixonada.

"A pessoa só vive uma vez" pensou ela.

Mais alguns meses se passaram até ela voltar definitivamente para Londres. Mark havia arrumado o apartamento para sua chegada, agora era apenas procurar um emprego. Isso foi difícil, no entanto ela conseguiu.

—Eu vou trabalhar em uma revista, Mark. – Ela falava deitada no sofá com a cabeça no colo dele. – Nunca trabalhei em algo parecido, mas escrevo bem e mesmo com um currículo não muito bom eles me aceitaram.

—Como conseguiu esse grande feito?

—Um pouco de sorte, eu acho. Vou confessar que com uma pitada de mentira.

—Como assim? – Ele sorriu.

—Eles me aceitaram por eu ser brasileira e acharem que lá nós falamos espanhol e precisavam de alguém para uma tradução especial na revista.

—Você fala espanhol?

—Não. Porém, vou fazer o meu melhor e quando descobrirem... Se descobrirem, eu já serei indispensável.

—Essa é minha garota.

A vida deles seguiu feliz e cheia de amor. Um dia a Megan chegou com um gatinho para ser o símbolo do início da família deles.

—Mouris! Esse vai ser o nome dele. – Ela disse toda feliz.

—Assim como desejares minha bela.

O gatinho foi crescendo, a rotina aparecendo, o casal se desenvolvendo. Passado um ano, Megan decidiu voltar mais cedo pra casa, pois estava com uma horrível dor de cabeça, porém ela estava entrando em um terrível pesadelo. Estou em casa e começou a ouvir alguns barulhos, uns gemidos e a cama rangendo. Ao abrir a porta do quarto seu mundo desmoronou, ele nem chegou a vê-la, ela não sabia o que fazer. Escândalo nunca foi seu estilo.

Megan só pegou sua bolsa, seu gato e saiu dali. Rodou por um tempo até bater na porta da única amiga que tinha naquele país: Viola. Ela era uma mulher casada e com filhos. Quando viu o estado da amiga não pensou duas vezes em ajudar. A colocou para dentro, a obrigou a comer algo e deu um calmante para ajudá-la a dormir. No dia seguinte, no café da manhã, já havia várias ligações perdidas do Mark.

—O que pretende fazer? – Perguntou Viola.

—Eu não vou continuar lá. Preciso me mudar, queria só pegar minhas coisas, mas não sei pra onde ir.

—Pode ficar aqui conosco até se ajeitar.

—Se não for um problema para vocês e seu marido concordar.

—Eu concordo inteiramente. – Ele disse rapidamente. – Pode vir imediatamente, na verdade, vocês deviam vir do trabalho pra cá e irmos os três até lá.

—Eu também acho. – Disse Viola.

—Vocês são os melhores. – Megan mostrou um sorriso triste. – Eu só... Mudei minha vida inteira por um cara que pensei ser o tal, mas...

—Não passou de um babaca.

—Não passou de um babaca.

—Todas nós podemos cometer um erro assim, Megan. Não seja tão dura com você mesma.

Elas foram trabalhar, o dia passou lento e triste, Megan ficava imaginando como seria revê-lo. E quando o momento chegou, ela agradeceu a Deus por ter os amigos ao lado, pois foi um dos piores momentos da sua vida. Entrar no apartamento já era duro, praticamente reviveu tudo.

—Megan! Pelo amor de Deus! Por onde andou? Eu estava morto de preocupado.

—Eu só vim pegar minhas coisas.

—Espera, como assim? O que esta acontecendo?

—Eu vi você Mark. Ontem na nossa cama. Com uma garota qualquer.

—Megan, o que você pensa ter visto...

—Não insulte minha inteligência. Eu sei o que vi. E aqui não fico um segundo a mais.

Viola e o marido já estava pegando as coisas da Megan.

— Não... Espera.. Você não pode... Nós temos uma vida aqui. Você se mudou pra Londres para ficarmos juntos e vai estragar tudo assim? Por uma bobagem?!

—Bobagem? Você chama uma traição de bobagem?

—Nunca conversamos sobre sermos exclusivos.

—Então aqui em Londres é bem estranho, porque de onde venho se você mora junto com alguém você é exclusivo. Se você achava que não éramos podia ter me avisado, assim não teria dispensado os caras que me chamaram pra sair.

—Do que você está falando? Quem te chamou pra sair?

—Não é da sua conta, não mais. Adeus, Mark. Ah só não me arrependo do dia que te conheci e da decisão de vir para Londres, porque realmente gosto daqui e não sou de me arrepender do que faço.

Ela saiu dali com os amigos, se percebeu dormindo no escritório da casa de alguém que conhecia há mais ou menos um ano. E sem ter noção do que seria feito da sua vida de agora em diante.